Reboot escrita por Dolmayan


Capítulo 6
Ilha de páscoa


Notas iniciais do capítulo

white people problems



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A primeira coisa que Eva fez ao sair do laboratório de testes foi requisitar a construção de novos modelos como ela. Andrew discutiu diversas vezes com a android, mas sentiu-se idiota em todos os seus próprios argumentos, pois fora ele quem a fez muito mais inteligente que um ser humano, então era irracional apontar erros nos raciocínios dela. Talvez, o fato dela ter o nome de sua ex-esposa tivesse feito-o mais propenso a discutir.

O mundo todo aguardava a decisão de Eva sobre como o ser humano seria salvo. Exceto pelos lugares que ninguém se importava muito em salvar, pois estes estavam mais preocupados em comer um mínimo todos os dias e não morrer subnutrido dos nutrientes normalmente presentes em alimentos polinizados pelas abelhas. Ninguém ali assistia TV, e quem assistia, preferia ver programas divertidos.

Abelhas, aliás, não estavam extintas em 2044. Elas estavam monopolizadas. Eram caríssimas e movimentavam a economia dos países quentes e úmidos onde era possível criá-las. A Europa havia tentado construir estufas capazes de abrigar os animais, porém foram barrados pela ONU - num ato inédito de repressão ao velho continente - sob a alegação de que elas eram preciosas demais para depender do bom controle de temperatura de uma estufa. Ainda que tal estufa fosse regulada por algoritmos, e não humanos. Afinal, o clima em 2044 era absolutamente impossível de controlar.

 

Um android para cada país, no mínimo” foi a instrução de Eva.

Parecia demais. E era. Eva custou 50 milhões de dólares para ser construída em sua versão atual - e 200 mil dólares na versão anterior. Para construir quase duzentos dela seriam necessários mais de 40 bilhões de dólares, levando em consideração um mundo ideal onde cada um desses países não fosse precisar reinventar completamente sua estrutura tecnológica para ser capaz de construir seu próprio android. E também ignorando a possibilidade de desvios de verba, atrasos, erros, e gente enriquecendo ilegalmente.

Mas essa era a lógica de Eva. Ela não apenas mandava, ela explicava como fazer.

Um banco mundial tinha que ser criado. Nesse banco, todas as nações enviariam uma porcentagem fixa de seus rendimentos para ser depositada. Cada nação contribuía com um valor diferente, de acordo com quanto dispunha. Nações que se recusassem estariam fora do plano de salvação global - e Eva deixou muito claro que seu plano exigia participação, e que pessoas não seriam salvas sem terem colaborado só porque estão no mesmo planeta que as outras.

Também deixou claro que, no caso de uma nação se recusar a enviar rendimentos, seus cidadãos podiam enviar uma porcentagem de seu dinheiro pessoal e assim colaborar e participar do plano de salvação global ainda que seu líder de Estado fosse um bosta.

Porém - e Andrew estava certo que essa parte era apenas por vingança - avisou que líderes que se recusassem a enviar dinheiro público ao Banco, deixando seu país de fora, não poderiam enviar seu dinheiro pessoal - para salvar seu próprio rabo e deixar seu povo morrer.

Ninguém entendeu muito bem, mas como Eva era o cérebro mais inteligente do planeta Terra atualmente, a ONU decidiu criar o Banco e enviar emissários para avisar todas as 193 nações do mundo sobre o plano - seja ele qual fosse.

Como os Estados Unidos haviam sido os responsáveis pela aprovação do projeto, tudo havia se tornado rapidamente um tudo ou nada midiático e explosivo. Pessoas que passavam seus dias inteiros pensando em séries e besteiras da internet começaram a finalmente perceber que não iam morrer de velhice como seus pais e avós. Gente que tinha o que comer passou a olhar para o supermercado e perceber que, apesar do aumento dos preços ainda não lhe fazer passar fome, ele era contínuo. E algumas pessoas que já diminuíam seus hábitos porque estes não mais cabiam no orçamento ficaram extremamente assustadas com a possibilidade de realmente passar por um perrengue.

E, claro, muita gente começou a morrer. Mas muita gente mesmo. E nada disso era noticiado antes em nome da estabilidade social, mas com a criação de Eva, o assunto da extinção das abelhas e - consequentemente - dos seres humanos, passou a ser manchete em todos os jornais. Ela virara a única esperança de um mundo no auge de seu desenvolvimento tecnológico. Então, para cada notícia sobre a criação do Banco Mundial de Salvação (o nome foi escolhido pelo impacto), outras duas notícias eram exibidas sobre pessoas passando fome e nações entrando em guerras civis. Mesmo lugares que nunca tinham visto grandes movimentações violentas, como o Uruguai, viram seus habitantes tomarem as ruas contra a inflação. O Brasil já vinha de uma longa história de conflitos nas ruas, então por lá os habitantes ficaram até bastante felizes de poderem temer pela extinção do ser humano em vez do temor já muito entediante de ser morto e torturado pelo governo.

De todos os países, apenas 18 decidiram não participar do Banco Mundial da Salvação. 12 deles por motivos religiosos. Seus líderes estavam convencidos que tudo aquilo era o plano de seu deus e deviam seguir à risca. Os outros 6 eram países ditatoriais, e seus líderes não queriam ninguém mandando neles, não senhor.

Até a contagem do dinheiro enviado foi um sucesso midiático. A Times Square tinha um enorme display que informava, em tempo real, o dinheiro armazenado no Banco Mundial da Salvação. Quando a cota foi atingida, uma sirene ecoou e as pessoas celebraram como se fosse reveillon. Nunca havia se visto no mundo uma organização tão grande atuando sem defesa egoísta de sua própria nação, num esforço global contra um inimigo comum. Mas Eva não atribuía a si mesma tal vitória, e sim à mídia, que - conforme ela recomendou - tratou do assunto como um Big Brother World. Todos os dias líderes eram entrevistados sobre suas participações, nações competiam pra ver quem doava mais, comerciais mostravam pessoas brancas dizendo “eu colaboro com a salvação” e sorrindo, seguido da informação de como doar para o Banco.

Claro que não foi fácil para muitos países. Para os mais ricos foi simples. A recuperação do dinheiro viria logo. Mas alguns países, mesmo lidando com porcentagens, sofreriam para recuperar tal dinheiro. Esses lugares incentivavam mais a doação voluntária e pessoal do que a do governo, que se limitou ao mínimo exigido para a participação. Mais gente morreu, mas foram vistos como mártires da salvação. Então tudo bem.

Era hora de botar o dinheiro em prática.

Quando a cota necessária para criar os androids foi atingida, Eva pediu que os países participantes enviassem equipes que iniciariam construção de uma fábrica de androids. Mais de cinco mil pessoas foram enviadas. Eva dispensou quase todas elas, ficando apenas com quatrocentos funcionários. A primeira leva limitou-se a criar dez androids e demorou quatro meses. Esses dez androids foram postos para trabalhar na fábrica, permitindo que mais quarenta funcionários fossem dispensados. O segundo lote foi mais eficiente. Produziu trinta androids em dois meses. Num total de quarenta, outros 150 funcionários homo sapiens sapiens foram substituídos. A terceira leva tornou a presença de homens totalmente obsoleta e foi necessário só mais um lote para atingir o número total de androids em uma semana.

 

Não é preciso nem dizer que a progressão logarítmica de eficiência fez grupos inteiros de cientistas humanos - e alguns conspiradores também - olharem com terror para a possibilidade da concretização dos maiores medos do século 21: a dominação do homem pelas máquinas. Ao contrário do que pregaria um Karl Marx se fosse vivo, a maior parte dos homens importantes do mundo não queria criar uma sociedade com tempo livre pra pensar demais enquanto robôs faziam o trabalho inumano. E claro que havia o medo que tudo virasse uma distopia em que humanos brancos eram tratados como haviam tratado humanos negros até um tempo atrás.

 

Mas nada disso aconteceria. Eva, e todos os androids criados, tinha consciência, e não apenas lógica. Era esse o trunfo de Andrew Eagle. E era isso que ninguém mais entendia. Não havia por quê temer que ela chegasse à conclusão de que era melhor exterminar a raça humana, porque ela já havia chegado a essa conclusão. A maior parte do mundo tinha, mesmo que numa forma de pensamento irritado e despretensioso enquanto vê um vídeo sobre outra cidade submersa devido ao aumento do nível dos oceanos. E, assim como os seres humanos que pensavam da mesma forma, ela decidiu não fazê-lo. Seu plano era outro.

Todos esperavam o início dele, sem saber que já havia começado. A cooperação global antes mesmo da revelação de sua estratégia era parte do plano. E havia dado certo.

 

No dia 2 de Setembro de 2045 - cem anos após o fim da segunda guerra mundial, só porque soaria bem no anúncio de  TV - Eva convocou os membros de todos os países participantes no plano de salvação para uma reunião totalmente televisionada. Ela insistiu que todos tivessem acesso a tudo que seria dito. O encontro se deu num enorme auditório. De um lado, homens engravatados - e uma dúzia de mulheres - sentavam-se inquietos à frente de seus microfones fixos nas mesas. Do outro, cerca de duzentos androids, entre feições e características femininas e masculinas, algumas neutras, outros simplesmente desprovidos de aspecto de qualquer gênero, mantinham-se sentados, despreocupados, aguardando que Eva entrasse na sala. A comitiva de imprensa ficava do lado de fora, traduzindo e reproduzindo as imagens de um único sistema de câmeras.

Andrew era o único convidado que não era líder de país nenhum. Ele até se vestia com um terno azul marinho, coisa que pouco havia feito na vida. E observava tudo. Não mantinha a cabeça baixa. Sua postura estava ereta. Seus cabelos cacheados, penteados para trás e amarrados. Seu rosto estava limpo, seus olhos, sem olheiras, e seus lábios sorriam. Ele também não estava sentado em lugar algum. Estava próximo da porta, de pé, como se fosse um segurança. Naquela postura parecia alguns centímetros mais alto. E pareceu empinar ainda mais o peito quando a porta se abriu e Eva entrou.

Eva havia mudado bastante desde o dia de sua criação. Ela havia decidido pintar o próprio cabelo de ruivo. Também desenvolveu um componente para si mesma que mudava a cor de sua pele. Descobriu bastante cedo que sua coloração era extremamente importante em relações diplomáticas, e portanto, alterava-a levemente (não o suficiente para tornar-se manchete de jornal) de acordo com o líder que ia visitar. Sempre tinha reações melhores quando aparentava ser tão próxima do padrão daquele país quanto possível.

Exceto no Brasil. No Brasil, funcionava usar o padrão europeu.

Além da pele e do cabelo, ela havia mudado bastante seu vestuário. Andrew a levou para fazer compras num curto intervalo em que ela não estava ocupada fazendo cálculos na fábrica de androids do Vale do Silício. Ela escolhera a combinação de cores mais aleatória que conseguiu. E hoje, na reunião, teimava em usar uma gravata verde limão com um terninho caqui.

As câmeras todas apontaram para Eva. O mundo assistia. Traduções simultâneas eram feitas em mais de 40 idiomas.

— Os seres humanos, até hoje, tiveram orgulho em se chamarem de seres racionais no planeta Terra - disse Eva, com sua voz reverberando pela sala e por todo o mundo -, mas salvo exceções, a racionalidade vai até um limite muito bem definido. Vocês conseguem organizar a economia global apenas para manter o lucro, não para evitar perdas. Conseguem prever desastres naturais, mas fazem pouco esforço para evitá-los. E calculam as possibilidades de extinção de sua espécie, mas seguem rumando em direção a ela enquanto houver uma forma de ganhar com isso - ela acusou.

Andrew estava ligeiramente preocupado com os rumos daquele discurso. Sabia que, agora, os líderes que haviam doado dinheiro à causa estavam suando frio com a possibilidade daquilo tudo ser um embuste.

— Na Ilha de Páscoa, seus habitantes usaram todas as árvores que dispunham para transportar pedras para construir suas gigantescas estátuas. As estátuas tinham valor para eles, as árvores não. Quando todas as árvores foram cortadas e tudo que tinham eram as estátuas, de repente, as estátuas tinham valor nenhum, e as árvores sim. A população próspera foi basicamente extinta. E as estátuas ainda estão lá. É isso que vai acontecer a todos vocês - seus prédios, seus carros, suas pontes, suas barragens, suas fábricas, tudo isso vai permanecer aqui, como registro do que os levou à ruína.

Andrew conseguia ver alguns rostos ficando vermelhos. O suor da testa do líder da Alemanha começou a borbulhar.

— E, depois disso, quem ficar, e serão poucos, irá se perguntar o mesmo que os europeus se perguntaram quando entenderam qual foi o fim da Ilha de Páscoa: como eles puderam ser tão burros?

O presidente Sérvio se levantou naquele momento e arremessou sua caneta na mesa, extremamente irritado.

— É pra isso que estamos aqui? Pra sermos ofendidos? É bom vocês darem um jeito de devolver o dinheiro dos cidadãos Sérvios!

— E esse será o destino de vocês caso se recusem a cooperar no plano que desenvolvemos para salvar a humanidade - disse Eva, ignorando o homem completamente.

— Você tem um plano então? - questionou o primeiro ministro Canadense.

— Sim. Todos os passos do plano estão calculados em seus mínimos detalhes. O Banco da Salvação irá continuar recebendo dinheiro. E será muito mais do que um bilhão e pouco.

A sala explodiu em vozes. O bando de homens engravatados gritava, espumava, apontava dedos. Alguns androids se levantaram para conter um homem que ameaçava avançar para o púlpito.

— Senhores - gritou Eva, fazendo com que a sala se assustasse com o tom de sua voz -. Silêncio. Ajam como seres racionais, se puderem.

O salão se aquietou. Quem estava de pé, se sentou, exceto por Andrew, que tremia os joelhos mas mantinha-se ereto.

— Estou propondo salvar a vida de vocês e estou pedindo dinheiro para isso. A reação que tenho é exatamente o motivo pelo qual vocês estão condenados à aniquilação. O dinheiro, esses dados inventados, pouco importante para o planeta, são suas estátuas moai. Tudo que vocês querem é ter mais e mais, e destruíram tudo que é real para conseguir. E mesmo agora, quando as árvores estão acabando, vocês seguem cortando árvores para construir moai. E ficam irracionais quando se fala em parar de construir estátuas. Pessoas já estão morrendo. Cidades já foram submersas. Vocês têm cinquenta anos de existência antes que a humanidade esteja completamente condenada, antes do ponto sem retorno. E estão aqui gritando porque não querem doar dinheiro para salvar a vocês mesmos. Não é preciso ser uma inteligência artificial pra compreender a burrice disso tudo. Seus cidadãos, assistindo agora, já compreenderam. É pra eles que a resposta tem que ir.

O Primeiro Ministro britânico secou o suor de sua testa e arrumou o terno - um tanto apertado ao redor de seu pescoço gordo (de quem não sofreu ainda com a falta de alimento).

— Seu plano, robôzinha. Diga seu plano e acalme-nos.

Eva encarou o homem com tanta repulsa que todo aquele sentimento bastaria para que passasse em qualquer teste de Turing.

— Os androids que construímos irão auxiliá-los durante a execução do plano. Todos eles têm habilidades semelhantes às minhas, porém foram equipados com conhecimento especial na cultura de seus países, para melhor ajudá-los e compreendê-los. Esses androids irão prestar ajuda na área econômica. Irão garantir que, no período de preparo para execução do plano, o menor número de pessoas morra. Irão administrar recursos, porém respeitando a autoridade local. Vocês, no caso. Vejam-nos como consultores ou conselheiros. E o motivo disso é que a salvação só virá dentro de quarenta anos.

— Quarenta anos!? - bradou o líder Mexicano -. Você mesma disse que temos apenas 50 anos antes de não ter mais volta!

— Rumando nos passos que rumam hoje, 50 anos. Com o auxílio dos androids, a expectativa de vida aumenta para aproximadamente 100 anos - ela explicou, calmamente -. De qualquer forma, a ideia é que dentro de quarenta anos, o plano seja executado.

— E qual é o plano, robozinha?

Eva não voltou-se ao líder britânico. Ao invés disso, voltou-se ao painél entre as duas alas do salão. Cruzou os braços quando a imagem se alterou para mostrar uma gigantesca nave flutuando no espaço.

— Sair do planeta? - questionou o presidente americano.

— Considerarei essa sua primeira fala inteligente, senhor Hilton - disse Eva, sem mudar o tom de voz. Ignorou a risada do líder russo -. Trata-se de um passo extremamente longo para a humanidade. Sem o auxílio de uma IA, jamais seriam capazes. O nível de complexidade dessa empreitada exigiria ao menos um século a vocês, considerando o ponto que estão hoje, e vocês nunca teriam um século sem as IAs. Mesmo para nós será necessário quarenta anos. Será preciso minerar asteróides em enormes proporções. Algumas tecnologias são apenas teoria pra vocês. Nós iremos desenvolvê-las. As naves serão construídas fora do planeta, é claro.

— Deve estar achando que somos idiotas. Está propondo que abandonemos o navio? - reclamou o presidente da França.

— Vocês destruíram o navio e ele está afundando. Podem pegar botes salva-vidas ou afogarem. Eu apenas faço os cálculos e mostro a solução. A decisão ainda é de vocês.

— Sua metáfora é estúpida - acusou o presidente dos Estados Unidos -. Esse bote salva-vidas que sugere é inviável e o oceano, pela sua lógica, é infinito e sem terra firme.

— Errado - disse Eva. A imagem no telão mudou e passou a mostrar uma série de gráficos de porções de elementos químicos -. Já fiz uma varredura nas vizinhanças e encontrei um planeta com quantidades aceitáveis de unidades básicas para recebê-los. É o planeta com maiores chances de abrigar vida humana com menor custo de terraformação. Os botes também não são inviáveis, senhor. Todos os cálculos para construí-los já foram feitos e é possível, desde que obedeçam às IA que os auxiliará.

— Você disse que os androids respeitariam a autoridade local. Não que teríamos de obedecê-los.

Andrew não podia ver o rosto de Eva de onde estava, mas podia adivinhar que ela havia rangido os dentes enquanto se acalmava.

— Não obedeçam, então - ela disse, alterando a imagem do telão para uma cena de calamidade no planeta terra. Pessoas morriam no meio da rua, empilhadas -. Esse é o futuro que querem pra vocês?

— Pois é claro que não!

— Péssimo então que sejam imagens da Índia hoje pela manhã.

A sala se calou. Eva entendeu aquilo como colaboração aceita.

— Nem todos sairão do planeta. Não é possível construir naves para todos os habitantes. Isso não significa que uma parte morrerá. Pelo contrário. Quem ficar na Terra terá condições de continuar vivendo. Com metade da população, o alimento deverá ser suficiente, e as soluções paliativas desenvolvidas nesse período de 40 anos serão suficientes para manter a população restante por tempo ilimitado. A qualidade de vida irá retornar ao patamar de décadas atrás, com toda a tecnologia de hoje. Quem sair do planeta também terá sua sobrevivência garantida. As naves são auto suficientes e foram projetadas para pensar no bem estar físico e psicológico dos seres humanos. Seja pra quem sair do planeta, seja para quem nascer dentro da nave.

— Nascer? - perguntou o presidente do Brasil.

— O planeta onde iremos ancorar fica a cinco mil anos luz da Terra. As naves foram planejadas para atingirem velocidade referente a 50% da velocidade da luz. Isso significa que o percurso irá durar dez mil anos. E, por esse motivo, sim, muita gente vai nascer e morrer nas naves.

Obviamente, toda aquela história era absurda para a maior parte dos que ali estavam. Quem já tinha caído na real começava a se indagar formas de ganhar com isso. O presidente da China estava fazendo cálculos e passando mensagens em seu celular para abrir uma empresa de mineração de asteróides. O Russo estava pensando em onde ia construir sua base militar aeroespacial.

Porque o ser humano não aprende nem na hora da morte.

— A história de nossa civilização tem dez mil anos - disse o Primeiro Ministro do Canadá -. O que propõe é que dez mil anos de civilização, o equivalente ao que somos hoje, se passem dentro de naves viajando pelo espaço. Que tipo de consequências para a humanidade em si isso traria? O que seremos quando chegarmos a esse planeta? Se a comparação  é gigantesca entre povos mesopotâmicos com escrita cuneiforme e nós, com comunidades globais e escrita digital, o que teremos nos tornado após dez mil anos no espaço?

— Melhores, espero eu.


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Notas finais do capítulo

bora sair desse planeta



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