A Lenda da Raposa de Higanbana escrita por Lady Black Swan


Capítulo 20
19: Gatinhos e Chocolates.


Notas iniciais do capítulo

Essa semana eu perdi um ente muito querido da minha família, mas como o capítulo já estava previamente pronto, resolvi postá-lo na data correta, perdoem-me por qualquer erro que eu possa ter deixado passar.

GLOSSÁRIO:

Era Heian: equivalente ao período entre os anos de 794 a 1185.

Jinbei: são roupas mais confortáveis e casuais, tipicamente usadas no verão a vestimenta lembra um pijama ou roupão. São comuns em festivais de verão, mas de fato podem também ser usados como pijamas, roupas para se ficar em casa ou ir até lugares próximos (como lojas de conveniência etc).

Shishi-Odoshi: Típica fonte de água ornamental muito comum em jardins japoneses, o Sōzu ou Shishi Odoshi consiste em um tubo segmentado, geralmente de bambu, articulada a um dos lados do seu ponto de equilíbrio.



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Gintsune não havia sido completamente sincero com Yukari.

Pois afinal havia sim alguém na pousada cujos olhos eram ainda melhores que os dela, e que foi capaz de identificá-lo no segundo em que o viu, mas em sua defesa havia sido por uma boa causa: pois do contrário ela nunca teria ido… e também não era como se aquele camaradinha fosse realmente falar algo para alguém.

Enquanto recolhia as latas de cerveja espalhadas pelo quarto e as jogava em um saco de lixo, Gintsune ouviu a porta do guarda roupa atrás de si ser arrastada lentamente para o lado e suspirou, já estava perdendo um pouco a paciência com aquela situação.

—Ouça, eu não devorei Yukari e realmente não estou planejando nada demais, só estou substituindo uma garota estressada que precisava muito de um dia de folga. — disse sem se virar, ainda ocupado em recolher o lixo, por que Yukari havia reclamado tanto por ele morar em seu quarto? Nem de longe ele fazia tanta bagunça quanto àqueles hóspedes porcalhões folgados! — Então pode parar de me seguir para todo canto, desse jeito tão desconfiado?

Arriscou dar uma pequena olhada por cima dos ombros, mas quando o tentou a porta do guarda roupa rapidamente fechou-se antes que Gintsune sequer tivesse tempo de vislumbrar o pequenino.

Agora que parava para pensar, desde que os humanos se tornaram praticamente inalcançáveis Gintsune nunca mais vira qualquer Zashiki Warashi vagando por aí, e isso fazia sentido, pois provavelmente todos eles haviam permanecido entre os humanos, já que eram criaturinhas protetoras da boa sorte que viviam em estabelecimentos comerciais humanos e, embora mais raramente, em suas casas, e sempre atraiam prosperidade e boa sorte para os imóveis aos quais decidiam habitar, mas, assim como as moedas, aqueles pequenos espíritos de aparência infantil também possuíam outra face: pois se eles decidissem abandonar o seu estabelecimento a má sorte e a falência seria praticamente inevitável.

Por isso Gintsune nunca tentava forçar sua aproximação com aquele camaradinha, ele já ouvira falar de Zashikis Warashis travessos que gostavam de aprontar algumas pequenas e inofensivas brincadeiras e até se mostravam a uma pessoa ou outra em raríssimas ocasiões, mas aquele da pousada parecia excepcionalmente tímido e se ele acidentalmente o espantasse e a pousada viesse a falir, Gintsune teria de passar pelo grande incomodo de ter que arrumar outro lugar para ficar.

Alguns youkais podiam gostar da vida ao ar livre, mas certamente não ele.

Erguendo-se e endireitando as costas Gintsune contemplou seu trabalho feito, os hóspedes daquele quarto — um trio de universitários que viera passar o final de semana nas termas — haviam informado que jantariam fora naquela noite, então tudo o que restava agora a ele era estender os futons ali.

O dia de Yukari na pousada da família parecia ser apenas uma eterna e monótona rotina, assim como uma fonte Shishi-Odoshi: eternamente realizando seu trabalho, sem nunca cessar. O dia todo era apenas correr para limpar ali, servir o almoço aqui, varrer para lá, tirar o lixo dali… não lhe admirava então que Yukari possuísse o temperamento e as mãos tão ásperas. Se ele fosse ela, (não como agora, mas verdadeiramente) ele se escreveria em algum clube do colégio, isso daria a ela algum descanso daquela correria estressante...

—Yuki! — a mãe de Yukari o chamou quando ele estava a meio caminho da cozinha.

Oh certo, qual era mesmo o nome dela? Gintsune nunca tinha se preocupado em memorizar uma coisa trivial daquelas… que seja, isso não tinha importância nenhuma agora.

Gintsune parou equilibrando meia dúzia de bandejas repletas de prataria em seus braços.

—Sim, mamãe? — respondeu calma e naturalmente, com o rosto inexpressivo exatamente como Yukari.

A mãe de Yukari aproximou-se e tirou de seus braços metade do peso, e Gintsune inclinou levemente a cabeça agradecendo o gesto, Yukari e a mãe tinham praticamente a mesma altura, dividiam o mesmo tipo de corpo e também o mesmo formato oval de rosto e tom castanho escuro de cabelos e olhos, mas fora isso Gintsune não conseguia ver muitas semelhanças entre as duas, especialmente porque a filha em geral sempre tinha uma expressão muito mais severa.

—Eu só queria dizer... Sinto muito por você não ter podido sair hoje.

Gintsune balançou a cabeça calmamente.

—Está tudo bem, foi egoísmo da minha parte pedir para sair em um momento tão movimentado. — ele recomeçou seu caminho para as cozinhas.

Há! Se Yukari o visse agora até mesmo ela ficaria em duvida sobre quem era realmente a verdadeira!

—Você é muito compreensiva querida. — a mulher “mais velha” elogiou caminhando ao seu lado — Mas eu queria saber… há alguém em especial que você queria ter ido ver hoje?

Opa...

—Apenas queria sair com minhas amigas. — Gintsune a observou de canto.

—Sim, mas eu estive falando com mamãe e… talvez um rapaz? — Sra. Shibuya pigarreou. — Se você quiser pode chamá-lo para comer bolo, hum… tenho certeza que se eu falar com seu pai...

Gintsune queria rir, até aonde iriam às fantasias de vovó Tsubaki?

Mas ao invés disso ele manteve-se sério e franziu o cenho.

—Não há necessidade de chamá-lo até aqui para algo assim, ele não é ninguém. — respondeu simulando o tom ranzinza de Yukari.

—Tudo bem, mas quando se sentir a vontade para falar sobre isso, saiba que pode falar comigo.

A Sra. Shibuya concordou compreensiva, mas Gintsune só esperava que Yukari não o culpasse por aquilo, principalmente porque deve ter parecido especialmente suspeito para a mãe e a avó de Yukari quando “Yukari” foi liberada duas horas antes do final do expediente e a primeira coisa que fez foi rapidamente trocar de roupas e avisar que estava saindo.

Gintsune e Yukari não havia combinado como desfariam a troca depois que ela voltasse. Então ele ficou aliviado em poder usar aquilo como desculpa para sair e ir esperá-la, é óbvio que ela não viria pela entrada da frente então ele deu a volta e foi esperá-la na ladeira dos fundos, também tomou o cuidado de usar exatamente as mesmas roupas fora de moda que ela usava quando saiu. Era uma ladeira larga o bastante para um caminhão subi-la sem problemas, assim como a ladeira da frente, mas diferente daquela, essa era ladeada por árvores de ambos os lados, e Gintsune ocultou-se entre as sombras dessas árvores para esperá-la, mas acabou não ficando muito tempo por ali, pois Yukari retornou ainda uma hora antes do final do expediente.

Ele percebeu o exato momento em que ela o viu ali, pois ela arregalou os olhos levando a mão ao peito por meio segundo antes de soltar a respiração.

—Por um momento achei que fosse morrer. — confessou se aproximando — O que faz aí, Gintsune?

—Estava te esperando, é claro! — respondeu saindo sorridente das sombras.

—O expediente ainda não acabou. — ela comentou olhando o relógio de pulso, ele tinha se esquecido de imitar esse acessório em seu próprio traje. — Você me disse que seria displicente hoje em meu lugar...

—Eu não estou faltando ao serviço. — ele ergueu as mãos — Tsubaki e sua mãe te liberaram mais cedo, parece que estavam realmente se sentido culpadas em te fazer trabalhar hoje. Mas seu pai tem coração de pedra.

O rosto de Yukari relaxou.

—Papai é muito dedicado ao trabalho. — afirmou.

—Por isso que é provavelmente o favorito daquele carinha. — Gintsune resmungou cruzando os braços atrás da cabeça.

—O que?

— Como foi o passeio? — ele desconversou.

—Foi incrível! — Yukari respondeu animada como Gintsune nunca a vira antes — Eles tiravam fotos do passeio na montanha russa e Aoi-chan tinha uma cara hilária, ela...!

—Que bom, que bom. — ele a parabenizou acariciando sua cabeça, internamente pensando que o que realmente merecia uma foto, para ser usado como registro para posteridade, era o sorriso de Yukari naquele instante. — Agora é melhor você voltar pela entrada da frente, sua família já tem noção de que você saiu mesmo, mas claro que não desde manhã. Oh, seria estranho se você saísse com uma roupa e voltasse com outra. — Explicou rindo, quando a notou observando seus trajes.

—Entendi. Bem pensado. — Ele sorriu convencido com seu elogio. — Agora pode voltar à sua verdadeira aparência?

—Ora. — Gintsune piscou — Será possível que está sentindo assim tanta falta de meu belo rosto?

Yukari girou os olhos e cruzou os braços, e lá se ia o sorriso… ele devia mesmo ter tirado uma foto.

—É estranho falar com uma cópia de mim mesma!

Ele riu, mas ainda assim atendeu ao seu pedido, de qualquer jeito ele realmente já estava com saudade de seu belo rosto e seus lindos cabelos prateados.

—Bem, eu já cumpri minhas boas ações por hoje, e tive um dia absurdamente tedioso, é claro que eu podia sair para me divertir um pouco agora, mas nada de interessante acontece nessa cidade durante a noite, então eu vou apenas voltar para o seu quarto. E quanto a você é melhor entrar logo. — fungou — Vai começar a nevar.

—Tudo bem. — ela concordou — Depois do expediente você pode tomar banho numa das termas.

Gintsune olhou-a espantado.

—Você bateu a cabeça em algum brinquedo do parque?! — agarrou-a pelos ombros.

Yukari afastou suas mãos com tapas.

—Acho que por hoje você merece. — respondeu irritada antes de dar meia volta e ir embora.

Mas que tipo de gratidão era aquela?! Gintsune sacudiu a cabeça rindo das atitudes de Yukari… até ouvir um som estranho ali perto.

Ele parou de rir, virando-se, seria possível? Em uma noite fria como aquela?

Começou a andar cuidadosamente por ali, olhando para os cantos em busca da origem do lamentoso som, era um choro tão indefeso, e era mais de um… foi quando ele os encontrou.

Ah, a maldade humana, até onde eles seriam capazes de ir?

Já passava das 22h e a neve caia ininterrupta lá fora, quando Yukari retornou ao quarto.

—Gintsune eu te trouxe uma fatia de...

—Cuidado com o Tama! — Gintsune gritou de repente.

Yukari deu um mini pulinho e quase deixou cair a fatia de bolo que trazia quando, de repente, um pequenino filhote de gato cinza com enormes olhos azuis saltou sobre seus pés, atacando seu dedão esquerdo.

—M-mas o que é isso?! — gaguejou fechando a porta apressadamente.

—Oh, Yukari bem vinda de volta! — ele a cumprimentou sentado no chão no meio do quarto — Esse aí é o Tama. — apresentou ao felino — E este aqui é o Tama. — indicou o segundo gatinho, imaculadamente branco, que tinha em seus braços — E… onde é que está a Tama? Ah, aqui está.

Puxou um terceiro filhote de gato, dessa vez com a pelagem branca e laranja, de debaixo da cama.

—Por que trouxe esses gatos para o meu quarto? — ela questionou surpresa puxando a saia para cima com uma das mãos quando o gatinho cinza tentou escalá-la.

—Alguém os abandonou numa caixa de papelão lá fora. — ele contou coçando a barriga do gato branco e laranja.

—Sabe que animais são proibidos aqui! — ela o repreendeu.

—Mas são tão pequenos e indefesos… e está nevando. Se eu os tivesse deixado lá teriam morrido de frio.

Yukari franziu o cenho, mas logo suspirou relaxando a expressão e atravessou o quarto para deixar a fatia de bolo que trazia sobre a escrivaninha, tomando cuidado para não pisar nos gatinhos branco e cinza que queriam atacar suas meias nos pés.

—Tudo bem, eu entendo, mas é melhor não deixar ninguém vê-los. — rendeu-se — Uma vez, quando eu era pequena, eu também trouxe para casa um filhote que encontrei na rua.

—E o que aconteceu?

—Meu avô levou-o para um amigo da família da minha avó que tinha uma clinica veterinária e um abrigo para animais. Era um filhote fofo então provavelmente foi adotado logo, mas eu chorei por quase quatro dias depois que o levaram. — contou, sentando-se em sua cadeira — Vovó me disse que o irmão dela era igualzinho: amava os animais e estava sempre os recolhendo da rua.

—Quer dizer o avô da Kaoru-chan? — perguntou distraidamente brincando com os gatinhos.

—Não, o irmão do meio, o que foi embora quando ela era criança. — o corrigiu — Parece que ele e o irmão mais velho, o avô de Kaoru, estavam sempre brigando também. Mas deixe isso pra lá, o que pensa em fazer com esses filhotes?

—O que eu penso em fazer? — ele repetiu,

Os gatinhos branco e branco com laranja estavam dormindo em seu colo, mas o cinza havia sumido de vista.

Yukari apoiou o rosto de lado sobre a mão.

—Tudo bem eles ficarem aqui por essa noite, mas é melhor já ir pensando no que vai fazer com eles depois.

—Quer que eu os jogue de volta na rua? — Gintsune olhou-a arrasado.

Yukari franziu o cenho.

—Não foi o que eu disse. — suspirou — Mas aqui eles não podem ficar.

—Tá bem, eu já entendi. — ele concordou por fim, ainda que de má vontade. — Mas abandonar criaturinhas indefesas assim em uma noite tão fria é um ato de muita maldade, não acha Yukari? Os humanos são realmente seres cruéis, claro que não estou dizendo que a crueldade é um traço exclusivo da sua raça, porque em minha opinião todo ser racional tem potencial para crueldade, mas geralmente os humanos não se dão conta de que são seus atos cruéis que dão origem a mais e mais youkais. Ou pelo menos davam nos meus tempos. — deu de ombros — Eu mesmo não estaria aqui se não fosse a maldade humana.

Aquilo com certeza a surpreendeu.

—Então você...?

—Ah não, eu com certeza não. — ele riu — Sou 100% nascido youkai.

Ela franziu o cenho.

—Então o que quis dizer?

Apoiando-se com as mãos ele inclinou-se para trás esticando as costas e olhou para o teto.

—Foi assim que meu velho nasceu. — contou — Muito tempo atrás ele era só uma raposa normal, tinha uma fêmea e filhotes também, mas um dia uns caçadores encontraram a toca deles, eles mataram a fêmea e os filhotes diante dos olhos do meu pai, por causa da pele, entende? Depois o mataram também, é claro. Você já começou a chorar? — Ele olhou-a de canto, mas Yukari não estava chorando, embora estivesse torcendo a saia entre as mãos e possuísse uma expressão profundamente incomodada em seu rosto. Gintsune estalou a língua. — Quando contei essa história à esposa do tengu ela já estava se desfazendo em lágrimas a essa altura. De qualquer forma, os espíritos da fêmea e dos filhotes seguiram seus caminhos, mas o do meu velho ficou naquela toca, impregnado pela maldade humana e a crueldade com a qual fora morto ele ficou lá, acumulando por décadas e mais décadas todo o seu rancor contra a raça humana. Até que um século se passou e ele completou sua transição, tornando-se um youkai por completo.

O gatinho cinza finalmente apareceu, surgindo de debaixo da mesa e saltando sobre os pés de Yukari para uma nova emboscada, mas ela recolheu as pernas rapidamente, ficando agora com elas cruzadas sobre a cadeira.

—Sinto muito pelo o que aconteceu ao seu pai. — ela disse afinal.

—Você está chorando agora? — ele voltou a olhá-la.

—Não.

Gintsune suspirou dando de ombros e acariciando o gatinho cinza que correu para junto de si depois de sua emboscada mal sucedida aos pés de Yukari.

—Minha mãe também é meio que o resultado da maldade humana, sabe? Só que de um jeito diferente. Ficou curiosa?

—Sim. Continue. — Yukari confirmou.

Aquilo o fez rir, mas ele prosseguiu:

—Nem sempre youkais criam seus filhotes sabia? Na verdade é mais normal abandoná-los, a minha mãe é nascida youkai, mas provavelmente foi um desses filhotes abandonados, ou então seus pais foram mortos, isso também é uma possibilidade já que ela nunca os conheceu. O problema é que youkais que podem se tornar muito poderosos na idade adulta tendem a serem mortos ainda filhotes por outros youkais.

—Que cruel.

—Com certeza. Bem, mesmo sozinha ela sobreviveu por um tempo, só que aí um dia foi emboscada, sabe? Era um bando inteiro e ela com certeza teria morrido, mas acabou tendo sorte e foi salva por um exterminador que passava por ali e a confundiu com uma menina humana sendo atacada. — suspirou — Quando o cara percebeu o que ela era de verdade ele podia tê-la simplesmente a matado também, mas ao invés disso teve outra ideia. Ela não tinha um nome, então ele lhe deu um e o usou para prendê-la a si. Tornando-a sua serva.

—Algo como um familiar mágico?

—Exatamente assim. — ele concordou. — Ela acompanhou aquele exterminador por décadas, ajudando-o com todo tipo de serviço e aprendeu uns truques de magia bem legais também, mas enquanto o humano se tornava mais velho e fraco minha mãe ficava mais forte. E aí um dia esse homem disse que se aposentaria, mas decidiu que não poderia libertar minha mãe sem mais nem menos, afinal ela era “uma besta perigosa”, e ele não tinha descendentes a quem passá-la adiante, por isso decidiu simplesmente matá-la. Ele a salvou, a nomeou e a usou, mas quando não precisou mais dela apenas a descartou.

—Sua mãe obviamente não morreu, ou do contrário você não estaria aqui. — Yukari apontou — Então ela o matou?

—Ela nunca faria algo assim, ela devia a vida a ele. — Gintsune girou os olhos — Mas… ela provavelmente gritou, e foi assim que meu pai os encontrou, ele os escutou e então a salvou e, sim, ele matou o cara. Foi assim que os dois se conheceram, e estão juntos desde então. Minha mãe é alguém gentil, cheia de graça e alegria, e provavelmente se nunca a tivesse encontrado meu velho teria se tornado apenas um espírito maligno cheio de rancor e ódio que espalha a calamidade, devorando e matando tudo o que encontrasse pela frente até ser finalmente derrotado e morto. Então acho que, de certa maneira, ela também o salvou.

—Tocante. — Yukari ironizou.

—E você tem o coração de pedra do seu pai. — ele mostrou-lhe a língua e se colocou a acariciar os gatinhos dormindo em suas pernas — Mas então o que vou fazer com vocês amiguinhos? É uma pena Tama não estar aqui, porque se ficarem apenas aos meus cuidados eu provavelmente me esquecerei de alimentá-los.

—Que Tama?

Embora houvesse três “Tama” naquele quarto, era óbvio que ele estava se referindo a uma “Tama” diferente agora.

—É uma gata de rua que está sempre indo na minha casa. — ele respondeu distraidamente — Ela costumava pertencer a uma mulher humana, mas ela era muito velha e um dia morreu, só que a Tama não se deu conta disso, e continuou na casa esperando a velha voltar, mas claro que isso nunca aconteceu, mas depois que eu expliquei a situação ela acabou me seguindo até em casa e aparece lá até hoje. Não sei como a velha a chamava, mas eu a chamo de Tama.

Yukari o encarou.

—Para você todos os gatos são “Tama” por acaso?

—É porque “Tama” é um bom nome para gatos. — concordou sem hesitar — Oh, será que ela ainda está me esperando? Ela é uma gata muito teimosa afinal. — ele pareceu dar-se conta de repente, mas então sorriu e apontou o bolo sobre a mesa — E isso aí é pra mim?

—É sim. — Yukari levantou-se alisando a saia — Eu vou me trocar, trate de não deixar cair migalhas e não dê aos gatos, vai fazer mal a eles, e nem os deixe subir na minha cama ou eu é que vou fazer mal a você.

Avisou-o pegando seu conjunto jinbei no guarda-roupa e saindo do quarto.

Aquilo o fez rir tão repentinamente que todos os Tama se levantaram ao mesmo tempo e fugiram correndo em diferentes direções.

Nenhum dos gatinhos tentou subir na cama de Yukari durante a noite, ao invés disso todos preferiram se aconchegar à Gintsune e dormir com ele debaixo da cama — talvez achassem que ele fosse sua mãe —, embora ela tenha ficado bem zangada quando ele tentou alimentá-los com lula frita, mas Tama amava frutos do mar, especialmente moluscos como ostras e lulas, então ele não entendia porque não podia dar lula àqueles Tamas também, por fim acabaram dando leite a eles… e então Yukari o obrigou a limpar tudo quando voltou da escola e descobriu que os filhotes haviam aliviado suas necessidades no quarto.

Tudo bem, talvez fosse melhor mesmo arrumar logo alguém que pudesse ficar com eles...

—Ayakashi-chan não veio à aula. — Kaoru comentou olhando em volta.

Imitando seu gesto Yukari confirmou que aquela raposa realmente não estava inclusa em nenhum dos outros grupos de culinária da aula de economia doméstica.

—Que fato inusitado, geralmente ela espera ser expulsa da sala, não é mesmo? — comentou a representante. — Nishiwake bata a massa com um pouco mais de força.

—Sim! — Aoi-chan respondeu se empenhando ainda mais na massa de biscoitos.

A representante deu uma olhada nas bandejas já untadas de manteiga por Yukari e Kaoru, enquanto ela própria também batia sua massa de biscoitos.

—Que intenção terá a professora em nos fazer assar biscoitos de chocolate hoje? — perguntou de repente.

—Intenção? — Yukari franziu o cenho enquanto lavava as mãos. — É aula de economia doméstica.

—E amanhã é Dia dos Namorados. — a representante salientou. — Hongo, ovos, obrigada, e agora o chocolate. Shibuya ajude Nishiwake. — e só quando começaram a tirar pequenos pedaços das massas para enrolar em bolinhas e por nas bandejas é que continuou — Eu acho que ela fez isso para que as meninas pudessem fazer juntas os seus chocolates de amanhã e ajudar umas as outras também. É sempre mais divertido cozinhar em grupo.

—E quanto aos garotos? — Kaoru questionou.

A representante deu de ombros.

—Nem todos vão ganhar chocolate amanhã, é bom que aprendam a fazer os próprios e se conformem com eles.

—Isso é meio solitário. — Aoi-chan lamentou.

—E triste. — Yukari acrescentou.

—Também não é como se todas nós tivéssemos a quem presentear nossos cookies.

A representante concluiu, atraindo olhares curiosos de suas amigas.

—Representante... — Yukari chamou cuidadosa — Não vai dar os biscoitos ao seu namorado?

—Ele terminou comigo ontem. — respondeu com um pingo de irritação pontuando seu tom de voz — Porque supostamente eu sou “uma garotinha mimada que só o vê como caixa eletrônico e chofer particular”.

—Ora! — Aoi-chan exclamou surpresa — Mas por que ele diria algo assim?

—Nishiwake abra o forno. Obrigada. — ela acomodou ambas as bandejas no forno e continuou: — Porque quando eu não pude ir passar o final de semana com ele, eu pedi que trocasse os ingressos especiais por ingressos normais para ir com minhas amigas. E também não vou dar nenhuma misera migalha ao estúpido do meu irmão que concordou com cada palavra do que ele disse, vou comer tudo sozinha e na frente dele!

A representante e o namorado haviam terminado porque ela a quisera presentear em seu aniversário, Yukari franziu o cenho torcendo a barra do avental.

—Hum… representante… — chamou desconfortável.

—Shibuya, se você tentar se desculpar por termos ido ao parque de diversões vou encher suas narinas de farinha. — a representante a cortou — Mas e quanto a vocês, a quem vão dar os cookies?

—Eu provavelmente vou dar ao meu irmão. — murmurou Aoi-chan.

—Vou dar ao meu pai e ao meu avô. — respondeu Kaoru pensativa — Mas acho que terei que fazer alguns separados para vovô, o médico o mandou diminuir o açúcar.

—Meu pai é alérgico a chocolate. — Yukari deu de ombros — Então acho que comerei os meus também.

Embora ela própria também não fosse muito fã de doces.

A representante a observou.

—E que tal aquele bonitão com quem você estava andando no festival escolar?

 Yukari franziu o cenho, não havia pensado nessa possibilidade ainda.

O resto da turma podia estar assando biscoitinhos na aula, mas Gintsune estava vagando pelos corredores, colando cartazes nos quadros de aviso do colégio.

—Ayaka, você não devia estar em aula?

—Oh! — Gintsune exclamou girando nos calcanhares e dando de cara com o professor Haruna — Professor, você me surpreendeu!

—O que você está fazendo?

O professor sorriu, ele não parecia zangado, mas Gintsune não deixou de notar que tomava cuidado em manter um bom meio metro de distancia entre os dois, ficando praticamente do outro lado do corredor.

—Eu só estava grudando alguns cartazes, queria ter certeza que todos poderiam vê-los já no intervalo. — explicou casualmente se aproximando para entregar um dos cartazes ao professor.

—Você entrou para algum clube...? — ele perguntou baixando os olhos para o pedaço de papel — Está doando gatinhos?!

—Três deles. São dois machos e uma fêmea, mas são tão pequenos... — confirmou, embora isso já estivesse especificado no papel — Eu os encontrei perto de onde moro, mas a senhoria ranzinza me proibiu de ficar com eles, “animais são terminantemente proibidos aqui”. — bufou cruzando os braços — Mas ao menos ela me deu algum tempo para arrumar um lar para eles.

—E se eu adotá-los? — o professor perguntou de repente.

—Você? Jura? — Gintsune perguntou dessa vez sinceramente surpreso, e uniu as palmas das mãos animadamente. — Seria ótimo professor! E qual você quer?

—Os três.

—Os três?! — repetiu boquiaberto.

Professor Haruna deu de ombros.

—Eu vivo sozinho, sabe? E já tem algum tempo que ando pensando em adotar um filhote, por que não três?

E Gintsune aproveitou aquela oportunidade para “impulsivamente” pular no professor e agarrar-se ao seu braço, e roçando-lhe levemente os seios “despropositadamente”.

—Obrigada professor! Você é incrível! — agradeceu infusamente, dois segundos antes de afastar-se “com vergonha” — Eu sinto muito, eu não devia, eu... — E como corava lindamente! — Até!

E então saiu correndo dali sem lhe dar a oportunidade de retrucar.

Humanos eram sempre tão fáceis de manipular! Há! Embora ele devesse admitir que Haruna estivesse demandando um pouco mais de trabalho do que ele previra a princípio, mas ainda assim era bem divertido.

No inicio Haruna queria ir ele mesmo à casa de Ayaka buscar os filhotes de gato, mas isso seria muito problemático para Gintsune, então ele o convenceu do contrário e assim, no dia seguinte depois das aulas, Ayaka Shiori levava alegremente uma caixa de papelão com gatinhos para a casa de seu professor.

Sem duvida um presente muito melhor do que apenas meros chocolates!

Claro que ele estava levando um par de trufas caseiras de chocolate ao professor — obviamente que não feitas por ele em pessoa, mas Haruna não precisava saber dessa parte — com a desculpa de ser um agradecimento por ele se dispor a adotar os...

—Com licença...

Ao principio a voz foi tão baixa — quase um farfalhar de folhas ao vento — que até mesmo Gintsune não esteve certo se realmente havia escutado algo, ele olhou de um lado para o outro, mas não conseguiu localizar ninguém ali além de si mesmo, na verdade, naquele caminho entre as árvores o ar parecia especialmente puro e limpo até demais, nem sequer havia quaisquer sinais nem daquelas criaturas asquerosas nascidas dos mais feios sentimentos humanos.

Mas então que voz...?

—Com licença... — Olhe só! E aí estava ela novamente! E agora a voz parecia ter-se tornado mais nítida do que antes. — Raposa-chan, aqui em baixo.

Foi só então que Gintsune o notou parado aos seus pés, eram um homenzinho em miniatura que muito provavelmente nem sequer alcançava os 30 cm de altura, ele vestia-se como um nobre da era Heian, e tinha seu rosto coberto por um tipo de máscara cujos olhos e a boca eram formados por um trio de pequenos círculos simples, mas o mais estranho era que, mesmo aos olhos de Gintsune, ele não era completamente visível.

Ele não era exatamente transparente, mas era como se a luz o atravessasse e brincasse com sua imagem diante dos olhos de Gintsune, tornando-o mais visível por certos ângulos do que por outros, quase como uma miragem, como se estivesse, de certa forma, em algum plano inalcançável, além do próprio plano astral, habitado pelos espíritos e os youkais… de Repente Gintsune arregalou os olhos percebendo do que se tratava e quase derrubou a caixa de gatinhos.

Um deus!

Ele recuou assustado um passo para trás.

E bem ali diante dos seus olhos!

Como se lesse seus pensamentos o pequenino deus riu levemente, como uma risada muito semelhante à daquele bom velhinho de roupas vermelhas do natal.

—Ora, vamos, não precisa se assustar assim, sabe? Sou só uma pequena e insignificante divindade das flores. Realmente não há o que temer. — garantiu, e girando a cabeça Gintsune deparou-se com o pequenino templo na beira daquela estrada, o deus Lírio de Higanbana! — São gatinhos que você tem aí?

—S-são. — gaguejou finalmente encontrando a própria voz.

—O que vai fazer com eles?

Gintsune engoliu em seco paralisado onde estava. Sua mãe tinha lhe dito que sempre fosse respeitoso com os deuses, mas que tipo de comportamento poderia ser considerado desrespeitoso?

—Eu vou levá-los para um novo lar, uma pessoa se ofereceu para adotá-los.

—Que adorável! — o deus lírio riu como Papai Noel novamente. E então enfiando as mãos nas mangas olhou-o em silencio por detrás de sua máscara, inclinando a cabeça levemente de lado — Quando o vi pela primeira vez em outubro pensei...

—Em outubro?! — Gintsune interrompeu-o sem pensar — Não devia estar na convenção dos deuses em outubro?!

—Uma pequena divindade como eu não é necessária para assuntos tão importantes quanto esses. — o deus Lírio respondeu despreocupadamente. — De qualquer forma, quando o vi pela primeira vez em outubro achei que fosse ela. Depois o vi sobrevoando essa área durante algumas noites, mas não tive muita certeza… mas agora que finalmente estou vendo-o de perto, vejo que você não é ela afinal, é?

—Ela quem? — Gintsune precisou perguntar.

—A raposa que foi lacrada há mais de um século e meio nessa cidade. — o deus respondeu sem rodeios.

—Oh. — Gintsune piscou — Não, não sou.

O deus lírio acenou afirmativo.

—Sim, sim, estou vendo, mas é que vocês dois realmente tem uma energia muito similar. — bem ele supunha que sim, para os deuses com certeza todas as raposas deveriam parecer iguais — Mas veja bem, eu sempre soube que um dia aquela raposa escaparia, entende? O lacre vem enfraquecendo pelo que soube, provavelmente apenas mais uma explosão com aquelas últimas duas… e então um dia você simplesmente apareceu e ainda portando uma energia tão similar a dela, então como pode ver meu engano foi compreensível! Perdoe-me, sim? Ho! Ho! Ho! — Gintsune não sabia o que dizer enquanto na caixa os gatinhos miavam e arranhavam tentando sair será que se escapassem eles tentariam comer o deuszinho em miniatura? Gintsune segurou a caixa com um pouco mais de força. — Oh, mas não vou retê-lo aqui por mais tempo, esses bichinhos que tens aí parecem estar com frio, não é mesmo? Então pode ir. Vá logo, e tente não causar nenhuma calamidade está bem? Ho! Ho! Ho!

—Certo obrigado. Então com licença!

Gintsune curvou-se e rapidamente fugiu dali.

Mas o pequeno deus lírio não conseguia deixar de pensar em como a sua energia era similar à da raposa lacrada naquela cidade.

O professor ficou muito feliz por receber os gatinhos, e também aceitou as trufas com um sorriso, embora tenha se declarado um tanto confuso quando foi informado de que todos se chamavam “Tama” e perguntou se poderia rebatizá-los. Bem, eles só haviam possuído aqueles nomes durante três dias e três noites, então Gintsune não via problema nisso.

Mas é claro que a confusão do professor não se limitava à forma como deveria chamar os filhotes, Gintsune podia senti-la quase como se fosse palpável, quase podia ouvir seus pensamentos girando: Ele deveria chamá-la para entrar, talvez para tomar uma xícara de chá? Seria grosseiro não o fazer depois de ela ter ido até ali, mas seria apropriado? Ayaka era sua aluna afinal, e ele um homem solteiro em casa. Não, definitivamente não seria apropriado. Mas ele ao menos precisava acompanhá-la até o ponto de ônibus.

Gintsune desapareceu do ônibus três paradas mais tarde, aquele motorista deve ter achado que encontrou uma assombração ou que, no mínimo, estava muito cansado. De qualquer forma ele certamente teria uma boa história para contar. Quem sabe não se tornava mais uma lenda da cidade?

—Você tem certeza que não quer um chocolate Yukari?

Gintsune ofereceu deitado no banco comprido do vestiário jogando o doce para dentro da boca, enquanto a garota repunha a máquina de vendas com toalhas.

—Eu já te disse que não quero nada roubado. — Yukari retrucou sem se virar.

—Como pode ter tanta certeza que são roubados? — questionou jogando mais um chocolate para dentro da boca, já era sua segunda caixa.

—Você usa uma forma feminina na escola, somente garotos ganham chocolate hoje. — ela fechou a máquina e a trancou. — E você certamente não os fez.

—Garota esperta! — Gintsune gargalhou. — Mas ainda assim continuam gostosos.

Yukari sentou-se pesadamente ao seu lado.

—Eu não quero. — voltou a negar — Mas fiz chocolates para você ontem na aula.

Gintsune sentou-se rapidamente.

—Uau! Mesmo?

—É. Biscoitos. — ela deu de ombros — Para agradecer pelo meu aniversário.

Dando um imenso sorriso Gintsune começou a dizer:

—Isso realmente não era...

—Mas então voltei para casa e descobri que um dos seus gatinhos havia urinado na minha cama. — Yukari o interrompeu bruscamente, ele enrijeceu e ela suspirou — Eu troquei os lençóis e virei o colchão, fiquei com muita raiva, queria ter te feito lavar tudo, mas você provavelmente só teria quebrado a máquina de lavar, então os coloquei para lavar todos eu mesma, e fiquei com muita raiva mesmo, por isso servi-me de um belo copo de leite. — a menção do laticínio fez com que Gintsune fizesse uma careta enojada — E comi todos os biscoitos enquanto lavava meus lençóis.

Gintsune piscou.

—Você não está falando sério, está? — perguntou incrédulo.

—Obviamente que estou. — Yukari levantou-se, e Gintsune suspirou desanimado, pensando no quanto àquela garota era cruel e rancorosa, isso até que ela o surpreendeu mais uma vez atirando um pequeno cubículo de chocolate em seu colo — Por tanto terá que se conforma com isso. É um brownie. — acrescentou ao vê-lo analisando o estranho doce — Eu comprei hoje depois da escola naquela cafeteria cor de rosa do comércio.

Gintsune ergueu a cabeça repentinamente.

—O que? — reagiu. — Ela fica no lado completamente oposto do seu caminho de casa!

—Eu sei, e o lugar estava lotado por causa do dia de hoje.

Yukari fez uma mesura e o deixou ali, com seu brownie de chocolate e uma expressão desconcertada que logo se transformou numa gargalhada, uma garota cruel e rancorosa, mas de forma alguma ingrata!


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Notas finais do capítulo

Mesmo que apenas um pouco, fomos a apresentados a alguns fatos a mais a respeito dos pais de Gintsune e até mesmo sobre Tama.
Parece que as notas iniciais e finais serão retiradas das histórias no Nyah... me pergunto como farei para colocar o glossário e as curiosidades dos capítulos agora.

Curiosidades do Japão:

O dia dos namorados no Japão!
Além do Natal, outro feriado adotado pelos japoneses foi o dia dos namorados chamado por eles de “Valetine’s Day”, à moda americana.
Mas os japoneses acrescentaram ao dia o seu próprio toque: nessa data a tradição é que as mulheres presenteiem aos homens com chocolates. Mas embora o foco da data seja o romance, esse não é o único propósito dos chocolates.
De forma que podem ser presenteados com chocolates também membros da família, amigos, colegas de trabalho, alguém a quem você queira agradecer por um favor e etc.



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