Honra & Fúria - Interativa escrita por Thiago


Capítulo 8
Capitulo VII


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura a todos.
Espero que gostem.



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Ninho da Águia  

 

Na sala de reuniões do pequeno conselho, o único som que poderia ser escutado era o riscar da pena contra o pergaminho. Seu pai parecia bastante concentrado em sua escrita, provavelmente algum planejamento a respeito do que estava por vir. 

— Eu espero que essa guerra não aconteça – disse Blair – Eu temo que os Gardener decidam ajudar os Durrandon. E caso isso, aconteça é capaz de termos dificuldade em mantermos nessa guerra. Ainda assim, não consigo parar de pensar na Reyna e em como deveríamos ter insistido que ela fosse enviada para cá.

Blair Arryn desejava ir ao septo das nuvens, a fim de orar pela alma da Princesa Reyna Durrandon. Ela já se encontrava triste pelo desaparecimento do irmão e sua falta de noticias, porém agora sua tristeza era mista. E ela se compadecia da dor que a garota sentia, porém ainda assim não esperava por sua morte.

Ela tinha escrito cartas para Reyna naqueles últimos meses desde a fuga de Deryn Arryn. Foram três cartas ao todo, até que parou de escrever e enviar os corvos. O principal motivo era devido não ter obtido nenhuma resposta. Perguntava-se se alguma delas havia chegado a suas mãos ou sido extraviadas, porém mesmo poderiam ter chegado tarde demais.

— Sim, você não é a única. – respondeu Rei Jonos – Sou um homem velho, a ideia de desperdiçar meus últimos anos em chacinas e derramamentos de sangue. É triste e desagradável. E uma guerra que não me agrada, na verdade nenhuma delas nunca me agradou.  

— Eu sei o quão triste e desagradável isto é, meu pai. – falou Blair – Nos já pagamos o preço do sangue pelas guerras. – Ela fez uma pausa dolorosa pela lembrança que havia se abatido sobre si - Meu irmão se foi e até hoje ainda não superamos a sua perda.

— Harry não deveria ter perecido em combate. – disse Rei Jonos – Os deuses são injustos em tirá-lo de mim. Não tivemos a chance de nos despedirmos, nenhum de nós... Eu fui um tolo por julgá-lo apto para liderar um batalhão sem mim. Mas achei que divididos seria melhor para nós dois, sem termos que nos preocupar com as vidas um do outro em batalha.

— O senhor agiu certo – respondeu Blair – Não posso dizer como é está em batalha e as decisões que temos de tomar, mas o senhor pensou que estava correto em manda-lo para longe. E estava certo, porque meu irmão revelou-se um bom cavaleiro e um bom comandante. Pergunte para Roland, ele irá confirmar o que todos sabem. Como Harry pereceu como um herói.

— Mesmo assim, sua mãe me culpa pela morte dele. – murmurou Rei Jonos – Ela nada diz, mas eu noto no olhar dela quando ela cita seu irmão. Sempre o dia do nome de vocês...  – Ele girou o cálice de vinho em mãos e no seu interior a bebida rodopiou em um redemoinho - A Elysa cita a dor que sente em vê-los separados. Que é injusto a morte ter chegado para seu irmão tão cedo.

— Papai, não pode se culpar. – disse Blair estendendo a mão de seu pai e a pegando junto da sua, entrelaçando os dedos um do outro sobre a mesa de madeira branca. – Se existe um responsável pela morte dele é a pessoa que lhe tirou a vida.

— Existem boatos de que foi um dos príncipes – falou Rei Jonos – Mas ninguém nunca realmente assumiu a culpa por tê-lo matado. Nem mesmo quando Dorian devolveu os ossos de seu irmão como parte do acordo de paz.  

— As Terras da Tempestade, essa maldita guerra nos deixou essa cicatriz que nunca vai se apagar completamente. – disse Blair suspirando com pesar - Chegará um tempo em que todos nós iremos compreender a morte e veremos o quanto Harry foi especial para aqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo, sendo que lamentar sua perda não é algo que devemos fazer.

— Eu errei, enganei-me em achar que o seu irmão já estava pronto... – falou Rei Jonos - Ele foi tirado de mim tão brutalmente. E o que recebemos em agradecimento? Nós fomos privados o direito de velá-lo como devíamos, Blair. Tanto é que parte de mim gostaria que o corpo daquela garota fosse engolido pelo mar e nunca fosse encontrado... – Ele fez uma pausa enquanto soltava a mão da filha e se levantava de seu lugar seguindo para perto da lareira.

— O senhor não pode estar dizendo a verdade - disse Blair - O senhor não poderia desejar algo tão cruel assim para alguém. 

— Pois eu desejei. - Respondeu Rei Jonos - Para que os Durrandon saibam o que é passar pelo luto sem poder velar ou chorar a morte de um ente querido. O que é ter a esperança de que o mundo esteja errado e que seu ente querido vá ressurgir vivo... - Ele riu amargamente - É o que me manteve lutando ainda, sabe? A esperança de que seu irmão pudesse estar vivo, por mais machucado ou quebrado que pudéssemos encontrá-lo.

— Pai – chamou Blair – O senhor não é uma pessoa ruim, eu sei disso. Você desejar algo assim não é do seu feitio, nem mesmo todo o ódio ou ressentimento que possa ter em seu coração o faria desejar o sofrimento de uma família inteira.

— Eu sei, eu sei. Eu me sinto péssimo em pensar que aquela pobre garota pode nunca ter o seu merecido descanso. – respondeu Rei Jonos – Parte da razão pela qual eu me envergonho de desejar tanto mal assim... – Ele suspirou enquanto fitava as chamas da lareira – Eu espero que a encontrem.

— Eu também espero. – respondeu Blair então se levantando e indo até o pai, naquele momento depositando sua mão sobre o ombro dele. – Eu só queria que nada disso estivesse acontecendo. Parece tão irreal.

— Eu passei tanto tempo investindo em seu irmão e o preparando para que me sucedesse, porém ele pereceu em batalha. – falou Rei Jonos – Meu Harry... Meu herdeiro. Meu maior orgulho e um dos melhores cavaleiros que o Vale de Arryn já teve a chance de produzir.  - Ele então tomou um gole de vinho, por fim esvaziando seu cálice.  - E eu tive de me contentar com Deryn. Minha desonra... – Bufou enquanto retornava para a mesa de reuniões – A vergonha para nosso reino. Uma mancha que maculou o nome de nossa família.

— O senhor está sendo exagerado em chamá-lo dessa forma – respondeu Blair – Deryn não deve ser pior do que muitos outros príncipes ou reis que vieram antes dele. O que ele fez, é horrível sim...

— Não defenda seu irmão – repreendeu Rei Jonos - Ele provou-se pior do que eu esperava que fosse. Nem nos meus piores sonhos, nem nos piores eu poderia imaginar tamanha falta de compromisso com o dever.

— Ele não tinha como saber, meu pai. – falou Blair em uma tentativa de defender o irmão mesmo contra a vontade do progenitor. – Ele só foi impulsivo em um lugar onde deveria ter pensado mais... Ele poderia ter vindo até nós e dito que não queria se casar com Reyna Durrandon. Então, um novo arranjo poderia ser feito..

Por mais que em seu coração soubesse que o pai não seria o único a condená-lo, afinal aos olhos da maioria a condenação de Deryn Arryn era válida. Jonos encarou a filha por alguns segundos em silêncio então retornando para o seu lugar na mesa de reuniões.

— Não é como se ele a tivesse assassinado com suas próprias mãos. – finalizou Blair.

— Isso não faz diferença agora ou faz? – perguntou Rei Jonos – Seu irmão traiu minha confiança, filha. Ele traiu não apenas a palavra de nossa família como trouxe a desonra para todos nós. Eu estou convocando meus vassalos para lutarem em uma guerra em que muitos deles sabem que estão do lado errado. Poucos ou nenhum deles irá seguir seu irmão caso eu pereça em combate. Você não vê?

A verdade era que, Blair sentia-se verdadeiramente traída por seu irmão mais novo. Ela o amava e havia confiado nele por toda a sua vida, porém ainda assim não fora o suficiente para que compartilhasse consigo os seus planos.

Provavelmente, temendo uma represália em decorrência de ele estar quebrando a promessa de casamento. Por estar jogando a paz pela qual todos haviam trabalhado naquela meia década para construírem com os seus vizinhos. 

— Não tem como saber se a guerra virá – disse Blair tentando reunir suas esperanças remanescentes para soar positiva frente aquela inquisição do pai – Eles podem aceitar a proposta.

— Ainda assim, caso a guerra venha... – falou Rei Jonos sendo realista como geralmente era em ocasiões assim. – Os Durrandon pedirão seu sangue em retaliação pela morte de Reyna Durrandon. E pode ser que alguns de nossos cavaleiros vejam isso como uma chance de prosperarem.

— Você espera ser traído? – questionou Blair surpresa.

— Não, eu não. – respondeu Rei Jonos – Como falei, não é comigo que estou preocupado. Eu temo pela vida de seu irmão enquanto este se mantém por ai e sozinho... – Ele fez uma pausa enquanto coçava sua barba - Talvez eu devesse intensificar as buscas ou aumentar o preço para quem tiver noticias conclusivas a respeito de seu paradeiro.

— Sim, meu pai. – respondeu Blair Arryn. Uma parte de si queria ser capaz de tomar coragem e fazer o que era o certo. – Não podemos desistir de meu irmão ainda. Devemos manter a esperança de que ele seja encontrado.

— Senhor, lamento interromper a conversa particular que possam estar tendo...  – disse Yorwick ingressando novamente na sala de reuniões com alguns pergaminhos em suas mãos – Eu já arranjei os mensageiros para irem entregar a nova proposta de casamento. Nesse exato momento os rapazes devem estar descendo as montanhas rumo a Vila Gaivota para pegarem o primeiro navio em direção a Ponta Tempestade.

— Obrigado, Grande Meistre. – respondeu Rei Jonos – Queira se juntar a mim enquanto conversamos sobre os outros corvos que iremos enviar. Para caso a proposta seja recusada, como sabe gosto de estar precavido para possíveis reviravoltas. Nesse caso, mesmo que esperada. – Então se virou para a princesa – Mais alguma coisa que queira tratar comigo, filha?

— Nenhum – disse Blair – Se o senhor me permite, meu pai. Eu gostaria de ser dispensada por hoje de mais assuntos políticos. Já passamos muito tempo tratando a respeito e por mais que eu ache proveitoso cada momento que passo aqui, ainda assim creio que minha mãe possa se incomodar com o fato de eu estar tomando tanto de seu tempo.

— Pois tome o quanto quiser, Blair. – disse Rei Jonos – Você é bem vinda e sabe disso. – Ele levantou-se para abraçar a filha e se despedir - Queria eu ter seu irmão mais novo aqui perto de mim e que ele fosse tão interessado quanto você... – Ele pegou sua cabeça com ambas as mãos, em seguida carinhosamente lhe depositou um beijo na testa.

— Sua benção, meu pai. – disse Blair em sinal de respeito.

— Que as sete bênçãos lhe iluminem, minha pequena. – respondeu Rei Jonos traçando o sinal da estrela de sete pontas em seu peito, próximo do coração. – Tenha um bom dia. - E naquele momento a mente de Blair recordou-se do que havia acontecido naquela manhã. Seu peito se apertou com a culpa.

— Igualmente – respondeu Blair enquanto se afastava meio encabulada.

Aquele pergaminho que havia recebido naquela manhã, as palavras ainda não lidas. Aquela era a primeira noticia que tinham de Deryn em meio ano. Foi tentador entrega-lo ao pai e assim consolidar a sua lealdade a coroa, porém estava dividida. Ainda não sabia o que fazer.

E retirou-se ao cruzar as portas, porém permaneceu ali por alguns segundos ao ponto de ser capaz de ouvir as palavras de seu pai ao Grande Meistre Yorwick. Ambos conversaram em um tom de voz mais baixo e displicente.

— Ela é uma boa garota – observou Yorwick em um tom de voz admirável – Ela não se intimidou nem se abalou frente as suas palavras, vossa graça. A respeito do casamento dela... Mesmo que por intensões politicas. E ela abraçou os vossos planos como os dela.

— É um castigo dos deuses que ela tenha nascido mulher – respondeu Rei Jonos – A maneira como ela fala e se impõe, a sua personalidade é tudo o que eu queria que Deryn fosse. É tudo o que Harry era. Se Blair tivesse nascido um filho, provavelmente ela seria um dos melhores reis que o Vale de Arryn já teve.

Ela afastou-se e se encaminhou apressadamente para longe da sala do pequeno conselho. Ela até teve que tomar cuidado, para não pisar na cauda de seu vestido, por conta disso preferiu retornar aos passos mais contidos ainda mais quando notou os olhares de alguns membros da corte. Ela decidiu não ver aquilo como uma afronta a si, mas sim abraçou como um elogio.

Logo se encontrava na sala da lua crescente, notando que estava sozinha pode permitir-se em respirar aliviada. Ainda tremia bastante empolgada e emocionada com o que seus ouvidos haviam escutado.

Algo dentro do coração de Blair Arryn se inflara frente aquelas palavras que tornavam a se repetir em sua cabeça. Seu pai reconhecendo o seu potencial desperdiçado, era uma lembrança que manteria para si até o dia de sua morte. Perguntava-se se um dia seu pai havia de lhe dizer aquilo na sua frente.

Ela era a irmã gêmea de Harrold, tendo nascido alguns minutos depois dele. Se tivesse nascido homem teria sido a responsável por assumir as funções de herdeiro, porém acabou que os deuses preferiram fazê-la uma mulher. Ela não queria admitir, mas concordava com as palavras de seu pai. Afinal, Deryn não tinha o que era preciso para ser um herdeiro ainda assim ele teve que assumir esse dever.

Após a morte de seu irmão gêmeo, ela e Deryn se aproximaram em sua dor e ambos se tornaram melhores amigos naqueles últimos anos. Eles confiavam as suas vidas um ao outro. Blair Arryn se tornou uma pessoa mais triste e séria após sua perda, como se uma parte sua tivesse morrido.

Mas nos momentos em que passava com Deryn, por vezes era como se sentisse a felicidade apossar-se de si de novo e o rapaz era um dos poucos capazes de fazê-la sorrir. Assim como Harry tinha feito em vida. Sua outra metade que havia lhe deixado, porém ainda dessa maneira não significava que ela estaria transferindo seu afeto por Harry para Deryn. Se o tivesse feito, não era a sua intensão.

Deryn não era Harry, isto tinha ficado bastante obvio naqueles últimos meses. Porém, ainda assim era o seu irmãozinho e tinha crescido ao lado dele o protegendo e zelando por sua segurança. Ela era a responsável por limpar suas lágrimas sempre que este chorava quando criança.

Porém, o seu pai havia admitido o quão orgulhoso estava dela, ambos tinham se aproximado tanto e ele mesmo passara a tratar de uma maneira igualitária com os seus irmãos. A confiança de seu pai era extremamente preciosa para ser violada daquela maneira.

E talvez por isso, seu coração a fez perceber a decisão que deveria tomar em relação aquele pergaminho que havia recebido de seu irmão remanescente. Apenas esperava que um dia fosse capaz de se perdoar pelo que estava prestes a fazer.

E assim, removeu o pedaço de pergaminho do interior de suas vestes, puxou e desenrolou com cuidado o papel amarelado. E escrito na caligrafia relaxada de Deryn encontrava-se uma única frase:

“Encontre-me onde nos despedimos de Harry”

...

 

Em sua mente, as lembranças vinham. Sua saúde física poderia ser estabilizada graças aos esforços médicos de Grande Meistre Yorwick, porém com o tempo conforme seu corpo se fortalecia, outro mal lhe acometia. Um mal invisível e incompreensível.

No decorrer da infância os problemas pioraram conforme ela era privada da convivência com a maioria das pessoas do castelo. Sua mãe queria lhe proteger dos males que poderiam lhe atingir, porém então os sonhos vieram e provaram que a rainha não tinha como proteger a filha de tudo.

Ela recordava-se de acordar aos gritos e suada, ou mesmo chorando depois de seus sonhos vividos e estranhos onde ela via o inimaginável e o horror muitas vezes. O pânico e as dificuldades para dormir lhe vieram, porém o pior não era quando sonhava enquanto dormia, mas quando estava acordada.

Por vezes ela quase pereceu durante suas crises, porém por sorte sempre havia alguém próximo para socorrê-la. As convulsões vinham e lhe tiravam sangue pelo nariz e ouvidos, nada do que fazia parava com que os sonhos viessem, nem as orações ou os fortes leites de papoula.

Ela sempre tentou reprimir aquilo, pois sentia o olhar de medo e dó direcionado das criadas ou até mesmo de sua própria família. Ser a criança com princípios de demência, ao menos eram o que alguns cochichavam sobre si.  

Aemma cresceu temendo a si mesma e o que quer que fosse aquilo dentro de si que trazia aqueles sonhos estranhos. Vivia cercada de aias, elas revezavam-se para vigia-la. E não tinha permissão de sair de seus aposentos sem companhia fosse de um guarda ou de uma de suas aias, não se sentia livre dentro de sua própria casa.

Por várias vezes sentiu-se como um passarinho preso em uma gaiola de cristal. A situação havia piorado a cerca de cinco anos, quando aos onze anos havia sonhado com a perda de seu irmão. Ela não se recordava ao certo do que vira, apenas decifrara as imagens estranhas como um prenúncio da morte de Harry em batalha.

Sua amargura e dor fora tamanha, que suas crises vieram com mais força e sua mãe decidiu por bem mantê-la em isolamento. Foi um ano em sua torre, enclausurada como uma prisioneira. Sua tristeza só piorou os sonhos que passaram a vir com mais frequência.

Sua pré-adolescência era marcada pelas convulsões acompanhadas de seus sonhos que pareceram piorar cada vez mais. E seus pesadelos vinham com mais intensidade ao ponto dela machucar a si mesma durante o sonho. Eles vinham mais constantes e mais vividos, até que ela acordasse acordando todo o Ninho da Águia com seus gritos.

Seus pais já não conseguiam mais abafar os rumores da princesa louca que era o motivo de boatos nada amistoso na corte do Ninho da Águia. Vários comentários maldosos a seu respeito ressoavam pelas paredes, porém a solução viera na forma de uma sugestão vinda do Rei Gareth Gardener, sobre os avanços da medicina dos arquimestres na Cidadela.

Talvez, seus pais tenham aceitado leva-la até a Campina de maneira a afastá-la do Vale de Arryn. Para escondê-la dos olhos de todos enquanto oravam por algum progresso de Aemma.  Ou simplesmente não quisessem desistir dela, porém ela sentiu que era o oposto de suas intensões. Afinal, foram anos solitários em seu tratamento, enquanto permanecia sozinha em seu quarto.

Nos primeiros dias ela gritou e esperneou, jogou pratos de comidas pelo ar e destruiu a mobília de seu quarto. Mas ao invés deles libertarem ela, apenas começaram a crer mais e mais na loucura atribuída a ela. Depois de duas semanas ela desistiu de lutar contra sua situação.

Nem mesmo seus irmãos fariam algo para ajudá-la, ninguém a tiraria dali a menos que mostrasse algum progresso em seu tratamento. Ela tinha que se esforçar, afinal havia apenas uma maneira de sair daquele lugar e era manter-se sã ou apenas fazê-los acreditar que havia se curado.

Com o isolamento os sonhos não pararam de vir, mas pelo menos eles parecem ser menos odiosos e nem sempre a acordava aos gritos, provavelmente eram as poções e medicamentos que estavam a inebriar alguns de seus sentidos. Coisas mais fortes que leite de papoula ou qualquer outra poção que o grande meistre lhe oferecia no Ninho da Águia.

— Princesa Aemma? – falou um rapaz de cabelos loiros volumosos e uma barba áspera, mas que mesmo assim não conseguia lhe deixar com uma aparência muito selvagem ou brutal.

Ela tentava recordar-se de quem poderia ser aquele rapaz enquanto o via caminhar até si.  Ele parecia feliz em encontrar-se com a filha mais nova de seu suserano jardim de inverno. Ele não a estava evitando, então isso parecia algo bem interessante e diferente do que estava acostumada a lidar.

— Não recorda-se de mim? - perguntou o rapaz. Levara alguns segundos para que Aemma reconhecesse o belo e garboso jovem que lhe chamava pelo nome. - Sabia que havia retornado, mas não fazia ideia de iria encontrá-la por aqui. É um prazer em revê-la, vossa alteza. 

Porém, os sinos em sua capa roxa lhe deram uma ideia de quem se tratava, aquele era o brasão dos Belmore de Cantoforte. E ela recordava-se do sobrinho de seu tio Bedric Belmore, um garoto franzino de cabelos loiros e olhos azuis como o céu do Vale de Arryn. 

— Sor Rowan Belmore - disse Aemma quando o nome veio a sua mente. 

— Rowan, por favor. - insistiu o rapaz - Eu abandonei qualquer chance de me tornar um cavaleiro quando meu pai notou o quão horrível e miserável eu era portando uma espada. E certamente, Lorde Royce piorou a situação quando me devolveu a ele após dizer que me treinar havia sido uma perda de tempo. Verdades amargas, mas não me machucam mais. 

— Sim, eu me recordo de você - disse Aemma - Você e minha irmã... - Ele pareceu encabulado com qualquer palavra que a moça pudesse lhe dizer depois daquilo, provavelmente por isso a interrompeu. 

— O que faz aqui, vossa alteza? – disse Rowan bastante solicito - O Jardim de Inverno é um lugar lindo, mas não creio que seria bom para a senhorita manter-se aqui sem ter ninguém por perto.

— Ela não está sozinha, milorde. - disse Heron Hardyng aproximando-se em sua armadura completa e colocando-se ao lado da princesa. - Eu estou com a princesa como seu escudo e seu guardião. 

— Oh, me desculpe. - falou Rowan - Eu não queria ofendê-lo.

— O senhor não deveria estar com a senhora sua esposa? - disse Heron - Soube que ela está grávida. Com sorte, virá um filho varão e legitimo para sua casa. Os deuses serão bons contigo, milorde. Quase sete anos desde que a desposou e é o primeiro filho que terão. Que venha forte e seja um cavaleiro como o avô. 

— Se os deuses forem bons não vou ter filhos iguais ao meu pai. - disse Rowan convicto e direto, o que pareceu abalar Heron Hardyng frente aqueles dizeres. - Eu estou conversando com a princesa, se você nos permitir alguma privacidade... Sor. - ele fez questão de chamá-lo pelo titulo, Aemma pode notar. Heron dera alguns passos para trás e ficou de prontidão. - O que faz aqui, vossa alteza? 

—  Eu estava apenas... Andando. - disse Aemma. Ela não tinha ideia do que fazia naquele lugar, apenas parecia como se esperasse encontrar algo ali e acabou por se encontrar com alguém que realmente parecia interessado nela. E a enxergava. - Você estava esperando outra pessoa? 

— Não, eu não estava. - disse Rowan olhando ao redor - Eu apenas gosto de vir para cá as vezes para pensar. A maioria das pessoas não vem aqui então esse é um lugar tranquilo. Para se colocar os pensamentos em ordem. Talvez você precise desse lugar mais do que eu, não? 

— Eu, não sei... – falou Aemma buscando apoio de seu guardião - Para onde estávamos indo? - Heron Hardyng encarava a sua protegida com um olhar deverás confuso e manteve-se afastado enquanto a via conversar com Rowan Belmore.

— Eu estava apenas a seguindo - disse Heron simplista e direto. 

— São seus sonhos novamente? – perguntou Rowan Belmore em um sussurro – Sua irmã me contou que as vezes você sonhava acordada. Não se preocupe, não irei te julgar por ter a cabeça nas nuvens de vez em quando. Eu mesmo as vezes tenho meus momentos de devaneio.

— Eu não estava sonando - disse Aemma - Não agora. 

— Por que não confia em mim? - disse Rowan lhe dando um sorriso bonito e brilhante - Eu guardarei o seu segredo. Blair não teria me contado sobre seus sonhos se não confiasse em mim. Isso não é o bastante para que você também confie? 

Aemma Arryn fez uma pausa e recordou-se de sua irmã e de Rowan Belmore, ambos beijando-se atrás de uma pilastra em um local reservado e discreto do Ninho da Águia. Ele mesmo tinha um segredo e o guardava tão bem, pensou se faria o mesmo com o dela. 

— Na noite passada, antes de eu escutar uma das criadas fofocando com outra sobre o que meu irmão havia feito. – respondeu Aemma para surpresa de Rowan - Sobre como ele se foi com a Jeyne Royce para um lugar que ninguém sabe.

— Então, você já sabe sobre Deryn? – questionou Rowan Belmore surpreso - As pessoas na corte queriam poupa-la de tal noticia infortuna, não precisa se preocupar... - Ele colocou a mão em seu ombro e sem querer isso fez com que a garota recuasse. - Seu pai reuniu homens e pediu que a noticia se espalhasse pelo Vale de Arryn. 

— Eu sonhei com uma tormenta – continuou Aemma ignorando o comentário do rapaz - Uma tão forte que eu mal conseguia me segurar sobre o chão. Eu lutava para me manter em pé... - ela fez uma pausa desviando o olhar - Porém, eu não conseguia.

— Eu não entendo - questionou Rowan. 

— Era uma tormenta que alagou o Vale de Arryn em segundos e deixou em meus lábios um sabor salgado de mar. - continuou Aemma - E eu o vi, Rowan. Eu vi meu irmão morto bem como outros rostos que eu não conseguia decifrar. Todos afogados em meio à furiosa tormenta. Diga-me, você já teve sonhos assim? 


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Notas finais do capítulo

O próximo capitulo eu planejo retornar para as Terras da Tempestade. Então, sinto pelos personagens que ainda não apareceram no Vale de Arryn, porém eu já estava sobrecarregando esse lado e negligenciando um pouco o outro.

Então, aqui vocês tiveram um vislumbre maior de alguns personagens até alguns que ainda não tiveram seus pontos de vista mostrados, mas ainda assim fomos apresentados a eles.