O ambiente inteiro cheira a cigarros e bebidas alcoólicas, e há diversos corpos com porcentagens altas de pele à mostra dançando no ritmo da música alta. Consigo ver todos os integrantes do time de futebol, juntamente com as líderes de torcida. Na verdade, quase todos os alunos do meu ano estão aqui.

Dizer que estou deslocada seria um belo eufemismo, tendo em vista que estou no canto da sala desde que entrei aqui, há meia hora. Ronnie e Kev sumiram no instante seguinte que colocamos os pés na sala chique, e não posso culpá-los. Há pessoas realmente interessantes aqui, porém não é como se eu tivesse bolas para iniciar uma conversa com alguém desconhecido.

— Toma, bebe isso aqui. — Veronica aparece segurando dois copos plásticos vermelhos. Examino o conteúdo duvidoso, que sem dúvidas alguma vai me matar uns bons neurônios, mas dou um gole apesar disso. Tem um gosto doce e alcoólico. — Bebe mais!

Obedeço ao incentivo de Ronnie, sorrindo ao notar que ela claramente já tomou vários copos dessa bebida. Ela está em seu habitual traje preto, porém agora mais sensual. Seu cropped preto e saia estão atraindo tantos olhares que me espanta que ela ainda esteja sozinha.

— Cadê o Kevin? — pergunto, não conseguindo encontrá-lo em lugar nenhum. Ao contrário de Ronnie, minha roupa não é tão sensual: apenas um short de cintura alta combinado com um suéter cinza e tênis All Star. Betty Cooper nunca foi conhecida por seu senso de moda.

— Ele está com um serpente — ela diz, rindo maliciosa. Arregalo os olhos, surpresa por integrantes da gangue do sul estarem numa festa do lado norte. Antes que possa controlar minha boca, a pergunta já saiu:

— Jughead está aqui? — Veronica assente com a cabeça, ainda rindo. Sei que ela está pensando no “momento” que eu tive com ele na detenção, e fico grata por ela não falar nada.

— Kevin se deu muito bem com um amigo dele... — Nesse momento Archie Andrews surge em nosso campo de visão parando em nossa frente, mais especificamente na frente de Ronnie.

— Olá — ele cumprimenta em sua voz rouca, olhando para nós duas. — Por que estão aí paradas? Vamos dançar.

Ronnie imediatamente já está me puxando para o meio da sala, e sigo-a resignada. Felizmente sou salva pelo gongo quando Cheryl Blossom chama a atenção de todos, obrigando-nos a parar de dançar e a prestar atenção.

— Eu proponho um jogo — ela diz sorrindo para todos, maravilhosa em seus saltos altíssimos. — Sete minutos no paraíso!

Todo mundo agora solta murmúrios de animação, excitados com a ideia de poderem passar sete minutos trancados em um armário com alguém, torcendo para não pegar nenhuma DST.

Rapidamente alguns jovens sentam-se no chão da sala, e vejo Jughead Jones entre eles. Olho espantada para o garoto, que está com uma camiseta cinza com um enorme S e a jaqueta do Southside Serpents por cima. Ele encontra meu olhar e sorri, cumprimentando-me. Somos amigos agora?

— Senta logo, Cooper. — Ouço a voz autoritária de Cheryl ao meu lado, e noto que sou a única que ainda está em pé ao redor do círculo de pessoas. Olho desconfortável para o carpete escuro, infeliz por ter saído do canto da sala onde estava segura. Em um impulso viro todo o conteúdo do meu copo de plástico garganta a baixo, imaginando que isso me ajudará a enfrentar este jogo estúpido.

— Reggie, gire a garrafa! — Cheryl coordena o jogo, e o garoto obedece com um sorriso que deixa seus olhos puxados ainda menores. A garrafa para em frente a uma garota de cabelos cacheados, que retribui o sorriso do garoto enquanto os demais adolescentes vibram quando eles vão em direção ao armário debaixo da escada.

Todos esperam os sete minutos passarem conversando e bebendo, e limito-me a observar o ambiente. Kevin ainda está desaparecido, e pergunto-me se ele está usando camisinha. Rio com o pensamento, ato que não chama atenção de ninguém. Então todos alterados demais para reparar em comportamentos estranhos.

Archie está visivelmente dando em cima de Ronnie, e ela parece extremamente contente com isso, sorrindo e colocando as mãos em seus braços fortes. Sinto uma pontada de ciúmes, não exatamente por gostar dele — esse sentimento foi embora há alguns anos —, mas por estarem tão entretidos um com o outro que sequer notam o mundo ao seu redor.

Logo Reggie e a menina, Valerie, saem ofegantes do armário com cara de quem aproveitou muito bem os sete minutos. Eles se recusam a voltar para a roda, e arrancam diversos assobios e gritos das pessoas quando sobem as escadas em direção aos quartos.

— Parece que alguém se deu bem. — Chuck, outro garoto do time de futebol, constata malicioso. Ele olha ao redor da roda, e surpreendentemente estaciona os olhos castanhos em mim. — Vamos lá, Betty, gire a garrafa.

Encaro atônita seu sorriso branco, e vejo Ronnie sorrindo encorajadora em minha direção. Todos pararam para assistir em expectativa a garota exemplar fazer algo mundano. Talvez seja o efeito da bebida, ou talvez eu realmente desejasse desesperadamente fazer algo louco, mas me vejo rindo ao tocar o objeto gelado, girando a garrafa em busca da pessoa que ficará trancada comigo em um armário minúsculo por longos quatrocentos e vinte segundos

Observo a garrafa parar de girar gradativamente, e quando ela finalmente para, sinto meu coração quase sair pela boca quando sugo todo o ar que consigo para meus pulmões. A ponta da garrafa aponta para Jughead Jones.

— Isso vai ser interessante. — Chery sorri enquanto obrigo-me a ir em direção a porta branca que protege o armário embaixo da escada do resto do mundo. De repente, sou empurrada pela ruiva para dentro do armário escuro, sentindo um corpo grande esbarrar em minhas costas quando ouço a porta ser trancada. — Aproveitem!

Vejo um Jughead claramente desconfortável revirar os olhos sob a iluminação fraca da lâmpada que pende vagarosamente no teto baixo, voltando-os para me encarar logo em seguida. Sua cabeça quase toca o teto baixo, e só então noto o quão alto ele é. E o quão perigosamente perto ele está de mim.

— E aí, a gente vai se pegar ou não? — Meus olhos se arregalam diante da sua pergunta, e ele ri da minha reação. Fico atordoada com o aroma agradável que emana de seu corpo. — Relaxa, perfeição, eu tô só brincando. — Seus olhos agora passeiam pelas paredes que nos cercam, provavelmente constatando que não iremos sair daqui antes de se passarem os sete minutos. Ele volta seu olhar sob mim novamente, que estou com as bochechas aquecidas, e há malicia em sua voz. — Mas faço qualquer coisa para o tempo passar mais rápido nesta merda.

Encaro sua sobrancelha arqueada em uma sugestão e meu olhar se volta inconscientemente em direção aos seus lábios rosados. Obrigo-me a olhá-lo nos olhos imediatamente, mas ele ostenta um sorriso no canto da boca, tendo notado o destino do meu olhar. Jughead umedece os lábios e seu olhos verdes estão mais escuros que o normal.

— Você é cheirosa — ele murmura, e sinto seu hálito refrescante bater contra meu rosto. Minha respiração está visivelmente alterada agora, e vejo Jughead dar um passo para frente, eliminando o espaço mínimo que havia entre nós.

Sinto o calor de seu corpo próximo ao meu, e encaro novamente seus lábios, mordendo os meus inconscientemente. O ato não passa despercebido pelo garoto em minha frente, que engole em seco enquanto suas pupilas dilatam-se tanto que o verde de seus olhos praticamente desaparece.

— Eu quero te beijar tão fodidamente agora — sua voz não passa de um sussurro rouco quando ele pronuncia a frase que faz com que meu coração pare de bombear sangue por um minuto e que um arrepio percorra toda extensão do meu corpo. Em um segundo de pura insanidade, digo as palavras seguintes:

— Por que você não beija?

Vejo um sorriso mínimo surgir em seu rosto antes de sentir seus lábios macios contra os meus, surpreendentemente gentis, enquanto sua mão direita mergulha delicadamente em minha nuca. A surpresa dura por apenas um momento antes que eu coloque meus braços ao redor de seu pescoço, puxando-o contra mim e retribuindo o beijo. Sinto sua mão esquerda firme em minha cintura, apertando-me contra ele enquanto o beijo torna-se mais exasperado. Sua língua roça em meus lábios, solicitando a passagem que dou prontamente, e ouço um gemido mínimo escapar de sua garganta quando nossas línguas se encontram. O som me enlouquece, e sinto minhas costas baterem contra a parede do armário enquanto sua mão percorre minhas coxas nuas, puxando minha perna para cima.

Seus lábios deixam os meus enquanto Jughead deixa um rastro de beijos em minha mandíbula, e um gemido baixo escapa de meus lábios quando sua boca alcança o ponto sensível em meu pescoço. Minha reação parece estimulá-lo ainda mais, que continua descendo os beijos para meu colo enquanto eu jogo sua toca cinza em algum lugar do chão, agarrando seus cabelos desesperadamente. Os fios são ainda mais macios do que aparentam, e fico deliciosamente surpresa ao descobrir isso.

Jughead puxa minha outra coxa para cima, incentivando-me a abraçar seus quadris com minhas pernas enquanto ele me sustenta ao seu redor, voltando seus lábios ávidos em busca dos meus. Meu deus, como isso é fodidamente bom, suspiro entre o beijo, agarrando-me ainda mais ao seu corpo, puxado seu cabelo quando ele mordisca meu lábio inferior.

— O tempo acabou, otários. — A voz de Sheryl Blossom é como um balde de água fria sobre nós, e Jughead separa seus lábios dos meus, resmungando um palavrão. Suas mãos soltam minhas coxas lentamente, e coloco os pés no chão cambaleante, feliz por seus braços ainda estarem em minha cintura.

Ele me encara por um segundo antes de depositar um beijo casto em meus lábios ofegantes, e sinto o volume de sua calça contra meu abdômen. Ele faz uma careta, também consciente do estado de seu corpo, e posso dizer que eu não estou muito diferente dele.

Tento desesperadamente dar um jeito em meus cabelos, que têm diversas mechas rebeldes fora do habitual rabo de cavalo, enquanto Jughead abaixa-se em busca de sua touca. Observo-o, perguntando-me como isso foi acontecer. Não consigo impedir o sorriso que se forma em meus lábios avermelhados.

— Bem, isso foi intenso — concluo, puxando meu suéter para baixo.

— Não posso discordar. — Jughead diz, ajeitando a touca em sua cabeça enquanto me encara por um momento. Então ele segura a maçaneta da pequena porta e pergunta. — Preparada?

— Não — rio, mas ele abre a porta mesmo assim, revelando o mundo que havia esquecido que nos rodeava. Há diversos olhares curiosos em nossa direção, que se tornam maliciosos no momento em que veem o estado calamitoso de nossas aparências.

— Quem diria, Betty Cooper e Jughead Jones! — Cheryl sorri, e sinto-me extremamente constrangida. A vontade de ir embora apossa-se de mim de forma esmagadora, e procuro desesperadamente Veronica pela sala mal iluminada.

Localizo sua figura frágil sentada no sofá, com lágrimas ameaçando cair dos olhos castanhos, e imediatamente corro em sua direção. Ela está sozinha, e pergunto-me onde Archie foi. Por quanto tempo fiquei dentro daquele armário?

— Ronnie, o que aconteceu?! — pergunto preocupada, agachando-me em sua frente para segurar suas mãos.

— Ele é um cafajeste igual a todos, Betty. — Há raiva em sua voz, e desconfio que ela esteja falando de Archie. Noto o ruivo no canto oposto, na cozinha, saindo de um cubículo que só pode ser a despensa junto a uma loira alta. Acredito que Reggie e eu não fomos os únicos que visitaram o paraíso hoje.

— Vem, vamos para casa — digo em uma voz amorosa, incentivando Veronica a levantar do sofá. Ela cambaleia, e me pergunto o quanto de álcool ela ingeriu hoje. Viro-me para trás uma última vez, vasculhando o ambiente em busca de uma certa touca cinza, mas não encontro nada. Jughead Jones desapareceu tão rápido quanto surgiu.

Secrets I have held in my heart
Are harder to hide than I thought
Maybe I just wanna be yours

(Wanna Be Yours - Arctic Monkeys)