Wonderwall escrita por Alexyanna


Capítulo 7
Dollhouse


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como estão??
Boa leitura!



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— Posso saber onde você estava, Elizabeth? — A voz dura de Alice Cooper me intercepta assim que abro a porta de entrada, e a vejo se levantando do sofá onde provavelmente passou as últimas horas me esperando. Engulo em seco, feliz por ter pedido para Jughead me deixar na esquina. Não consigo nem imaginar sua reação se me visse descendo de uma moto. 

—  Eu estava na casa de Kevin — arrisco, não conseguindo pensar em nenhuma resposta melhor devido ao meu nervosismo. Me arrependo assim que solto a desculpa falha, sabendo o que minha mãe dirá a seguir. 

— Você acha mesmo que eu não me dei ao trabalho de ligar para ele, Elizabeth? Às vezes acho que você me subestima demais! — Minha mãe joga os braços para cima, em um claro sinal de exasperação, colocando as mãos em sua cintura logo em seguida. Então ela se vira para me encarar, nervosa. — Eu não sei o que está acontecendo com você! Desde que Polly foi embora você tem agindo desta forma, como se estivesse fazendo algo terrivelmente errado… Você está usando drogas, Elizabeth? 

— Quê? Claro que não! — grito, inconformada por essa pergunta sem sentido. Bem, tenho certeza que no bar que estava há poucos minutos com certeza deveria ter alguém que usa algum tipo de substância, mas tenho certeza que Jughead não é um deles.  

— Sabe, você nunca foi perfeita, mas nunca foi mentirosa! — ela desdenha, e sinto a raiva apossar-se de mim. Cerro os punhos, cravando as unhas dolorosamente nas palmas de minhas mãos. — Quer saber? Eu não me importo. Você está de castigo por tempo indeterminado! 

— Como assim?! É a primeira vez que eu não respeito o toque de recolher, isso não é justo! — protesto, sentindo lágrimas de raiva acumularem-se em meus olhos. Todo o ressentimento dentro de mim é despertado, e não consigo mais controlar tudo o que aguentei calada nos últimos dezessete anos. — Você sempre preferiu Polly, e agora que ela te abandonou está descontando toda sua frustração em mim!  

— Dá onde você tirou isso? Eu não prefiro a Polly! — minha mãe rebate, mas sei que minhas palavras a pegaram de surpresa. Ela tem um olhar desnorteado, como se não imaginasse que eu pensasse isso.  

— Você passou toda a vida me humilhando, mãe, dizendo que Polly era muito melhor que eu em tudo! — cuspo, sentindo a raiva e a mágoa dominarem minha fala. — Tudo que eu fazia, tudo o que eu faço, nunca foi o suficiente para você! E sabe o porquê? É porque eu não sou ela, mãe! E nunca vou ser. 

Minha mãe me encara perplexa, sem palavras para responder a inesperada enxurrada de ressentimento que vomitei em sua direção. Aproveito a deixa para passar por ela em um furacão de fúria, avançando em direção às escadas. Paro no terceiro degrau, cerrando a mandíbula antes de gritar. 

— E, para sua informação, eu sou uma River Vixen agora! — Termino de subir os degraus correndo, e faço questão de fechar a porta com o máximo de forças que eu reúno, bufando de raiva.  

— Porra! — grito raivosa, agarrando um travesseiro e jogando-o no chão com força, em uma tentativa de liberar todo esse sentimento sufocante de dentro de mim. O ato alivia consideravelmente minha raiva, e resisto à tentação de repeti-lo. 

Obrigo-me a respirar fundo, sentando derrotada na cama. Eu não deveria me afetar tanto, não depois de tantos anos, mas não consigo deixar de sentir alívio por finalmente ter dito tudo que sempre desejei. Pelo menos agora a verdade está à mesa, disponível para minha mãe e para todos os vizinhos que com certeza escutaram nossa briga. Não há mais como fingir que está tudo bem, porque obviamente nunca esteve. 

Meu celular vibra em meu bolso, e vejo que tenho novas mensagens de um número desconhecido. Leio os textos, e imediatamente sinto a raiva deixando meu corpo lentamente ao perceber quem é o remetente. Trato de salvar o contato rapidamente, com um medo irracional de perdê-lo, como se fosse algo precioso. 

Jughead: Muito obrigado por hoje. Você é foda, princesa. ;) 

Jughead: E aí, como foi com sua mãe? 

Jughead: Alô, você tá viva?  preocupado. Não quero que a primeira garota que gosta de me beijar morra. Acho que milagres não acontecem duas vezes. 

Rio de sua última mensagem, tratando de começar a respondê-lo antes que ele desista de mim. Mantenho o sorriso no rosto quando digito as palavras seguintes: 

Betty: Estou viva e de castigo por tempo indeterminado, infelizmente. 

Betty: Obrigada por tudo, você também é foda, Jones :D 

Betty: E duvido que eu sou a única que gostou de te beijar. Você beija muito bem. 

Largo o celular em cima da cômoda enquanto levanto-me em direção ao banheiro, antes que me arrependa da minha última mensagem. Porém, o celular vibra novamente, anunciando uma nova mensagem e volto correndo para lê-la. 

Jughead: Parece que vou ter que te resgatar de sua prisão, princesa. 

Sorrio novamente, consciente da minha necessidade de um banho quente. Entro no banheiro e mudo a temperatura do chuveiro, deixando-o no máximo que é possível. Nada melhor que um pouco de água fervendo para expurgar toda a raiva e todos os outros sentimentos negativos do meu corpo, não é mesmo? Fico embaixo da água até o calor tornar-se insuportável, fazendo minha pele arder sob o líquido, e enrolo-me em uma toalha felpuda para retornar ao quarto. No momento em que piso no cômodo, meu celular vibra. 

Jughead: Por favor, jogue suas tranças, rapunzel. 

Arregalo os olhos ao terminar de ler o texto, olhando em direção à janela de meu quarto, que se encontra fechada. Fico ainda mais surpresa quando vejo uma touca cinza do lado de fora, denunciando a presença inesperada do garoto que agora está batendo no vidro. Corro até a janela, abrindo-a para que Jughead possa entrar. O ar frio em contato com minha pele exposta me causa arrepios, mas não consigo me distrair da visão do garoto todo de preto em pé em meu quarto cor-de-rosa. 

— Visual legal — Jughead elogia malicioso, devorando com os olhos meu corpo coberto apenas pela toalha diminuta. Imediatamente sinto minhas bochechas arderem, consciente do quão exposta estou. 

— Vire para trás! — ordeno, pegando a primeira regata e um short de pijama que encontro dentro da minha cômoda. — E nada de espiar. 

— Sim, senhora — responde, mas mesmo assim checo para ver se ele está cumprindo suas palavras. Felizmente está. Visto a roupa rapidamente, e reparo que minha escolha não foi muito boa, mas apenas dou de ombros. Ele já me viu praticamente nua, um pijama de gatinhos não vai matá-lo, penso, dizendo a ele que terminei. 

— Sabe, parece que você tem dez anos — Jughead brinca, aproximando-se e colocando seus braços ao redor de minha cintura. Reviro os olhos, não controlando meu sorriso. Ele faz um sotaque de caipira ao proferir a frase seguinte, zombeteiro. — Exceto por esse corpão, ave maria, parece uma deusa! 

— Cale a boca, idiota — xingo, perante a sua frase brega que claramente teve a intenção de me irritar. Ele sorri, e pega minhas mãos para depositar um beijo. Contudo, para no meio do processo quando nota as feridas sangrentas causadas por minhas unhas. Ele me olha preocupado, e desvio o olhar puxando minhas mãos para longe dele. 

— O que é isso, Betty? — pergunta gentil, com o cenho franzido em preocupação. — Eu não sabia que você se feria assim, é frequente? 

— Eu… — inicio, ainda sem conseguir encará-lo. — Só quando estou tentando me controlar. 

Jughead me fita profundamente, como se estivesse me olhando pela primeira vez. Então ele franze os lábios, olhando ao redor do quarto. 

— Você tem alguma coisa que possa usar para desinfetar? — Estranho a pergunta, mas informo-o do kit médico no armário do banheiro. Jug vai sorrateiramente até lá e recupera a maleta branca com uma cruz vermelha e rapidamente me manda sentar em cima da cama. 

— Não sabia que você tinha tantos dotes, Jones — zombo, enquanto ele passa um pedaço de algodão umedecido com álcool em cima dos pequenos cortes. Em seguida, pega a gaze e a usa para enfaixar minhas mãos pálidas. Fico apenas observando seu rosto concentrado, reparando na linha escura de suas sobrancelhas e na pequena ruguinha que surgiu entre elas.  

— Você ainda não me viu na cozinha, Cooper — anuncia, terminando o curativo. Ele levanta-se e vai até o banheiro novamente, e pergunto-me como seus passos conseguem ser totalmente inaudíveis. É como se ele não estivesse realmente pisando no chão. 

— Quer dizer que você é um cozinheiro? — pergunto, surpresa. A visão de Jughead cozinhando utilizando apenas um avental faz meu corpo contorcer-se de forma inadequada. Pare de ser uma pervertida, Betty, ordeno a mim mesma. 

— Não, sou péssimo na cozinha. — Ri, e sou obrigada a acompanhá-lo. Ele senta-se novamente em minha frente e tem um sorriso pequeno no canto dos lábios. — Você está bem? 

— Estou melhor agora — respondo sinceramente, já que a presença dele com certeza foi de grande ajuda para melhorar meu humor debilitado. — Tive uma briga feia com minha mãe, ambas disseram coisas terríveis. 

— Tenho certeza que ela deve estar uma merda também. 

— Acho que sim — pondero, imaginando se Alice Cooper já tomou seus costumeiros remédios para enxaqueca.  

— Então, imagino se você não estaria disposta a dormir comigo? — A pergunta me sobressalta, e encaro atordoada seu rosto zombeteiro. Jughead gargalha frente à minha reação e completa. — Calma, princesa, eu ainda nem te paguei um jantar. 

É minha vez de rir, e abro espaço para ele se acomodar ao meu lado na cama diminuta. Aconchego-me em seus braços, que me envolvem protetoramente, e sinto que nada de mal pode me atingir enquanto Jughead Jones estiver ao meu lado. Seus dedos acariciam suavemente meu braço, e sinto meus olhos pesarem. A última coisa que constato antes de cair no sono é que estou a dois passos de me apaixonar perdidamente por esse garoto, e imediatamente sei que estou totalmente fodida. 

▼△▼ 

O sábado começa cinzento, igual o céu lá fora. Depois que Jughead foi embora ontem à noite, ou hoje de madrugada, não consegui dormir mais. Os acontecimentos do dia me atingiram em cheio, e não fui capaz de fazer nada além de revirar-me na cama durante horas até estar claro o suficiente para levantar. A entrada para as River Vixens, o Whyte Wyrm, a ameaça de Tall Boy, a briga com minha mãe e meu momento romântico com Jughead. A lista é enorme, o último sendo a única coisa realmente boa no mar de desgraças; e é o suficiente para arrancar um sorriso meu enquanto seco o rosto recém lavado, encarando meu reflexo no espelho. Não acredito que Betty Cooper dormiu agarrada com alguém. Principalmente quando esse alguém é Jughead Jones. 

Reflito um pouco antes de decidir descer as escadas para tomar café, hesitando um segundo antes de ir em direção à cozinha, onde meus pais estão em um silêncio mortal. Encho uma xícara de café e pesco uma maçã da cesta de frutas em cima da bancada, preparando-me para fugir, porém a voz de meu pai atrapalha meus planos. 

— Vocês não vão nem ao menos trocar um “bom dia”? — Meu pai questiona, inconformado da tensão existente entre mãe e filha. Olho resignada em direção à minha mãe, que parece tão contente quanto eu. 

— Bom dia — digo áspera, virando-me para voltar para meu quarto. Hal Cooper suspira pesadamente, mas desiste de tentar remediar nossa conversa. 

Bebo meu café, desistindo da ideia de comer a maçã, e a deixo jogada em cima da minha penteadeira. Caço meu celular, checando se há alguma nova mensagem, porém não tenho notificações. Penso em enviar uma mensagem para Jughead, porém não sei se devo. E se ele tiver se arrependido de ter dormido comigo? Será que ele fez isso apenas por que eu estava uma merda após brigar com minha mãe? Ou será que ele estava apenas triste demais com a prisão do pai? 

Obrigo-me a parar de me torturar com essas perguntas dolorosas, e decido fazer algo útil. Abro a tela do meu notebook, digitando na barra de pesquisa o nome da gangue que ouvi Tall Boy falar ontem à noite no bar. Os resultados são em maioria notícias envolvendo tráfico de drogas e desordem pública, e há sempre um nome em comum em todas as matérias: Malachai, que todos especulam ser o líder da gangue negra do lado sul de Riverdale. 

Questiono se foi esse cara que mandou JP Jones para a cadeia por um crime que não cometeu, e decido que isso vale uma investigação. Contudo, minhas aspirações investigativas são interrompidas pela batida suave em minha porta, e vejo minha mãe parada na entrada do meu quarto. 

— Precisamos conversar — Alice anuncia, e mesmo não estando nem um pouco a fim de falar com ela agora, sinto que não tenho escolha. Ouço a porta de entrada no andar de baixo batendo, anunciando que meu pai acabou de sair. 

Viro minha cadeira em sua direção, cruzando os braços enquanto encaro-a com cara de poucos amigos. Ela suspira e caminha até a cama, sentando-se. Alice Cooper parece horrível e pergunto-me qual foi a última vez que a vi assim, com a maquiagem levemente borrada e com a postura derrotada. 

— Você realmente acha que eu gosto mais da Polly? — ela pergunta em voz baixa. Avalio-a, e suspiro pesadamente abandonando minha postura rígida. 

— Sim, mãe, você tem agido como se gostasse mais dela desde que eu me lembro por gente — respondo, e dessa vez não há raiva em minha voz, somente cansaço. 

— Isso não é verdade, Betty. Eu te amo — diz, e ela parece terrivelmente triste em sua sinceridade. Absorvo suas palavras em silêncio, não deixando de notar que esta é a primeira vez que ela diz que me ama. — Amo vocês duas igualmente, com suas características pessoais. 

Penso em como minha irmã e eu somos completamente diferentes, quase opostas. Polly sempre foi extrovertida, conquistando todos à sua volta, em qualquer ambiente que estivesse. Ao contrário de mim, que tenho o charme de uma porta. Porém, me considero muito habilidosa com as palavras, e isso é muito útil no jornal da escola. Fisicamente somos muito parecidas, induzindo muitas pessoas a pensarem que somos gêmeas, o que chega a ser irônico, considerando nossas personalidades tão distintas. 

— Seu pai anda me traindo. — Olho desnorteada para minha mãe, que ainda está imóvel sentada na cama. Porém, vejo que há lágrimas em seus olhos verdes. — Não sei se você notou, mas já faz alguns meses que ele mal para em casa. 

— Você tem certeza? — pergunto franzindo as sobrancelhas, recuperando em meu cérebro todas as lembranças de meu pai nos últimos meses: sempre contente, evasivo e só visto no café da manhã.  Me pergunto se ele tem ao menos dormido em casa. 

— Eu os vi — minha mãe confessa, olhando para fora da janela. — Eles estavam juntos no The Register. 

Deixo uma exclamação exaltada escapar por meus lábios. Como ele foi capaz de trair minha mãe em sua própria empresa, em que ambos lutaram anos para construir uma reputação para o jornal?! 

— Ele sabe que você sabe? 

— Acho que sim, mas nunca falamos sobre isso. — Alice levantou agora, caminhando até à janela por onde Jughead entrou ontem à noite. De repente sinto-me terrivelmente mal por ter gritado com ela, sem saber o quanto estava sofrendo. — Você não tem culpa, filha. Somos adultos. — diz, notando a expressão em meu rosto. 

— Queria ter percebido antes — lamento, levantando-me da cadeira. Ela apenas balança a cabeça, chateada. 

— E ter feito o quê? 

— Por que você não pede divórcio? Teríamos direito à casa — digo, incluindo a mim mesma no processo. Apesar de ela não ser a melhor mãe do mundo, tenho consciência que ela fez o melhor que pode para criar as duas filhas. Alice engravidou muito cedo e foi obrigada a amadurecer antes da hora. Sei disso devido às suas fotos durante a gravidez de Polly, quando tinha a minha idade atual. 

— Não é tão simples — responde, e não consigo entender. — Temos um negócio juntos e, apesar de estar tudo no nome dele, eu passei anos me dedicando àquele jornal. 

— Mas você não merece viver assim — refuto, agora perto o suficiente para ver a lágrima solitária escorrer em seu rosto. Sinto meus próprios olhos ardendo, e de repente estamos ambas chorando, abraçadas. 

— É, eu acho que não — murmura em meu ombro, já que ela é apenas alguns centímetros mais alta que eu.  

Mais algumas lágrimas escapam de meus olhos ao pensar na bagunça que minha vida se tornou. Porém, não consigo controlar o pequeno sorriso no canto dos meus lábios, ainda abraçada com minha mãe, sendo esta a primeira vez que somos realmente sinceras uma com a outra.  

— Não importa o que acontecer, mãe, nós estamos juntas nessa — prometo, e minha mãe deposita um beijo no topo de minha cabeça. 

— As Cooper’s sempre estão. 

 

Hey, girl, open the walls 
Play with your dolls 
We'll be a perfect family 
You don't hear me when I say 
Mom, please, wake up, dad's with a slut 

(Dollhouse - Melanie Martinez)

 
 


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Notas finais do capítulo

Tradução:
Ei, garota, abra as paredes
Brinque com suas bonecas
Seremos uma família perfeita
Você não me ouve quando eu digo
Mãe, por favor, acorde, papai está com uma puta

E ai, o que acharam??

Pergunta de hoje: Qual seu filme favorito?
Minha resposta: Acho que meus favoritos são Her e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças... São tão bons, aaaa.