O Senador Rebelde escrita por André Tornado


Capítulo 22
Um homem de palavra




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A cantina da base Echo tinha o aspeto sombrio e desengraçado de uma messe militar. Mesas coladas umas às outras em filas compridas ladeadas de cadeiras desconfortáveis, um balcão de apoio que guardava os tabuleiros metálicos de vários compartimentos onde se servia a comida e canecas, também de metal, empilhadas, encaixadas uma nas outras, as cozinhas separadas por uma divisória envidraçada, uma zona com um parapeito alto onde se dispensavam as doses individuais, um segundo balcão por detrás do qual estavam prateleiras e nichos que exibiam garrafas e embalagens, equipado com cinco bancos altos.

Heskey sentou-se num desses bancos altos e esperou. Não estava ninguém ali para atendê-lo, mas ele não tinha pressa. Pelos vistos, iria passar ali um tempo indefinido que até poderia ser infinito – o mesmo tempo que levaria a curar-se da doença que o tinha atacado em Corulag.

Entrelaçou os dedos e pôs-se a cismar com as suas mãos. Acontecia-lhe muito, ultimamente. Olhar para as mãos e pensar no que elas tinham produzido, o que tinham deixado por fazer, que crimes cometeram. Estava a ficar entediado e ainda mal tinha começado o seu exílio em Hoth. Dava-lhe para a contemplação idiota. Respirou fundo, passou uma mão pelo rosto.

O ar estava gelado no interior da cantina, mas ao menos alguém tinha varrido a neve do chão, que se apresentava molhado e brilhante. Não havia silêncio, por conta das tubagens que passavam pelo teto que vibravam e estalavam, pela proximidade dos hangares e dos motores das naves aí estacionadas, pelas paredes estreitas que deixavam ouvir o barulho dos passos, das conversas e das gargalhadas de todos aqueles que se cruzavam nos corredores da base.

Bail Organa haveria de estar orgulhoso da filha, pensou com um segundo suspiro. Os seus ombros murcharam e ele sentiu-se a definhar. Olhou em volta e compreendeu como estava sozinho e isolado, porque não existia ninguém com quem se relacionava de forma natural e até com uma certa igualdade. Não tinha amigos, família. Alguém que ele pudesse amar…

— Desejas alguma coisa?

Levantou a cabeça com o susto. Um homem baixo e gordo, do outro lado do balcão, olhava-o de forma apática.

— Ah… quero a bebida mais forte que tiveres aí. Surpreende-me – pediu.

— A bebida mais forte…

— Não me faças perder o meu tempo – avisou áspero e impaciente. Abanou a mão esquerda para dar pressa ao homem. – Acabei de saber que terei de ficar em Hoth durante uma temporada e quero comemorar esse facto de uma maneira… inesquecível.

— As pessoas ou criaturas alcoolizadas não são toleradas na base.

— E o que fazem a essas pessoas? Atiram-nas para o meio da neve e que morram congeladas?

— Existem castigos.

— De certeza que não irei ser exposto aos rigores gelados de Hoth se beber mais do que devo, meu caro. Estou aqui a convite do Alto Comando da Aliança.

— Pois sim.

— Não acreditas em mim? – Fechou os olhos, respirou fundo. Resmungou: – Para ser sincero, quero lá saber se acreditas em mim… ou não.

Tinha a opção de se levantar dali e de recusar ser servido por um funcionário rebelde tão antipático, mas se não fosse naquela cantina, não havia outro lugar onde pudesse humedecer a garganta. Por isso, a seguir, tentou a persuasão. Fixou no homem o ar mais carrancudo que conseguiu conjurar, carregando as sobrancelhas sobre os olhos azuis tão gelados quanto aquele maldito planeta dos confins da galáxia.

Resultou. O homem colocou no balcão, à sua frente, uma garrafa de vidro e um pequeno copo.

— Rum corelliano. Só tenho esta e outra garrafa. Para os melhores clientes.

— Eu serei o teu melhor cliente – afirmou ele, cheio de arrogância. – Deixa a garrafa. Eu depois pago-te.

— Pagar-me? – gracejou o homem – Estamos com os rebeldes…

— Isso significa que é tudo oferecido?

— Em troca do teu engenho de combatente… sim. A Aliança sustenta os seus membros com tudo o que eles necessitam. Até uma boa bebida para afogar as mágoas. É isso que queres, não é?

— A bebida, claro que sim. Confessar-me a ti, obviamente que não.

O homem assentou um cotovelo no balcão e piscou-lhe o olho. Ele destapava a garrafa e enchia o pequeno copo até cima, refreando a vontade de dar um murro no nariz do homem.

— Tu és um tipo difícil.

— Se continuares a insistir, verás que também sou perigoso.

— O que vieste fazer aqui?

— Aturar-te é que não foi. – Levou o copo aos lábios e bebeu de um trago só. O líquido queimou-lhe o esófago e entrou-lhe no estômago como uma bomba. Encheu a segunda dose. – Vais ficar por aí, a observar-me?

— Não estás interessado em saber qual o castigo aplicado a quem bebe demais?

— Posso descobrir mais tarde, se estiver mesmo empenhado em esvaziar a tua adega de rum corelliano.

— Não serás um soldado. Não me pareces suficientemente feroz e tens as mãos demasiado delicadas.

Ele olhou para a sua mão esquerda, pois segurava no copo cheio de rum com a destra. Há pouco menos de dois dias tinha derrubado três caças TIE a tiros de canhão laser. Isso já dava para preencher um currículo de guerreiro, achava ele. De qualquer modo, não tinha de dar quaisquer explicações àquele intrometido. Bebeu o segundo copo. Aclarou a garganta. Encheu o terceiro copo e deixou-o pousado no balcão. Entre as suas mãos delicadas.

— Deves ser um general.

— Sim, um general! – exclamou, espevitado, endireitando as costas e engrossando a voz. – Sou um general rebelde e estás a aborrecer-me. Não há castigos também, para aqueles que incomodam as altas patentes militares da Aliança?

— Quando vêm beber aqui são todos iguais. Miseráveis que querem esquecer alguma coisa. Tu queres esquecer a tua recente condenação ao exílio gelado de Hoth. Se vais combater pelos rebeldes, deves estar preparado para os sacrifícios.

— Sacrifícios – suspirou. Enterrou os dedos compridos nos cabelos grisalhos, cotovelos sobre o tampo do balcão.

Retomou a lembrança de Bail Organa. Era uma festa, estava ainda no luxo escandaloso de Coruscant. Também estava a beber, misturas de licores decoradas com luzes e outros adereços requintados, inventados para divertir os convivas. O amigo encontrou-o e abraçou-o. Sorriu-lhe. Contou-lhe, cheio de vaidade, que a filha acabava de ser eleita senadora – a mais jovem senadora que haveria de se sentar na magna assembleia. Ele perguntou-lhe a idade da moça e ele respondeu-lhe. Era bastante jovem, de facto. Comemoraram o feito com um brinde, o sorriso de Bail era tão luminoso como a sua taça onde borbulhava um líquido que variava entre o amarelo e o roxo, em espirais carregadas de fragrâncias. Ele adorava a filha, tecia-lhe os maiores elogios – inteligente, ousada, carismática, bonita, obstinada, rebelde. Uma princesinha rebelde para Alderaan. Já nessa altura havia rumores de que a oposição mais musculada ao regime imperial tinha fervorosos adeptos em Alderaan, que se organizava uma rebelião. Nascia um movimento firme que iria enfrentar o Império, tanto no campo político, como no campo militar e que Bail Organa, juntamente com Mon Mothma de Chandrila, eram os mentores.

Depois, o vice-rei tornou-se mais sério. A fronte cobria-se de uma película de suor, os olhos estavam vermelhos, sinais do início de uma embriaguez. Apertou-lhe o ombro, sussurrou-lhe que a filha precisava de proteção e que ele, Heskey, era a pessoa certa. Confiava nele. Heskey riu-se daquele pedido. Depois percebeu que era uma questão pertinente, pois Bail Organa iria regressar a Alderaan para ajudar no governo do planeta, juntamente com a rainha e sua esposa, Breha. Uma desculpa polida para aprofundar o seu trabalho na organização que haveria de se chamar Aliança para a Restauração da República.

Leia Organa era tudo para o amigo, compreendeu, por fim. Se ele se comprometia num objetivo clandestino era para que a filha vivesse numa galáxia livre e em paz. Não suportaria, talvez, a ideia de a filha se envolver com os rebeldes, e que algo de muito mau lhe acontecesse. Ficar ferida ou até perder a vida. Foi com lágrimas nos olhos que Bail lhe exigiu a promessa e ele, por respeito à amizade que os unia, prometeu que protegeria Leia.

E protegeu-a… Desde uma distância segura, atuando na sombra, procurando nunca atrair as atenções da princesa para o que estava a fazer e que a beneficiava ou salvava a sua reputação. Fê-lo. Protegeu Leia Organa.

Porventura seria para agradecer-lhe essa proteção que Bail Organa o convocou, no fatídico dia em que Alderaan explodiu, para ir visitá-lo ao seu palácio. Não teria nada que ver com a Aliança, nem com os rebeldes. Seria apenas um encontro de amigos, com direito a troca de brindes de bebidas tão ou mais requintadas do que as de Coruscant. Alguém percebeu tudo mal e contaram outra história a Mon Mothma, que contratou Ambarine e o seu grupo de mercenários para raptá-lo e levá-lo a um encontro secreto com essa senadora. E foi assim que ele conheceu Lishma e foi por causa de se ter cruzado com o gotal que ele o reconheceu no mercado de Curamelle e empreendeu aquela louca cruzada para salvá-lo. E depois ficou na posse dos planos dos compressores e acabou a ser salvo por Luke Skywalker que usava um sabre de luz numa arena em Pesak e agora estava naufragado em Hoth.

A sua vida tinha uma lógica hilariante.

Se o homem da cantina lhe falou alguma coisa durante aquela sua divagação sobre Bail e Leia Organa, Heskey não o escutou. E ao tê-lo ignorado, o homem refugiou-se num canto do balcão, a limpar copos que já estavam limpos com um pano que manobrava com uma indolência exasperante. Observava-o e monitorizava as suas reações. Ele não tinha bebida o terceiro copo. Esperava o rum entrar no seu sistema para aumentar a dose. Na verdade, não queria beber demais.

A porta da cantina abriu-se e entrou uma criatura a regougar. Ele espreitou-a, rodando ligeiramente a cabeça e descobriu um wookie com o pelo castanho salpicado de flocos de neve. Cruzaram o olhar, o wookie parou e inclinou a cabeça para a esquerda, calando os regougos. Surgiu uma voz masculina:

Yeah, Chewie… também espero não me demorar por aqui. Tenho os ossos tão gelados como os teus e estas patrulhas são tão inúteis como tentar domesticar um wampa.

Entrou um homem atrás do wookie. Vestia um casaco de cor escura, com capuz, bem fechado sobre o torso e descalçava umas luvas grossas.

— Tudo depende dos negócios que conseguir arranjar, companheiro. Mas não está fácil. O Império anda a patrulhar as nossas rotas na Orla Exterior e está toda a gente com medo. Todas as mensagens que envio não têm conhecido retorno… O que foi?

Estacionou ao lado do wookie e calou-se abruptamente, ao notar que tinham companhia.

— Oh… Olá.

Heskey não lhe devolveu o cumprimento. Bebeu o terceiro copo.

— Hoje é um dia agitado, Liam? – perguntou o recém-chegado, sentando-se no penúltimo banco da fileira que abarcava o balcão. O wookie veio a arrastar-se pesadamente e ocupou o último banco.

O homem da cantina chamava-se Liam. Excelente! Uma informação inútil.

— É um general – informou Liam, quase em jeito de troça.

— Um general… Não sabia que tinham havido novos recrutamentos entre as altas patentes. Ei, não será melhor que nos apresentes, Liam?

— Não sei o nome do general, capitão Solo.

— Heskey! – disse ele, enchendo o quarto copo. Não suportava estarem a falar dele como se não estivesse ali. A culpa era sua, porém, aceitava essa falha. Não queria dizer que desculpava a falta de educação.

— Han Solo. E este é o meu copiloto, Chewbacca – apresentou-se o outro, sem estender a mão ou usando qualquer outro formalismo, como uma continência. Uma decisão fortuita e acertada. Não suportava saudações militares.

— Ótimo.

Houve um breve intervalo silencioso.

— Aquilo é o meu rum corelliano, Liam?

— Sim, capitão Solo. É o teu rum corelliano. O cavalheiro pediu a garrafa. Não posso dizer que não a um general… Deixei o aviso do que pode acontecer, mas somos todos adultos e cada um faz o que bem entender. Neste fim do mundo e durante uma guerra, fazemos todos o que bem entendemos. Não haverá melhor ocasião. Depois, quando as coisas se estabilizarem, quando a paz regressar, muito do que fizemos até será proibido… quem sabe? Vamos viver o que pudermos. Morreremos noutro dia.

O wookie rosnou.

— Uau… não sabia que eras um chato, Liam.

— Tenho os meus momentos. Vejo muita coisa neste balcão, por causa do teu rum corelliano. Está a terminar, para que saibas, capitão Solo. Duas garrafas. E depois, sem o rum, como ficarei a conhecer as confissões dos pecados desta base?

Heskey agarrou no seu copo e ergueu-o. Cheirou o líquido transparente, o odor pungente do álcool queimou-lhe o interior das narinas. 

— Está complicado sair daqui, Liam. Também para mim… tenho de andar na linha para conseguir uma licença mais prolongada. Ei, companheiro!

Uma segunda rosnadela do wookie chamou-lhe a atenção e Heskey olhou para Han Solo, capitão e contrabandista de bebidas alcoólicas, a avaliar pela conversa que estava a escutar. E de outros negócios obscuros… honestamente, ele não queria saber. Han Solo mostrava-lhe um copo vazio, idêntico ao seu e pedia-lhe com um gesto que o enchesse. Heskey agarrou na garrafa e inclinou-a um pouco. Estavam separados por dois bancos e qualquer um deles era demasiado orgulhoso para sair do seu assento e forçar a aproximação.

Liam interveio, constatando o óbvio:

— Estão afastados um do outro.

Heskey revirou os olhos. Han Solo torceu a boca. O wookie urrou.

— Têm de se sentar mais perto…

— Obrigado, Liam! – exclamou o capitão.

— Amigo, eu mudo de lugar, se tu também mudares – informou Heskey.

— É justo – concordou Han Solo.

Mexeram-se ao mesmo tempo, quase como se tivessem combinado aquilo, num movimento ensaiado e espelhado. Heskey esgueirou-se para o banco à sua direita, Han Solo deslizou para o banco que ficava à sua esquerda e estavam os dois sentados, lado a lado. Ele encheu o copo do capitão. Trocaram um brinde circunspecto, nem sequer tocaram os copos um no outro. Limitaram-se a acenar-se mutuamente, num subir e descer da mão. Depois beberam ao mesmo tempo. Bateram com os copos no balcão. O wookie tinha-se reaproximado do capitão. Demonstrava ser bastante fiel para um simples copiloto.

— Qual é a tua história? General…?

Heskey sorriu sem alegria. Liam tinha-se recolhido a um sinal de Han Solo. Só por isso respeitou-o. O capitão era alguém que apreciava a privacidade em momentos importantes. E, então, contou:

— A minha lealdade para com um amigo legou-me este desterro de neve e de bestas perigosas. Não me peças para te contar tudo desde o início. Começa em Coruscant e com o Império e não acredito que um rebelde aprecie histórias que tenham como início Palpatine e a sua tirania.

Han Solo estalou a língua, depois de a ter passado pelos dentes como que a transferir as ínfimas gotículas do rum das gengivas para as suas papilas gustativas. Não podia desperdiçar nada daquela bebida que, pelos vistos, ganhava o estatuto de preciosidade. Meneou a cabeça.

— Hoth é um inferno de gelo e de wampas. Concordo contigo. Se te serve de consolo, estamos todos desterrados aqui…

— Mas tu podes sair. Se trabalhares bem, dão-te uma licença.

— Sim, posso.

— O que significa que possuis uma nave. Ou não serias… comerciante. De rum.

Han Solo riu-se com vontade.

— Comerciante de rum! Maravilhoso! Já me chamaram muitas coisas…

— Mas comerciante não foi uma delas. Acabei de te conhecer, não queria ofender-te…

O wookie mantinha-se estranhamente vigilante, voltado de costas para o balcão, com os cotovelos apoiados neste, observando-os e rosnando num tom quase inaudível. Era mais do que um copiloto, de certeza. Também seria um guarda-costas. Em Corulag, quando jovem, Heskey aprendera a conviver com wookies. Eram criaturas extremamente temperamentais. Mais valia não provocar demasiado o capitão, ou arriscava-se a ser atacado.

— Está bem, velhote. Queres pagar-me uma passagem na minha nave? Aceito levar passageiros mediante um preço justo. Não me costumo aproveitar de pessoas desesperadas. Somos todos rebeldes, não é suposto lucrar com os meus novos amigos.

— Não estou assim tão desesperado! – contrapôs Heskey, indignado.

— Estás a esvaziar o meu rum corelliano. Isso indica desespero.

— Acabaste de me conhecer, capitão. – Retomou uma ideia lançada pelo outro. – Novos amigos…

— Nos tempos que correm, os rebeldes são os novos amigos de toda a gente. Não se pode dizer que a Aliança era apelativa antes de ter rebentado com a Estrela da Morte.

— Hum…

— Então, temos negócio? Serve-me outro copo.

Heskey fez-lhe a vontade. Han Solo bebeu, mas ele não.

— Sim, temos negócio. Sou um homem de palavra.

— Também sou um homem de palavra. Quando queres partir na Falcon?

— A Falcon.

Millenium Falcon, a nave mais veloz da galáxia. Fez a corrida de Kessel em doze parsecs. É o nome da minha nave. Sou um homem com um certo nível… Estilo. Compreendes? Estilo. Uma reputação a defender. A minha nave tem nome.

— Qual o sentido prático disso, de nomeares o teu veículo? É apenas um meio de transporte.

Han Solo olhava-o como se ele fosse um pobre néscio que não valia a pena elucidar.

— Esse assunto é entre mim e ela. E o Chewie.

— O teu copiloto. Magnífico. Devem ser um trio imbatível.

Encheu um terceiro copo ao capitão.

— Mostro-te a Falcon quando sairmos da cantina – disse Han Solo após beber o seu rum, fazendo uma careta no fim. – Está estacionada no hangar. Sim, somos um trio imbatível. E cuidado com o que dizes, vais precisar de mim para sair de Hoth. A Falcon é tão suscetível, quanto eu. Cinco mil e é o meu preço final. Só por ser para um general.

— Pago-te dez mil quando chegar ao meu destino. Corulag.

— Não quis parecer ganancioso… Se me queres pagar dez mil, quem sou eu para recusar. Aceito a tua contraproposta, velhote. Corulag, hum? Nunca voei para Corulag, mas conheço amigos que usam a rota de comércio Perlemiana. Nos dias que correm é demasiado arriscada, o Império está a guardar a rota por causa das patentes relacionadas com alta tecnologia. Qualquer vantagem tecnológica causa um desequilíbrio no conflito com a Aliança, para ambos os lados. Ei, diz-me… conheces aquela história do tipo que o Luke foi resgatar em Pesak? Essa missão estava relacionada com uns planos de compressores roubados em Corulag.

— Oh, estás ao corrente das minhas façanhas! – brincou Heskey, sem humor.

O rosto de Han Solo expressou surpresa.

— Tu és o tipo que o Luke foi salvar?

— Sim. Luke Skywalker também é um dos teus novos amigos?

— O meu melhor amigo, velhote.

— Um rapaz deveras talentoso. Um grande piloto. Sabe manejar muito bem um sabre de luz.

— E usa a Força também.

— Um Jedi? Ele disse-me que não era um Jedi. – Heskey enchia o seu copo depois de dar outra dose ao capitão.

— Não percebo muito de como funcionava a Ordem Jedi, no tempo da Antiga República, mas acho que o Luke ainda não é um Jedi. Falta-lhe treino ou algo assim. Sim, Chewie, acho que estou a dizer as coisas bem… Foi o Luke que me contou, uma vez, sim. Não me interrompas. Quando passei por Tatooine, há algum tempo, encontrei um mestre Jedi. Kenobi.

— Nunca ouvi falar.

— Um velho eremita. Assim como tu, general.

— Velho? Ou eremita?

Han Solo ignorou a dúvida dele.

— Infelizmente, morreu a combater Darth Vader…

— Como sabes isso?! – perguntou, escandalizado com o grau absurdo de arrogância que notou naquela frase.

O capitão limitou-se a encolher os ombros.

— Eu vi o combate. Ou melhor, o fim desse combate.

Heskey semicerrou os olhos, em descrédito. Estava a sentir-se um pouco tonto, tinha bebido mais ou menos o mesmo que o outro e achava que aquela quantidade não o podia embebedar. Portanto, o capitão também não estaria embriagado, ao ponto de começar a inventar feitos e outras fantasias. Ou seria um mentiroso por natureza e aquela postura era mais do que condizente com o seu carácter. De qualquer modo, precisava de confiar nele, pois era o seu passe mais seguro para deixar Hoth mais cedo do que o previsto.

— De qualquer modo, tornei-me amigo do Luke desde esses… esses acontecimentos. Somos amigos. E a Leia também. Bem, com a Leia é mais do que amizade. É… algo mais.

Um choque elétrico perpassou-lhe o corpo e ele endireitou-se.

— Leia? A princesa Leia Organa de Alderaan?

— Sim, velhote. Sua Alteza… Ela e eu, bem, temos uma coisa especial… entre nós.

O wookie fez um ruído rouco com a garganta, semelhante a um riso reprimido. Ele espreitou o capitão.

— São namorados? Tu e ela… és o namorado dela?

Yeah… Sim, sim sou. Sou o namorado da Leia.

— Ela sabe disso?

— Claro que sabe, amigo.

— Só para ter a certeza.

Han Solo fixou-lhe um olhar intenso e mortal.

— Conheces a Leia?

— Servimos os dois no Senado Imperial.

— Oh… certo…

Não se aprofundou na explicação. Havia bastante mais a explicar, todavia. Uma dança, um conselho, licor de gojyriana e uma noite que não devia nunca ser recordada. Muito menos relatada. Ele tinha prometido a Bail Organa que lhe iria proteger a filha e ele desempenhara essa função da melhor maneira que conseguira, pois ele não era, nem nunca fora, um homem bom. Tinha os seus momentos, apenas isso e podia até inventar que se movimentava com as melhores das intenções. Gostava de Leia, era uma mulher admirável, sem dúvida. Fazia-lhe lembrar o amigo, toda a obstinação benigna de Bail Organa, um fogo extraordinário que conseguia motivar todos em seu redor, levando-os a marchar na guerra pela liberdade imbuídos do espírito rebelde, educado e resoluto de Alderaan. Até servir ou seguir a bandeira dos Organa havia uma grande distância que ele, por simples orgulho, não se predispunha a percorrer. Sabia que Leia compreenderia isso. Ela era capaz de distinguir quem a estava a enganar, quem estava a ser sincero. Fora ele que lhe ensinara essa diferença. Nem sempre as boas intenções vinham acompanhadas de invólucros bonitos. E ela aprendera a lição.

— Existe alguma mulher na tua vida, Heskey?

— Não, capitão – respondeu azedo. – Não fui feito para o amor. Irei morrer sozinho, com o meu androide e o meu assistente pessoal à minha cabeceira. Sim, espero morrer na minha cama, sem grande alarido. Fui um senador, sou um político… e um general. Não espero tombar num campo de batalha. Serei cobarde? Creio que não… estou em Hoth, não estou? Sobrevivi a Pesak e a Coruscant. Tenho algum mérito.

— Claro, claro. Enche-me novamente o copo e eu vou contar-te uma história engraçada com um jogo de sabacc.

— Sabacc…

— Sim. Antes de conheceres a Falcon precisas de ficar a conhecer a partida de sabacc mais afortunada de sempre.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Paciência.



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