A Lenda da Raposa de Higanbana escrita por Lady Black Swan


Capítulo 19
18: A deusa Oni.


Notas iniciais do capítulo

DUAS! DUAS RECOMENDAÇÕES AAAAAAAAAHHHH ♥
Eu quase não posso acreditar, que minha criança que era tão rejeitada, agora não somente tem leitores como também já recebeu, quase que simultaneamente, duas recomendações!!! ♥
Eu já surtei na primeira, quase tive um infarto quando vi a segunda então!
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHH

GLOSSÁRIO:

Cheogsam: Também conhecido como Qipao (lê-se: Tipao) significa “vestido longo”.

Jinbei: são roupas mais confortáveis e casuais, tipicamente usadas no verão a vestimenta lembra um pijama ou roupão. São comuns em festivais de verão, mas de fato podem também ser usados como pijamas, roupas para se ficar em casa ou ir até lugares próximos (como lojas de conveniência etc).

Kiseru: Cachimbo de cabo longo.

Yakudoshi: Significa anos críticos ou anos de calamidade.

P.S: Se houver algo que não entendam, me digam, por favor.



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Gintsune sempre se considerou um amigo precioso e inigualável, de valor até inestimável, a esposa do tengu sempre o chamou de convencido por referir a si mesmo de tal maneira, mas nunca o contradisse, no entanto, naquele dia ele surpreendeu-se ao ouvir a representante de classe referir-se a si mesma da mesma maneira, isso porque ele nunca esperou encontrar quaisquer pontos em comum entre ele e uma reles humana.

Foi quando as aulas haviam acabado de terminar, o professor mal fechara a porta atrás de si e o burburinho dos alunos começou, como sempre, afinal todos queriam ir logo para casa — ou para seus clubes —, mas ele notou uma figura contrariando o fluxo de alunos: a representante que se levantou e seguiu em direção contrária a dá saída, indo até a parede oposta onde era o lugar de Yukari.

O falatório e o som de coisas sendo guardadas eram incessantes e Gintsune sentava-se no fundo da sala, mas ainda assim é claro que ele pôde ouvi-las perfeitamente bem:

—Shibuya! — a representante chamou — Você tem planos para este domingo?

Yukari franziu o cenho, será que ela ao menos se dava conta disso? Ou aquele já havia se tornado um gesto inconsciente seu?

—Planos para este domingo? — repetiu — Não, por quê?

—Bem. — a representante levou uma mão ao quadril — Então você pode dizer que eu sou uma amiga preciosa, inigualável e de valor inestimável.

A expressão estupefata no rosto de Yukari foi muito engraçada, ela trocou olhares com Kaoru-chan, sem saber ao certo o que dizer, antes de finalmente voltar-se novamente e dizer, ainda com tom de duvida:

—Você... é uma amiga preciosa, inigualável e... de valor inestimável?

Aquilo fez a representante rir, ela provavelmente não estava esperando que Yukari realmente repetisse suas palavras.

Na cadeira em frente ao Gintsune, Aoi-chan parecia lutar contra um breve momento de indecisão, olhando para a saída e para as amigas aglomeradas no canto, mas acabou optando por dar tímidos passinhos em direção às garotas, Gintsune não deu atenção a ela.

—Certo. — continuou a representante — Ouça Shibuya, eu... eu estou atrasada! Ouça Shibuya, vá encontrar-se comigo na biblioteca imediatamente!

E sem dar tempo a qualquer resposta ela saiu da sala tão rápido que qualquer um poderia pensar que sua casa estava em chamas, antes mesmo que a pobre Aoi-chan alcançasse ao grupo.

Seguiu-se ali uma rápida e desajeitada conversa, pois nem Yukari nem Kaoru-chan souberam informar à Aoi-chan o que a representante queria, por fim Yukari resolveu que nada descobririam ficando ali especulando e era melhor ir logo até a biblioteca atender à intimação da representante, mas Kaoru-chan tinha suas próprias obrigações no clube de artes, e Aoi-chan precisava passar no mercado para a mãe, então ela estava sozinha no corredor quando Gintsune saltou sobre suas costas para abraçá-la por trás.

—Yo! Yukari! — cumprimentou-a.

—Quando você vai parar de fazer isso? — Yukari reclamou aborrecida, batendo levemente com as pontas dos dedos em seus braços para que ele a soltasse.

Libertando-a, ele rodopiou para se por caminhando ao seu lado.

—Acha que a representante quer repreendê-la?

—Por que faria isso? — Yukari nem sequer se mostrou surpresa com o fato de ele as ter ouvido — E por que está me seguindo? Você sempre é o primeiro a sumir quando acaba a aula.

—A biblioteca é um bom lugar para dormir. — Gintsune espreguiçou-se.

O bibliotecário na biblioteca do colégio, “vovô Yamada” como era chamado, era um homem tão velho que alguns diziam que ele estaria ali desde a fundação do colégio, pois ele já estava bem pra lá dos oitenta e perigosamente perto do cem anos de idade, outros iam além e diziam que na verdade o frágil vovô era um youkai, talvez até um kyorinrin, atuando como guardião e cuja essência vital estivesse estritamente ligada aos livros do local.

Mas aquilo eram apenas fofocas irreverentes de estudantes, Gintsune sabia reconhecer um humano quando o via e o vovô da biblioteca era definitivamente humano, terrivelmente velho, mas humano. Entretanto, embora ele ainda tivesse a visão e a audição em perfeito estado e a mente bem afiada — um fato deveras surpreendente considerando sua idade — era fato que o vovô Yamada já não tinha mais a mesma energia ou força nos membros que talvez tivesse tido a... sei lá, cinco décadas atrás? E por isso o clube de literatura realizava um trabalho voluntário, revezando seus membros para que todos os dias um deles servisse como ajudantes do bibliotecário idoso, hoje era o dia da representante.

Ela estava mais ao fundo retirando alguns livros esquecidos nas mesas.

—Ayaka aqui não é dormitório. — ela disse assim que avistou Gintsune junto a Yukari.

—Nossa, mas que rude representante. — Gintsune deu uma risadinha.

A representante sorriu para ele, e então se voltou para Yukari, mas precisavam falar em tom baixo, para que o guardião vovô não se irritasse.

—Bem, Shibuya eu sou realmente incrível, sabe, eu estava planejando te dar um cupom de desconto para comer bolo na loja em que minha mãe trabalha, pelo seu aniversário.

—Isso realmente não é necessário... — Yukari começou a dizer.

—Não me interrompa. — a representante a cortou, levando os livros para as prateleiras, Yukari e Gintsune a seguiram — De qualquer forma, há um parque de diversões numa cidade próxima daqui, meia hora de trem mais ou menos, e meu namorado teve a brilhante ideia de comprar um par de ingressos especiais válidos por dois dias para esse final de semana, por causa do dia dos namorados na semana que vem, mas é óbvio que minha mãe e meu irmão foram veementemente contra essa ideia. — ela girou os olhos — É inacreditável ele é apenas um calouro na faculdade e mesmo assim parece que ainda esquece de que a namorada é apenas uma colegial! De qualquer forma seria um desperdício simplesmente deixar de usar os ingressos, então eu o convenci a trocar esses dois ingressos para o final de semana, para quatro ingressos comuns. Oh e também a pagar a diferença para um quinto ingresso. — ela sorriu — Mas são validos apenas até este final de semana, por isso, nesse domingo 11 de fevereiro, iremos todas pegar um trem e comemorar seu aniversário em um parque de diversões, Shibuya.

Um parque de diversões?! Os olhos de Gintsune brilharam de excitação. Ele já lera sobre eles, e os vira pela televisão, mas ainda não havia tido a chance de ir a algum realmente, certamente não havia nada parecido na pequena e estagnada Higanbana.

—Representante, que incrível! — exclamou saltando para abraçar a representante, como se fosse ele mesmo o aniversariante.

De seu posto lá na frente o vovô Yamada tossiu, as advertindo sobre o barulho, e Yukari o pegou pelo braço para afastá-lo da representante.

—Representante eu realmente estou muito feliz, mas seu namorado... — ela começou a dizer.

Oh não! Ela certamente não ia desperdiçar aquele presente de ouro, ia?! Gintsune arregalou os olhos.

—Oh, ele? — a representante jogou os cabelos para trás — Não se preocupe, eu lhe dou uma caixa de chocolates qualquer pelo dia dos namorados e tudo certo.

Gintsune estava surpreso, e completamente animado, uma amiga preciosa, inigualável e de valor inestimável, de fato!

*.*.*.*

A voraz deusa dos onis, que comandava todas àquelas feras exigindo-lhes sacrifícios de sangue, e demandando pelo coração de seus inimigos caídos... era apenas uma menina não muito mais velha que Akira, ainda meio mulher, de sorrisinho malicioso e que os convidou para tomar chá.

—Bem, bem, sinto muito pelo tratamento brusco do meu povo, eu disse-lhes que vocês não representavam risco algum, mas eles tendem a ser superprotetores às vezes, espero que não tenham quebrado nada. — estava dizendo a sorridente deusazinha em um tom completamente despreocupado e nenhum pouco culpado.

De repente a situação havia tido uma reviravolta tão inesperada que todos ainda se sentiam um pouco tontos ali, em um momento estavam cercados por onis violentos que clamavam por seu sangue e então, no instante seguinte, a deusazinha estava entre eles, ordenando às feras que lhes soltassem as amarras.

—Afinal como eles irão tomar chá comigo se estiverem amarrados desse jeito? — A deusazinha agachou-se para vê-los mais de perto sorrindo com o rosto entre as mãos.

—Chá?! — Akira repetiu incrédulo, quando as cordas que atavam suas mãos e asas foram cortadas. — Você quer tomar chá conosco?!

A deusazinha sorriu inclinando o rosto de lado.

—Precisamente. — respondeu.

—P-por que? — gaguejou Akihiko esfregando os pulsos agora livres.

Em algum momento do ataque sua máscara havia desaparecido, assim como o chapéu de Satoshi, e as armas de todos.

Um péssimo pressentimento atravessou Satoshi um milésimo de segundo antes, percorrendo-lhe toda a extensão da coluna e fazendo-o enrijecer, ele tentou atirar-se para o lado interpondo-se entre Mayu e a deusazinha no exato instante em que a mão dela erguia-se e mergulhava no ar como uma garra, mas o oni de cabelos vermelhos o puxou para trás pelos cabelos e imobilizou-o.

—Ora, não é óbvio? — a deusazinha sorriu novamente, agarrando firmemente à máscara de Mayu, que se encontrava completamente imóvel, embora já estivesse totalmente livre das cordas — Afinal que outra chance eu poderia ter de conhecer um par de meio-youkais e... Uma mulher humana de verdade?

E assim ela arrancou a máscara do rosto de Mayu.

O burburinho se deu entre os onis de forma quase instantânea:

—... Humana...?

—Estão de volta...?

—... Uma humana...

—... Tempo já faz...?

—Mulher humana...?

Mas, diante da deusazinha, não havia qualquer resquício de toda aquela agressividade de antes nos onis.

—A minha morada é lá! — a deusazinha se colocou de pé com um salto, apontando o pico da enorme rocha negra escarpada — É fácil chegar quando se tem asas. — de alguma forma aquilo soou extremamente maldoso, enquanto ela dizia com seus olhos cravados em Satoshi — Claro que se não quiser expor suas asas você pode escalar, ou simplesmente ficar aqui embaixo Tengu-san, e deixe que eu carregue a sua preciosa companheira, garanto que serei cuidadosa, afinal ela carrega uma vida consigo...

As asas de Satoshi surgiram tão inesperadamente que um trio de onis desavisados mais próximos, incluindo o de cabelos vermelhos que acabara de lhe cortar as cordas, foram varridos para longe e caíram por cima de seus companheiros.

—Eu mesmo posso levá-la. — afirmou pondo-se de pé.

A deusazinha juntou as palmas, animadamente.

—Excelente! — exclamou radiante.

E de repente Satoshi teve a nítida impressão de ter sido deliberadamente manipulado ali, de qualquer forma não era como se eles realmente pudessem recusar o “convite” daquela deusazinha em meio ao seu povo.

Mas não havia como ela realmente ser uma deusa, certo?

Os deuses eram seres superiores e por isso não tinham grande apreço por youkais, pois suas existências geralmente não eram mais do que insignificantes para aqueles acima de todos, como alguém que impensadamente esmaga as formigas em seu caminho sem sequer dar-se conta de suas existências, no entanto eles ainda assim eram patronos dos humanos, os protegiam e os amavam, davam-lhe esperanças e também força para lutar contra youkais perversos ou os puniam com fúria quando necessário, como pais que guiavam às suas amadas crianças. Afinal os humanos eram os únicos seres capazes de criar e elevar deuses.

Gintsune acreditava que isso era um privilégio concedido a eles por serem os únicos seres racionais a, diferentes dos youkais, possuírem almas, pois embora os animais também as possuíssem eles não eram seres racionais. E pessoalmente Satoshi também acreditava nesse ponto de vista.

É claro que às vezes humanos e até mesmo youkais podiam elevar-se à posição de deuses, mas para isso era necessários outros humanos que os venerassem... Então como poderia haver uma “deusa” ali naquele mundo? E em meio aos onis?

Talvez... seria possível? Às vezes nasciam youkais com dons surpreendentes, os quais acabavam se tornando alvos de outros que tencionavam devorar seus corações para adquirir tais dons — afinal o coração é sempre o cerne de todo poder — ou, dependendo de seu dom, podiam acabar sendo venerados por outros também.

E não parecia impossível que algum deles se autoproclamasse um deus. Ou deusa.

Mas, independente de tudo, havia o fato era que ela sabia das coisas, sabia da chegada deles antes mesmo de eles saberem, sabia do bebê na barriga de Mayu e sabia da relutância de Satoshi em expor as asas. E usou tudo isso contra eles.

A morada da deusa, no alto da rocha negra, a principio parecia ser apenas uma caverna comum, mas ao ultrapassar as persianas de bambu o lugar se transformava em um amplo e confortável espaço com chão de tatame, mesmo em sua vida humana, Mayu nunca vira tamanha opulência, havia armarinhos com cosméticos e caixas de escrita, além de utensílios para cerimônia do chá, todos laqueados de ouro, desde as bordas do tatame até o menor dos pincéis de caligrafia, belos quimonos bordados e outras roupas mais exóticas, mas igualmente luxuosas, pendiam de seus cabides, as telas dobradiças que cercavam seu futon e cobriam o que parecia ser uma alcova que dava acesso às vias ainda mais profundas da rocha eram todas decoradas com lindíssimas pinturas de paisagens com cascatas, pássaros, flores e neve que, por um instante, Mayu teve a nítida sensação de ver se mover, e tudo era surpreendentemente bem iluminado, com esferas brancas luminescente flutuando paradas no ar em todo canto.  

—Eu não costumo receber muitas visitas, mas as poucas que vem sempre me trazem presentes. — a deusazinha tagarelava sem parar enquanto servia-lhes o chá — Vocês me trouxeram presentes? Espero que sim, caso queiram suas previsões, oh, mas eu meio que já tenho de quase tudo um pouco, eu tenho até uma escama de dragão. — E riu consigo mesmo, ela era mesmo apenas uma menininha. — Humana-chan, você é realmente humana? — questionou de repente olhando-a com curiosidade — Quando nasci já não havia humanos então nunca vi um antes, mas… você não devia ser branca como porcelana e ter dentes negros? Ouvi dizer que as mulheres humanas pareciam-se assim…

—Não ando tendo tempo de me maquiar. — sorriu desculpando-se.

Mas a bem da verdade Mayu nunca se maquiara desde que chegara àquele mundo, era por demais inquieta para aproveitar “como se devia” o ritual matinal de uma comportada dama de classe de maquiar-se com esmero até ter toda a pele branca como porcelana, os lábios franzidos e vermelhos como pétalas de flores e tudo mais… isso sem falar do quão penoso e doloroso achava ter de arrancar todos os fios das sobrancelhas um a um, e a mistura que enegrecia os dentes e que convinha a todas as mulheres casadas de bem usarem… era amarga demais.

Então apenas deixou todas aquelas tradições para trás, e permaneceu como estava: com a pele limpa, as sobrancelhas grossas e os dentes brancos de uma criança… ou um animal selvagem como sua babá reclamava. Mas naquele mundo ninguém jamais se importou.

—Apenas maquiagem, eu entendi! — a deusazinha uniu as palmas das mãos — Tenho certeza que vocês querem me fazer perguntas.

Assim como Satoshi ela havia guardado suas asas.

—Que tipo de roupas é essas? — Akihiko perguntou de repente, quando a deusazinha mal tinha fechado os lábios e atropelando qualquer um que também tivesse suas próprias perguntas.

Mas quando todos os olhos se voltaram para ele, o garoto encolheu-se remexendo os ombros e as asas, é verdade que a deusazinha usava um tipo de vestido vermelho muito peculiar de formas soltas, sua gola era em formato tubo com abotoamento diagonal, mas não possuía mangas e continha duas fendas laterais na saia que lhe subiam até a altura das coxas permitindo-se assim entrever a longa saia plissada por baixo, mas ainda assim, depois de terem sido atacados, capturados e coagidos… a primeira coisa que ele perguntava era sobre as roupas da deusazinha?

—As roupas dela? — Mayu sorriu gentilmente para o filho mais novo.

—Elas são diferentes. — o menino justificou-se embaraçado.

A deusazinha bateu palminhas animadas.

—São, não são? — concordou alegremente — Isso é um cheogsam, ele veio da China, costumava ter mangas, mas eu as arranquei, eu tenho vários outros vestidos também de várias épocas distintas e com aparências muito mais divinas, mas quando uso esses, papai fica distante e se lembra da mamãe.

—Seus pais também são como você? — Akira questionou, provavelmente ainda tentando decifrar que tipo de ser era a pequena deusazinha.

Unindo as pontas dos dedos ela sorriu satisfeita.

—Não há ninguém como eu, em qualquer mundo que seja eu sou um ser único e singular!

—Mas por que você arrancou as mangas do seu...? — Akihiko começou a dizer.

Mas dessa vez foi a deusazinha a lhe atropelar as palavras, parecendo nem sequer ouvi-las, inclinando-se repentinamente em direção à Mayu:

—E por falar em roupas! Quando pensa em tirar essa capa de palha Humana-chan?

—Hum… você pode me chamar de Mayu. — Mayu balbuciou um pouco surpresa.

—Mayu! — a deusazinha repetiu sorrindo e endireitando-se de volta ao seu lugar — Claro, me esqueci de perguntar seus nomes, não é? Eu sou Tennyo Hikari.

Tennyo?

Satoshi pigarreou.

—Satoshi. — apresentou-se e indicou aos garotos — Akira e Akihiko.

Os garotos inclinaram as cabeças.

—Claro, claro. — Tennyo Hikari bateu palmas — E quanto à sua capa?

—Hum… isso... — Mayu apertou a capa um pouco mais contra o corpo.

—Oh, está com frio? Deve estar com frio, minha caverna é quentinha, mas já ouvi dizer que humanos são muito sensíveis! Aqui, para você!

Hikari estendeu suas mãos para Mayu como se fosse agarrá-la, mas ao invés disso, elas começaram a iluminar-se, fazendo nascer ali uma luz branca e pura, e a luz continuou a crescer até que Mayu precisou desviar seus olhos, erguendo as mãos para protegê-los, foi quando a luz advinda das mãos da deusazinha pareceu tomar forma física e condensar-se diminuindo a intensidade do brilho, até que ela estive segurando mais uma esfera de luz branca, como as tantas que flutuavam na caverna, e a esfera era quente como um morno raio de sol no inicio da manhã.

—Pegue! — a deusazinha empurrou a esfera para Mayu, que quicou inofensiva em seu peito, e então permaneceu flutuando exatamente onde estava — Agora já pode tirar sua capa, não é?!

Ela realmente não desistia!

Mayu remexeu-se inquieta, muito semelhante à Akihiko até alguns momentos atrás, e novamente apertou a capa contra o corpo.

—Muito obrigada, mas eu preferiria...

—É por causa do bebê? — a deusazinha Hikari atropelou-lhe as palavras — Eu já sei que ele está aí. Quero vê-lo!

Mas o que ela queria com seu bebê?

Foi por isso que os arrastara até ali em cima? Ela queria o seu bebê?! Iria devorá-lo?!

—Oi! — Tennyo Hikari a chamou, fazendo beicinho — Você não vai me mostrar?

Mayu engoliu em seco, e então lentamente começou a desfazer-se da capa com a ajuda de Satoshi, porém as várias camadas de quimono impediam que sua barriga, embora já bem crescida, se tornasse aparente, para a completa decepção da deusazinha, que chateada murmurou qualquer coisa inteligível. Mas não havia qualquer intenção assassina ou cruel ali.

—Hum... — Akira pigarreou — Se você colocar a mão sobre a barriga talvez consiga senti-lo se mexendo.

—É mesmo?! — o rosto da deusazinha iluminou-se de alegria, literalmente, certamente era daí que vinha “Hikari”, mas e quanto ao “Tennyo”? Um momento depois a luz suavizou-se e desfez-se. — E eu posso mesmo tocar?!

—Hã… claro. — Mayu concordou. — Só… seja cuidadosa.

—Claro! Claro! — Tennyo Hikari concordou afobada, já espalmando a mão sobre a barriga de Mayu, mas quase um minuto inteiro depois a animação começou a desmanchar-se de sua face — Não estou sentindo nada. — ela resmungou chateada — Será que as roupas estão a...? Oh! Mexeu-se! Eu senti alguma coisa! Agora mesmo eu senti! Tem mesmo algo aí dentro!

O flash de luz gerado pela animação da deusazinha foi tão repentino que os obrigou a fechar os olhos imediatamente e, por um segundo, todos tiveram a nítida impressão de terem ficado cegos.

—Sim, certamente que tem. — Mayu sorriu ainda com a mão sobre os olhos.

—Por que eles a chamam de deusa? — Satoshi perguntou de repente.

Afinal não importava como olhasse aquela a sua frente continuava a parecer para si apenas uma garotinha alegre.

Tennyo Hikari voltou-se para ele.

—Oras é mesmo, me pergunto por que, não é? Talvez seja por minhas habilidades de clarividência, afinal como acham que eu soube da chegada de vocês? É um dom bastante raro sabe, queria saber se o herdei de minha mãe ou se é uma coisa apenas minha. Ou talvez... — aquele mesmo sorrisinho malicioso do inicio retornou aos lábios da deusazinha — Seja por meu sangue com parte divina?

—Sangue divino?! — Akihiko arregalou os olhos.

—Oh... — a deusazinha lamentou-se se erguendo e virando as costas a eles. — Essa é uma história antiga e não pertence a mim, não sei se seria certo ser eu a contá-la a vocês...

Mayu inclinou sua cabeça, e assim a imitaram Satoshi e os filhos.

—Nós compreendemos...

—Muito bem, já que vocês insistem eu contarei! — Hikari saltitou rodopiando e voltando-se repentinamente de volta para eles.

“Muito tempo atrás as tennyos costumavam descer do paraíso para se banharem na terra, mas um dia uma dessas donzelas celestiais teve suas roupas roubadas por um humano vil, e viu-se impedida de voltar aos céus, permanecendo na terra em poder daquele homem, casando-se e dando filhos a ele até que, depois de vários anos, ela em fim conseguiu recuperar suas vestes celestiais e retornou ao paraíso.”

“Depois do ocorrido os deuses proibiram as visitas a terra, mas havia uma entre suas servas, a tennyo Xiao Xia, que ainda desejava, mais do que tudo, retornar para banhar-se na terra uma última vez, mas ela estava temerosa em simplesmente desobedecer às ordens dos deuses.”

“Muito tempo se passou, e um dia o mundo humano caiu sob uma forte tormenta, vários reinos entraram em guerras uns contra os outros, até tudo se transformar em uma imensa guerra global que engoliu ao mundo todo em caos e violência, deixando os deuses em polvorosa, e Xiao Xia viu ali a sua oportunidade de escapar, tudo estava simplesmente tão caótico, ela poderia retornar antes que alguém se desse conta… mas teve medo.”

“Os humanos sempre estavam em guerra uns contra os outros, são um povo beligerante assim, mas nunca haviam guerreado com tal magnitude como naquela vez e Xiao Xia não acreditou que teria outra oportunidade como àquela que ela deixou escapar… mas ela veio, e quando a segunda tormenta engoliu o globo, a tennyo não hesitou em escapar.”

“Banhar-se uma última vez nas águas terrenas, era tudo o que ela queria, mas naquele momento o mundo humano era caos, sangue e batalha e por isso ela escolheu voar a outro mundo terreno: este mundo.”

“Mas se o sangue e o caos imperavam no mundo humano, o sangue também escorria neste, onde bestas selvagens e sedentas de poder vagam, e nada é mais valioso do que um coração com poder divino.”

“Gritando Xiao Xia usou sua luz contra o selvagem atacante, e pode tê-lo desorientado e até o cegado momentaneamente, mas foi apenas graças a um feroz oni de cabelos vermelhos, chamado Ryota, o qual com sua imensa força protegeu a dama celestial, que ela sobreviveu e por tê-la salvado ela cuidou de seus ferimentos.”

“Mas embora o plano original de Xiao Xia fosse voltar aos céus antes que os deuses pudessem dar-se conta de sua ausência, ela acabou por escolher permanecer naquele mundo. É claro que Xiao Xia e Ryota sabiam que cedo ou tarde os deuses os descobririam, mas ainda assim eles escolheram permanecerem juntos.”

“Se os céus nos descobrirem e nos separarem, o que farás?”

“Não importa se você está perto ou longe, o que sinto não mudará.”

“E com essas palavras Ryota deu a Xiao Xia uma de suas próprias presas e ela entregou a ele uma pena de suas asas.”

“Mas um dia o inevitável fim chegou: pois quando a guerra no mundo findou-se, e os deuses deram-se pela falta de uma de suas servas, eles imediatamente voltaram seus severos olhos divinos aos mundos terrenos em busca daquela que lhes desobedecera, e assim Xiao Xia foi levada de volta aos céus… e os dois nunca mais se viram”.

“No entanto, dia após dia Ryota retornou àquele lago onde tudo se iniciara sem conseguir se esquecer de sua amada tennyo, até que um dia um pequeno cesto de vime veio flutuando pelas águas, dentro desse cesto havia uma criança”.

“Meu pai chamou-me Tennyo Hikari, pois porto em mim a mesma luz que minha mãe, eu sou a oni com sangue divino, a deusa do lugar”.

—Papai trouxe-me para cá para como uma forma de proteger-me, e ao longo dos anos outros onis reuniram-se a nós, pois os onis podem ser muitas coisas, mas geralmente não são canibais, então basicamente tornei-me a deusa deles. — a deusazinha Hikari finalizou sorridente.

Mayu soluçou cobrindo o rosto com ambas as mãos e chorou emocionadamente.

—Mamãe! — Akira agitou-se. — Você está ferida?

—Onde está doendo? — Akihiko também se preocupou.

E de repente Satoshi já estava de pé.

—É o bebê?! O bebê está vindo?!

—Se acalmem, não é… não é nada disso. — Mayu soluçou — Eu só… é que é tão triste.

E voltou a chorar comovida.

—Que alma tão gentil. — Hikari comentou sentando-se novamente enquanto observava Mayu e aguardou até que ela já tivesse se recomposto por completo, para só então voltar a falar: — Então, agora vocês sabem quem eu sou e o que sou, e até mesmo o que estou vestindo. — deu uma risadinha — Mas não era a esse tipo de perguntas que eu me referia.

Satoshi ergueu os olhos para ela.

—O que quer dizer?

A deusasinha juntou as pontas dos dedos exibindo novamente o seu sorrisinho quase inocente.

—Oras, eu acabei de dizer a vocês, não disse? Eu possuo o dom da clarividência, sabem, nem todos que vem a mim estão simplesmente em busca de poder, alguns querem apenas respostas. Afinal que nunca teve uma ou duas perguntas sobre o futuro? — seu sorrisinho tornou-se então quase malicioso ao completar — Ou talvez sobre um querido amigo que repentinamente se perdeu?

Mayu arregalou os olhos.

—Então você sabe...?!

A deusazinha calou-a pondo dois dedos sobre seus lábios.

—Mas primeiro a um preço a pagar. — afirmou ainda sorridente — Se quiserem respostas precisam fazer-me oferendas, uma oferenda por pergunta e não posso garantir que gostarão das respostas. Esse é o trato.

E então se afastou novamente.

—Que tipo de oferendas? — Akira questionou desconfiado.

Tennyo Hikari deu de ombros.

—Oh bem, na verdade não há nada em específico, joias, vestidos, maquiagem, doces, utensílios de chá, em fim, qualquer coisa que seja interessante e do meu agrado, entendem? O único problema é: ao longo de todas essas décadas eu recebi muitas oferendas e agora parece que não há mais nada de interessante ou que eu já não tenha. — suspirou.

—Oh, mas… certamente se pensarmos com um pouco mais de calma, poderemos encontrar algo que a agrade. — Mayu tentou persuadi-la.

—Ora… vejo que realmente estão interessados em minhas previsões divinas. — a jovem meio tennyo sorriu de canto — E você está certa, realmente há algo que possam oferecer-me! — ela uniu as mãos animadamente. — Você!

Mayu piscou surpresa.

—Perdão. Como foi que disse?

—Ah, a única humana restante nesse mundo! Certamente seria uma bela aquisição para a minha preciosa coleção! — exclamou a deusazinha sonhadoramente.

Os garotos arregalaram os olhos, aquela deusa oni estava confundindo a mãe deles com um item de colecionador?! Prendendo a respiração Satoshi agarrou a mão de Mayu.

—No entanto, eu duvido seriamente que esse tengu fosse concordar em cedê-la, não importa qual futuro eu possa mostrar a ele. — ela suspirou desanimada — Portanto creio que me conformarei com uma mecha de cabelo.

—Uma mecha de cabelo? — Mayu repetiu incerta.

—Sim. — Hikari confirmou sorrindo.

—Mas… realmente ficará satisfeita apenas com algo tão simples?

—Com certeza, afinal...!

—O cabelo de Mayu é muito importante para ela. — Satoshi interveio de cenho franzido — Ele é o último resquício de sua vida humana.

Hikari olhou-o sem entender.

—O que quer dizer? — questionou — Por acaso ela vai deixar de ser humana caso corte o cabelo?

—Não, mas...

—Então que mal faz me dar um pouco? — a deusazinha fez beiço cruzando os braços. — Mesmo com ele estando preso do jeito que está eu posso ver que ela tem bastante! Você por acaso não está pretendendo me oferecer uma de suas penas, está? Porque eu não teria utilidade alguma para a pena de um simples tengu!

—Como disse? — Satoshi arqueou as sobrancelhas.

A deusasinha bufou.

—Tengus são tão arrogantes e se acham tão especiais! — reclamou virando o rosto — Agem como se fossem deuses das montanhas ou algo assim!

—Ah, eu entendo bem o que você quer dizer! — Akira intrometeu-se rindo.

—Sim, é algo tipo “até onde os olhos puderem ver, essa montanha irá me pertencer!” — Akihiko completou dramaticamente, também começando a rir logo depois.

—Sim, sim. — Tennyo Hikari concordou entre risadas. — É exatamente isso!

Satoshi olhou ofendido para os filhos.

—Vocês também são tengus! — os relembrou.

—Só metade. — afirmou Akihiko.

—Sim, a outra metade é completamente humana. — concordou Akira.

E os dois continuaram a rir despreocupadamente, até que a deusazinha repentinamente agarrou suas mãos.

—É isso! Então quero uma pena de cada um de vocês! — ela exclamou e desandou a falar sem parar: — As penas de dois meios youkais certamente são muito mais raras e valiosas do que a simples pena de um tengu medíocre qualquer! Oh e se um vislumbre do futuro não for o suficiente para trocar por tais raridades, o que acham de uma pena minha também? Certamente ela é cem vezes mais valiosa também!

Ao ouvir aquilo o pai dos garotos colocou-se de pé com um salto.

—Ninguém aqui vai trocar penas com ninguém! — exclamou alarmado, atraindo a atenção dos filhos, da esposa e da deusazinha e, ao perceber que ninguém ali o compreendeu, suspirou — Garotos, vocês não sabem disso provavelmente porque nunca conheceram e falaram apropriadamente com uma fêmea alada, mas quando dois youkais trocam penas entre si, isso é um símbolo de matrimônio.

Akira e Akihiko arregalaram os olhos e suas faces ficaram intensamente vermelhas, soltando-se imediatamente das mãos da deusa oni, mas Hikari continuou olhando-o sem entender.

—“Matrimônio”? Que palavra é essa? O que ela significa? — questionou.

Os lábios de Satoshi repuxaram-se com um tique involuntário, será que era assim que Gintsune se sentia quando ele fazia perguntas como aquelas? “Como são os humanos”? O tengu pigarreou.

—Matrimônio significa… é como um contrato, e significa que vocês se comprometem a estarem juntos para sempre, protegendo e amando um ao outro...

Tennyo Hikari estava de queixo caído.

—Então isso quer dizer...?

—Sim. — Satoshi suspirou seriamente — Então agora você entende?

—Sem dúvida! — e de repente ela animadamente agarrou as mãos de ambos os meninos — Quer dizer que se trocarmos as penas eles serão meus para sempre! Vamos! Deem-me suas penas! Deem! Eu vou dar uma das minhas para cada e então vocês poderão ficar para sempre comigo! Os únicos meio youkais tengus desse...!

—Mas não mesmo! — Satoshi agarrou os filhos pelos colarinhos e os puxou para longe daquela irresponsável deusazinha — Ninguém aqui vai se casar!

Hikari fez beicinho e cruzou os braços.

—Bem, então o que você sugere? — perguntou contrariada — Mesmo que quisesse eu não posso simplesmente dar minhas previsões de graça. Não é assim que as coisas funcionam.

—Se é só uma mecha de cabelo que deseja, eu posso dá-la a você. — Mayu interveio por fim.

Satoshi olhou-a surpreso.

—Mayu, tem certeza...?! Seu cabelo é...!

—Se é só uma mecha, não há problema. — Mayu assentiu.

—Excelente!

Tennyo Hikari colocou-se de pé novamente com um salto, batendo palminhas animadas e se afastando correndo, saindo do cômodo cavernoso através de uma alcova escondida por detrás de uma persiana de bambu.

A adaga veio voando de lá meio segundo depois em rota de colisão direta para atingir Mayu entre os olhos, mas Satoshi imediatamente a abraçou interpondo-se em seu caminho para protegê-la, e a arma o atingiu entre as omoplatas e caiu no chão, pois ainda estava embainhada.

Quando a deusasinha retornou, ainda alegremente saltitante, não parecia haver qualquer intenção assassina em seus gestos, Satoshi suspirou afastando-se, ela vivia entre onis, é óbvio que não tinha noção alguma sobre a fragilidade humana.

—Muito bem, então vamos começar!

Mayu ergueu as mãos e soltou a longa trança de seus grampos, depois calmamente começou a desfazê-la, enquanto a deusazinha a observava ansiosamente, para os meninos, e inclusive para Satoshi, era sempre quase hipnotizante ver como ela tratava os cabelos, havia ali quase dois metros de comprimento de cabelo e geralmente Mayu apenas os amarraria com uma fita abaixo dos ombros, mas era difícil ter de caminhar longas distâncias e lutar pela sobrevivência com seus cabelos sempre se arrastando — e enroscando — pelo caminho.

—Muito bem. — a humana pigarreou desembainhando o punhal — De que grossura quer a mecha?

—Oh, o que achar melhor. — Hikari sorriu-lhe.

—Certo… é melhor arranjar uma fita para amarrar os fios juntos. — aconselhou-a, enquanto separava com os dedos e escolhia alguns fios da base da nuca.

Satoshi fechou os olhos quando Mayu aproximou a lâmina das madeixas, quando encontrassem Gintsune, prometeu a si mesmo, ele o socaria.

—Oh, perfeito, perfeito. — deleitou-se Tennyo Hikari, e quando Satoshi voltou a abrir os olhos ela tinha a mecha de Mayu em volta do pescoço e o esfregava contra a bochecha — Agora sim, Mayu-chan, a oferenda foi sua então é melhor você perguntar. — ela lançou um sorriso aos garotos e completou: — Mas ainda vou aceitar suas penas se as quiserem oferecer a mim.

Mayu pigarreou.

—Na verdade, deusa-sama, a razão para estarmos em peregrinação agora é porque um querido amigo nosso que costumava atuar como nosso protetor, mesmo sem percebemos, desapareceu repentinamente. E agora estamos muito preocupados com ele. Trata-se de uma raposa prateada.

O sorriso de Tennyo Hikari cresceu.

—E sua pergunta é...? — incentivou-a.

Mayu puxou a respiração.

—Onde está Gintsune, a raposa prateada secular?

—Hum... — a deusazinha levou as pontas dos dedos ao colar feito de contas brancas e pretas intercaladas em volta do pescoço e fechou os olhos, quando voltou a abri-los eles haviam se preenchido completamente de luz, deixando-os inteiramente brancos — Vejo uma raposa de longos cabelos prateados, ele possui quatro caudas e olhos cinzentos como nuvens de tempestade.

—É Gintsune-Sama! — Akihiko agitou-se — É ele com certeza!

A deusa oni prosseguiu sem ouvi-lo:

Ele carrega a própria alma em suas mãos e grita! Grita por um nome! Está sofrendo, posso ver suas lágrima, mas está longe, muito longe para que eu possa compreendê-lo. — os dedos da deusazinha fecharam-se em torno das contas de seu colar e sua expressão torceu-se com evidente sofrimento — Ele está longe demais para que qualquer um de vocês possa alcançá-lo, ele já deixou esse mundo! E grita por um nome! Apenas um!

Mayu cobriu os lábios, com os olhos já se enchendo de lágrimas.

—Deixou...? O que quer dizer? Gintsune se foi? — soluçou.

Satoshi estava imóvel em estado de choque, e de repente arrependia-se de sua promessa de socar Gintsune.

A deusasinha piscou apagando a luz de seus olhos e voltou a sorrir, unindo as pontas dos dedos.

—Sim, foi o que eu disse! — confirmou despreocupadamente.

Akihiko soluçou, fechando os punhos e contendo ao máximo suas lágrimas, Akira socou o chão.

—Morto?! Como ele pode estar morto?! — perguntou rangendo os dentes.

Tennyo Hikari piscou.

—E quem disse que ele está morto?

O silêncio ali perdurou por quase um minuto inteiro, até que por fim Satoshi retornou a falar:

—Então o que quis dizer com “ele já deixou esse mundo”?

—Exatamente o que eu disse: ele já deixou esse mundo. — a deusazinha ergueu o indicador — Para ser mais exata ele retornou ao mundo humano, é um lugar inalcançável para vocês.

O grupo encarou boquiaberto à suposta deusasinha.

—Mundo...? — Akihiko fungou, sugando o ranho que escorria de seu nariz — Humano?!

—Como é possível? — Mayu perguntou sem fôlego.

—Isso eu não sei. — Tennyo Hikari deu de ombros — Mas seja lá como for, é lá que ele está.

E quanto a Satoshi, ele estava seriamente reconsiderando aquela sua promessa de socar Gintsune quando o visse novamente.

—Aquele bandido. — o tengu cerrou os punhos — Ele some sem dizer nada, preocupa minha esposa e filhos, e ainda leva o meu chapéu! E tudo porque arranjou um jeito de conseguir ir brincar de novo com os humanos? Eu juro que quando ele voltar...!

—Oh, não sei se ele é realmente capaz de voltar. — Tennyo Hikari o interrompeu.

Akira franziu o cenho.

—O que quer dizer? — perguntou.

—Bem, eu ouvi dizer que muito tempo atrás os dois mundos eram tão unidos que se confundiam e era quase como se fossem um só. Não que eu possa me lembrar de algo assim, é uma época que apenas os anciões lembram, entende?

—Com licença. — Mayu pigarreou irritada.

A deusasinha prosseguiu:

—Mas o fato é que agora não é mais tão fácil assim atravessar entre os mundos, os humanos tornaram-se céticos e insensíveis demais e consequentemente acabaram nos afastando, e até onde sei somente os deuses são capazes de transitar livremente entre os mundos, bem também há aquele pequeno povo verde, mas os deuses se movem pelos céus e eles por debaixo da terra. Eu provavelmente poderia transitar entre os mundos se voasse alto o bastante, mas creio que seria sumariamente dizimada caso tentasse algo do tipo.

—Por quê? — Akira e Akihiko perguntaram abismados.

A deusa oni sorriu-lhes de canto.

—Eu sou o produto da transgressão de uma de suas tennyos, uma oni com sangue divino: o resultado da proibida relação de uma tennyo e um oni. Se aqui sou uma deusa, nos céus não há duvida de que sou uma existência muito mais próxima do profano e digno da destruição. — explicou sombriamente, mas então repentinamente voltando ao seu ar alegre usual continuou: — De qualquer jeito, o mais provável é que seu amigo esteja preso lá!

—E não há maneira de trazê-lo de volta? — Satoshi quis saber.

A deusasinha ergueu-se alisando a saia do vestido.

—Eu posso ser a deusa desse lugar e ter o dom da clarividência, mas, por favor, não se enganem, eu não tenho as respostas para todas as perguntas que existem. Entendem? — afirmou despreocupadamente. — Oh certo, tenho que ir agora, eu preciso convocar meu pai. A vila será atacada hoje à noite.

*.*.*.*

Yukari deixou-se cair na cama, sentando-se com um longo suspiro, atrás de si ela sentiu o colchão afundar como se alguém houvesse deitado ali, anunciando a chegada da raposa.

—E agora, o que pensa em fazer? — ele perguntou deitado às suas costas.

—E que remédio? Terei que avisar para a representante que não posso sair de casa no domingo.

—Se sabia que tinha que trabalhar por que disse que não tinha planos?

—Trabalhar na pousada é minha rotina de todos os dias, eu não chamaria isso exatamente de ter planos. — suspirando Yukari começou a virar-se — Mas também nunca imaginei… mas o que é isso?! Você está louco?!

Surpreendendo Gintsune, uma Yukari repentinamente muito estressada arrancou o kiseru de sua mão e afastou-se da cama levantando-se com um salto.

—O que houve? — perguntou sentando-se.

Segurando o cachimbo o mais longe possível de si, Yukari usou a outra mão para cobrir a boca e o nariz.

—Não fume no meu quarto! — ralhou com ele — Só porque você é imune não significa que eu também seja!

—Ah, você está falando daquele negócio de câncer? — Gintsune piscou.

—Pense um pouco mais nos outros!

—Tudo bem, me desculpe, eu prometo que não vou mais fumar no seu quarto. — se desculpou passando a mão pelos cabelos e estendendo a outra mão — Será que pode me devolver agora? Foi um presente dos meus pais. — Yukari bufou, mas mesmo assim lhe devolveu o cachimbo — Você devia relaxar mais. — comentou enquanto guardava o cachimbo dentro do quimono, vendo-a ir até a janela e escancará-la — Eu nem sei se ele realmente poderia te fazer algum mal, ele é mágico, sabe? — Uma pausa — Não tem jeito mesmo de o seu pai te deixar ir?

Yukari ficou calada por um tempo, cruzando os braços enquanto olhava através da janela.

—Eu não sou mais criança, preciso entender que o mundo não gira ao meu redor. — disse finalmente, descruzando os braços e indo até sua escrivaninha, puxando a cadeira para sentar-se ali — Preciso aprender a ter responsabilidades, um funcionário não pode simplesmente tirar o dia livre porque é seu aniversário. E isso vale para mim também. Mas minhas amigas são livres para vir comer bolo depois do expediente, se sentirem vontade.

É claro que ela estava repetindo as exatas palavras do pai, ele fora completamente irredutível e nem a mãe nem a avó foram capazes de convencê-lo do contrário dessa vez, na verdade deixar que suas amigas viessem comer bolo para comemorar junto a ela já fora uma grande concessão porque a avó e a mãe haviam salientado muito enfaticamente que aquele era o ano anterior ao primeiro yakusoshis — isto é, anos críticos — de Yukari.

—Os outros funcionários têm seus dias de folga, e um mês de férias no verão. — Gintsune bufou apoiando o rosto na mão.

Yukari deu de ombros, já abrindo a gaveta para procurar o celular ali dentro.

—Vou mandar uma mensagem para a representante e dizer que não posso ir.

—Yukari você já foi a um parque de diversões antes?

—Higanbana é um finzinho de mundo minúsculo, aqui não há parque de diversões, parque aquáticos, cinemas, shopping centers, praias, ou mesmo sistema de metrô. — respondeu distraída, onde estava seu celular?

—Que vida tediosa. — a raposa lamentou.

Yukari o ignorou, finalmente tinha achado seu celular, mas fez uma careta ao conferir as horas ali, passava das 22h, não havia se dado conta de que ficara tanto tempo falando com sua família... E também não queria incomodar a representante tão tarde, era melhor falar no dia seguinte na escola.

—Mas é um desperdício! — a raposa ainda reclamava às suas costas — A representante teve todo aquele trabalho por você!

—Vocês ainda podem ir sem mim. — suspirou como quem explicava a uma criança. — Basta a representante dar meu lugar a outra pessoa e...

—Ora! Mas é claro que elas não farão isso! — ele a cortou em um tom quase ofendido. — É seu aniversário, elas irão ficar constrangidas em sair para se divertir sem você.

Yukari respirou fundo endireitando as costas.

—Não é escolha minha, meu pai proibiu, não posso simplesmente...

—E se eu ficar no seu lugar? — a raposa perguntou de repente.

E quando Yukari se virou deparou-se consigo mesma vestindo uniforme escolar e de pé no meio do quarto, exceto por uma coisa: o sorriso e os olhos eram definitivamente da raposa.

Ela franziu o cenho.

—Se acha que vou te deixar sair com as minhas amigas se passando por mim, você está louco!

A raposa a olhou de forma estranha, mas foi desconcertante ver aquela expressão em seu próprio rosto.

—Eu estava falando de ficar aqui em seu lugar para você poder ir. — disse lentamente.

Yukari olhou-o com as sobrancelhas arqueadas.

—Por quê?! — perguntou incrédula — Você era quem mais queria ir!

A raposa deu de ombros e jogou-se sentada em sua cama, ele passava tanto tempo na forma feminina que era de se esperar que soubesse se comportar quando usava uma saia, mas estando somente os dois ali — e ninguém para impressionar — era completamente desleixado.

—Por que elas não podem ir sem você, mas não tem problema algum se eu não for. Além do mais posso ir quando quiser, e você, quando vai ter outra chance?

—Mas você não dá a minha para os outros! — exclamou ainda mais incrédula, como se o estivesse relembrando daquele fato.

—Isso não é verdade, eu me importo com um grande número de indivíduos! — ele gargalhou. Yukari nunca ria daquele jeito, a coisa ali estava surreal demais, ela estava prestes a pedir que ele parasse de imitá-la quando de repente ele tornou-se sério e franziu cenho, ah, aquela expressão era mais familiar — E eu me importo com você.

Aquilo a pegou completamente desprevenida, e Yukari piscou desconcertada.

—Não sei o que dizer.

Ele sorriu-lhe.

—Apenas diga se aceita ou não.

—Não.

Ele arregalou os olhos, assustado como se, de repente, Yukari fosse a coisa mais bizarra que ele já houvesse visto na vida, o que era impossível considerando o que ele era e a sua idade.

—Não?! — repetiu, e agora era a sua vez de estar incrédulo. — Como assim “não”?! Por que “não”?! Eu estou sendo muito prestativo aqui!

Yukari balançou a cabeça tão bruscamente que as tranças chicotearam.

—Eu não posso simplesmente sair assim, meu pai disse não!

—Eu não entendo. — ele olhou para o alto — Talvez seja porque eu fui um filhote criado com absoluta liberdade e sempre fiz o que quis, mas me compadeço quando vejo outros filhotes cheios de restrições, foi assim também quando conheci o tengu, ok, isso e o fato de ele ser hilariantemente ingênuo... — ele suspirou olhando-a novamente. —Ouça, ninguém vai descobrir. Não é como se alguém fosse me olhar e perceber de cara que tem algo errado, sabe há quantos séculos me disfarço? E nem todo mundo tem olhos como os seus, na verdade, eu diria até que são bem raros...

—Meus olhos são castanhos escuros. — Yukari pontuou de repente.

Ele piscou.

—Eu sei que são castanhos. É claro que qualquer um tem olhos castanhos, mas não era disso que eu estava...

—Não. — Yukari ergueu a mão. — Quero dizer que seus olhos são cinza, os meus são castanhos.

—Ah. — a raposa murmurou compreendendo — Os olhos são um pouco difíceis, espera...

Ele fechou os olhos, esfregando-os com uma expressão rija, e então os abriu novamente, piscando algumas vezes. Olhos castanhos escuros. Exatamente como os seus... Mas Yukari ainda via algo de raposa neles.

—Tudo certo agora?

Yukari voltou a sacudir a cabeça.

—Não posso fazer isso, eu...

—Yukari. — ele a chamou suavemente — Quando foi a ultima vez que teve folga?

—Ano passado em novembro. — respondeu sem hesitar.

—Isso não conta! — ele ralhou, ela sempre tinha uma expressão tão zangada assim? — Estou falando de uma folga de verdade, para descansar e relaxar! E não por obrigações escolares ou qualquer coisa que seja!

Dessa vez Yukari teve que parar para pensar um pouco.

—Acho que… a última vez foi antes de eu começar a trabalhar oficialmente na pousada? Hum… uns três anos? Hã… quatro? Mas meu avô ainda era vivo e papai não era o chefe.

Ele tinha que parar de usar sua cara! Daquele jeito parecia que ela estava falando consigo mesma e isso a estava confundindo demais!

—Yukari. — ele a chamou — É apenas um dia. O que pode dar errado?

Yukari franziu o cenho.

—Tratando-se de você, muita coisa.

Ele ergueu as mãos.

—Vou me comportar. Juro. Farei tudo perfeitamente.

Ela hesitou.

—Ainda assim, simplesmente desobedecer meu pai...

—Quando foi a última vez que você saiu de Higanbana?

Nunca.

Ela mordeu o lábio inferior.

—E você não vai roubar, ou pregar peças ou dar em cima dos hóspedes?

A raposa com seu rosto franziu o cenho.

—Você faz isso?

—Óbvio que não.

—Então não farei. — prometeu solenemente.

Yukari torceu levemente o tecido do short jinbei[i] entre as mãos.

—Se… é só por um dia e você está prometendo que se comportará e será diligente...

—Eu prometo!

—Então acho que tudo bem.

A raposa levantou-se com um salto animado de sua cama.

—Excelente! — bateu palminhas animadas — E agora que estou em sua forma… poderei ver algo que nunca tive a chance mesmo morando em seu quarto... — ele levou as mãos sugestivamente às coxas erguendo milimetricamente à saia… mas de repente suas mãos voaram para as pontas das tranças — Poderei saber como é você sem as tranças!

Yukari quase se engasgou, levantando-se apressadamente da cadeira e atirando-se sobre ele para agarrar suas mãos e impedi-lo.

—Você não pode! — exclamou — Se vai ficar aqui para me substituir não pode de repente fazer algo tão irregular!

—Tudo bem, acalme-se, eu só estava brincando! — ele gargalhou voltando a sua forma de homem diante dos olhos dela, Yukari afastou-se um passo para trás — Mas não é como se alguém fosse me descobrir apenas por algo assim, sabia? Eu já disse: nem todo mundo pode ter olhos como os seus.

Yukari afastou-se um passo para trás.

—Só quero confirmar, mas você não está me fazendo esse favor com alguma segunda intenção de que eu fique lhe devendo, está?

Ele inclinou a cabeça de lado.

—Não.

Acenando afirmativamente Yukari o contornou para alcançar a cama, deitando-se ali e cobrindo-se para dormir.

—Certo.

Gintsune virou-se cruzando os braços.

—Você está constrangida de novo? — perguntou reconhecendo aquele ritmo cardíaco.

—Estou. — ela respondeu mirando o teto — Mas estou feliz. — e virou-se dando as costas a ele e puxando a coberta até acima da cabeça — Obrigada.

Gintsune olhou para o alto.

—Meu nome é Gintsune. — comentou.

— Eu sei. — ela respondeu sem se virar ou descobrir a cabeça.

—Mas você nunca o disse. — a fez notar — Você pode usá-lo às vezes se tiver vontade.

E espreguiçando-se ele converteu-se novamente à sua forma animal e arrastou-se para debaixo da cama.

A maioria dos funcionários da pousada podia trocar-se nos vestiários da pousada, mas a família tinha a sua casa bem ali, e por isso não precisava deles. Desde que podia lembrar Yukari sempre usou tranças e vestiu quimonos, no início sua mãe e sua avó a vestiam e penteavam, às vezes no quarto dos pais e outras na própria sala de casa, mas conforme crescia e aprendia a cuidar de si mesma, Yukari passou a tratar disso sozinha.

A raposa havia dito que nunca a vira sem as tranças, e isso porque ela sempre tratava dos cabelos no banheiro, escovando-os, repartindo-os e trançando-os perfeitamente em frente ao espelho, mas ele nunca dissera que não vira outras coisas, Yukari sacudiu a cabeça, ela preferia nem pensar nesse assusto, e desde que descobrira o inquilino indesejado em seu quarto passara a trocar de roupa no banheiro também.

—Esqueci minhas roupas no quarto. — resmungou para a mãe ao passar apressadamente por ela nas escadas, apertando o roupão contra o corpo.

—Yuki...

Mas Yukari não parou, estava nervosa demais para isso, e chegou ao quarto fechando a porta com um suspiro trêmulo, e aprumando-se em frente ao espelho na porta de seu guarda roupa ela tirou o roupão, não era tão antenada em moda quanto a representante, mas esperava que não estivesse vestida de forma estranha, Yukari ajeitou a blusa vermelha para dentro da saia xadrez amarela que lhe batia no meio das canelas, oh, estava tudo em sua bolsa? Carteira, ban dads, chaves, celular...

—Sabe Yukari, acho que um dia quero te levar para comprar roupas novas.

Comentou a raposa deitada em sua cama na forma animal, conforme Yukari viu pelo espelho.

—De alguma forma isso que você acabou de dizer me deixou bem irritada agora mesmo. — Yukari respondeu calmamente deixando a bolsa de lado e sentando-se para por as meias também amarelas.

Seus mocassins estavam no armário de sapatos no térreo, ah e não podia se esquecer de por o casaco antes de sair.

—Será possível que você não sabe fazer nada além de tranças? — a raposa suspirou deitando a cabeça, sobre as patas dianteiras cruzadas — Mas afinal quem ficou com meu ingresso?

—Aoi-chan vai levar o irmãozinho. — respondeu.

—Oh entendo, que bom para ele. — ele comentou em voz monótona e saltou para o chão assumindo forma humana, mas não sua forma humana usual, e sim a exata réplica de Yukari já pronta para trabalhar com tranças e quimono — Mais uma coisa: já sabe como sair sem ser vista? Sei que disse que não descobrirão a farsa de cara apenas ao ver-me, mas seria difícil explicar como você pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

—Vou usar a saída dos fundos, há uma ladeira ali, aberta por ordem do meu avô, apenas para desembarque de cargas e é também por onde recebemos a correspondência, assim não se incomoda os convidados usando a entrada dianteira.

—Hum... que pessoas tão esforçadas e preocupadas com seus hóspedes. — a raposa comentou fazendo pouco caso, enquanto coçava o ouvido com o dedo mindinho.

Yukari pôs-se ereta sobre a cama.

—É obvio. E você também trate de ser aplicado hoje, por favor, não apronte nada.

 A raposa estalou a língua.

—Certo, certo. Bem, é melhor eu ir à frente. — respondeu descuidadamente abrindo a porta para sair.

—Espere! — Yukari colocou-se repentinamente de pé.

Ainda segurando a porta aberta ele a olhou por cima do ombro.

—O que?

E então ela solenemente se curvou.

—Eu sou muito grata pelo que está fazendo agora. — afirmou sinceramente, e ainda sem erguer a cabeça umedeceu os lábios. — Obrigada de verdade... Gintsune.


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Notas finais do capítulo

Hellou! Alguém aí já havia reparado que Yukari nunca pronunciava o nome de Gintsune? =^.^=
E afinal a deusa oni não é má pessoa... E por falar na Hikari, ela foi criada originalmente pelo meu irmão, e eu gostei tanto dela que quis incluí-la na história. =^.^=
Mas me digam o que acharam da história dos pais dela?

Bestiário:

Kyorinrin: Uma espécie de youkai tsukomogami, isto é, nascido de um artefato, nesse caso livros, escrituras e pergaminhos antigos que foram negligenciados por seus donos, tem a forma semelhante a de um dragão, e pode atacar aqueles que tratam de forma negligente e ignorante escritas de valor e conhecimento inestimável.

Tennyo: Damas celestiais que não são deidades sujeitas à adoração, mas são servas dos deuses.

Curiosidades do Japão:

Ohaguro a prática de enegrecer os dentes:
A prática consistia em usar um preparo especialmente para colorir os dentes de preto – que era uma cor associada à beleza. A mistura utilizada não tinha uma receita específica, mas era preparado com tinta, acetato de ferro, chá e outros ingredientes. No entanto, a cor não era permanente, então era preciso aplicar a fórmula nos dentes quase diariamente para mantê-los sempre coloridos. Além da função estética, o ohaguro também servia para prevenir problemas dentários. Os registros apontam que foi durante o período Edo (1603-1868) que a prática se popularizou e as japonesas passaram a pintar os dentes para sinalizar que eram casadas. Estima-se que 35 milhões de mulheres foram adeptas da prática ao longo desses mais de dois séculos. Já no período Meiji (1868-1912), o costume começou a cair em desuso e no final do período, o ohaguro estava restrito apenas a atrizes de teatro e aprendizes de gueixa.

Yakudoshi - os anos críticos da má sorte:
Os japoneses acreditam que certas idades são consideradas de azar e que as pessoas ficam mais suscetíveis à desgraças, infortúnios ou doenças. As idades de azar para os homens são 25, 42 e 61, e para as mulheres 19, 33 e 37, embora existam variações dependendo da região no Japão. O ano anterior e posterior ao Yakudoshi também são considerados críticos e azarados e, portanto merecem cuidado redobrado, mas para a contagem da idade crítica, deve-se considerar o Kazoedoshi, ou seja, acrescentar um ano à idade, devido ao tempo q estava no ventre durante a gestação. No ano de yakudoshi, os japoneses costumam ir a santuários para uma cerimônia para afastar o sofrimento e azar, outra coisa a fazer para espantar o azar é a família e amigos darem uma festa para comemorar o aniversariante azarado, no ano seguinte é a vez do aniversariante dar a festa, nem que seja apenas com a família e poucos amigos. E há quem diga que se a pessoa não cumprir o ritual no ano certo, ganha sete anos de azar.

Extra: Curiosidade da China:

Cheogsam:
O vestido surgiu na época que a Dinastia Qing (manchu) governava a China. As mulheres manchu usavam um vestido longo, grande e solto que nada tinha haver com o qipao que conhecemos hoje. Ele cobria a maior parte do corpo da mulher, revelando apenas a cabeça, mãos e as pontas dos dedos, a natureza das roupas folgadas também serviu para ocultar o corpo feminino, independentemente da idade. As mulheres da etnia Han, começaram a usar o qipao por volta de 1925, depois que Shanghai desenvolveu na década de 1920 o desing desse qipao que conhecemos que exalta as formas do corpo, sendo fechado até o pescoço com gola alta, geralmente abotoado do lado direito e com generosas fendas no comprimento. Detalhes elaborados, bordados e botões especiais.



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