Wonderwall escrita por Alexyanna


Capítulo 5
Dancing Shoes


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Como estão?
Queria agradecer a linda da Sassenach por todos os comentários maravilhosos e por favoritar a fic! Muito obrigadaaaa



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Ronnie resmunga pela milionésima vez, colocando a mão afetada na cabeça. O tamanho de sua ressaca não pode ser mensurado, e imagino que acordar cedo para aula certamente não colaborou com seu estado.

— Anda logo, Ronnie, minha mãe não pode saber que você dormiu aqui — apresso a garota, puxando-a de minha cama. Da mesma forma que Veronica desabou na pilha de travesseiros quando a trouxe até meu quarto ontem a noite ela permaneceu, e fazê-la se mover mostrou-se uma tarefa extremamente complicada. — É sério!

Meu tom bravo deve ter despertado algo nela, que agora caminha em direção à porta, bocejando.

— Você é uma péssima anfitriã, Betty — acusa resmungona, e sua condição é deplorável: ela ainda usa as mesmas roupas da festa de ontem, seus cabelos parecem um ninho de rato e ela está com cara de quem foi atropelada. — Eu sei que estou horrível.

— Aconselho que você tome um bom banho antes de ir para o colégio, princesa — brinco em voz baixa enquanto descemos as escadas, preocupada em não acordar meus pais. Subir estes degraus com uma Veronica bêbada e em silêncio foi, sem dúvidas, a coisa mais difícil que fiz durante toda minha vida.

— Pode deixar — ela assente, e pela primeira vez em horas há um sorriso em seus lábios. — Muito obrigada, Betty, por ter cuidado de mim. Uma Lodge nunca esquece.

— Você faria o mesmo por mim — digo, acreditando de verdade em minhas palavras. Mesmo conhecendo Ronnie há tão pouco tempo, confio nela de uma forma que nunca aconteceu antes com tanta rapidez.

— E não ache que eu esqueci que você esteve com aquele garoto naquele armário apertado. — Ela pisca para mim, enquanto reviro os olhos sentindo minhas bochechas arderem. Ronnie caminha em direção à rua, onde um Uber a está esperando. Retribuo seu aceno, fechando a porta logo em seguida e caminhando de volta para meu quarto.

Suspiro pesadamente enquanto encaro-me no espelho, e nota que, apesar das poucas horas de sono, minhas olheiras diminuíram consideravelmente. Sinto algo mexer-se dentro de mim quando penso que toda essa repentina disposição pode estar relacionada a certos olhos verdes, que não abandonaram minha mente desde o segundo em que nossos lábios se tocaram.

— Até parece que você nunca havia beijado ninguém, Betty — digo desdenhosa para mim mesma, porém rio logo em seguida, pescando uma calça jeans e uma blusa qualquer dentro da cômoda. Bem, certamente nunca beijei ninguém daquela forma, penso, maliciosamente.

Dou um pulo quando alguém bate à minha porta, anunciando que não estou mais sozinha com meus pensamentos pecaminosos.

— Você vai se atrasar, Betty! — A voz de minha mãe ecoa do lado de fora da porta, e ouço seus passos na escada. Foi por pouco que ela não pegou Veronica em meu quarto, o que resultaria em uma briga desastrosa.

— Já vou! — grito em resposta, vestindo as peças de roupa e prendendo meu cabelo.

— Soube que hoje são as audições para as River Vixens — minha mãe diz, despretensiosa. Reviro os olhos à sua menção nada delicada aos testes para o grupo de líderes de torcidas, o qual Polly costumava liderar. É claro que devo continuar seu legado.

— Eu nunca consegui entrar, mãe — digo, pegando um pouco de café fumegante. O calor queima minha língua, e praguejo baixinho.

— Sua amiga Lodge parece o tipo que vai entrar, você poderia aproveitar a companhia dela no teste. — Olho minha mãe pelo canto dos olhos, assustada. Será que ela sabe que Ronnie passou a noite aqui? Parece que sim, já que não consigo pensar em outra forma dela saber que somos amigas. Não sei ao certo o que ela pensa sobre isso, já que ela aparenta estar bem calma dispondo os pratos sob a bancada. Obviamente ela não sabe que estávamos em uma festa.

— Eu prometo que vou tentar — respondo, sugando mais um gole do líquido escuro.

— Bom dia, queridas! — Papai adentra a cozinha, dando um beijo no topo de minha cabeça e depositando um beijo rápido nos lábios de minha mãe. — Precisa de carona para ir para escola, Betty?

— Não, obrigada — recuso, estranhando seu bom humor. — Eu vou com Kevin.

Hal apenas sorri, servindo-se de café. Pergunto-me o motivo dele estar inesperadamente feliz, e faço uma careta ao pensar nele e em minha mãe fazendo sexo. Fico aliviada ao ouvir a campainha anunciando a chegada de Kevin, obrigando-me a livrar meu cérebro destes pensamentos horríveis.

— Tchau! — despeço-me de meus pais, agarrando minha mochila que havia deixado no sofá e caminho até a porta.

Kevin está claramente de ressaca, e os óculos escuros que ele usa denunciam isso. Ele está com um cachecol preto ao redor do pescoço, mesmo estando fazendo um sol agradável. Acho que seus momentos com o Serpente foram extremamente intensos.

— Vejo que sua noite foi proveitosa — acuso, rindo quando ele abaixa os óculos para me lançar uma piscadela com seus olhos avermelhados. — Então, qual o nome dele?

— Joaquin — Kevin responde com um sorriso enquanto avançamos pela rua vazia. — Ele é da gangue dos Southside Serpents.

— Eu soube — digo, misteriosa. Pergunto-me se alguém disse a ele sobre meu encontro com Jughead. Suas palavras seguintes confirmam que sim.

— Jughead beija bem? — Olho atravessado para Kev, que sorri malicioso em minha direção. Sinto minhas bochechas corarem ao lembrar de minhas pernas ao redor dos quadris do Serpente enquanto ele beijava meu pescoço. — Pelo visto sim.

— Não sei como vou encará-lo hoje — digo amedrontada, passando as mãos nervosamente pelos meus cabelos presos.

— Você não precisa encará-lo, apenas beijá-lo. — Dou um tapa em seu ombro, rindo junto com ele enquanto percorremos o resto do caminho com Kev me dando detalhes sórdidos demais para meu gosto sobre sua noite com Joaquin.

Assisto todas as aulas da parte da manhã tomando mais anotações que o normal, canalizando minha ansiedade para algo produtivo, como os estudos. Os professores ficaram ainda mais satisfeitos com essa minha performance. Quando o sinal do almoço toca, avanço mais rápido que o aconselhado porta a fora, desesperada para encontrar um determinado garoto que não vi durante toda a manhã.

Ao adentrar no refeitório lotado, ouço diversos murmúrios que envolvem o nome de Jughead, e por um momento sinto meu coração acelerar com medo de tais cochichos envolverem meu momento quente com ele dentro do armário da festa de ontem á noite. Contudo, nossos beijos não são o tópico das conversas.

— Você soube? — Veronica me recepciona na mesa com essa pergunta, e imediatamente sei que o que vem a seguir não pode ser bom. — O pai de Jughead foi preso ontem à noite, provavelmente enquanto estávamos no Reggie, por tráfico de drogas.

Arregalo os olhos, desejando que as conversas estivessem referindo-se ao nosso beijo, e não à prisão de FP Jones. Meu Deus, é por isso que Jughead não estava nas aulas, e não porque ele estava tentando me evitar! Sinto-me extremamente egocêntrica por ter pensando que sua ausência se tratava sobre mim, e sento-me derrotada na cadeira ao lado de Kevin.

— Isso é uma merda — Kevin comenta, chateado. Ele nunca foi amigo de Jones, porém eles sempre se deram bem nas aulas que foram obrigados a fazerem trabalhos em dupla. Principalmente porque Jughead é extremamente inteligente, apesar de não estar preocupado em agradar os professores. Tenho certeza que se ele quisesse concorreria ao melhor da turma comigo com facilidade.

— Vocês acham que eu deveria tentar falar com ele? — questiono, pondo uma colherada da sopa sem gosto na boca.

— Acho que sim, ele não parece ter muitos amigos — Ronnie diz, olhando para a mesa em que Archie está sentado com Josie e as Gatinhas, segurando um violão. Fazia tempo que eu não o via segurando o instrumento, e a visão é estranha.

O garoto ruivo parece sentir o peso de nosso olhar e vira a cabeça em direção nossa direção, sustentando o olhar de Veronica. Rapidamente a expressão da garota endurece, e ela se volta para o prato cheio em sua frente enquanto Archie franze os lábios e abaixa a cabeça, parecendo arrependido. Quase sinto dó dele.

— Você não vai mesmo respondê-lo? — pergunto, lembrando-me das dezenas de mensagens que chegaram em seu celular ontem à noite. Ronnie estava bêbada e puta demais para responder.

— Não está em meus planos — responde desdenhosa, parecendo não se importar, muito diferente da expressão desolada que habitava seu rosto ontem à noite naquele sofá. Lanço um olhar para Kevin, que apenas dá de ombros e decido que o melhor a se fazer é mudar de assunto.

— Você vai fazer a audição parar as Vixens? — questiono Ronnie, pensando no que minha mãe me disse de manhã.

— Sim, a gente podia fazer a apresentação juntas! — ela diz, de repente animada. Sorrio, concordando, pensando em mim vestindo um uniforme de líder de torcida. Um uniforme igual ao de Polly. Ugh.

▼△▼

— Betty Cooper! — Cheryl Blossom não parece surpresa ao me ver, e sua expressão é de deleite. Aposto que ela está animadíssima para me ver desconfortável na frente de todas aquelas garotas bonitas, pronta para me recusar, igual nos anos anteriores. Ela sempre foi a primeira a dizer não quando Polly iniciava a votação. — E Veronica Lodge?

O tom interrogativo denota a confusão no rosto bonito da ruiva, que certamente não esperava a garota ao meu lado, extremamente confortável no uniforme apertado e curto. O cumprimento é tão limitado que sinto parte de minha bunda exposta, mas imagino que essa seja a intenção.

— Espero que não se importe — Ronnie sorri, fingindo inocência. É claro que todo mundo lembra do dia que ela mandou Cheryl calar a boca, porém a ruiva retribui o sorriso ácido.

— Podem começar — Blossom ordena, apontado para o meio do ginásio, onde as demais integrantes das Vixen estão aguardando. Há um aparelho de som no canto, e logo uma das amigas de Cheryl dá play em uma música animada.

Sigo os passos sensuais da dança coreografada por Veronica, que treinamos no horário vago após o almoço, sentindo uma surpreendente alegria ao perceber que estou me saindo muito bem. Está óbvio que essa não é a primeira vez que Ronnie faz isso, e ela tem um carisma nato. Finalizamos o último passo, parando uma na frente da outra, e arregalo os olhos quando sinto seus lábios contra os meus. Um beijo certamente não fazia parte do show, e seus lábios macios despedem-se rapidamente dos meus, deixando um vago sabor de morango.

— Beijo lésbico não choca mais desde os anos 90 — Cheryl desdenha, mas as demais garotas parecem terem adorado nossa coreografia. Pela primeira vez em três anos sinto que realmente tenho chances de entrar. As meninas votam rapidamente, e logo Cheryl tem o veredicto. — Betty está no time.

— O quê?! — exclamo, confusa por ela não ter citado Veronica. É claro que isso é uma opinião pessoal da ruiva, que ainda está com ressentida por ter sido humilhada na frente de todo refeitório. — Veronica criou toda a coreografia, o mais justo é que ela entre, não eu!

— Relaxa, Betty, ela sabe, só está puta por eu ter mandado ela calar a boca. — Ronnie sorri maldosa, e algumas meninas soltam murmúrios de surpresa. Vejo o rosto de Cheryl ficar vermelho de raiva.

— Calma, meninas! As duas entraram — Josie, a filha da prefeita, intervém. Sua pele caramelo contrasta perfeitamente com o branco do uniforme, e ela também parece confortável em seu traje. Ela coloca a mão no ombro de Cheryl, sinalizando que precisa de acalmar.

— Perfeito! — Ronnie exclama contente, e permito-me comemorar também. Não acredito que finalmente sou uma líder de torcida! Chupa essa, Polly.

▼△▼

Encaro o trailer envelhecido pelo tempo em minha frente, cogitando se isso é realmente uma boa ideia. O sol já está trilhando seu caminho para o fim do dia, deixando um tom alaranjado no céu. Reúno toda a coragem que encontro e subo as escadas em direção à entrada da casa de Jughead. Segui as instruções que Archie me passou por telefone, e ele se desculpou por não poder me fazer companhia, alegando que faria um teste para participar da Josie e as Gatinhas, o grupo musical mais amado de Riverdale e provavelmente um dos únicos.

 Bato na porta uma, duas, três vezes, mas não obtenho resposta. Estou virando-me para ir embora, derrotada, quando um garoto de cabelos escuros em uma bicicleta baixa e metálica fala comigo.

— Você está procurando Jughead? — pergunta, olhando em direção ao trailer. Concordo com um balanço de cabeça. — Ele está no Whyte Wyrm.

— E onde fica isso? — questiono, pouco familiarizada com o lado sul de Riverdale.

— Siga aquela rua até o final e vire à direita. É na esquina. — ele diz, apontando a rua no final do parque de trailers. O garoto me lança um último olhar estranho, provavelmente questionando-se o motivo de uma garota do norte estar no lado errado da cidade, antes de pedalar sua bicicleta para longe de mim.

Ando pelo caminho que o garoto indicou, a luminosidade do dia quase extinguindo-se. De repente me sinto imensamente burra por estar andando sozinha nesse local estranho, quase à noite. O que eu estava pensando?! Eu provavelmente sou a última pessoa que Jughead deseja ver no momento!, penso, porém noto que cheguei ao meu destino. A fachada é de madeira escura, e há um letreiro preto com uma cobra em neon junto ao nome do local. Há diversas motos estacionadas na frente, e o garoto esqueceu de me dizer o detalhe mais importante sobre esse lugar: é claramente um bar. Um bar que eu não deveria, em hipótese alguma, entrar. Contudo, o faço do mesmo jeito.

O ambiente tem um cheiro característico, e está lotado, apesar de mal ter anoitecido. As luzes são baixas, e consigo ver um palco no fundo que está vazio, com exceção de alguns instrumentos musicais. Led Zeppelin ecoa dos alto falantes no teto, e só consigo ver jaquetas de couro com serpentes que parecem me encarar acusadoramente: eu não deveria estar aqui, na aparente toca do Southside Serpents.

É então que eu o vejo, sentado no balcão de madeira, segurando um copo de bebida de cor âmbar em suas mãos. Ele está em seu traje usual, mas há algo diferente: ele parece incrivelmente ajustado no ambiente, como se esse fosse seu habitat natural, ao contrário da Riverdale High School. Jughead Jones está em seu território, e eu sou a intrusa.

 

Get on your dancing shoes
You sexy little swine
Hoping they're looking for you
Sure you'll be rummaging through

(Dancing Shoes - Arctic Monkeys)


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Notas finais do capítulo

Tradução:
Coloque seus sapatos de dança
Seu brotinho sexy
Esperando que elas estejam esperando por você
Com certeza você vai ficar procurando por aí

E ai, o que acharam? Deixem seus comentários! ♥