O Diabo do Sertão escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 23
Entre lágrimas e sangue


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Ao redor da fogueira, as conversas só eram interrompidas por tentativas de cantoria. Com um violão em mãos, João Cego dedilhava o instrumento enquanto vez ou outra arriscava uns versos. Nada muito sofisticado, mas também não chegava a desagradar. Ao lado dele, Padre Miguel sentia como se tivesse ressuscitado a Lagoa da Esperança. Lá estava ele com um grupo de desajustados no meio do nada. Sobre eles, apenas Deus e o céu estrelado. Compondo o grupo havia ainda Breno – que havia chegado há poucos minutos –, Diabo – com sua velha expressão carrancuda, mas que agora contava com uma espécie de aceitação – e Maria Beatriz, que se enturmou rapidamente desde que chegara há algumas horas.

Apesar de todas as dificuldades, a garota parecia se adaptar com facilidade. Quando chegou ao local acompanhada de José de Lima, rapidamente veio agradecer ao padre por todo o suporte, além de falar com João Cego e até mesmo cumprimentar Diabo. Ela levava bem a sério a ideia de haver um time em prol de um futuro brilhante para Água Funda e toda região próxima. Zé, por outro lado, foi muito mais tímido. Não trocou muitas palavras com o padre, teve vergonha de falar com João Cego e desviou o olhar quando viu Diabo. “Um covarde”, Bia pensava com certo pesar, ainda que não quisesse julgar o homem da sua vida de forma tão veemente.

No entanto, ela já havia feito tudo que podia. Agora, restava socializar com o grupo e descobrir quais os planos para o futuro. Olhando para a fogueira, viu alguns preás sendo assados, o que lhe deu água na boca.

— Hoje até que o tempo bom — Breno Farias comentou enquanto esfregava os braços em decorrência do frio. A brisa era forte e gelada para as pessoas tão acostumadas ao calor impiedoso da manhã. — As coisas estão andando. Devagar, mas andando.

— Com certeza estamos dificultando a vida de Marcondes — João Cego soltou uma risada quase histérica. Deixando de tocar violão por um instante, pôde saciar aquela breve sensação de vingança. — O homi perdeu Diabo e agora tem um filhotinho caolho que nem eu.

Diabo, Breno e João gargalharam com aquilo. Miguel permaneceu silencioso, enquanto Bia ainda se lembrava de toda a tensão que a briga no bar ocasionara. Ela só estava naquele lugar – longe de tudo – exatamente por isso. Ainda assim, tinha que admitir: existia um certo sabor em saber que Marcondes estava passando por grandes dores de cabeça.

— E isso é só o começo — o religioso finalmente falou. Com o diário de Augusto Nunes em mãos, ele mantinha um olhar sereno. — A Bia nos trouxe algo muito importante. Isso aqui pode ser a chave para sua eleição, Breno.

— Então por que você não me dá logo? — O político ansiava pelas informações que aquelas páginas escondiam.

O padre olhou para Beatriz e pôde ver toda a tensão nos olhos da garota. Ela já havia lido o documento e com certeza tinha descoberto algo seríssimo. Guardando o objeto em sua bolsa, o homem de Deus olhou para o político e respondeu:

— Cada coisa no seu tempo — sua voz trazia a segurança de um verdadeiro líder. — Eu lerei cada uma das palavras desse diário. Não seja ansioso, Breno.

Bufando com um certo desprezo, o candidato a prefeito ficou olhando pro nada. Com um silêncio incômodo se apossando do ambiente, João Cego resolveu voltar a dedilhar o violão. Começou com notas agudas e, a cada novo som que saía do instrumento, baixava o tom.

— Falando em desespero — o político pareceu se sentir inspirado pela trilha sonora que era acompanhada pelo crepitar da fogueira e pelo canto dos grilos. — Sabe quem veio falar comigo mais cedo? Valter. O homem tava no hospital com Marcondes e família. Ele me disse que o prefeito viu ele sangrar. Cês acreditam? Parece que o disgraçado do Augusto acertou um tiro nele. Agora ele tá doidin. Pediu pra eu deixar o filho dele na minha casa. Vê se pode?

— Breno — o padre falou o nome de maneira repreensiva. — É uma criança!

— Não é meu filho! — Breno chamou a atenção de todos com seu jeito grosseiro de se portar. Com certeza não parecia com o político que fazia campanha quase que diariamente. Após receber um tremendo julgamento silencioso, aquietou-se por breves segundos. Pensou, refletiu e então decidiu. — certo, certo! Eu vou deixar o pirralho na minha casa. Tem quem cuide.

Beatriz sentiu um tremor ao ouvir aquilo. Colocando as mãos sobre a barriga, refletiu sobre o quão perigoso era o mundo no qual sua criança nasceria. Ela sabia que Valter não era nenhum santo, pois o padre já havia lhe contado as histórias. Ainda assim, não era justo uma criança pagar pelos pecados do pai. Ela refletia com certo medo: será que o fruto de seu ventre teria que pagar pelos seus erros e pelos de José? Era um fardo pesado não só de se carregar, mas de se pensar. Assim sendo, preferiu tirar os olhos de si mesma e focar nos outros.

Encarou Diabo. O homem nunca lhe fizera mal algum, nem mesmo ameaçara. Apesar das cicatrizes terríveis que cobriam o rosto, parecia haver algo de triste em seu olhar. O que será que escondia toda aquela brutalidade, todo aquele horror? Bia se perguntava se ele algum dia se abriria para alguém, ou se seria um eterno cão de guarda. “Cão de guarda sem dono”, ela pensou com uma certa pena.

— O Valter vai um jeito — Diabo levantou sua voz gasta e chamou a atenção de todos. Maria Beatriz o observava com atenção. Queria ver aonde as palavras do ex-cangaceiro iriam. — O homi já passou por coisa muito pior. E ele é bom de bala. Num vai cair pra qualquer um não.

A garota quase sorriu. Teve que se segurar para não demonstrar nenhuma emoção. Ainda assim, ela estava feliz: Diabo parecia se importar com alguém. “Não tão diabólico”, ela concluiu com uma sensação de vitória, quase como se tivesse ganho algum tipo de aposta. Sem prestar atenção em Bia, Padre Miguel reforçou o que o ex-cangaceiro havia dito:

— Ele está certo. Valter é mais experiente que nós dois, Breno — mexendo na fogueira com delicadeza, o religioso retirou os preás assados. Estavam belíssimos e tinham um cheiro muito agradável. — É capaz da gente morrer e ele ainda se safar.

Miguel gargalhou como raramente fazia, ainda mais com uma piadinha daquelas. João acompanhou o religioso, enquanto Breno encarou tudo aquilo com certa descrença. O que mais chamou a atenção foi Diabo: sem pudor algum, riu de uma forma que o Brasil inteiro poderia ouvi-lo. E, em meio àquele momento de alegria boba, Bia sentiu falta de José. O rapaz havia saído para ir ao banheiro há alguns minutos, mas já era tempo de voltar. Olhando para a casinha, Beatriz imaginou se tudo estaria verdadeiramente bem. Passou o olhar pelo restante do terreno e viu que, com exceção dos cavalos e de Carlinhos, o lugar estava vazio. “Ele só pode estar na casinha”, concluiu.

Levantando-se com a delicadeza de uma princesa, caminhou de forma apressada até aquele pedaço de madeira e palha no meio do nada. Adentrou o local e, passando pela minúscula sala, foi até onde seria o banheiro. Uma singela porta de madeira bloqueava a visão do ambiente onde José deveria estar.

— Meu amor? — A garota disse com uma voz que trazia uma mistura de afabilidade e preocupação. — bem?

Silêncio. Ficando preocupada, Bia puxou a maçaneta, mas descobriu que a porta estava trancada. Com suas mãos começando a suar frio, ela bateu na porta repetidas vezes.

— José de Lima! — Chamou em voz alta. — Responda, Zé!

— Amor — finalmente a voz do rapaz foi ouvida. Estava diferente: não era sua típica voz carregada de ânimo ou sarcasmo. Ela parecia presa, algo que contrastava totalmente com sua personalidade. — Eu... Eu bem.

— Zé? — Bia conhecia bem as nuances da voz de seu esposo. E também sabia bem quando ele não estava na melhor situação. — Você chorando?

Sim, ele estava. Dentro do banheiro, José de Lima olhava para o teto enquanto rezava para que as lágrimas secassem e ele pudesse se apresentar para sua esposa de forma digna. Que humilhante! O homem da casa sendo responsável pela ruína do lar e, para piorar, sendo covarde o suficiente para não se manter firme. Desonra!

— Zé! — Beatriz recebia cada instante de silêncio com genuína preocupação. — Pode falar. Eu com você. Sempre!

Olhando para o chão, o rapaz buscava coragem. Estava cansado de fugir, de lutar e de quase morrer. Mais do que isso: estava cansado de arrastar a pessoa que ele mais amava pra todo tipo de confusão que ele mesmo criava. Não! Isso não era certo e ele sabia disso. Talvez fosse exatamente por esse motivo que doesse tanto em sua alma.

— Zé... — com uma voz fraca, Bia tentou contatar seu esposo novamente. — Se abra pra mim.

E então, vendo que não havia fuga para as responsabilidades, José de Lima destrancou a porta do banheiro e abriu seu coração. Do outro lado, uma amável Maria Beatriz o aguardava com olhos caridosos e, mais do que isso, com olhos de fé e amor. Ela tinha fé nele independente de todas as intempéries da vida e transmitiu isso através de um caloroso abraço. Suas mãos não mais suavam e o nervosismo não mais tomava conta de seu ser. Tudo que Bia sentia era a necessidade de cuidar de quem ela tanto amava.

Zé, por outro lado, deixava-se ser vulnerável por um momento. Talvez não precisasse ser tão duro, incrivelmente forte e poderoso sempre. Claro, não poderia ser aquela criança irresponsável para o resto da vida, mas ele sabia que, com Beatriz, ele poderia ser fraco vez ou outra. Ela estaria ali para fortalecê-lo, assim como ele faria o mesmo por ela. “Obrigado”, ele pensou, mas não conseguiu verbalizar. Não tinha problema: Bia entendia tudo através do abraço.

E, naquele ninho de amor, ambos sentiram que tudo ficaria bem. Sim, eles já estiveram na Lagoa da Esperança antes. Sim, tudo havia dado errado. Também haviam conseguido um novo abrigo, abrigo esse que rapidamente foi desfeito. Ainda assim, estavam ali, juntos. E talvez essa fosse a força. Duas crianças soltas no sertão selvagem, mas unidas por algo que as mantinha firmes, ainda que balançassem vez ou outra. “Nós daremos um jeito”, ambos pensaram em sintonia.

— Vem — a garota disse de maneira firme e calorosa. — Tão esperando a gente.

Sentindo as lágrimas secarem em seu rosto, José deu um sorrisinho e, estando de mãos dadas com sua esposa, caminhou para fora da casa. Do lado de fora, depararam-se com João Cego, que trazia uma expressão de genuína preocupação.

Cês tão bem? — Cego havia parado seu show para ver o que se passava.

— Sim — Bia e Zé responderam em uníssono, o que provocou risadas nos dois.

João sorriu com certa estranheza, mas logo aceitou que aquela era mais uma das peripécias do casal. Os três rapidamente voltaram para as proximidades da fogueira, onde Breno, Miguel e Diabo já se deliciavam com o preá feito na hora.

Disgraça, pensei que fosse ficar com o pedaço de Zé — Diabo soltou uma brincadeira, fato que causou mais estranheza do que risadas.

José, por outro lado, permitiu-se sorrir.

— Se no inferno — começou a falar enquanto pegava o seu pedaço — abrace o Diabo.

Nesse momento, até mesmo Beatriz gargalhou. João Cego se benzeu, mas logo se viu ocupado comento os restos do preá em seu prato.

— Tenho que admitir — Breno Farias falou de maneira agradável, chegando a aparentar estar em campanha — Isso aqui muito bom!

No meio da escuridão, Lúcio Arcanjo observava a fogueira à distância. Havia pensado por muitas horas. Após seguir o casal de paspalhos que conversavam em voz alta, descobriu exatamente onde era a nova base de operações de Padre Miguel, o religioso quase revolucionário. Imaginou se seria uma boa decisão se aproximar do grupo, ainda mais levando em consideração as rixas não muito antigas: os cangaceiros não só mataram o tal do Antônio como também torturaram o pobre do João. Ainda assim, Lúcio lembrava-se bem: foi o grupo do assentamento que começou aquela guerra ao matar Hugo Sangrento. “Pobre Hugo”, Lúcio se lamentou mais uma vez.

Desarmado, fez seu cavalo trotar com calma enquanto, pouco a pouco, o cangaceiro aparecia como um silhueta no meio das trevas. Atraiu olhares curiosos e preocupados por parte dos moradores do terreno. Diabo, que agora tinha uma arma de verdade, levantou-se habilmente e se colocou pronto para disparar contra qualquer ameaça. Lúcio sabia: corria um grande risco. Ainda assim, decidiu apostar alto. Com as mãos erguidas, deixou claro que estava vindo sem intenção de arrumar confusão. No entanto, não teve jeito. Quando sua silhueta foi reconhecida, os velhos problemas vieram com tudo.

— Lúcio Arcanjo! — Diabo esbravejou. Destravou o revólver e colocou o cangaceiro na mira. — Mim dê um motivo pra não atirar agora!

Pego completamente de surpresa, Miguel não sabia o que dizer. De fato, Diabo tinha um bom ponto: não se podia arriscar com os cangaceiros. Fizeram isso no ataque ao poço e tudo correu da pior forma possível. Ao mesmo tempo, a atitude despreocupada de Lúcio deixava evidente que ele não tinha nenhuma intenção vil, ao menos não de forma imediata. Ao mesmo tempo, Bia, José e João Cego mantinham-se congelados. O último relembrava das torturas sofridas. Voltar para as mãos dos cangaceiros era a última coisa que queria.

— Um motivo? — Arcanjo falava de forma quase jocosa, algo que contrastava com a imagem que os membros da Lagoa da Esperança tinham dele até então. — Eu não sou o Levy. Isso serve, Diabo?

Ocê tem um ponto — Diabo respondeu após pensar por alguns segundos. O padre observava tudo sem dizer uma só palavra. O ex-cangaceiro parecia estar manejando bem toda a situação, ao menos por enquanto. — Por que aqui? Cadê os outro?

— Diabo — Lúcio desmontou lentamente do cavalo. Ainda com as mãos para o céu, caminhava lentamente em direção de seu ex-aliado. Ele sabia que estava em terreno hostil e, àquela altura, o seu rosto havia se transfigurado numa mistura de preocupação e tristeza. — Marcondes. Ele traiu todos nós. Ele nos atacou. Ele... Ele matou...

Silêncio. O líder dos cangaceiros não conseguia dizer aquele nome. “Carmen”, pensou sem conseguir verbalizar. No entanto, seus olhos falaram: encheram-se de lágrimas e Diabo rapidamente descobriu que não foi a morte de um guerreiro do sertão.

— Quem?! — O ex-cangaceiro falava de forma agressiva, mas cultivava uma preocupação real. Ainda mantinha as arma apontada para Lúcio, mas claramente não tinha a intenção de atirar. Enquanto isso, Breno e todos os outros observavam a cena cautelosamente. — Quem o disgraçado do seu chefe matou?!

— A minha filha — até mesmo o cangaceiro deixou que uma lágrima descesse pelo seu rosto. — A Carmen!

Com uma fraqueza tomando conta de seu corpo e espírito, Diabo lentamente abaixou o revólver. Sentia uma tristeza profunda se apoderar de seu ser e, como nunca fora testemunhada pelos membros da Lagoa da Esperança, ele começou a apresentar uma voz enfraquecida pelo pesar.

— Como?! Por quê?! — Não conseguia elaborar nada mais complexo que isso.

— Ele nos traiu, Diabo — Lúcio tentava manter a compostura enquanto explicava toda aquela tragédia. — O prefeito atacou quando nós menos esperava. É por isso que eu vim pra cá. Eu sei que nós já brigamos. Não só ocê e o Levy, mas eu e o padre.

Acreditando naquelas palavras, Miguel sentia-se cada vez mais calmo. Estava disposto a ouvir tudo que o cangaceiro tinha para dizer. Tentaria manter qualquer ressentimento de fora enquanto executava aquele exercício. O criminoso prosseguiu:

— Mas não dá mais. A Regina mim deixou e o meu grupo fica menor a cada dia. Eu tenho a vontade de meter uma bala na cabeça de Marcondes, mas sei que o homi anda protegido. Padre — pela primeira vez, Lúcio virou-se para o religioso. — Eu sei que você e eu temos nosso problemas. Seu grupo matou um dos nossos e nós fizemos o mesmo com um do de ocês. Mas agora num dá mais. Não, não dá. Ou a gente se junta, ou o homi vai matar todos nós. Seja cangaceiro ou esperanceiro.

Miguel permaneceu pensativo. Estava diante de um verdadeiro dilema. Olhou para João Cego e lembrou-se de todos os sofrimentos que o homem passou. Mais do que isso: ele ainda carregava a culpa por ter entregue a antiga localização da Lagoa da Esperança. Seria justo para com ele forjar uma aliança com os cangaceiros, grupo esse que fizera tão mal aos tais dos esperanceiros, como apelidou Lúcio? Ao mesmo tempo, o religioso sabia: o discurso do bandido fazia sentido. De fato, Marcondes ainda tinha forças. Ele podia ter levado alguns baques, mas ainda era o prefeito e com certeza teria cartas na manga. Além disso, alguém que não era um aliado sempre poderia vir a se tornar um inimigo. Definitivamente não era boa ideia ter cangaceiros como inimigos. O padre já experimentara isso antes e o sabor foi amargo.

— Nós... — Padre Miguel começou a falar, sempre variando a direção de seu olhar para as pessoas ali presentes. — A Lagoa da Esperança já passou por problemas de mais. Não só isso: parece que temos inimigos de mais. Toda hora aparece algum empecilho, um ponto que nos atrasa e muitas vezes nos faz recuar em nosso objetivo por um sertão mais justo para todos. Entenda: não queremos conflitos que não nos façam crescer. Então eu pergunto, Lúcio: os cangaceiros poderão nos ajudar a crescer? A Lagoa da Esperança realmente tem como sair ganhando nesse jogo de política e sangue?

Arcanjo viu-se surpreso. É, talvez o padre fosse um guerrilheiro completo. Olhando de volta para os olhos que tanto o encaravam, respirou fundo antes de responder. Àquela altura, já estava com os braços relaxados e, sentindo-se livre de qualquer ameaça a sua vida, permitiu-se ser sincero.

— Quando ocês ganham do Marcondes, eu ganho dele do mesmo jeito. Então pode apostar que não quero conflito nenhum com vocês. Nenhum do meu bando vai querer. Só num sei se Diabo pensa igual — o líder do bando realmente se preocupava com um possível conflito entre o ex-cangaceiro e o homem com o rosto queimado. — Ele e o Levy não se dão bem. E o homi me contou uma história terrível sobre Diabo. O fiote do inferno traiu o próprio bando, padre.

Escolhendo as palavras cautelosamente, Miguel sabia que estava passando por um momento sensível de toda aquela negociação. Viu a arma no coldre de Diabo e rapidamente começou a rezar para que o homem mantivesse a frieza. Por fim, expressou o que havia pensado com uma calma divina:

— Toda história tem dois lados, Lúcio — as palavras do religioso saíam como uma serenidade incomum para a ocasião. — Você já deve ter ouvido o de Levy várias vezes. Que tal ouvir o de Diabo? Aposto que ele tem algo de diferente para contar. Não tem, Diabo?

E, aproveitando aquela oportunidade única, o ex-cangaceiro começou a contar toda a verdade para o líder de seu ex-bando.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado pela leitura!
Até logo :D



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