O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 6
Um feiticeiro negro e uma garota.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem vindo ao 6 capítulo!
Particularmente, eu diria que este poderia ser uma one short! Eu gostei desse capítulo ( sério!), me digam o que acharam porque não quero estar apaixonado e achando que tô digitando pérolas, kkkk, e são só cascalho.

☆Aah, Louis... me fez muito feliz ter comentado! Está marcada na caminhada dessa história, obrigado! ♡

¤Boa leitura!¤



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Aquela era uma das diferenças entre ser um lobo solitário e se aventurar com alguém. Cada dia era diferente do outro porque não controlava minha companhia e eu tinha motivos para agir de novas formas, além de ter que ficar atento ao que ele fazia.

Passei quase toda a noite correndo para achá-lo, até que um riacho trouxe à tona a sede e fiz uma parada para beber água. O sol em breve nasceria e eu precisava continuar e encontrar Luahn o quanto antes. Subitamente, ouvi um uivo próximo e me fiz correr novamente. Logo pude sentir cheiro de lobos e minhas energias se renovaram, apesar de não achar rastros do feiticeiro mestiço naquela área.

Pouco antes de chegar ao encontro dos selvagens estranhos, escutei as movimentações nos arbustos e captei o que disseram:

“Algo está vindo! Corra!”. Em seguida vi as caldas por um breve segundo, se embrenhando nas sombras da mata.
Naquela perseguição, não me pareceu ter mais que dois lobos na minha frente, que não se separaram na correria.

“Avisei para você não responder!” Falou um deles durante a fuga de mim. Eu podia ouvir o que diziam na mente, era a forma de lobos se comunicarem, e há muito tempo havia me esquecido como era ouvir outro.

Com o alvorecer, consegui enxergar uma cauda cinza escura de um lobo a minha frente, era questão de metros e eu poderia pegá-lo. Porém ouvi um ganido ao lado e logo um reboliço de terra, galhos e folha. Uma queda! Desviei o caminho e fui para cima da criatura. Avancei e mordi mal, pegando na lateral do rosto, soltei para agarra um ponto melhor, mas parei. O lobo de pelos bagunçados estava tão apavorado que dava mordidas no ar como louco, se remexendo no chão com ganidos e rosnados, sem se levantar ou olhar o que estava realmente acontecendo. Até sua aparência era esquisita, branco sujo com uma mancha preta sobre um dos olhos. Dei um passo para trás e ele continuou se movendo como uma minhoca assustada, na verdade, percebi que era uma fêmea.

Um barulho nos arbustos chamou minha atenção e logo o segundo lobo apareceu, parando de súbito e me encarando tenso. Este tinha um olho castanho e outro azul e seus pelos bagunçados era rajado de cinza escuro com partes mais pretas. O lupino observou a colega e depois para mim, recuando um passo, hesitante e parecendo querer fugir. Rosnei e com isso até a fêmea parou quieta, de barriga para cima. Percebi que não iam revidar e que não eram ameaça.

“Não me coma” pediu o que estava no chão. Mostrei os dentes, em desprezo.

“Onde está o mestiço?!” questionei, irritado.

O cinzento estranhou minha pergunta, olhando a colega, depois a mim:

“Não sabemos de nada. Somos apenas nômades atrás de novas áreas de caça”.

“Estavam falando com eles! Não acredito em vocês!” Rosnei de novo e avancei para morder a loba caída próximo.

“Espera!” parei e olhei o cinzento: “Só queríamos informações sobre o que está acontecendo. Pareceu uma boa ideia encontrar uma alcateia onde pudéssemos viver melhor”.

“E também ele é curioso” comentou a fêmea branca.

Eu os desprezava. Eram apenas lobos vagantes com algum motivo para terem sido afastados de suas alcateias originais e estavam atrás de redenção. Podia sentir o cheiro do medo e inferioridade deles.

“Viram algum humano perdido na floresta?” Perguntei.

“Você cheira a sangue de homem, vai comê-lo também?” o cinzento pareceu empolgar-se de leve.

“Só me responda!” Pisei na fêmea, irritado, conseguido um ganido de susto e ela respondeu:

“Houve um humano jovem!”. Afastei-me para ouvi-la e a loba aproveitou para levantar-se. Seus pelos eram longos, sujos e bagunçados, ela mal passava de minha cernelha, na verdade, os dois eram menores que eu e mais jovens. “Ele foi levado por um feiticeiro no final do dia passado.”

“Aonde isso?”

“Mas você vai atrás de um feiticeiro?!” Questionou o cinzento com espanto. “Ele não parecia ser fraco”.

“Meu irmão tem razão, o senhor não pode ir enfrentá-lo. É um feiticeiro!”.

Senhor era uma palavra de respeito que nunca me coube, mas o fato de serem menores e medrosos impôs que me tratassem com algum respeito.

“É importante que encontre o humano. Agora, digam onde encontro o rastro?”

“Ao sul, próximo de uma nogueira solitária com aroma forte, poderá encontrar uma trilha”.

Em seguida, nós três paramos ouvindo um longínquo uivo chamando todos para um mesmo local, uma reunião.

“É melhor não se intrometerem nesse assunto se querem ficar vivos.” Avisei e ia correr, mas olhei-os mais uma vez: “Se encontrá-los de novo, irei matá-los sem hesitar”. Parti na nova corrida deixando-os para trás.

A tal árvore de referencia gerava um rastro no ar e a encontrei próximo do meio dia. Tive que rondar a área algumas vezes até encontrar a pista de um homem com cheiro marcante de especiarias junto com o de Luahn. Eu não podia imaginar o que estaria acontecendo com o mestiço feiticeiro, então, na pior das hipóteses, o tempo faria diferença.

O rastro me levou para uma floresta disforme, com colinas que desciam e subiam de repente e às vezes havia uma ribanceira, seu ponto final era um castelo abandonado. O muro que o cercava quase não existia, com exceção do portal que dava acesso ao pátio externo da construção, onde o piso era recoberto por diversos tufos de mato. O edifício alto e de pedras estava semidestruído, cercado por árvores, coberto por relva e arbustos. Ali a natureza começava a ocupar todos os espaços.

Depois de passar pelo portal do muro, segui avançando com cuidado e atenção, pata por pata, atravessando o pátio calçado com pedras lisas. Caminhei na direção da porta de madeira dupla, cujo um dos lados estava caído para dentro. O cheiro da pessoa que estava com Luahn me levou para dentro do castelo, onde todo o interior era sombrio e muito silencioso. Não havia muitos cômodos abertos para explorar, pois a maioria estava trancado ou preenchidos por paredes desmoronadas. Notei que o homem devia viver ali a um bom tempo, pois seu rastro estava todos os lugares. Por isso tive que me esforçar para seguir o cheiro de Luahn nos corredores, o que me guiou a uma passagem, onde havia uma escadaria que levaria paras o subsolo, aonde claramente o cheiro de humidade e mofo predominavam.

Desci cuidadosamente pelas pedras esverdeadas dos degraus, indo para os porões que haviam resistido a historia de destruição do castelo. O lugar era mais sombrio que os andares de cima e havia muitos corredores para se perder, a única luz vinha de tochas no alto em longes intervalos de espaço.

Por alguns minutos caminhei sentindo o cheiro de mofo e água parada dos corredores sob meu focinho, mas meu faro era a única ferramenta para encontrar Luahn naquele lugar. Virei à esquerda em uma passagem e fui andando com o nariz sobre o chão de pedras escuras. Nesse calabouço havia diversas celas, com diversos cheiros, além do inconfundível aroma do suposto feiticeiro que havia levado o garoto.

— Fiel?! — ouvi atrás de mim, por onde já havia passado, e a fala foi seguida de um impacto contra a porta de uma das estreitas celas. — Aqui! — Uma mão deu um estalo de dedos, saindo para o corredor.

Só que eu não reconhecia a voz. Retornei com desconfiança e encarei uma garota segurando as barras de ferro da porta da prisão. Não consegui ver muito de sua aparência, pois seu cômodo estava cheio de sombras, então inspirei o ar, mantendo certa distancia, e constatei que era o cheiro certo do mestiço, mas estava levemente mais doce, então me aproximei mais.

— Não acredito que você veio atrás de mim! — A mão tocou meus pelos e tive certeza que era o mestiço ao fareja-la, mas estava confuso porque era uma moça. Seus olhos castanhos claros eram iguais aos de Luahn, os cabelos também eram louros escuros, mas estava longos; seu rosto tinha características mais sutis, me fazia lembrá-lo, mas seus lábios e bochechas estavam mais rosados, e estava menor fisicamente. — É! Eu sei que sou uma mulher agora! Pare de ficar me olhando assim, sou eu mesmo! — disse ela, impaciente. — Estamos com um problema maior que esse, Fiel. Precisa me tirar daqui, agora.

Encarei-a por um segundo até que ouvimos um som ecoando e eu corri para uma das celas abertas, me escondendo. Um homem negro e robusto chegou à porta da cela de Luahn, abrindo-a e puxou a garota de lá de dentro, levando-a.

— O que vai fazer agora?! Eu já disse que não sei de nada!

O homem não a respondeu, apenas a arrastou para um lugar distante.

De cabeça baixa e com passos calculados, fui os seguindo sem querer ser notado. Chegaram a um cômodo muito maior, sem porta, onde havia varias velas iluminando, vários balaios, baús e armários, mas uma das paredes era ocupada exclusivamente por uma escultura recoberta de platina, estranha e meio humana. Sob o olhar sedento da estátua estava um altar, onde Luahn foi deitado de bruços e amarrado.

— Não faça nada! Estou avisando! Irá se arrepender! — gritava agudamente Luahn, que agora era uma garota, apesar disso o mestiço vestia as mesmas roupas, porém um pouco largas e com alguns nós que provavelmente ele deu para que elas não caíssem do seu corpo de fêmea.

— Você irá sobreviver — disse neutro o homem com uma voz grossa e ecoante. Depois de prender Luahn, ele foi até uma mesa de canto, onde um vasilhame expelia chamas roxas, de dentro tirou uma lâmina prata e brilhante que pingava um liquido escuro, mas que não grudava no ferro. — Eu preciso da marca da lua antes que você a libere.

— Marca da Lua? Eu já disse que é só um sinal de nascença! Não há nada aí ou eu saberia!

— Cala a boca, garota. Essa marca resguarda seu poder durante todo o seu tempo de vida até aqui e também guarda a benção do astro que tanto desejo para ser mais forte — disse com desejo. — Ah, a benção da lua tem tantos poderes se usado do modo certo. Cura. Poder. Ressureição. Submissão... Você não imagina quem você poderia ter sido se não fosse minha agora.

O feiticeiro negro começou a falar uma língua estranha, segurando sua adaga sobre as mãos e de olhos fechados, recitando algum encantamento que gradativamente eu pude sentir no meu corpo que era poderoso. Observei a cena imóvel, da sombra do corredor, meus sentidos começaram a dizer para fugir e entrar em pânico. Seja quem fosse aquele homem, estava claro para mim que era perigoso.

Num momento, enquanto falava como se desse ordens, o feiticeiro se aproximou de Luahn e levantou sua camisa nas costas, exibindo o lombo do corpo dela. A garota grunhiu e se mexeu frustrada, principalmente quando o homem tocou sua pele com a mão, apertando-a.

Ao ver isso, acabei reagindo. Dei meia volta e retornei o caminho até ali, procurei qualquer coisa que pudesse usar, até que entrei numa cela e achei os ossos de um homem de armadura com seus acessórios. Citei na mente ‘lobo-homem’, assumi a forma humana, peguei a espada e o cinto, onde também guardei uma das facas do morto, e por fim puxei o elmo de seu crânio. Voltei aos corredores e, próximo do salão em que Luahn e o feiticeiro estavam, joguei o elmo para cima das escadas e me escondi em outro cômodo, esperei que o homem viesse ver o que seria aquilo desejando que ele não me notasse.

A minha distração funcionou, então corri para Luahn. Talvez, eu não pudesse enfrentar um feiticeiro assustador como aquele, mas a mestiça (que antes era o mestiço) poderia retardá-lo.

— Finalmente! — balbuciou Luahn contra a mesa em que estava, quando cheguei cortando suas cordas.

— Você estava chorando? — o rosto dela estava um pouco molhado quando ficou de pé e livre.

— Claro! Ele me transformou em mulher, ia me cortar e nem sei o que ia fazer comigo depois, porque eu vi que estava preparando um aprisionamento logo ali, no outro balcão.

— Chega! Temos que sair daqui antes que ele volte.

Ela assentiu e logo observou todo o salão, saiu pegando coisas e pondo num saco que achou ali mesmo.

— O que está fazendo? — perguntei tenso.

— Eu não tenho nada, vou precisar de algumas dessas coisas.

— Não temos tempo! — reclamei aflito e ela ignorou, até que foi a um canto e encontrou seu cajado, só depois disso saímos dali.

Seguimos alguns corredores sombrios atrás de uma saída que não fosse aquela pela qual fiz o feiticeiro negro ir. Ouvimos o homem voltar, seu passos ecoavam, então levei a garota para um dos cômodos, nos escondendo nas sombras. Levou uns segundos até escutarmos o grunhido dele no salão ao notar a fuga de Luahn, então corremos pelo único caminho que eu sabia que levaria a saída. Não tínhamos muito tempo, mas conseguimos nos afastar, apesar das calças da garota quase a fazerem cair nos degraus, ela tinha mais de dez centímetros a menos que Luahn garoto.

Ao chegarmos ao térreo, Luahn simplesmente parou e se virou para a passagem da escada do calabouço com uma expressão muito séria, ergueu o cajado e, com uma única palavra, fez todo o lugar tremer e as pedras sobre o portal desmoronarem. Impressionei-me um pouco por ela ter feito todo o lugar vibrar, mas logo seguiu correndo para fora e fui atrás.

Saímos no pátio externo e luz do dia me incomodou por um momento. Corremos em direção ao portal dos velhos muros do castelo, prontos para fugir para o mais distante dali, mas ouvimos uma explosão e um urro de frustração que ecoando pelo lugar e pela floresta. Luahn parou de correr em seguida, de repente, e parei alguns passos além dela, estranhando. A garota encarava o chão, pensativa, e as juntas de seus dedos se esbranquiçaram diante da força que segurava o cajado.

— O que foi? — perguntei e desejei muito que ela não tivesse sido pega em algum feitiço de paralisia.

Aos poucos os olhos castanhos se voltaram para mim:

— Não quero matar um feiticeiro... — sussurrou doloridamente, e ouvimos outro urro que fez o chão tremer, acompanhado de estalos e sons de pedras se colidindo.

— O que vai fazer? — questionei confuso.

— Mas não tenho escolha — sua voz tinha pesar. — Ele é perigoso para muitas pessoas.

Apenas a olhei de volta.

Então ela se virou para o castelo, assumindo uma postura ereta e com os pés afastados, num tom alto e forte entoou algumas frases esticando a palma esquerda para o edifício. Gradativamente, ao ouvi-la, meu coração bateu mais rápido e senti uma falta de ar. A energia daquele lugar começava a me incomodar e fazer pressão no meu corpo, na minha existência, talvez na alma. Eu desejaria fugir daquela sensação, mas ao mesmo tempo estava fascinado pelo poder que ela, meu protegido, emanava.

De repente, grandes rochas se ergueram de alguma parte do castelo e voaram na contra nós. Luahn ainda não tinha terminado, mas quando a uma delas ia atingir-nos, uma proteção branca surgiu e a repeliu para alguns metros de longe, as outras não se tornaram ameaça. Supus que o feiticeiro negro, preso no castelo, devia ter notado a intenção e poder da mestiça e, de alguma forma, agia para distrai-lo, porém não conseguiu.

Rapidamente, Luahn se silenciou e levou o cajado para o alto, sobre sua cabeça, e no momento que o abaixou veloz, pude sentir uma pressão grande cair sobre tudo, me fazendo agachar no mesmo ritmo, junto rajadas de vento e balançar das árvores. E, como se fosse um monte de barro empilhado, o castelo afundou em si mesmo, e provavelmente se enterrando no interior da terra, tremendo toda a floresta.

Quando tudo se acalmou, havia um zunido no meu ouvido, eu podia sentir meu coração disparado no peito e foi como se pela primeira vez voltasse a respirar. A poeira levantada me fez piscar e tampar os olhos, e quando consegui enxergar algo, vi Luahn mover-se com os braços largados ao lado do corpo. A garota deu um passo incerto para trás, então corri até ela a tempo de evitar que caísse no chão de costas. Havia desmaiado completamente em meus braços.


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Notas finais do capítulo

Juro que tive essa ideia de inverter genero há dias.
Comentem, divulguem, favorite, façam recheio de pastel, façam fanfics, façam amor, façam brigadeiro e, principalmente, recebam um abraço meu!

Até



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