O Senador Rebelde escrita por André Tornado


Capítulo 34
O último combate




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/777500/chapter/34

Heskey escolheu ficar a bordo da nave liderada pelo almirante Ackbar que iria comandar o ataque à Estrela da Morte, a corveta MC80 designada Home One que também era o quartel-general da Aliança, a nave bandeira da frota. Não era militar, podia ter escolhido ficar na nave consular que transportava Mon Mothma e outros antigos senadores que abraçaram, como ele, a causa dos rebeldes. Tinha recebido a intimação e devolvera, perguntando se tinha opção. Disseram-lhe que era livre para escolher e ele escolhera ficar. Aceitaram a sua escolha e desejaram-lhe que a Força o acompanhasse.

Ele acreditava que sim. Naquela fase, ele confiava na Força. Era uma fé que ganhara, no seu breve e último encontro com Luke Skywalker. Um calor que se espalhava dentro do seu peito e que o acalmava.

Indicaram-lhe uma sala no convés inferior, longe da ponte. Com ele estavam Onca e Jotassete que decidiram acompanhá-lo até ao fim. Que fim seria esse, iriam descobrir dali a pouco tempo.

A frota rebelde viajava em hipervelocidade. Dirigiam-se para o sistema onde ficava Endor e a sua lua santuário, um planeta verdejante coberto totalmente por uma floresta cerrada de grandes sequoias, habitada, segundo a inteligência rebelde, por tribos de guerrilheiros ewoks que não eram muito amigáveis. Mas desde que não se invadisse o seu território mais sensível, não haveria qualquer problema.

O vaivém Tydirium, pilotado pelo general Han Solo e pelo seu copiloto habitual, Chewbacca, tinha partido mais cedo. A equipa contava com outros elementos operacionais, soldados e especialistas em explosivos, para além de Leia Organa, de Luke Skywalker e dos dois androides, Artoo e Threepio. Entre eles havia um otimismo controlado. Estavam confiantes do sucesso da missão, malgrado o risco extremo. Viu-os abandonar o hangar e, mentalmente, desejou-lhes sorte. Lembrou-se mais uma vez de Bail Organa, de como ele haveria de estar orgulhoso da sua filha. E também o estaria por ele, acrescentou Heskey com secreta falsa modéstia.

— Já sou um rebelde, como sempre quiseste, meu amigo. Espero que quando nos reencontramos, não me censures por ter levado tanto tempo a chegar aqui. Estou no lugar certo e é o que importa. Não é? Prepara o teu melhor vinho, nesse mundo onde habitas agora, na proteção da Força. Vamos fazer um brinde. A quê, logo verei. Se nos encontrarmos mais cedo, será à derrota. Se nos encontrarmos mais tarde e irei sempre procurar-te, será um brinde ao teu sonho – pensou, emocionado.

Ele não estava sozinho naquela sala. A bordo da Home One encontrava-se diverso pessoal civil que se encarregava de suprimentos, de comunicações e de reparações e outros, que estavam de prevenção naquele dia, mas não em funções efetivas, só seriam chamados para preencher vagas e suprimir ações urgentes. Um punhado desses técnicos deambulava pelo local, ansiosos pelo momento da batalha. Ele tentou ignorá-los.

Foi-lhes servida uma refeição. Alguns ainda comeram alguma coisa. Ele declinou a oferta. O nervosismo deixava-o inquieto e irascível, sem apetite, por isso isolou-se e não interagiu com ninguém, para não criar uma situação embaraçosa e obrigar Onca a defender mais uma vez a sua reputação. Jotassete estava em modo de poupança de energia, as luzes piscavam suavemente na sua superfície escura.

Uma voz metálica avisou-os, pelo altifalante, que iriam chegar ao destino dentro de cinco minutos-padrão. Heskey respirou fundo. Fechou os olhos. Focou-se na noção etérea da Força que ele, em abono da verdade, não reconhecia totalmente e que continuava a aquecê-lo com persistência, desde que encontrara Luke Skywalker. Mas era um fiapo de alento e ele agarrou-se a este com as duas mãos. Não o iria largar.

Tinha chegado o momento.

Um solavanco. A fuselagem estremeceu, sacudindo a sala. Quem estava de pé teve de se agarrar a alguma coisa para não cair. Ele estava sentado e fincou as mãos nos braços da poltrona. Olhou para Onca, que tremelicava assustado.

A frota da Aliança chegava a Endor. 

Na janela panorâmica, as manchas indistintas provocadas pela velocidade da luz estreitaram-se em longos traços azuis que foram diminuindo até se tornarem pontos brilhantes e serem reconhecidos como estrelas. Heskey levantou-se, fixando o negrume do espaço sideral onde, uma por uma, iam surgindo naves. Não as viu todas, obviamente, apenas aquelas que se encontravam a estibordo do cruzador, mas era possível perceber a concentração massiva de caças que a Millenium Falcon, pilotada pelo general Calrissian, iria liderar.

A ofensiva rebelde seria avassaladora.

Um calafrio desceu pelas suas costas e arrefeceu-lhe as extremidades. Abriu e fechou as mãos para estimular a circulação sanguínea.

Nisto, o cruzador deu uma guinada para bombordo e ele teve de se segurar à poltrona para não ser desalojado do seu assento. Duas mulheres ali presentes acabaram no chão, a escorregar pelo soalho que se inclinava – a alteração de direção fora tão brusca que os estabilizadores não corresponderam de imediato para corrigir a gravidade no interior da imensa nave e naquela sala, em particular. As mulheres foram agarradas por um homem que fincou as botas para aguentar com o seu peso. Escutou-se o rugido dos motores, as paredes vibraram loucamente, as luzes apagaram-se e regressaram, a piscar.

— Fomos atingidos? Fomos atingidos?! – perguntava um segundo homem alarmado, espalmado contra a parede.

— Jotassete! Procura por um terminal e liga-te ao computador central. Invade o sistema e informa – pediu Heskey.

— Ei! Isso é altamente irregular e ilegal – protestou o primeiro homem, que estava a ajudar as mulheres a se levantarem.

Entretanto, a gravidade já tinha sido corrigida e o chão deixara de estar inclinado. Uma mulher fungava, assustada e a outra amparava-a, abraçando-a pelos ombros.

— Estamos no meio de uma batalha! Quero saber o que se passa – replicou Heskey.

Juntou-se a Jotassete que se aproximou de um painel composto por vários terminais. Um apêndice tubular surgiu do seu corpo negro e o androide ligou-se a um círculo metálico que começou a girar com essa ligação. Heskey cruzou os braços e fixou o homem que observava, zangado, a transgressão.

— Então?

As luzes de Jotassete redobraram o brilho.

— O escudo que protege a Estrela da Morte continua ativo, senador. A Aliança não pode prosseguir com o ataque conforme previsto, pois não é possível, nesta fase, penetrar no perímetro da estação espacial e fazer o percurso até ao reator principal situado no núcleo.

— O escudo não foi desligado? – Fechou os olhos, preocupado. Murmurou: – Leia… aconteceu alguma coisa na lua.

— Poderei tentar saber.

— Será difícil obteres essa informação – conformou-se. O sangue gelava nas suas veias com a ideia de saber a princesa em perigo mortal. – A missão na lua é secreta e não há linha de comunicação aberta entre o grupo operacional para aí despachado e o almirantado que comanda este ataque. De qualquer modo, continua ligado, Jotassete.

— Afirmativo, senador.

O homem insistiu, votando-lhe um olhar de censura ácida:

— Poderás ser punido por isso, senador Heskey.

— Sim. Levem-me a um tribunal marcial no fim da guerra. Antes, não me aborreças!

O grito final fez o homem bufar, mas afastou-se e não prosseguiu com a discussão. Olhou para Onca que estalava e tremia de cima a baixo. Perguntou-lhe o que tinha.

— Estou a rezar, senhor.

— A rezar? – O assombro da descoberta empalideceu-o. – Não me digas que…?

— Sim, senhor – respondeu Onca, envergonhado. – Estes meus estalidos são preces.

— Fiz-te rezar muitas vezes. Não sabia. Sempre fui intratável.

— Esta será a última prece, com o favor dos deuses antigos. Se vencermos, acho que deixarás de ter motivos para ser intratável. Teremos paz.

Heskey fixou a janela panorâmica, vendo os caças X-Wing a adotarem uma formação de combate, passando velozes pelo vidro. Ele acreditava em Han Solo, em Luke Skywalker e também em Leia Organa. Eles conseguiriam resolver o problema que surgira e que os impedira de concluir a missão de explodir com o complexo que emitia o escudo protetor. Era só uma questão de tempo.

A mudança de direção do cruzador criou nova oscilação, mas mais subtil.

— É uma armadilha! – revelou Jotassete. – Está uma frota de cruzadores imperiais a barrar a retirada da nossa frota, liderada pela Executor.

— A Executor de Darth Vader? O lorde negro também está em Endor?

— Afirmativo, senador. Mas não é o lorde negro que lidera a armada imperial. Esse posto está ocupado pelo almirante Firmus Piett.

Heskey aproximou-se da janela panorâmica, colocou as duas mãos no parapeito, colou o nariz ao vidro frio. O seu bafo criou uma rodela de condensação que depressa desapareceu. No canto superior esquerdo ele entreviu a Estrela da Morte – um imenso globo de aço incompleto, que flutuava na órbita da lua cor de esmeralda. O imperador Palpatine, diziam os serviços secretos, estava a bordo da estação espacial. E agora ele tinha a certeza que o seu agente especial, Darth Vader, também estaria. Assistiam à batalha, como ele, desde uma sala confortável, climatizada, insonorizada. Esperavam a vitória do Império, tanto quanto ele ansiava por uma vitória da Aliança.

Aquela era a batalha das suas vidas que decidiria o destino da galáxia.

Cravou as unhas no parapeito, cerrou o maxilar. Os rebeldes não iriam perder.

Um enxame de caças TIE passou mais adiante, na profunda escuridão do espaço, despejando o seu mortífero fogo verde e Heskey deixou de ver a Estrela da Morte. Os X-Wing, liderados pelos respetivos chefes de esquadra, que se identificavam por cores, envolveram-se no combate direto, nave contra nave.

Aconteciam pequenas explosões mudas que logo se extinguiam, de parte a parte. As baixas acumulavam-se, tanto nas fileiras dos TIE, quanto nas fileiras dos X-Wing. Ele viu os A-Wing avançar e varrer um setor com o seu fogo massivo. Jotassete ia reportando a estratégia, com frases curtas, a partir do seu acesso ao sistema informático do cruzador. Não tinha sido ainda repelido pela segurança e conseguia sobrepor-se com desenvoltura aos protocolos que protegiam a informação. Aquela base de dados portátil era surpreendente, pensou ele com alguma vaidade por saber que o androide lhe era leal.

Os caças rebeldes minimizavam o ataque cirúrgico dos TIE que apontavam às naves de apoio da frota, as fragatas médicas e os cargueiros de suprimentos vitais à batalha, que transportavam células de combustível e munições. De vez em quando ele via passar a Falcon a disparar os seus canhões laser e a destruir TIE persistentes, que apontavam aos escudos defletores para debilitar essas naves e permitir a sua destruição. Mas era um processo lento, demasiado lento e que não garantia resultados.

— Por que motivo os star destroyers do Império não estão a disparar, Jotassete?

— A informação não foi disponibilizada, senador.

— Queres dizer que nem os comandantes rebeldes sabem a razão?

— Afirmativo, senador.

Um brilho intenso invadiu a sala e as mulheres gritaram, assustadas. Heskey cobriu os olhos com um braço e teria ficado cego se não tivesse virado a cabeça para falar com Jotassete no momento daquela cintilação inesperadamente forte. Ofegou, tão amedrontado como as mulheres:

— O que foi isto?!

Jotassete apitou, o seu modulador de voz não emitiu qualquer palavra. O disco prateado girava loucamente por ação do seu apêndice. Ele tentava obter dados credíveis para passar a informação, mas, pelos vistos, aquele fenómeno apanhara todos de surpresa.

— O que aconteceu?

Heskey voltou a olhar pela janela panorâmica. Atrás de si, reuniram-se os outros ocupantes da sala, ansiosos para descobrir, como ele, o que se estava a passar. Acumularam-se nas suas costas, empurrando, para conseguirem ver o que acontecia no exterior escuro, no caos da batalha. Os estalidos de Onca aumentaram.

No silêncio tenso do compartimento, Jotassete disse:

— O cruzador da Aliança Liberty acabou de ser destruído por um disparo proveniente do super laser da Estrela da Morte.

— O quê? – gritou Heskey. – Mas a estação espacial não estava operacional!

A isto, Jotassete não respondeu e o seu sangue arrefeceu mais um pouco, ao ponto de sentir gelo a entrar-lhe no coração.

— Não… não… Leia. Han! Por favor! Precisamos que completem a vossa missão!

A súplica foi pronunciada entre dentes, com raiva e impotência. As mulheres afastaram-se aos choramingos. Houve uma clara quebra de ânimo dentro da sala. Soluços e outros suspiros que ele quis calar dos seus ouvidos.

Era impossível, porém, voltar-se para os seus companheiros e pedir-lhes que acreditassem. Um segundo disparo da Estrela da Morte reduziu a poeira outro cruzador. Jotassete fez o anúncio de que fora o Nautilian.

Eles podiam ser os próximos.

Heskey já não conseguia ver as estrelas. O cenário onde decorria a batalha era um imenso fundo negro, pontilhado por explosões amarelas e laranja e essa luz moribunda iluminava o que quer que existisse ali. Foi incapaz de sentir desespero ou pânico, naquele ponto em que lhe parecia tudo tão amargamente inevitável. A Força continuava a ampará-lo, num recôndito secreto da sua alma e ele aceitou, de alguma forma aceitou, o que estava por vir.

A frota reorganizava-se. A nova formação criava espaços cada vez maiores, para dificultar a mira num possível alvo. Um terceiro disparo destroçou um transportador e Jotassete reportou que uma secção das comunicações tinha sido obliterada.

Quantas vidas se tinham perdido até ali?

Quantos gritos na noite sem fim que não se podiam escutar?

O seu estômago embrulhou-se, os seus ossos doeram, a sua mente adormeceu.

Então, subitamente, escutou-se um apito agudo e as luzes de Jotassete acenderam-se todas ao mesmo tempo. Heskey voltou-se para o androide, largando o parapeito da janela.

— O que foi, desta vez? Por favor, diz-me que são boas notícias!

O processador de voz do androide crepitou, invadido por eletricidade estática.

A sala encheu-se de um zumbido medonho e houve quem tapasse os ouvidos com as mãos. Heskey debruçou-se sobre o autómato, agarrou-lhe no corpo cúbico e sacudiu-o, tomado pela ansiedade. Jotassete anunciou:

— O escudo protetor da Estrela da Morte foi desativado. A missão na lua santuário de Endor concluiu-se com sucesso.

Ele saltou, invadido pela euforia. Ergueu dois punhos no alto e gritou.

A sua felicidade espontânea contagiou os outros que também desataram a gritar e a pular, abraçando-se e beijando-se e rodopiando. Depois houve alguém que pediu calma, pois faltava o assalto final que destruiria a estação espacial e os star destroyers imperiais continuavam a flanquear a frota rebelde.

No entanto, já ninguém duvidava de que vitória pertencia à Aliança naquele último combate. A sua força anímica abandonou-o, as suas pernas amoleceram e Heskey escorregou pela parede, sentando-se junto a Jotassete que informava que a Millenium Falcon, pilotada pelo general Calrissian, liderava o ataque ao reator principal da Estrela da Morte, tendo como asas de apoio os X-Wing dos comandantes da esquadra vermelha e dourada. Onca estava estático, expectante, a olhar para nenhures.

Jotassete anunciou que a Executor tinha perdido os escudos defletores e os estabilizadores, que se despenhava contra a superfície de aço da Estrela da Morte. Aconteceram aplausos e assobios.

A nave sacolejou com a mudança de velocidade. Heskey pensava em Leia – em como ela estaria bem, a salvo, satisfeita por ter cumprido o seu objetivo. O cruzador acelerava para escapar da vaga provocada pelo iminente rebentamento.

E aconteceu. A Estrela da Morte acabava de ser destruída por uma explosão massiva provocada pelo desequilíbrio causado pelos danos impostos por disparos de iões no seu reator principal. Jotassete acrescentou que se confirmava a presença do Imperador Palpatine e de Darth Vader na estação espacial e que os dois haviam perecido.

Era o fim do Império Galáctico.

Heskey suspirou de alívio.

A Força não o tinha desamparado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
A festa na floresta.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Senador Rebelde" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.