O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 16
A história da magia do lobo.


Notas iniciais do capítulo

Hey, hey. Olha quem voltou!
Quem bom estar em casa novamente depois de dias (semanas) sem atualizar nada, desculpem o atraso! Eu não desisti! Não vou! Mas...

Esse capítulo é um despejo. Eu o tinha, mas remoí inúmeras vezes, sem ter certeza se ele devia ser assim ou não. Contudo agora vai ser, porque não consegui mudar e, devo dizer, eu gosto do resultado e algumas partes, hehe.

Anteriormente em Lobo-homem e o feiticeiro mestiço: Fiel ainda estava ferido e incerto, por isso permanecia na forma de lobo o tempo todo enquanto ele e Luahn ser recuperavam da noite de lua cheia onde encontraram as alcatéias. E os dois lobos seguidores de Fiel que apareceram na fazenda foram nomeados de Nevoa e Carvão pelo humano e tiveram a missão de buscar as coisas deles. Mas, nos últimos momentos, os dois principais ficaram sozinhos na casa de Carlyne (a mulher que está os ajudando e abrigando) e o lobinho pareceu confiar que o feiticeiro não vai virar a besta do nada e se aproxima. Será que está pronto para contar sobre o massacre?

Fiquem agora com o capitulo (e mais um passo na caminhada para o fim).

Boa leitura!

(Só porque estou viciado nessa música, toma o link, aliás, eu acho que essa música tem o que dizer sobre H-LeoFM: https://m.youtube.com/watch?v=RqrH5_Vmc9Y )



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Era interessante observar Luahn de volta quando me fixava. Seus olhos castanhos eram sempre curiosos, se não com um ar de riso e otimismo que lhe dava simpatia e ingenuidade. E isso também era perigoso, pois humanos com más intenções o enxergavam fácil, e algo que tão dele era o chamariz para perigos.

O mestiço encarou minha transformação, sorrindo e se distraindo.

— Olá — disse-me como se eu não estivesse ali como lobo há poucos segundos e se pôs de pé comigo.

— Oi — respondi-lhe com estranheza e ele sorriu de novo. Seu olhar vagou pelo meu rosto até parar do lado direito, onde havia o corte que cruzava minha bochecha e pulava para um traço na testa, sem toda a pelagem o ferimento devia estar bem visível e ele suspirou com desgosto. — Antes daquela noite você não tinha cicatriz alguma, Luahn — disse-lhe distraindo-o e pegando seu pulso, podendo ver mais marcas em seu braço.

O feiticeiro deixou-me analisá-lo, atento as minhas expressões. Até quando puxei de leve barra de sua camisa, descobrindo feridas curadas, esfolados e marcas roxas que suas roupas escondiam todos os dias, ele não me conteve. Logo, sem comentar algo, apenas ouvi um risinho divertido e ele tirou aquela roupa. Encarei-o por um segundo, desconfiado, e depois inspirei, numa tentativa de ignorar os batimentos mais rápidos no meu peito e a sensação de calor que parecia emanar dele. Segui observando seu corpo e as novas marcas, caminhando devagar a sua volta e contando o que queria saber:

— Você sumiu na floresta depois do beijo e os lobos te encontraram. Aparentemente ganhou apenas alguns arranhões com as mordidas. Mas tudo o que aconteceu não era você.

— Tudo que aconteceu? — Luahn virou o rosto para trás, onde parei por dois segundos. A noite parecia muito silenciosa fora da casa e havia apenas o crepitar da lareira.

— Eram três alcatéias nos seguindo, mais lobos do que imaginamos, e você se tornou uma criatura. Uma fera — falei com calma, mas ele ficou sério e franziu entre as sobrancelhas, distanciando o olhar para alguma memória ao encarar o chão, perdendo totalmente seu ar divertido. — Sua nova forma era uma mistura de lobo e homem, assustadoramente mais forte que até mesmo quatro lobos te atacando juntos. Feroz, desejosa de morte e destroçando quantos inimigos alcançasse. Sem dó. Sem vida. Sem medo. Apenas fúria e instinto sobrepujando o ser vivo que ficasse no caminho.

Ele ficou pálido, ainda encarando o assoalho e assimilando o que narrei. Então olhou para mim assombrado e instantaneamente defini que compreendeu que, para ele ter sobrevivido ao ataque, aconteceram muitas mortes por suas mãos:

— E-eu não me lembro de nada... Mas há flashes na minha memória... Segundos horríveis... — o feiticeiro fez silêncio por uns instantes até que uma expressão de angustia se formou: — E você, Fiel?

— Estava próximo de ti — ele piscou, tremendo rapidamente, certamente lembrando-se de meu estado e uma brisa fria começou a soprar de algum lugar dentro da casa. — A primeira vez que o encontrei na outra forma, desejei fugir para sobreviver...

— E devia ter feito isso! — apoiou, dando um passo para longe e virando-se para mim. O vento ficou mais forte, começando a assobiar através das frestas da casa.

— Mas prometi não te deixar sozinho mesmo que tivesse medo. E quando me atacou tive que usar a espada, — apontei para a ferida com atadura no ombro dele, mantendo-me controlado — você recuou e acabei largando-a fincada aí. Depois os lobos me ajudaram a sobreviver, estavam focados em atacar o monstro meio lobo. Contudo, quanto mais deles morriam e melhor eu entendia a fúria descontrolada que você carregava, eu tive que fazer alguma coisa.

O mestiço olhou-me atento e bem sério, dava para ver a tensão em seu corpo e seu olhar estava escurecido e atormentado. Continuei falando, enquanto a chuva começou a cair grossa e o cheiro da terra seca sendo lavada tomava o ar:

— Eu o desafiei pelo território e o levei para longe de todos, mas era mais lento e fui ferido algumas vezes — toquei minhas costelas, onde sabia que deviam estar quebradas abaixo do colete e camisa que usava, mas os ossos estavam inteiros, havendo apenas os cortes na pele que ainda cicatrizariam. O garoto engoliu em seco com o que mostrei e antes que expusesse mais alguma expressão de horror prossegui: — No desfiladeiro, na beira do rio, não encontrei fuga e nem tinha forças para escapar. — Luahn deu outro passo para trás, ao som de um rugido de trovão, encarando-me tão profundamente nos lhos que parecia enxergar as lembranças que passavam em minha mente naquele momento, toda a angústia, sensação de morte, dor e fracasso. — Eu ia morrer, mas o rochedo desmoronou nos levando ao rio e algumas pedras te atingiram.

Luahn encarou o chão novamente, mudo, e levou os dedos para testa, onde estava a marca roxa entre as mechas onduladas e loiras:

— Por rochas...

No terreno fora do casebre, o aguaceiro varria tudo com agitação e trovejos, fiquei momentaneamente confuso em como o temporal se formou rápido e sem aviso, mas voltei a dar atenção ao momento com Luahn:

— Apesar de tudo, sobrevivemos. Isso é o que importa agora — forcei um sorriso fino, numa tentativa de mudar o clima pesado. — Estamos juntos e os lobos não estão atrás de nós por enquanto.

Ele olhou-me consternado:

— Eu podia ter te matado. Não! — um raio soou junto com sua palavra. — Eu quase o matei, Fiel! Por muito pouco! — parecia certo disso e irritado, me deixando um pouco preocupado com o despertar de alguma raiva bestial naquela noite que Carlyne não estava ali para contê-lo. — Sabe como iria me sentir se acontecesse? Se você morresse por minha culpa? — aproximou-se e enfatizou a frase seguinte: — Péssimo! Eu seria um assassino, incapaz de proteger quem gosto de mim mesmo!... E você só está me ajudando sem nada em troca, sem querer nada e me suporta, depois ainda faço algo assim: te mato a sangue frio e sem lutar para controlar o que me tornei?! Sem lutar para reconhecê-lo?!

O mestiço perturbou-se, bufou e me deu as costas, dando alguns passos sem rumo na minha frente. Enquanto isso raios e trovoes golpeavam o mundo por trás do som da chuva forte sobre o telhado. Luahn estava nervoso e angustiado, e eu não gostava de vê-lo assim, quase podia sentir a mesma coisa só de observá-lo. Com um passo a frente, o contive quando ia passar próximo e segurei seus ombros, o pondo diante de mim e o olhando nos olhos:

— Luahn, você vai conseguir viver com isso — afirmei e acho que acertei a pergunta que ele se fazia silenciosamente, pois o rapaz relaxou; o que me deixou seguro para lhe dizer mais: — Vou continuar do seu lado, querendo ou não, e vou te ajudar. Você cuidou de mim depois de tudo o que aconteceu e não desistiu até quando eu achei que ia morrer finalmente. É um feiticeiro que está crescendo, vai haver momentos bons e ruins, mas não estará sozinho se confiar em mim.

Após isso o garoto sorriu de leve e mais calmo. De repente, se aproximou e senti suas mãos passarem por minhas laterais, o mestiço me abraçou sem aperto, aconchegando-se com um suspiro baixo contra meu ombro. Surpreso, hesitei em tocá-lo de volta, sua pele estava muito exposta sem a camisa e parecia quente, apesar disso aos poucos acabei depositando as mãos sobre suas costas, absorvendo sua temperatura e conhecendo a textura da carne. Era um gesto confortável quando não era para simular algo para alguém, parecia me transportar para algum lugar distante, me distrai e levei um tempo até entender que feiticeiro falou algo, mais precisamente só notei depois de ouvir um riso divertido e ele repetiu:

— Tem medo de mim ou está apenas nervoso?

— Porque diz isso?

Ele se afastou um pouco, um riso leve nos lábios ao encarar-me:

— Seu coração esta batendo rápido — engoli em seco, surpreso por ele poder senti-lo tão fácil, e Luahn riu. — Você está nervoso e corando.

Seu tom foi convencido e uma de suas mãos veio parar no meu rosto, seu sorriso maroto me fez desviar o olhar e num impulso estranho que me percorreu, deixei-me ser atraído e me aproximei, beijando-o incerto. O estresse do corpo dele se dissipou completamente quando deslizou as mãos para meu pescoço, correspondendo. Nosso beijo tinha um gosto, uma sensação de prazer crescente que me gerava certa ansiedade por ter mais daquilo que eu não sabia exatamente o que era e um coração mais rápido e quente. Assim, tudo pareceu aquecer-se e me vi pensando em tomá-lo para mim ali e não só saboreá-lo, mesmo sabendo que não devia ser assim. Então questionei a mim mesmo porque sentir aquele desejo era errado, se havia um acordo equivalente entre nós dois, e só nos, não afetaria o todo. Nenhuma alcatéia morreria só por dois se gostarem, não seria motivo para um ser expulso só por ser inferior de sangue e carregar esse erro. Subitamente Luahn me trouxe de volta ao se afastar do beijo, inquieto para soltar meu colete e tirá-lo. Nessa pausa percebi aonde íamos e minha mente se clareou:

— Um momento — segurei as mãos dele que logo pegavam a barra da minha camisa, pouco depois me aborrecendo ter acabado com aquilo, mas era necessário. No fundo, eu não me sentiria completamente à vontade me conectando a ele daquela forma enquanto fosse inocente sobre minha origem. — Eu tenho que te contar outra coisa...

O feiticeiro encarou-me com curiosidade e depois sorriu torto e brincalhão:

— Vai funcionar da mesma forma e a gente vai dando um jeito — riu e puxou meu rosto para um novo beijo, mas resisti e ele me encarou mais sério.

Não havia mais chuva fora da casa.

— Se conseguir me ouvir e ainda gostar tanto de mim...

Luahn soltou-me atento e esperou que eu lhe dissesse, porém travei o olhando até ficar incomodado e me afastar, andando pela sala do casebre. O pote que me davam água sobre a mesa de tabuas me fez notar a garganta seca e fui buscar refresco do tonel de barro, no canto da área de preparação de comida.

— Parece que é sério — Luahn comentou, aproximando-se e sentando-se no banco da mesa, levemente aborrecido.
Deixei a caneca de água no tampo e sentei no banco oposto, onde Carlyne costumava se acomodar nos jantares.

— Luahn, eu conheci sua mãe — por um momento o loiro não expressou nada. — Foi ela quem me fez ir encontrá-lo e ficar ao seu lado.

Suas sobrancelhas franziram e ele ficou sério, o que causava certo alarme em mim.

— Então... Só está comigo por causa dela?

— Sim, mas não completamente. Você me cativou e despertou algo que como lobo não existe. Eu realmente sinto algo por você, mas não sei como chamá-lo.

— O que ela lhe deu em troca? — algo me dizia que estava em duvida.

— A vida que tenho. Eu me entreguei à vontade dela para continuar vivo.

— Quer dizer que deu sua vida para minha mãe fazer o que quiser? — Pensei e assenti. — E ela não podia acabar com o feitiço de lobo-homem?

— Mas eu gosto de poder ser homem ou lobo, e foi ela que fez isso comigo — espantou-se. — Luahn, eu era um lobo solitário das colinas geladas, igual qualquer outro. Uma criatura da natureza que não iria sobreviver por muito mais tempo, morreria incógnita, sem nunca encontrar nada que tivesse algum valor e sem nem pensar em descobrir que os humanos são mais que criaturas folgadas. Apesar de ter parecido uma maldição no começo, eu me sinto bem em poder ser o que era de vez em quando, ainda que tanta coisa tenha mudado.

— Ela te salvou e em troca te prendeu a mim?

— Sim, para te proteger. Era só uma missão, mas aspectos da alma humana floresceram além da que eu já tinha e varias coisas ganharam novos sentidos e novos sentimentos que, como já disse, eu não sei explicar o que são.

— Fiel, nem humano você é. Como pode saber que mudou? Como pode saber que não sou eu agindo sem querer, fazendo você me desejar? — disse cheio de duvida e tormento. — A força da minha magia está amplificada, ainda não tenho noção do quanto e nem o controle total. Não pode confiar em mim e meu desejo por você.

— Acho que sei a diferença de estar sendo enfeitiçado e de simplesmente sentir, Luahn — fiquei um pouco irritado.

— Sei. Quando a Flora estava usando persuasão dramática, você caiu sem nem saber.

— Isso foi no começo. E você me deu aquele cordão com os anti-feitiços. Do jeito que gostava de mim e com aquele casal estranho tentando me seduzir, deve ter incluído algo contra encantos de atração.

— Isso é verdade — ele olhou-me, calmo e refletivo, contudo seu olhar abaixou para meu pescoço e para a gola da camisa. — Mas você o perdeu... — riu meio amargo e irônico. — Não foi verdadeiro seu beijo.

— Claro que foi!

— Não tem como saber Fiel — disse frio. — Teremos que ter provas depois que lhe arrumar outro colar de proteção.

Então o garoto suspirou, levantando-se.

— Aonde vai? — perguntei confuso.

Ele parou e vi um sorriso travesso ao me olhar:

— Vou arrumar esse negocio o quanto antes e aproveito e penso melhor em tudo. Fica calmo aí.


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Notas finais do capítulo

Hello! Esse telefone ainda funciona?
Por hoje é isso. Desculpem qualquer coisa. Eu travei nesse capitulo, mas como sou persistente fiz o que pude e vamos ir a diante. Eu sei que este tem muito dialogo, mas não encontrei um caminho alternativo para expor o que devia acontecer. O próximo será melhor!

Deixe uma presença para mim ter combustível para continuar.
Obrigado pela atenção! ;*
Muitas paçoca!



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