Ebriedade sóbria, abismo e fragmentos escrita por João Antônio G S
Maldita seja a bendita memória
Desmesura
Noite que ventila o desgostoso bom cheiro da memória
Sob blocos e sobre as folhas mudas de grama
Entre o vento soturno
No que restou do brilho insinuante dum olhar...
Maldita seja a bendita memória.
Almejei o entrelaço da matéria por demasiado
Mas pouco,
Nem tanto.
Digo de antemão: romance é uma hemorragia surda, muda e cega.
Me é preciso mesura
Mas pouco,
Nem tanto.
E assim, descanso sobre a hybris
Em seu âmago, desejo dela me alimentar
E ser dela seu banquete.
Devaneio a um amor morto
A quinta lua renasce em seu pesar no denso
manto negro da abóbada
São suas lanças de prata, ríspidas, quem dispersam o coração?
Ou a insistência reminiscente duma paixão satânica?
Esse objeto da persistência, Chronos devora lânguido:
As láceras rompidas de sua vítima
Repousam violentamente sobre seu corpo.
O mortal, que esgueira imperceptível a pele suja
Desse deus estrangeiro,
Fez esquecer o desejo de Eros
— Pecado maior da imanência.
Agora, sob a matéria viva que me pulsa
Cessa a libido dos artifícios dionisíacos
E Apollo enrudece perante sua antítese solapada
Como uma flor despedaçada,
jaz ao sabor do porvir sem aroma algum.
Enquanto o vento sussurra em meus ouvidos:
— Sim, tudo se redime na calmaria entre as tempestades.
Imploro-lhe que me carregue em sua companhia.
Mas o sopro Zéfiro a romper não ouve,
Não o pode
Traz apenas o recado:
Esse devido Ego roto em devaneio soturno consigo mesmo
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