O Lobo-homem e o Feiticeiro Mestiço escrita por Melvin


Capítulo 17
17: A mãe do mestiço


Notas iniciais do capítulo

Hello!
15 dias de tortura. Kkk. Vim atualizar essa história que amamos! Tá na hora.
Depois daqueles dias sem site... nossa... :S
Muito obrigado a todos que deixaram comentário, sempre fico feliz!!

Espero que gostem e apreciem os acontecimentos deste capítulo.

Boa leitura!



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Eu não me lembrava exatamente de todos os encantos que coloquei no antigo colar de Fiel, mas comecei pelo obvio e que me deixaria mais confiante: o contra atração, porém em seguida fui me lembrando dos importantes para a proteção dele e não parei. Meu material para escrever as runas e incluir a magia necessária foram algumas pequenas placas de metal, do tamanho de uma unha, que achei em um pote da casa. Lembro de Carlyne achá-las no terreno ao revirar um canteiro, ela disse que era coisa do solo e que juntava porque talvez um dia pudesse ser úteis. E foram sim.

Naquela noite, fiz os pingentes na mesa e deu muito trabalho aranhá-las de forma minúscula com as runas que preservariam o feitiço ali, murmurando frases e me concentrando no objetivo da magia impostas em cada, mas a atividade manual me entreteve e quase me esqueci de que Fiel estava do outro lado, no outro banco, apenas observando tudo. Era importante para mim lhe garantir uma proteção bem feita e para todos os casos depois do que descobri que fiz a ele.

Quando meu traseiro estava incomodado de ficar ali, me mudei, indo sentar sobre minha improvisada cama num canto do cômodo. Depois disso, só me lembro de me concentrar na placa em minha mão, ela demandava uma energia maior, pois era contra ataques de magia surpresas e prejudiciais, e talvez só servisse como escudo contra um ataque, mas já era melhor que nada. Então cai no sono que nem uma criança depois de brincar o dia inteiro.

Na manhã seguinte, o clima estava levemente frio e após ouvir o galo cantando, despertei com um nariz gelado vindo parar no meu pescoço. Sorri, meio consciente, notando que Fiel estava como lobo, logo do meu lado, e deixando minha cama bem quentinha e aconchegante. Facilmente deduzi que a coberta sobre mim só podia ter sido posta por ele durante a noite, então abracei sua cabeça grande:

— É bom tê-lo perto de novo, peludinho — murmurei feliz e rindo, depois deixei um beijo sobre seu focinho antes de me levantar. Eu tinha que terminar aquele colar o melhor que podia e ainda tinha coisas que a dona da casa pediu para fazer naquela manhã, e então, se acabasse logo, poderia ter um tempo com ele.

Havia uma neblina fria fora da casa, mas o sol já brilhava por trás de tudo como uma bola de gás embaçada. Lavei o rosto com água fresca e fui fazer algumas coisas, incluindo abrir as portas para que o porco e cavalo saíssem para o cercado. Quando voltei, o lobo ainda estava deitado na cama, mais enrolado do que antes, e apenas me olhou.

— Não está tão frio assim, Fiel. Vamos logo. Carlyne pediu para fazer algumas coisas antes que ela volte e com a sua ajuda termino antes — disse-lhe animado, indo juntar as plaquetas prontas que deixei na mesa e montei o novo cordão. Os pequenos pingentes achatados ficaram levemente sobre postos nas laterais, fazendo parecer uma linha de escamas metalizadas de cores variáveis e com riscos escritos na parte de trás, mais bonito que o anterior e mais resistente. — Vem aqui — chamei e Fiel se aproximou sem vontade. — Não está completo ainda, mas já pode estar com ele.

Assim que coloquei nele, a cauda balançou rapidamente, eu ri, coçando a lateral de seu pescoço. Era estranho sentir um desejo por ele naquela forma, mas existia, lá no fundo, porque sabia que era um homem também, e refleti se tinha algo que pudesse fazer para estimular que o humano viesse me fazer companhia. De repente, o lobo se transformou, me surpreendendo e afastei um passo para lhe dar espaço.

— Está lendo meus pensamentos agora? — perguntei com graça, mas satisfeito.

— Não — ele sorriu de leve e logo sumiu, parecia estar ainda aprendendo a expressar seu sorriso quando estava feliz, o que era um bom sinal, visto que sempre foi sério. — Algo na forma que me olhou me deixou... ansioso — disse-me meio confuso.
Ri.

— Certamente não foi por magia. O colar tem antídoto para intenções apenas ‘emanadas’.

Então Fiel tocou no objeto do pescoço, analisando-o, e me senti feliz de lhe dar algo mais apresentável e útil. Cheguei a apoiar a mão próxima de seu peito, pronto para dar lhe um beijo de bom dia e ver suas reações, mas ouvimos um uivo que foi logo cortado. Toda a atenção dele foi para o lado de fora da casa, assim como a minha.

— Isso foi um dos irmãos? — perguntei em duvida. Nunca tinha ouvido esse chamado e compreendido a voz que ecoava ao fundo do uivo.

— Foi a loba — ele confirmou atento.

— Eu não entendi o que ela disse — olhei-o, esperando que tivesse ouvido mais que eu.

— Ela foi interrompida, mas estava me chamando.

Fiel me olhou de volta e parecia hesitante. Não falamos nada, esperando alguma nova tentativa, mas não veio.

— Temos que ir atrás dela — falei preocupado quando não agüentei esperar mais. Pressenti que ele ia contestar com algo do tipo: não tenho motivo para isso. Por alguma razão Fiel relutava em aceitar Nevoa e Carvão como bando. Mas, antes que falasse, suspirei e respondi: — Foi você que os mandou para alguma missão, não foi? É sua responsabilidade.

Ele bufou sério e encarou porta a fora, refletindo. Havia algo que o preocupava e que não me dizia e eu não poderia nem chutar o que pensava.

— Está bem, mas eu vou sozinho.

— O quê? Eu dei nomes a eles, Fiel, e posso ser útil!

— Sem você irei mais rápido e sem chamar atenção. Vou trazê-los até aqui, não devem estar longe. Além disso, você disse que tem coisas para fazer antes que a mulher volte da cidade, coisas que seriam uma forma de agradecimento pela hospedagem.

Encarei-o de volta, sério. Ele era apenas um lobo que descansava no canto quando Carlyne e eu conversamos sobre essa manhã e o que precisava ser feito.

— Às vezes você ouve demais... — murmurei contrariado, mas ele estava certo, tive que aceitar. — Ok, mas escute: se precisar de ajuda é melhor me chamar, entendeu? Ou vou te amaldiçoar da pior maneira pela desfeita.

— Não ponha medo em mim — respondeu meio receoso e acabei sorrindo.

— É pura verdade. E se ficou com medo, melhor. Agora, você deve ir cuidar de seu bando e espero que volte para o almoço ou vou te procurar.

...

Não tive noticias do lobo pelo resto da manhã. Depois que lhe dei um desjejum rápido, tudo que fiz foi com preocupação. Imaginei mil historias e encarei diversas vezes a parte da floresta onde o lobo cinzento sumiu. Aquela situação me deixava nervoso, eu não era do tipo que ficaria preocupado porque alguém que conheço estava distante, ainda mais fiel, que eu sentia uma conexão devido a magia que o ligava a mim e que poderia ter mais segurança, mas estava.

Quando estava distraído e jogando as coisas do almoço no caldeirão sobre o fogo da lareira, Carlyne entrou no casebre deixando um caixote no canto com suas novas coisas. Levantei olhar para mulher com manto verde que lhe cobria quase por completo.

— Quem você trouxe? — perguntei curioso, antes de qualquer coisa e pressentindo a presença do homem do lado de fora. Ela me olhou surpresa por um instante, depois relaxou.

— Um homem. Ele estava te procurando na cidade. Deve saber do que lhe aconteceu antes do rio.

Estranhando, caminhei em direção a porta e logo vi meu mestre feiticeiro soltando alguns arreios de seu conhecido cavalo e o acariciando quase sem preocupação, seu cajado incluso no meio das poucas bagagens.

— Mejen! — fui até ele, forçando um sorriso, apesar de preocupado de receber algum sermão por ter me aventurado sozinho no mundo; mas ele sabia bem que eu gostava das coisas novas e conhecimentos que viajar me trazia, porém ele estava certo de que devia ser mais experiente com as pessoas e que devia esperar meus dezoito anos e mais um tempo para me adaptar a toda a novidade da plena magia.

O velho homem virou-se e sorriu, vindo me abraçar, e foi bem apertado. Ele sempre foi mais alto que eu, tinha um aroma fresco como pinheiro e a barba cumprida e mesclada de preto e grisalho só veio depois dos meus quinze anos, e o deixava com mais cara de antigo. Ao se afastar, o feiticeiro suspirou, parecendo aliviado ao me encarar:

— Ora, vejam esses machucados, Luahn. Deve ter se metido em muitas encrencas, espero que tenha aprendido como é o mundo. Mas é uma felicidade vê-lo bem — inspirou de novo e bagunçou meus cabelos. Seu olhar foi para a mulher que me seguiu. — De fato, é ele, senhora. Tenha minha gratidão por ter cuidado dele até sua atual saúde. Devo dizer que após seu abandono da vila, achei que o encontraria em piores situações físicas.

— Como vocês se encontraram? — olhei para Carlyne, confuso, afinal, eu e Fiel viemos bem longe.

— Ele lhe procurava no mercado, mostrando um desenho de seu rosto. E, da forma que te achei no rio, acreditei que você fosse um rapaz desaparecido da cidade e de alguma forma veio parar aqui, então tive que tomar muita coragem para abordá-lo e falar de você.

— Sim, exatamente. Garanto que Luahn e eu estamos muito felizes que tenha tomado essa decisão — disse meu mestre feiticeiro.

— E como você veio para Prata Leal? — perguntei a ele.

— Poção de vidência. Infelizmente, sabemos que a breve deslumbre que temos é nublada, cheia de possíveis interpretações e incerta se não for um especialista na arte, mas resolvi arriscar no meu palpite, porque você é importante Luahn. Mais do que imagina — encarou-me, apoiando a mão no meu ombro de forma que pude sentir todo o peso que queria por naquelas palavras, e compreendi que talvez ele pudesse contar claramente o que aconteceu comigo e por que. Mas seu olhar vagou por mim, confuso e com estranheza: — Onde está seu cajado? Sabe o quanto ele é importante.

Notei, então, que estava sem aquilo e que ele não sabia de como foi minha passagem de ano, principalmente o fato de não mais precisava de instrumentos de meio de magia, apesar da necessidade de praticar.

— Quem é aquele? — ouvi a voz de Carlyne e me distrai da enxurrada de coisas que queria conversar com Mejen, olhei na direção que ela encarava com estranheza e sorri.

Fiel não estava longe, caminhava através dos canteiros como homem e estava com meu cajado e mochila, os dois lobos o seguia com cabeças baixas, a branca e o preto.

— É o Fiel — respondi, ainda observando-o e definindo uma expressão séria para o feiticeiro recém chegado, Mejen.

— Agora acredito quando disse que seu lobo se transforma em homem — disse a mulher, olhando-o fixamente, e me incomodei com o olhar de interesse dela nele —...Ele tem algo... Parece alguém confiante. Acho que é isso.

— O que você tem com ele, Luahn? — Mejen questionou neutro, sabendo de algo só com aquilo.

Engasguei e disfarcei.

— Somos companheiros de viagem. Ele é meu protetor fiel.

— Tipo um familiar? Tem poderes?

— Ele assume a forma de lobo e de homem, também sabe lutar bem com espadas.

— Então conseguiu um familiar leal? — o feiticeiro disse e sorriu. — Ótimo! Isso é um bom sinal. É uma benção e uma boa ajuda ter um animal auxiliando um feiticeiro. Deixa-lhe com potencial para novas coisas, Luahn.

— Não o chame de animal. É ofensivo — defendi, mais incomodado do que pensei que ficaria um dia.

Mejen me olhou, astuto:

— Mas ele é isso. No fundo, por trás da aparência humana, é apenas uma criatura da natureza. Contudo, com os feitiços certos de manipulação de áurea e massa, poderá transformá-lo em outras criaturas mais úteis. Você não compreende, mas ter o corpo que suporta as mudanças é algo realmente difícil de achar no mundo hoje em dia e abre muitas possibilidades de usá-lo até o limite que ele suportar.

A idéia geral do que me sugeriu fez-me afastar perplexo e ir encontrar o lobo-homem.

Fiel contou-me que Carvão deixou o cajado cair numa rachadura do desfiladeiro do rio, um vão que nenhum deles passaria e por isso a irmã o chamou, e foi o próprio Carvão que a impediu de terminar o uivo por vergonha. Vi o pobre animal cinzento mantendo face baixa e não olhando nada com dignidade, entristecido. Após falarmos, juntamo-nos aos outros dois. Carlyne ainda olhava Fiel de uma forma que me incomodava e Mejen não lhe dava muita atenção.

...

— Isso é tão estranho — Carlyne comentou durante o almoço, olhando Fiel e interrompendo a minha narrativa para Mejen sobre tudo que fiz, e que ela já sabia, mas, ao contrario dela, meu mestre sempre me interrompia para entender detalhes. — Não tem nada em você para dizer que era o lobo. Nada não humano. Como pode existir alguém com poder para isso?

— De fato — Mejen também encarou o lobo-homem, curioso. E percebi certo incomodo em Fiel, ele não era de falar com estranhos. — Quem o criou era poderoso.

— Na verdade, poderosa — corrigi, sorrindo de leve por saber, e o mestre me olhou. — Fiel veio a mando de minha mãe, ela lhe deu as habilidades.

Contudo, o olhar do velho ficou sério e calculista, me encarando e esperei para ouvir o que viria. Ele balançou a cabeça em negativa, deixando o almoço de lado.

— Há quanto tempo estão juntos? — perguntou-me.

— Poucos meses — respondi, vendo que investigava algo.

— Quanto tempo desde que viu a mãe de Luahn? — perguntou encarando Fiel.

— Eu não sei.

O mestre suspirou, incomodado com a resposta.

— Ok. Então, quantos sóis nasceram antes que encontrasse Luahn?

— Quatro.

Mejen piscou e virou-se para mim:

— Não é possível que tenha sido sua mãe, Luahn. Seu familiar pode estar te enganando. — Olhei para Fiel, confuso. — Sua mãe não está nesse mundo a pelo menos sete anos. Esperava que tivesse passado seus dezoito para contar-lhe tudo que deve saber, e isso seria uma delas.

Foi como pisar e não ter chão. Como assim? Em nenhum momento eu senti ela me deixar ou pressenti sua morte, a magia deixava nosso elo mais forte que a de um simples humano com o filho, eu saberia.

Antes que eu falasse algo, duvidando de Mejen, ele móvel uma mão e Fiel a olhou por reflexo e instinto, assim o feiticeiro o prendeu no feitiço de honestidade, fechando a mão em punho entre eles.

— Diga lobo, quem lhe deu a ordem de seguir Luahn?

Afligi-me em ver como Fiel endureceu-se e relutou, seu corpo todo parecia sobrecarregado, seu maxilar estava tensionado e o olhar irritado fixava no homem bruxo. Com irritação, a voz dele foi forçada a sair, e respondeu:

— A feiticeira na noite de lua nas terras geladas, meu antigo lar. Era a mãe de Luahn. Ao tocá-la vi que era verdade e soube de toda sua história.

— Ela está morta. Pelo tempo que me disse, não pode ter a encontrado.

Fiel riu, o olhar fixo no meu mestre, e eu e Carlyne assistindo tudo aquilo atentos e confusos.

— Não conhece tão bem a historia da mulher.

— Então diga o que sabe.

O lobo-homem relutou mais e por vários minutos, resistindo ao poder do feitiço com pura força de vontade, fazendo um longo silencio. Sua expressão dolorida, mas focada me deixou cada vez mais preocupado. A resistência ao feitiço se tornaria pior que agulhas se fincando nos músculos com o passar do tempo de luta. Eu devia avisá-lo, mas estava sem reação diante da busca pela verdade.

— Alana era uma bruxa da luz... — pareceu cuspir as palavras num fôlego não contido e então discorreu: — Ela foi escolhida e tinha um acordo com Selene... Para que Luahn, seu único filho gerado, nascesse humano, saudável e vivesse, a feiticeira aceitou fazer parte da protagonista das noites, entregando sua alma, mana e vida para o astro e sua eternidade... Com o passar das décadas ela será completamente absorvida, seu poder e vontade serão apenas da lua, que intercede pelos que lhe rogam com devoção ou apaixona aqueles que lhe admiram, assim como guia, protege e alimenta as criaturas desprotegidas da natureza em seu turno. Quando a encontrei, Alana usou o máximo de sua magia restante para salvar minha vida e me fazer ser o protetor de Luahn, já que a partir dali se tornaria difícil visitar a terra sem possuir mais a magia própria.

Em choque, encarei Mejen, ele também parecia bem surpreso com a história, principalmente porque o que Fiel disse devia ser verdade.


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Notas finais do capítulo

Grato por ler!
Será que tem mais coisa que o Mestre não sabe? Aí, Mejen está desatualizado, kkk.

~Melvin colocando a banquinha de apostas~
Cheguem mais: quem vocês acham que vai contar do pai de luahn?
( ) Fiel ( ) Mestre Mejen

— preço da aposta: fazer o Melvin sorrir com comentário e mandar um abraço quentinho. XD
— prêmio : o inédito capítulo 18.


Fiquem saudáveis e bebam água. Até/



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