Honra & Fúria - Interativa escrita por Thiago


Capítulo 7
Capitulo VI


Notas iniciais do capítulo

Continuação do capitulo anterior, eu inicialmente tinha postado em uma única parte.
Mas ao ver que estava muito extenso e poderia ficar cansativo para vocês que eu optei por dividi-lo em duas partes.



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Portão da Lua

Roland Arryn cavalgou a trotes de leves pela arena de listas. Encontrava-se com a armadura completa, o que se incluía aqui a o seu elmo com a viseira que ergue com facilidade com dois dedos enluvados. Seu ombro encontrava-se faiscante e rígido, provavelmente aproximava-se da hora de parar com aquele treinamento que tinha iniciado ao alvorecer.

O cavaleiro ajeitou sua lança de torneio de maneira mais firme e ereta. Seu outro braço encontrava-se atado ao escudo que trazia o brasão de sua família. Abaixou novamente à viseira, sua respiração soava pesada enquanto tornava a preparar-se para uma nova investida contra o cavaleiro de palha.

E como resultado, obteve a mesma resposta que tivera nas outras duas dezenas de vezes que havia persistido contra seu adversário falso. A derrubada do alvo imóvel novamente, porém dessa vez com o acréscimo em que um grande rombo formou-se na área próxima do peito do espantalho, a lança transpassou e palha espalhou-se pelo chão de terra da arena.

Um erro de poucos centímetros, porque seu ombro encontrava-se cansado. Se fosse um cavaleiro de verdade era provável que a lança se estilhasse contra a placa peitoral, bem como os estilhaços de madeira poderiam feri-lo ou quem sabe pior. Sim, era o momento de parar agora que seu oponente precisava de reparos.

Mesmo em frente ao seu erro grave, pode escutar os aplausos de sua pequena plateia. Ergueu a viseira do elmo e procurou com os olhos azuis a origem dos sons, encontrando o rosto já lhe familiar de seu pai e sua noiva.

Ele dera uma volta em meia lua, puxando as rédeas de seu cavalo enquanto voltava-se para agradecer aqueles que o assistiam da varanda suspensa. Roland Arryn esticou a lança para cima e em seguida a abaixou, em agradecimento.

Em seguida, acenara para que seu escudeiro se aproximasse e a pegasse a lança de torneio, sendo que assim o jovem garoto fez. Com a mão agora livre foi que removera o elmo e assim pode fitar.

Sor Dontos Arryn, seu pai e inspiração. Ele era muito comparado com o pai em sua juventude. Porém, os últimos anos haviam cobrado seu preço, tanto o tempo quanto a saúde de seu pai que se debilitou. 

Naqueles últimos anos, Sor Dontos vinha habituando-se ao uso da bengala. Antes disso não conseguiria nem ao menos sair da cama sem sentir dor. Meistre Waymar vinha fazendo um milagre no tratamento do antigo cavaleiro do Portão da Lua.

O sorriso de seu pai era de certa forma saudosa, afinal ele próprio havia sido um competidor avido em torneios. Porém, fora ali que encontrou a sua tragédia. A queda de um cavalo, a quebra irreparável de sua perna quando esta ficara presa ao arreio da sela enquanto o animal lhe arrastava. Um acidente que poderia tê-lo matado, diziam.

Então, desviou o olhar para sua noiva. A bela senhorita, Catelyn Corbray. Uma moça no auge da idade e certamente uma das mais formosas damas do Vale de Arryn. Ao menos, as pessoas sempre costumavam elogiar o quão sortudo Roland era em desposá-la. Ainda assim, seu coração mantinha-se indiferente a moça. 

Roland não era capaz de sentir qualquer coisa enquanto a encarava. Seus belos cabelos ruivos e os imensos olhos azuis claros, não pareciam para si tão belos quanto à maneira como seus companheiros de cavalaria comentavam.

Lorde Eldrian Corbray, o cavaleiro a quem havia servido como escudeiro quando garoto, era o pai de Catelyn. E ele havia lhe oferecido à mão de sua filha após a última guerra, quando Roland Arryn já se encontrava consagrado com suas esporas de cavalaria bem com os louros de um herói de batalha.

Teria sido uma grande desfeita caso recusasse a proposta, sem mencionar que após a confissão que o Lorde de Lar do Coração havia lhe feito, Roland sabia que ele era a melhor opção para a garota.

Afinal, não sabia como outro jovem da nobreza reagiria ao na noite de núpcias quando descobrisse que a sua nova esposa não era mais pura. Em respeito pelo qual tinha ao Lorde Eldrian Corbray, o rapaz nunca mencionou o assuntou ou confessou a Catelyn que sabia de seu passado. Quando fora a prometida de Príncipe Harry Arryn. 

— Foi um bom treinamento, sor. – disse Jasper Waynwood se aproximando para ajudá-lo a desmontar do cavalo. – O senhor está muito bem, irá se sair muito bem no Torneio de Correrio. É uma pena que todos os torneios tenham sido cancelados desde o desaparecimento do príncipe, uma pena... - Ele agora ajudava Roland a na retirada do escudo - Ainda mais quando o senhor pretendia organizar um torneio aqui em Portão da Lua.

— Sempre existirá o próximo ano – disse Roland – Não se preocupe, eu ainda tenho planos para a realização do torneio. Quem sabe, se na próxima vez não teremos um novo cavaleiro entre os competidores? Sei pai iria olhá-lo com orgulho, Jasper.

— Eu na verdade sempre preferi a arquearia, sor. Sou bom com o arco e flecha, como bem sabe. – respondeu Jasper com modéstia – Porém, meu pai faz questão que eu passe pelo treinamento de cavaleiro. Razão pela qual me enviou para cá, afim de que eu aprendesse como o senhor.

— O seu treinamento se aproxima do fim – respondeu Roland – Me impressione e quem sabe eu não lhe condecore cavaleiro antes do decimo sétimo dia de seu nome. – Ele deu algumas palmadinhas no dorso do seu cavalo antes que deixasse que um dos cavalariços o levasse para os estábulos.

— Como o senhor foi condecorado pelo Principe Harrold? – questionou Jasper para o cavaleiro.

— Você é primo dele, Jasper. – falou Roland após alguns momentos de silêncio - Acho que pode tratar o nosso falecido primo pelo primeiro nome. Mesmo que não se recorde tanto dele assim.

— Bem, o nosso primo se foi há muito tempo e eu sei que era uma criança quando ele faleceu, ainda assim me recordo de Harry. – disse Jasper sorrindo com certo pesar e mudando o tom de voz, de escudeiro dedicado ao seu cavaleiro para alguém que estava ao lado de um membro de sua família. – Mas você está fugindo do assunto, sor.

— Eu tinha meus quinze anos – disse Roland começando o relato que tinha certeza de que já havia contado antes para seu escudeiro. – Sua idade como bem sabe. Estávamos no acampamento e eu havia me provado em batalha, você vê? Eu derrotei um cavaleiro por conta própria. Um que usava o brasão de um leão negro com o fundo dourado.

— Casa Grandison – recordou Jasper demonstrando o seu conhecimento em heráldica – Casa Grandison de Belavista. Uma das casas vassalas de Terras da Tempestade. O senhor o matou mesmo que ele fosse um cavaleiro experiente.

— O cavaleiro estava ferido – respondeu Roland, recordando-se do combate. – Eu sei que ninguém recordasse disso, mas foi assim que aconteceu. Eu era m escudeiro que estava enfrentando um cavaleiro fadigado e ferido. Ainda assim, meu primo me viu naquele combate e quando nos encontramos em nosso acampamento foi que me parabenizou.

— Sim, meu pai me contou. – respondeu Jasper – Mas não foi naquela noite que foi condecorado. – Roland acenou negativamente – Foi antes da Batalha de Coldwater.

— Exato – falou Roland – Precisava-se de cavaleiros para a vanguarda. Nosso primo me pediu que fizesse parte dela, então Harry removera sua espada e pediu que eu me ajoelhasse. Fui feito cavaleiro poucas horas antes da batalha. Foi um dos últimos grandes atos dele em vida e eu nunca irei me esquecer.

— Eu gostava de Harry – falou Jasper – Ele sempre foi gentil comigo quando ia visitar Ferrobles. Lembro-me dos soldadinhos de madeira que me trouxe uma vez, sabe que eu até mantenho um de recordação mesmo depois de tanto tempo?

— Eu o amava – respondeu Roland com um sorriso singelo – E perdê-lo foi uma dor imensurável. Quando Harry desapareceu em campo de batalha, nós acreditamos que tivesse sido feito prisioneiro. Ninguém imaginava que ele tivesse caído em combate.

Eles fizeram um silêncio respeitoso, seguido por Roland fazendo um sinal para que os dois subissem os degraus até a varanda suspensa. Logo, encontravam-se no mesmo patamar que Sor Dontos Arryn e Lady Catelyn Corbray.

— Esteve sublime, meu querido. – respondeu Catelyn amavelmente enquanto retornava a aplaudi-lo – Mas devo confessar, seu adversário era um terrível cavaleiro. É uma pena que tenha calhado de escolhê-lo como seu oponente. – Ele sorriu frente a brincadeira sem graça da moça.

— É o primeiro nível dos treinamentos, minha querida. – falou Roland para sua noiva – Em breve, eu passarei a treinar a justa com outros cavaleiros. Alguns de meus amigos que sei que podem vir a aceitar a proposta.

— Eu estou tão animada com essa perscpetiva de conhecer um novo castelo e novas pessoas, meu querido. – falou Catelyn – A ideia de uma viagem por outro reino é algo tão bom de imaginar.

— Nunca esteve em uma viagem para longe dos domínios do Rei Jonos? – questionou Roland com certa surpresa. – Isso me impressiona, de fato.

— A última vez que estive fora do Vale de Arryn ainda era uma garota pequena. – respondeu Catelyn - Fomos a uma viagem até o Poleiro do Grifo nas Terras da Tempestade. Uma viagem para que minha mãe nos apresenta-se aos nossos avós, creio eu. Era muito pequena para me recordar. 

— Bem, o torneio certamente será uma chance agradável de conhecer novos ares. – disse Roland – Irá ver o quão divertido pode ser, minha querida. Iremos passar mais tempo juntos e quem sabe assim, nos conhecemos melhor enquanto estávamos viajando.

— Só não retornem com notícias inesperadas, meu filho. – disse Dontos interferindo na conversa – Lembre-se, vocês dois tem que se guardar até o casamento. Sei que a tentação pode ser grande, mas ainda assim é a honra de nossas casas que contam.

— Por favor, milorde. – disse Catelyn corando graciosamente – Eu e seu filho, nós temos grande respeito um pelo outro. Fora que qualquer espécie de tentação certamente será contida, afinal basta apegar-se a fé e orar para que os deuses afastem tais pensamentos de nossas mentes.

— Eu sei, milady. – falou Dontos – Apenas estou a provocar o meu filho com tal pensamento, afinal sei que ele é um rapaz extremamente respeitador. Como bem pode perceber Lady Catelyn, desde que tomaram o compromisso. – Ele aproximou-se mancando e colocou uma mão sobre o ombro do filho - Afinal, não se ouve nenhum boato a respeito de Roland com qualquer moça seja ela uma camponesa ou de berço nobre.

— Os deuses vem me abençoando com o controle sobre meus instintos, meu pai. – respondeu Roland – Tem sido tentador a visão constante que é a minha bela noiva sobre o mesmo teto que eu. Mas, certamente que irei honrar minha nobre prometida. Não declinarei a entregar-me a mulher nenhuma que não seja Lady Catelyn Corbray.

Roland tentou não soar falso em suas palavras, afinal na presença do pai era indispensável que ele pensasse que ambos ainda eram castos. Ou na melhor das hipóteses, que Roland não estava tendo um caso secreto. Manter as aparências era fundamental, para sua própria proteção como para a de Catelyn.

— Oh, assim você toca o meu coração. – respondeu Catelyn, porém Roland por vezes sentia que a garota sabia que ele estava a fingir. Que toda aquela demonstração de afeto e carinho eram ser verídicos, porém qualquer galanteio ou demonstração de paixão lhe eram falsos. – Prometa-me que eu serei a sua Rainha do Amor e da Beleza.

— Eu prometo que não irei cair tão feiamente ao ponto de preocupá-la – respondeu Roland com um sorriso amável – Como bem sabe, eu não sei quem poderá estar nesse torneio. Ainda assim, darei o meu melhor para me manter montado. 

— Não é tão agradável cair de um cavalo – disse Dontos – Acredite, eu sei por experiência própria. – E riu enquanto depositava o braço ao redor dos ombros de Roland – Está ficando melhor, meu filho.

— Obrigado, meu pai. – respondeu Roland – Tem certeza que não deseja vir conosco para o torneio? Tenho certeza que posso encontrar um castelão digno de manter o Portão da Lua em nossa ausência. Talvez, nomear o Meistre Waymar como castelão. O que acha?

— Seria ótimo, mas creio que não seja conveniente que eu me afaste do nosso castelo. – disse Dontos – Não, já não estou mais na idade para tal viagem. Como bem deve se lembrar meu filho, não monto um cavalo desde o ocorrido infeliz que me aleijou.

— Não se chame assim, meu pai. – disse Roland.

— Eu sou aleijado, Roland. – respondeu Dontos – Você recusar em dizer a palavra ou me tratar de maneira diferente ao ignorar essa realidade, não irá fazer com que a minha perna se conserte ou endireite-se.

— Milorde, eu peço perdão pela interrupção. – falou Meistre Waymar surgindo ao lado deles – Mas chegou um corvo de Ninho da Águia, acho que é indispensável que o senhor a leia e a responda de imediato.

— Claro, com prazer. – disse Roland pegando o pergaminho enrolado, porém antes que lesse viu o seu capitão da guarda chegou para dar-lhe um aviso.

— Temos visitantes nos portões ao sul, meu senhor. – falou Sor Kieran Waxley – o irmão de sua prometida, Sor Raymund Corbray.

— Seu irmão avisou-lhe que vinha para uma visita? – questionou Roland para sua noiva.

— Não, porém também não é do feitio dele vir nos prestar uma visita inesperada. – respondeu Catelyn igualmente curiosa – Peça-o que deixe que entre, meu querido. Para que meu irmão não tenha se prestado a anunciar sua chegada antecipadamente, então provavelmente estamos frente a um caso curioso.

— Claro, Sor Kieran. – respondeu Roland ao seu capitão da guarda – Tem a minha autorização em permitir que ele ingresse em meu castelo. Peça que ele aguarde por mim em nosso salão comunal. – E o cavaleiro afastou-se e fez o mesmo caminho pelo qual havia percorrido.

— Deixe-me que eu mesmo posso responder meu irmão, Roland. – falou Dontos ao filho, lhe tirando o pergaminho de suas mãos. – Não é aceitável que um senhor deixe os seus visitantes lhe esperando por muito tempo. Sem mencionar, que essa carta deve ser mais uma daquelas que temos recebido nas últimas semanas... – No entanto, veio a ser interrompido pela noiva de seu filho.

— Em que o Rei Jonos questiona se nós vimos ou temos noticias de Príncipe Deryn.  – falou Catelyn – Provavelmente esteja correto, Sor Dontos. – Ela então estendeu sua mão para o prometido - Venha, meu querido. Vamos ver meu irmão. - O jovem casal se afastou, deixando para trás Sor Dontos Arryn na companhia de Meistre Waymar e Jasper Waynwood.

...

As portas do grande salão se abriram com um rangido forte e pesado. Adentrava o local, o já previamente anunciado Sor Raymund Corbray. Um homem feito com a estatura alta, esguia e asseado. Ele tem olhos azuis e cabelos ruivos como os da irmã, mas não é considerado muito bonito pela maioria das senhoras.

Mesmo Roland não o considerava charmoso, por mais exótico que fosse seus cabelos certamente aquele par de orelhas avantajadas acabavam chamando mais atenção. Porém, ele tinha grande admiração e respeito pelo seu futuro cunhado. Sentia grande apreço por este, mesmo que a convivência de ambos tenha sido limitada naqueles últimos anos. Ainda assim, a guerra aproximou um do outro.

— É ótimo recebê-lo, Raymund. Mas questiono-me e intriga-me o fato de sua visita ser inesperada. – perguntou Roland - Então, com o perdão da palavra, devo questionar-lhe: O que traz você ao Portão da Lua? 

— Veio convidar o meu noivo para uma caçada? – questionou Catelyn tomando a palavra para si – Pensei que seria apenas Oswell e Roland como sempre. Ou veio treinar justas com ele? – Ela soltou uma risadinha alegre - Devo dizer que chegou tarde, porque o treinamento de hoje já terminou. Tanto é que Roland nem ao menos teve tempo de remover a armadura antes de atendê-lo.

Aquilo certamente era parte de uma brincadeira, afinal Catelyn Corbray sabia do desgosto do irmão por torneios. O ruivo pareceu ignorar o comentário feito pela mais nova, mantendo então seu olhar preso no de seu cunhado.

— Não, eu não vim por conta de uma caçada ou para brincarmos de quebrar lanças um contra o outro. – disse Raymund seriamente – Estou aqui por um motivo mais sério. Venho lhe fazer uma proposta, que espero que considere em dizer sim.

— Que proposta? – questionou Roland ao que Raymund, que ficou alguns minutos em silêncio antes de continuar o que tinha vindo dizer. Provavelmente, tentando buscar a melhor maneira em abordar o assunto.

— Deryn Arryn trouxe a guerra até nós – disse Raymund Corbray – No momento em que desposou Jeyne Royce em segredo. Esse último ato é a prova viva e consumada da queda da família real, afinal eu não me compadeço da situação nem me sensibilizo com o posicionamento do príncipe para com a quebra de sua promessa.

— Eu sei de seu posicionamento, meu irmão. – respondeu Catelyn – Bem como Roland também sabe. – Ela pegou na mão do noivo - Porém, você sabe que nós não concordamos com as suas palavras.

— Você quer chegar aonde com esta conversa? – disse Roland, desconfortável com o fato de estarem conversando a respeito de seu primo. O cavaleiro naqueles últimos meses tentava não pensar muito em Deryn e em sua decisão. Pois ficava dividido entre apoiar o primo em sua decisão ou sentir-se compadecido de toda a situação envolvendo a crise diplomática que isto estaria causando.

— Estamos falando sobre um eminente declínio do nosso reino caso este caia em mãos incompetentes – disse Raymund rispidamente – Você tem que admitir que é verdade, Roland. Caso tenhamos que lidar com a coroação de um príncipe imprudente como rei, sendo que esse garoto coloca os interesses próprios na frente do que é de interesse para o Vale de Arryn.

— Mas Deryn ainda é considerado desaparecido não morto - respondeu Roland - Não sei o que deseja vindo aqui dessa maneira, Raymund. 

— Um bom rei não é o que esse garoto é... – Falou Raymund que começou a andar na direção de Roland colocando-se a sua frente – O que Deryn Arryn sabe sobre ser um cavaleiro? O que ele entende sobre sacrifício?

— Raymund, não faça isso. – disse Roland repreendendo-o.

Ele tinha notado aonde aquelas palavras iam chegar e não desejava ouvir nem mais uma delas sendo dita por seu amigo de longa data. Em seu coração doía perceber o quão ruim as atitudes de Deryn haviam se refletido sobre algumas casas nobres. Ele não era ingênuo de pensar que todos iriam fechar os olhos ou ignorar.

— Você não faz ideia do que... – continuou Roland. Porém, ele foi interrompido antes que terminasse a frase.

— O Vale de Arryn tem que sobreviver frente à tempestade que advém sobre nós e nos derrubara se formos fracos. – continuou Raymund ignorando os protestos do futuro cunhado - Se os cavaleiros vão lutar pela coroa, que lutem para defender o que realmente importa e a pessoa que a usaria com orgulho. Que lutemos por aquele que merece sentar no trono que pertenceu a Artys Arryn.

— Meu tio é o Rei do Vale de Arryn. – respondeu Roland cortando o discurso do herdeiro do Lar do Coração – E seus filhos são os seus herdeiros, não eu.  Deryn errou, mas quem é você para deserdá-lo de seu direito de herança?

— Eu apenas quero que a Casa Arryn permaneça no poder por mais uma geração – disse Raymund – E após a morte de seu tio, quem deve sentar-se ali e nos governar? Seu primo desonrado? – o ruivo maneou negativamente a cabeça - Não levantaremos nossas espadas por agora. Não somos usurpadores nem queremos que você seja um. Apenas queremos servir a alguém que mereça nossa lealdade.

— Deryn é parte da sua família – respondeu Roland – Você pode não ser tão próximo deles, mas ainda assim esse principe desonrado é do seu sangue. – Ele ergueu-se da sua cadeira de senhorio e desceu os degraus até o mesmo nível que o ruivo. - Assim como é do meu sangue também.

— Assim como você, também cresci na corte do Ninho da Águia e fui um bom amigo dos falecidos príncipes Edric e Harry Arryn. – disse Raymund – Perdemos Edric prematuramente e para mim foi como perder um irmão querido.

Roland não tinha muitas lembranças sobre seu primo já falecido, porém sabia que caso estivesse vivo Edric estaria com a mesma idade de Raymund. Ambos haviam nascido apenas com um dia de diferença um do outro.

— Eu o amava assim, como se fosse meu irmão. – continuou Raymund enquanto andava pelo salão, porém ainda mantendo os olhos vez ou outra em seu cunhado e irmã. - E por mais que eu não tenha aprendido a amar Harry, ainda assim eu o respeitava como homem e como cavaleiro.

— Não ouse, mal falar de Harry na minha presença. – advertiu Roland.

— Nunca – disse Raymund surpreso com aquele apelo - Ele era do meu sangue e eu orgulhosamente lutei ao seu lado na guerra. Quando soube da sua morte, senti meu coração partir. Porque sabia que o Vale de Arryn perdia seu herdeiro. E um rei bom que nunca chegaria a usar a coroa.

— E ainda assim, conspira contra o irmão remanescente? – falou Roland enraivecido – Deryn é o que sobrou de Edric e Harry. E ainda assim, você vira as costas para o herdeiro por direito do Vale de Arryn.

— Eu não consigo amá-lo como amei Edric ou admirá-lo como admirei Harry – respondeu Raymund – Mas você. – Ele caminhou novamente e colocou-se de frente para Roland. - É algo diferente do que eu vi.

— Por favor, pare e pense no que está dizendo. – advertiu Roland preocupado com as palavras que escutava do irmão de sua noiva. – Você está sugerindo algo que... – Porém, foi interrompido mais uma vez.

— Assim como amei Edric como um irmão também amo a ti como um. Assim como admirei Harry, admiro você.  – continuou Raymund - Caso o contrário não teria aceitado que minha irmã e você tivessem firmado o compromisso matrimonial. Eu sempre sonhei em servir meu primo, queria substituir meu pai um dia em seu posto no pequeno conselho.

— Então, em que momento você se perdeu e decidiu nos trair? – respondeu Roland com pesar em sua voz – Decidiu trair o nosso tio? Decidiu trair a memória de nosso primo que pereceu na guerra?

— A partir do momento em que as cinzas de Harry foram espalhadas ao vento. Naquele momento em que me despedi dele, soube que meu sonho de um reinado próspero para o Vale de Arryn estava ameaçado. – disse Raymund - Com a morte de Harry foi como se eu tivesse me perdido. A visão de futuro que eu tive se foi.

— Você não pode estar falando sério. Olhe para o que está sugerindo para mim. – disse Roland – Escuta suas palavras, Raymund. Ouça o que diz, perceba a gravidade dessa proposta indecorosa que está me fazendo. Você teria coragem de dizer essas palavras frente aos olhares de todos? O que irão pensar de você?

— Que eu sou um homem corajoso por dizer o que penso e colocar-me a serviço de uma ideia que venho pensando por muito tempo. Eu tentei me enganar por anos até ver que o que estava errado não era eu. – Respondeu Raymund – Era a situação toda que me fez abrir meus olhos e enxergar. Não foi de um momento para o outro, Roland. Eu tive esperanças que Deryn despertasse responsabilidades e o senso de dever com o tempo. Que se tornasse um herdeiro digno do pai dele. Mas apenas tornou-se uma decepção.

— Você é sobrinho da Rainha Elysa, como pode conspirar por destronar seu primo? – questionou Roland novamente – Você está levantando apoiadores para uma causa de rebelião. E quer que eu seja a pessoa que assuma tal feito como seu. Se quiser uma coroa que encontre outra cabeça para usar, pois eu não serei o seu rei usurpador.

— Papai sabe que você está planejando, Ray? – perguntou Catelyn colocando-se de frente para Raymund e fazendo-se ser notada.

— Eu posso convencê-lo de que estamos agindo pelo bem de nosso povo – disse Raymund para a irmã – É mais fácil pedir desculpas do que pedir permissão, não é o que dizem? Eu nunca quebrei as regras antes. Sempre andei conforme esperavam que eu fosse, porém se até um príncipe pode agir da maneira que convir, por que eu não posso pensar da mesma maneira? A única diferença nesse caso é que eu não estou deixando me levar pelo egoísmo.

— Mas por que eu? – perguntou Roland.

— Você lutou bravamente na última guerra – disse Raymund – Passou pelo batismo de sangue assim como nós que lutamos pelo Vale de Arryn. Foi condecorado cavaleiro pelo verdadeiro herdeiro do Ninho da Águia.

— Isso não quer dizer nada – disse Roland – Não é como se eu fosse um substituto para Harry. Não é como se ele soubesse que estava prestes a morrer e houvesse me escolhido para seguir o seu legado.

— Eu nunca falei sobre você ser um substituto ou seguir os passos de alguém. Você é o seu sucessor e todos perceberão isto quando for chegada a hora. – respondeu Raymund – Eu te quero no Trono da Águia pelo seu valor.

— Raymund, só pare de falar e vá embora. – pediu Roland suspirando pesadamente.

— Seus feitos em batalha são surpreendentes. – continuou Raymund - Um garoto de apenas quinze anos que soube o que era matar e derramar sangue. Que passou pior que a humanidade tem a oferecer e não se quebrou. Esse é você, Roland. O verdadeiro sucessor de Harry Arryn como posto de herdeiro.

— Quando perdi a minha mãe, meu pai me enviou para o Ninho da Águia para que eu passasse um tempo ao lado de meus tios. Ele esperava que a Rainha Elysa pudesse me dar o carinho materno de que eu necessitava, afinal ela havia perdido Edric e necessitava preencher um pouco o vazio de seu coração. Ela me doou um amor que eu desconhecia... – disse Roland – Eu passei a viver ao lado da família de meu pai no Ninho da Águia, rapidamente me tornei amigo de meus primos e eles cresceram como sendo os irmãos que nunca tive. Eu me aproximei especialmente de nosso primo Deryn Arryn, ambos nos tornamos inseparáveis durante os nossos dias de mocidade.

— Eu sei aonde você quer chegar com isto – falou Raymund por fim parecendo perceber para onde aquela conversa estava se encaminhando. Ele só queria argumentos de verdade para se convencer, aparentemente.

— Somos irmãos – falou Roland – Não viemos do mesmo ventre, mas ainda assim não posso negar ou trair os laços que nos unem. Treinávamos juntos, brincávamos juntos e estudávamos juntos...  – Ele olhou para o seu cunhado e colocou as mãos sobre seus ombros - E daí surgiu uma amizade forte e cheia de amor fraternal que perdura até hoje. Desculpe-me, mas eu não posso. Sinto-me honrado que tenha pensado em mim dessa maneira, mas eu só não posso.

— Entendo – falou Raymund – Não aceito, mas entendo a sua decisão. É uma forte demonstração de lealdade, estou impressionado. – Ele afastou-se alguns passos para longe do cavaleiro. – Perdoe-me, por vir até aqui. Eu apenas não podia mais ficar calado.

— Está perdoado. Porém, agora saia do meu castelo e não pise aqui tão cedo. – disse Roland - Esqueça essa história. Eu não o entregarei para o rei, não vou contar sobre os seus planos conspiratórios por mais que eu estivesse em meu direito. Porém, em respeito a Lady Catelyn. Em respeito a sua irmã, Raymund... – Ele olhou no fundo dos olhos azuis do ruivo - Que tomo essa decisão.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham compreendido essa mudança. Quem já leu, no caso.
Enfim, deixem seus comentários.

Até mais.



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