Honra & Fúria - Interativa escrita por Thiago


Capítulo 6
Capitulo V


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem.
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775942/chapter/6

 

Decisões - Parte 1

Ninho da Águia

Aemma Arryn despertara aquela manhã como era de costume, sua septã havia lhe acordado carinhosamente com o afago materno bastante típico. Enquanto ela lhe preparava a água morna para seu banho, a jovem princesa dirigiu-se até a janela e ficou ali a encarar a paisagem com um ar melancólico. Seus dedos a deslizar sobre a pelagem de seu gato malhado, Sor Bigodes.

A garota fitou o horizonte até pousar sobre a sua parte favorita de suas manhãs. Seus olhos posaram quase como se hipnotizados. Ela posse a admirar as águas da cachoeira chamada Lágrimas de Alyssa, que podia ser visto de sua janela.

Aemma lembrou-se de repente da história a respeito daquele lugar, era um dos contos mais tristes que já havia escutado ainda assim era o seu favorito. Sua irmã não gostava de histórias trágicas, porém a mais nova sentia-se compadecida do sofrimento alheio.

Localizada no lado ocidental da Lança do Gigante, próxima ao Ninho da Águia. As Lágrimas recebem seu nome de Alyssa Arryn, uma antiga rainha que viu sua família ser massacrada perante seus olhos e nunca derramara uma lágrima.

Os deuses a condenaram postumamente a chorar até que suas lágrimas enchessem o Vale de Arryn, assim dizem que nasceu a nascente e a cachoeira. Mas nenhuma gota da cachoeira alcança o chão do vale abaixo.

As montanhas eram delineadas em seus acidentados e desfiladeiros, contrariando o céu azulado e o sol já desperto naquela manhã. Ela pode ver então, um bando de pássaros de penas negras saindo da torre de astronomia.

Os olhos de Aemma focaram-se nos corvos enquanto estes se espalhavam pelo céu. Seu pai estava a convocar seus homens, igualmente havia feito na época da guerra como se recordava. Ela afastou-se da janela. Então depositando o seu companheiro de quatro patas no chão e este foi ronronar em sua cama.

— Está pronto o seu banho, Emmy. – chamou Septã Ysilla – Na temperatura que você gosta. Aemma sorriu enquanto depositava seu gato sobre a cama ainda não arrumada. Sor Bigodes a olhou com seus olhos curiosos. 

— Obrigada, septã. – disse Aemma seguindo em sua direção e ingressando no quarto de banho. 

Havia uma divisória que separava o quarto daquele espaço, ali naquele lugar havia uma tina de madeira de onde subia um pouco de vapor. Alguns espelhos e uma penteadeira.

Ouviu-se um suave ruido vindo da porta, sendo que Septã Ysilla estava trancando a porta do quarto a fim de dar-lhes alguma privacidade maior, após despedir-se das criadas que haviam vindo preparar o seu banho.

Elas haviam enchido a banheira com água quente trazida da cozinha e perfumou com essências de flores, a sua Septã Ysilla havia a misturado com água fria até que ficasse a uma temperatura aceitável.

— Venha cá, deixe-me ajudar com sua roupa. – pediu Septã Ysilla. Esta então puxou a túnica de algodão grosseiro pela cabeça da princesa, assim removendo seus trajes de dormir de uma vez. Em seguida, ajudou- a entrar na banheira com cuidado.

Ela viu-se nua, sentindo-se envergonhada demais para encarar-se ao espelho. Ela sabia que não era a mais atraente das donzelas, seu corpo magro e esguio. Tinha pouco busto e seus quadris não eram largos o suficiente. Com um cabelo e olhos castanhos sem graça, simplesmente era uma coisinha frágil e enfermiça mesmo em sua aparência.

Não havia nada que a fizesse se destacar e certamente seria capaz de se passar como uma plebeia, caso quisesse. Afinal, o que a tornava especial não poderia ser visto a olho nu. Tinha que ser visto por outros olhos. 

Ela ingressou no interior da tina de água e sentou-se, tentando evitar os espelhos que haviam espalhados por ali. Seus olhos passaram então encarar sua pele e suas cicatrizes ao redor dos pulsos. Mesmo com o passar dos anos ainda poderiam ser vistas nitidamente por pessoas mais atentas e que soubessem que estavam ali. 

Aemma Arryn traçou seus dedos finos pelas linhas já cicatrizadas, recordando-se das amarras que no passado a haviam atado durante suas crises mais severas. Outras cicatrizes mais leves, eram as marcas que possuía ao se arranhar em meio aos seus pesadelos. Uma das razões pelas quais aprendera a manter as unhas bem aparadas afim de proteger-se de si mesma. 

As amarras certamente haviam sido piores, tinha sido um período terrível enquanto ela encontrava-se muito agressiva e rebelde. Lembrou-se da vez em que deslocara o pulso tentando escapar, porém agradeceu postumamente por ter sido uma torção leve e não uma fratura. Do contrário, teria tornado-se uma aleijada. E ela já tinha uma vida difícil o bastante tendo todos os seus membros perfeitos.

Ela suspirou enquanto deitava-se por completo na tina. E sentiu a água lhe aquecer enquanto deixavam-na chegar até a altura de seus seios. Sentiu-se aquecida e abraçada pelo calor. Era como se seu corpo sempre estivesse sentindo frio.

— Cante para mim, minha querida. – pediu Septã Ysilla. 

— Eu não sei se quero cantar – falou Aemma – Minha voz não é muito boa. - Ela corou, provavelmente pelo calor ou simplesmente porque havia se recordado da noite anterior, em que sua tutora a havia encontrado cantarolando uma canção para Sor Bigodes. 

— Você esta enganada nesse ponto – respondeu Septã Ysilla – Vamos, cante para mim. Você precisa aprender que tem que mostrar sua voz para fazer-se ouvida.  - Ela lavou os longos cabelos da princesa e removeu suavemente os nós com uma escova, sempre murmurando a canção da Fé dos Sete. – Vamos, você conhece essa música. 

A moça esfregou-lhe as costas e os pés e disse-lhe como era bom estar de volta no Vale de Arryn. Septã Ysilla fez um discurso breve sobre como nunca havia imaginado um dia servir como tutora de uma princesa. E que o Ninho da Águia certamente era um lugar fascinante. 

— Melhor do que Vilavelha - disse Septã Ysilla. 

— Sim – concordou Aemma - Muito. 

— Você não quer me agraciar com a sua canção, então me diga o que está achando sobre estar de volta ao seu lar? – falou Septã Ysilla - Certamente, está feliz, não está?

— Bem, é bom estar de volta. – respondeu Aemma em seu tom de voz baixo – Eu não estava feliz longe de casa, sabe? – Ela fez uma pausa e a religiosa assentiu já imaginando a razão daquela resposta.

— Não há lugar como o nosso lar - respondeu Septã Ysilla. 

— A Cidadela não me fazia sentir-me bem. - respondeu Aemma enquanto fitava o vazio, com um olhar distante para longe do que quer que os espelhos refletissem.

— Sim, é bom estar ao lado da família - disse Septã Ysilla enquanto lava-lhe as costas - Não acha? Estar ao lado dos seus, certamente a faz sentir-se melhor. É sua chance de recomeçar de onde parou. 

— Foi bom rever a todos, mas eu queria ter passado mais tempo com o Deryn. - disse Aemma ignorando as palavras da mulher mais velha - Eu senti muita falta dele enquanto estive fora. Ele se foi pouco tempo depois de que eu retornei para casa, você vê? - A devota ficou em silêncio enquanto fazia espuma e lavava os cabelos da princesa. - Chegou a vê-lo?

— Só de longe - respondeu Septã Ysilla - Não fomos apresentados formalmente. Mas pareceu-me um jovem muito educado e bem cortês. Ele deve ser um bom irmão, não é? Eu nunca me dei bem com os meus. 

— Ele sempre foi gentil comigo, certamente era mais do que eu merecia que fosse. Eu nunca fui uma criança fácil de lidar. - disse Aemma - Eu queria ter passado mais tempo ao lado dele. Conhecer o homem que o Deryn se tornou em minha ausência, mas ele se foi. - Ela suspirou enquanto fechava os olhos enquanto sentia as mãos da mulher a massagear a sua nuca - Apenas algumas semanas que eu me encontrava aqui.

— Seu irmão esta viajando – respondeu Septã Ysilla – Você sabe que ele é um rapaz ocupado. – Ela sorriu, ao menos foi o que a princesa deduziu por estar com os olhos fechados. - Eu vou tirar a espuma, por favor mantenha os olhos fechados. - avisou enquanto preparava-se para enxaguar os cabelos da garota com a água de uma jarra. 

— Por que diz que meu irmão está viajando? - questionou Aemma. 

— As responsabilidades como herdeiro, seu pai está exigindo bastante a respeito dele assumir novos compromissos. - respondeu Septã Ysilla no ato, tentando parecer convincente. Afinal, agora Aemma lhe encarava através de seu reflexo no espelho. 

— Por que mentem para mim? – falou Aemma chateada e levemente irritada – Vocês me tratam como uma criança como se eu não percebe-se que algo de ruim está acontecendo. - Ela virou-se na tina, para assim poder encarar sua tutora de frente. - Seja sincera comigo, por favor. Pelo menos você não deve mentir para mim, Ysilla.

— O que você sabe sobre seu irmão? – disse Septã Ysilla, parecendo receosa do que iria ser obrigada a revelar. Ela então, começou a secar os cabelos de sua princesa e evitando o contato visual. 

A devota da Fé dos Sete não gostava de mentir para a jovem, porém desde que haviam retornado para o Ninho da Águia as coisas estavam diferentes. Ela não gostava de mudanças. Ysilla estava se revelando mais leal a coroa do que a Aemma, sendo que isto lhe parecia ruim. Não gostava que as pessoas não dessem valor a confiança que lhes depositava. 

— Sua irmã lhe contou? - questionou Septã Ysilla. 

— Não, eu descubro de outras maneiras – disse Aemma antes que a mulher lhe questiona-se foi que completou a sua sentença. – Não preciso que ninguém me diga, mas tenho que receber essa confirmação. Diga-me, meu irmão não está em viagem não é mesmo? - Ela tornou a ajeitar-se na tina e a água agitou-se e mesmo chegou a transbordar um pouco no piso aos pés da mulher.

— Sim - confirmou Septã Ysilla e Aemma ficou satisfeita em ouvir a verdade saindo pela boca da mulher. - Mais alguma pergunta?

— Ninguém sabe onde ele está agora, não é mesmo? - questionou Aemma tornando-se a sentar de costas para a mulher e agora encarando o reflexo muito receoso a mesma através do espelho. 

— Sim, vossa alteza. – disse Septã Ysilla – Sinto muito.

— Ele se foi com a Jeyne não é? – falou Aemma – Os dois se foram juntos? - Silêncio, ela não precisava de uma resposta para aquela pergunta. Ela havia visto os dois fugirem. Havia visto os dois se amando. Ela tinha presenciado tudo através de seus sonhos acordados.

— Emmy, isso seria... - começou Ysilla, porém interrompeu-se antes de continuar. Ela somente mudou-se de lugar e ficou de costas para os espelhos, então passando a ensaboar os pés da princesa. - Diga-me. 

— Eu não devo. - respondeu Septã Ysilla - Eu já lhe disse mais do que deveria dizer, milady. Por favor, não me faça mais perguntas para que eu não seja obrigada a mentir para a senhora. 

— Não tem como negar, afinal estamos falando de duas ausências de pessoas notáveis sem mencionar que ninguém menciona os dois. - respondeu Aemma - Não na minha frente, ao menos.

— Sim – disse Septã Ysilla decidindo abrir o jogo de uma vez – Isso é verdade. - Ela agora massageava os pés de sua garota e brincava-lhe com os dedos - Sinto muito pelas pessoas te deixarem no escuro a respeito disso, minha querida. Mas a decisão é pensando em seu bem, afinal estamos querendo que sua estadia aqui seja tranquila.

— Certo – respondeu Aemma ignorando aquele comentário – Tudo bem.

— Seu irmão logo será encontrado e virá de volta para casa. Você o verá de novo e poderá reviver seus momentos felizes de infância... Ou criar novos momentos ao lado dele. O que acha?  – disse Septã Ysilla pacientemente - Mas e do Ninho de Águia. – Ela mudara de assunto novamente - O que tem achado de estar de volta? Esse castelo deve te trazer muitas lembranças, não é mesmo?

— Eu gosto que agora eu posso sair e andar pelos corredores mesmo que seja em sua companhia. – Respondeu Aemma – Não preciso mais ficar em meu quarto como antes. Acho que não sou mais perigosa seja para as pessoas ou para a imagem de minha família.

— Por favor, não fale assim. – disse Septã Ysilla – Tem que haver algo de bom nesses últimos meses. Tantas coisas que fizemos desde que chegamos aqui, você andou tanto por ai que até mesmo sentia-me cansada em te acompanhar.

— Exagero, você faz parecer como se eu estivesse correndo – falou Aemma – Eu não sou assim tão saudável para fazer caminhos apressados até porque eu gosto de aproveitar meu tempo. Sentir e ver cada uma das coisas maravilhosas que antes não tive a chance.

— Como o que? – questionou Septã Ysilla.

— Eu consigo ouvir os sons do aço contra aço que estava cantando em meio os treinamentos dos soldados no pátio, sob os comandos do mestre de armas. – respondeu Aemma.

— Achou algum deles atraente? – perguntou Septã Ysilla. Ao que a princesa revirou os olhos para o comentário inapropriado da religiosa, afinal ela deveria ser uma celibatária. Mas mesmo assim, ela por vezes se comportava como uma garota adolescente.

— Eles são mais velhos do que eu – falou Aemma seriamente – Eu não acho que isso seja apropriado. Sem mencionar, que não seria justo nutrir qualquer ilusão com qualquer um deles.

— Certo, então sem interesses ocultos. Isso de certa forma é bom. Mas então, é só isso que lhe agrada? – questionou Septã Ysilla com curiosidade - Ver os homens treinando? De todas as coisas que viu desde que chegamos de viagem. Não pode ser apenas isto.

— Posso ouvir as canções melodiosas do bardo da corte quando ele tenta conquistar as criadas enquanto estas acendem os archotes ao longo dos corredores. – disse Aemma com o olhar meio distante - Eu também escuto os risos das crianças dos estábulos enquanto brincam nas ameias do castelo.

— São observações curiosas a serem feitas, minha querida. – falou Septã Ysilla – Achei que seus olhares estariam voltados para os seus companheiros da corte. Quem sabe o tempo que passa ao lado da irmã e da senhora sua mãe.

— Eu passei muito tempo em isolamento, septã. – disse Aemma – Quando você cresce sozinha, aprende a valorizar as pequenas coisas da vida. Ver a beleza no som de um riso ou nas simplicidades cotidianas. A vida é uma dadiva divina, não é assim que fomos ensinadas a vê-la? Eu quase pereci várias vezes ao longo da minha. Minha mãe me chama de milagre, sabia? Mas eu não sei se sou um. Eu não tenho nada de especial.

Quando ficou limpa, a septã a ajudou a sair da água e secou-a com toalhas. A moça escovou os cabelos até fazê-los brilhar em seguida lhe fazendo um penteado simples sem muitos adornos. Vestiu a roupa de baixo e depois o vestido, um modesto e comportado.  Com um profundo tom de ameixa que contrariava com o tom azulado de seu manto em que trazia o sigilo de sua família.

Colocou os seus calçados fechados e sem salto nos pés enquanto a mulher mais velha lhe fixava a tiara na cabeça e em seguida colocava seu colar com ametistas ao redor do pescoço.  Ela em seguida lhe cochichara o quanto ela estava bonita.

— Venha, vamos ver a sua mãe que já te espera para que dejejuem juntas. – falou a Septã Ysilla, sendo que assim juntas saíram dos aposentos e seguiram a caminho da sala comunal. Porém, o olhar de seu novo cavaleiro guardião lhe fez parar instantaneamente assim que cruzou o portal.

— Quem é você? – perguntou Aemma ao jovem rapaz de cabelos dourados. - Não é Sor Meryn Melcolm. 

— Certamente que não, vossa alteza. Sor Heron Hardyng – apresentou-se o cavaleiro com uma reverência – Eu fui designado para servi-la, vossa alteza. Pode me tratar apenas por Heron se for de sua vontade, creio que passaremos muito tempo juntos. Então formalidades por vezes se tornam massivas e exaustivas. 

 Ele era muito bonito, observou Aemma. Tinha cabelo loiro como ouro pálido, olhos azuis e covinhas quando sorria. Além do porte físico forte e musculoso. Aemma desviou olhar mantendo-se neutra frente ao rapaz ao seu lado. 

— Onde está Sor Meryn Melcolm?  - questionou Aemma, recordando-se do cavaleiro de meia idade. Sor Meryn Melcolm havia lhe acompanhado durante a sua estada na Cidadela, enquanto passava por seu tratamento com os arquimeistres.

— Ele foi para casa – respondeu Heron – Fazia bastante tempo que não encontrava-se com os filhos. Foi vê-los bem como sua esposa, mas não se preocupe que caso ele retorne pode sentir-se livre para pedi-lo como seu guardião novamente. Porém, espero que não o faça... - ele pareceu tropeçar nas palavras - Digo... Eu farei meu possível para ser digno de servi-la, vossa alteza. 

— Tudo bem – respondeu Aemma displicentemente, apesar de não sentir-se bem com a mudança repentina e inesperada.

Não queria dispensá-lo de imediato, porém ainda era uma opção caso percebesse que não estava se adaptando a mudança. Aemma aprendera a não gostar muito quando as coisas se tornavam diferentes de repente. Ela pensou o quanto ficaria desconfortável em estar sempre próxima de um rapaz daquela maneira.

Afinal, nunca tivera tanto contato assim com outros homens que não fossem da sua família ou vassalos de anos. Um rosto novo, simplesmente era mais um desconhecido sobre o qual não tinha qualquer opinião formada a respeito.

A única coisa que poderia dizer a respeito de Heron Hardyng, era de que ele parecia estar sendo naturalmente agradável com ela. Aparentemente, sua personalidade radiante e bem humorada era algo tipico. E ela teria que lidar com isso diariamente, suspirou com este pensamento. 

— Qual é a sua idade? - questionou Aemma diretamente. 

— Dezessete anos – respondeu Heron –  Recebi as minhas esporas de cavaleiro no último dia do nome de vosso irmão, alteza. Deveria ter visto, foi um torneio majestoso. - Ele sorriu - Fiz por merecer, afinal sai-me bem nas justas até chegando a derrubar Sor Roland Arryn. Um cavaleiro mais experiente e certamente melhor do que eu, um golpe de sorte provavelmente. Mas eu gosto de iludir-me pensando que isso quer dizer que eu sou bastante promissor na área... - ele riu - Ao menos, impressionei o suficiente para que fosse feito cavaleiro. 

— Você sempre fala tanto assim? - questionou Aemma.

— Não, hoje eu até que estou nos meus dias mais tranquilos - respondeu Heron - Certo, isso foi uma piada. Desculpe-me, mas é que eu costumo falar bastante quando sinto-me um pouco ansioso. E certamente, conhecê-la me deixou assim.

— Certo, deixe-me ver o que realmente importa aqui... - disse Aemma tentando relembrar as palavras que o cavaleiro havia dito - Você tem dezesseis anos.

— Dezessete - corrigiu Heron. 

— Você tem quase a minha idade e irá proteger-me? - falou Aemma com certa incredulidade, afinal o que seu pai tinha em mente com tudo aquilo? Certamente não era algo que lhe agradava. Um cavaleiro consagrado a menos de um ano ainda cheirava a escudeiro. 

— Isso lhe incomoda? - brincou Heron dando um meio sorriso - Porque eu certamente ficarei mais velho se os deuses forem bons. Espero que viva o suficiente para que meus cabelos tornem-se brancos. - Ele ajeitou-se de maneira a parecer mais respeitável em sua armadura e manto com o sigilo da Casa Arryn - E ai poderei contar aos meus netos como comecei a minha carreira servindo como escudo protetor de uma princesa. 

— Tudo bem, só espero que saiba que não sou muito de conversar. – disse Aemma tentando por um fim aquela conversa fiada. – Então, caso eu fique em silêncio apenas te ouvindo... – Ela suspirou antes de concluir a frase - Espero que isso não lhe incomode.

— Bem, se a senhorita não se incomodar com a minha voz – respondeu Heron – Eu sou alguém bastante expressivo, devo dizer. Meu irmão por vezes chama-me de irritante, mas eu não sou muito de ligar para as palavras que ele diz. A guerra não lhe fez muito bem... - E apontou para um dos olhos - Mas falemos disso em outro momento. Se for de seu agrado, certamente. 

— Sor, por favor... - pediu Aemma gentilmente - Menos. 

— Mas caso isto te incomode, posso me calar e apenas responder no momento em que me for solicitado. - completou Heron mantendo-se mais polido e sério - Como vê, eu estou aqui para servir a vossa alteza... – Ele fez uma rápida reverência – E o que desejar, eu farei. Sou um leal cavaleiro juramentado a Casa Arryn.

— Só, não fique tão animado com isto – disse Aemma – Eu sou tediosa, tenho certeza de que irá me abandonar assim como o Sor Meryn Melcolm fez depois de anos me protegendo. - Ela deu de ombros enquanto punha-se a andar tendo o rapaz ao seu lado - Mas eu estou acostumada em sentir-me rejeitada, então... 

O sorriso resplendente, que antes havia nos lábios do rapaz então desapareceu. Ele tomou uma feição que parecia ser de tristeza, talvez tenha se compadecido dela? Não importava, era bom aproveitarem o silêncio para se encaminharem até o salão comunal.

Eles então seguiram em direção ao salão comunal, onde sua mãe a aguardava para que juntas pudessem dejejuar. Havia bolinhos de limão e chá de erva silvestre bem quente, ainda havia pão fresco e algumas frutas da estação. Elas sentaram de frente uma para a outra naquela longa mesa enquanto Heron Hardyng mantinha-se de pé ao lado da princesa.

— Onde estão meu pai e minha irmã? – questionou Aemma.

— Seu pai encontra-se ocupado em reunião na sala do pequeno conselho – respondeu Rainha Elysa – Sua irmã encontra-se ao seu lado, ajudando-a em conseguir uma maneira de prestar-lhe apoio. Você pode não saber, mas de tanto Blair insistir que deveria ter uma maior participação em relação assuntos mais masculinos. Seu pai acabou acatando os desejos dela. 

— Então, minha irmã conseguiu o que desejava. – falou Aemma – Ser notada e valorizada, que bom para ela. Papai certamente está feliz em ver que um de seus filhos restantes não é um fracasso, não é verdade?

— Você e seu irmão não são fracassos – disse Rainha Elysa chocada – por que pensa algo assim? Não podemos julgar um filho como sendo melhor ou mais propenso a sucesso. Vocês todos são indivíduos diferentes e nós os amamos mesmo com as duas diferenças. Desculpe-me se eu possa ter parecido de alguma forma não demonstrar todo o meu amor por você.  

— Não quero falar sobre isto – disse Aemma – Só vamos terminar de comer em silêncio, por favor. – Ela comia alguns bolos de limão de maneira contida e silenciosa, porém fazia uso de suas mãos. Como uma criança costumava fazer, porém um ato um tanto mau educado para uma jovem dama. - Noticias sobre o Deryn?

— Então, seu irmão retornara de viagem em breve. – falou Rainha Elysa.

— Ele não está viajando – disse Aemma – Eu sei o que ele fez, mamãe. E não o culpo, nossos deveres nos prendem como se estivéssemos em uma gaiola. Meu irmão fez bem em se libertar dessas paredes antes que elas o sufocassem.

— Por favor, Emmy. – respondeu Rainha Elysa suspirando – Sim, o seu irmão não está de viagem. Desculpe não ter contado para você, minha pequena. Eu apenas não queria te preocupar com problemas tão grandes.

— Eu estou tão triste por não ter a chance de passar mais tempo ao seu lado – falou Aemma – É a mesma coisa que aconteceu com o Harry. Sou afastada e isolada deles, por quê? Quando o Harry estava vivo, vocês me trancaram em uma torre.

— Foi para seu próprio bem – disse Rainha Elysa – Sua saúde sempre foi frágil, não queríamos que você ficasse doente. Eu não queria te perder como perdi Edric, você nem era nascida quando seu irmão pereceu. Mas sempre vou me lembrar de como eu lamentei sua morte e a sinto até hoje.

— Tudo bem, você não precisa... – respondeu Aemma chateada com o rumo que aquela conversa estava seguindo. Era um erro estar perto da mãe quando esta começava a divagar sobre os filhos que perdera.

— Foi horrível, a morte dele. – continuou Rainha Elysa - Os delírios, a febre alta... - Ela suspirou - Você já passou por tudo isso. Não se recorda? Claro que não vai lembrar, o tanto de vezes que você quase se foi. Várias e várias vezes quando criança. Pensávamos que fossemos te perder ainda no berço. Meu coração não iria suportar.

— Eu sobrevivi – disse Aemma – Mas às vezes é como se eu estivesse morta, não é? A maioria das pessoas me encara com pena, mamãe. Veem-me como um erro. Uma macula para a nossa família. – Ela desviara o olhar da mãe enquanto agora parecia brincar com a sua comida de maneira infantil - Eles pensam que eu irei morrer jovem.

— Você não irá – disse Rainha Elysa – Olhe para mim enquanto estou falando com você, Aemma. – A garota a encarou e pode ver lágrimas nos olhos da mãe - Você não irá morrer antes de mim, ouviu?

— Eu poderia ter morrido na Cidadela – falou Aemma – Eu teria morrido sozinha em minha cela ou quarto, chame aquilo da maneira que queira ainda assim eu estava sem ninguém por perto. - Ela fungou sentindo-se irritada com toda aquela situação- Você não estava lá comigo, mamãe.

— Eu queria ter ficado com você, mas os arquimestres disseram que eu não deveria. - Respondeu Rainha Elysa, provavelmente como dissera naqueles últimos anos para si mesma. 

— Mas você deveria ter feito o que queria, não se deixar levar pelos outros. - disse Aemma - Por que você não ficou comigo naquele lugar? Eu chamava durante a noite até dormi. Eu chorei tanto pedindo que você viesse para estar ao meu lado. Eu era só uma criança que estava assustada com tudo aquilo! 

— Você estava doente – disse Rainha Elysa – Esperávamos que os arquimestres fossem capazes de te curar. – era como se estivesse tentando justificar as suas próprias decisões passadas - E olha só para você, uma bela moça na flor da idade. Você é forte, Aemma. Uma sobrevivente.

— Eu não estou completamente sã, você sabe. – falou Aemma enquanto servia-se de chá – Eu nunca vou ser como você ou minha irmã. Eu sou diferente desde que nasci e você sabe disso, não é?

— Se você adoecer novamente, eu sou capaz... – começou Rainha Elysa então fazendo uma pausa tristonha enquanto tomava um gole tremulo de água. – Você está melhor agora, não? Então por que estamos falando de assuntos tão tristes? Você quer ver a sua velha mãe chorar? É esse o preço que você espera de mim nessa manhã, as minhas lágrimas? 

— Não, eu só... – falou Aemma receosa – Queria ter respostas, mamãe.

— Você as terá, minha menina. Mas por enquanto, vamos aproveitar que estamos reunidas. É tão bom tê-la de volta em casa, Aemma. – respondeu Rainha Elysa - Foi horrível ter passado tanto tempo afastada de nós. Sentimos tanto a sua falta, mas é bom saber que minha menininha está novamente embaixo do mesmo teto que sua família.

— Foram vocês que me mandaram embora para começar – respondeu Aemma – Vocês me deixaram sozinha em um lugar desconhecido. – Ela bebericou o seu chá - Eu ainda me recordo da visão da carruagem indo embora, eu os vi partindo. Mas vocês nunca saberiam disso, não é? Não olharam para trás.

— Você nasceu no meio do inverno, num dia de nevasca forte em que o céu escondeu o sol por muitas horas e muitos diziam que poderia ser a longa noite retornando. – respondeu Rainha Elysa - Você veio ao mundo antes do tempo, era uma menina prematura e fraca.

— Eu conheço a história – respondeu Aemma.

— Se não fosse o seu chorinho fraco, teríamos julgado que você havia nascido morta. – disse Rainha Elysa - Mas o Meistre Yorwick escutou o seu coração, batia fraco. Bem fraco, mas você vingou a noite. E depois disso, foi uma vitória a cada dia que passava.

— E você tornou-se estéril – disse Aemma – Sem poder ter filhos depois de mim, afinal você ficou debilitada também. Se não fosse por mim quem sabe quantas crianças você e meu pai teriam.  

— Por favor, querida. – disse Rainha Elysa – Não pense dessa maneira.

— Se não se importa, eu prefiro comer ao ar livre. – respondeu Aemma enquanto se levantava de seu lugar a mesa – Eu sinto que essas paredes me sufocam. Com a sua permissão, minha mãe. – E retirou-se enquanto seguia para fora do Alto Salão. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Inicialmente esse e o capitulo V e o capitulo VI eram apenas 1. Porém, para facilitar para vocês em questão de leitura e para não ficar muito cansativo foi que eu optei por dividir.

Então, espero que vocês compreendam essa mudança. Porque realmente, esta me incomodando um capitulo de quase dez mil palavras.

Até mais.
Beijos.