Mãe Solteira escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 3
Quero café!


Notas iniciais do capítulo

Próximo capítulo provavelmente dia 20 de fevereiro.
Café Blue Mountain não é alucinógeno.
Apostas ainda abertas:
Quem é o pai do Félix?
O que faz Nathalie esconder o filho?
Félix sabe a verdade?



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Não eram nem cinco da manhã quando o alarme despertador começou a soar no quarto. Nathalie buscou rapidamente o celular na cômoda, tateando todo o móvel, até que apanhou o aparelhou e o desativou antes que Félix acordasse.

Mais uma vez, o rapaz havia dormido com ela. Tal fato não era nenhuma surpresa ou algo fora do normal: desde sempre eles dormiam juntos, Félix não ser uma criança não mudava o fato de que gostava de ficar com a mãe, assim como Nathalie ter que acordar as quatro e cinquenta não mudava o fato de gostar de ficar com o filho.

Com todo o cuidado possível, ela se levantou e começou a aprontar-se para o trabalho. Sua rotina matutina não incluía nada de muito sofisticado, apenas um banho, café da manhã, uma maquiagem rápida e grampos segurando o cabelo.

Félix estar em casa só acrescentavam alguns minutos de demora para ela sair, minutos estes que ela gastava se despedindo do filho. Seria fácil se acostumar com uma “nova” rotina durante as férias dele, ao menos mais fácil do que acostumar a tropeçar em Plagg várias e várias vezes pela manhã desde que o bichano chegara lá.

O trajeto de quase quarenta minutos até a Mansão Agreste era silencioso. Nathalie nunca puxava assunto com os motoristas de taxi, a única coisa que ela falava era “Desligue o GPS, pegue a A-13 ou A-14, eu aviso quando precisar mudar a rota”. Ela passava o resto da viagem ocupada, arrumando e reorganizando a agenda de Gabriel e Adrien.

Normalmente, ela chegava alguns minutos antes das seis – jamais atrasada. Tal fato fez com que ela recebesse as chaves do portão na primeira semana. Eram raros os empregados que não se atrasavam simplesmente para evitarem ver Gabriel logo pela manhã.

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De todos os outros dias, aquela segunda-feira era diferente: Gabriel Agreste fez questão de esperar Nathalie logo hall.

Ele estava ansioso demais para colocar seu plano maquiavélico em ação. Todas as etapas escritas em um lindo papel acinzentado de gramatura 120, caligrafia rebuscada, tinta preta com adornos dourados; pequenos quadradinhos desempenhando a função de marcadores de progresso para cada um dos itens de sua lista de maldades, sendo os primeiros deles:

“Livre-se de todo o pó de café da mansão”.

“Receba Nathalie, avisando-a que não terá mais café”.

O homem sorriu de canto, ouvindo a porta ser aberta. Ele já havia riscado o primeiro quadradinho e agora estava prestes a riscar o segundo.

Com total ausência de delicadeza, Nathalie entrou na mansão parecendo um urso de circo: tentava equilibrar a bolsa, carteira, celular e chaves, tudo isso enquanto mandava uma mensagem de áudio.

— ... eu já cheguei. Me avisa se precisar de algo! — e, com a mensagem gravada, ela enviou. Nathalie estava tão ocupada tentando desgarrar a chave da fechadura e não deixar nada cair que nem havia notado que era observada.

— Vejo perfeitamente que você chegou, Nathalie. Eu realmente preciso avisar algo a você — Gabriel usou do seu melhor tom apático, quando na verdade, estava se corroendo de raiva por dentro.

Suas suspeitas estavam comprovadas.

Era isso.

Nathalie tinha um namorado!

Ela nunca, NUNCA, mandava mensagens de áudio. O que levaria ela avisar alguém que já tinha chego onde trabalhava, se não fosse a necessidade de compartilhar sua vida com um amante!? Não tinha nada relacionado com ela estar com as mãos ocupadas! Aquilo era culpa da paixonite!

— Senhor Agreste! — a assistente tentou controlar o tom, deixando tudo o que segurava escorregar entre os dedos — Bom dia... — ela falou da forma mais indiferente possível enquanto recolhia as coisas, colocando sua habitual máscara de frieza antes de continuar — O que precisa me avisar?

— Não temos café.

— Tenho certeza de que consigo lidar com a cafeteira sem o auxílio do cozinheiro — ela murmurou sem dar importância, não sofria das mesmas incapacidades de Gabriel.

— Literalmente, não temos café. Nenhum. Zero. Nulo — ele suspirou — Sabe que eu não posso começar meu dia sem um Blue Mountain.

— Cuidarei disso em alguns minutos — novamente, ela não deu importância.

— Ótimo! — foi preciso muito autocontrole para que ele não começasse a gargalhar agora mesmo — Estarei esperando no ateliê — E, dito isto, Gabriel caminhou até seu local de trabalho e fechou as portas, riscando o segundo quadrado de sua lista.

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Seis e dez da manhã.

O guarda-costas estava pronto para começar o seu dia cansativo de trabalho, o qual se resumiria em ficar de pé, em frente a porta do quarto de Adrien. Não havia muito o que fazer, já que o garoto estava de férias no colégio e, provavelmente, nas aulas extras.

Nenhuma tarefa tão cansativa, ou melhor: entediante, poderia começar sem um bom e forte café. Bastava uma caneca pela manhã e uma pela tarde, isso mantinha o grandalhão longe do sono. Porém, assim que entrou na cozinha, ele julgou que não seria mais necessário o seu precioso café preto para despertar o sono.

Lá estava ela: a mafiosa russa que quis deixar a vida perigosa para trás e cuidar do filho; a mulher que estava enganando os Agreste e desviando toda a fortuna; a assistente perigosa que vasculhava os armários como uma louca... por que Nathalie estava vasculhando os armários como uma louca? Uma bomba havia sido implantada lá? Iam todos morrer!?

— Parado ai! — ela mandou, antes que Gorila pudesse voltar para a segurança de seu cubículo denominado quarto — O que você sabe sobre pó de café?

— Er... — o grandalhão engoliu um pouco de ar e tentou pensar em algo. Ele precisava incluir roubo de pó de café em sua teoria? Como Nathalie conseguia abranger tantas áreas diferentes do crime? — Não sei de absolutamente nada. Não vi nada. Não ouvi nada.

— Mas que... — ela murmurou, interrompendo suas buscas sabe-se lá pelo quê e olhando para o colega — Você consegue sair com o carro sem que o senhor Agreste perceba, não consegue?

— Sim... — o grandalhão murmurou, praticamente sem voz. Como ela sabia de suas saídas noturnas?

— Ótimo! — era quase possível ver um sorriso no rosto dela — Preciso que vá neste endereço e peça exatamente este tipo de café, mas só fale com esta pessoa aqui — a assistente escreveu algo em um de seus quadradinhos autoadesivos amarelos e entregou para ele junto a algumas notas gordas.

Gorila sabia onde aquilo iria parar: ele iria se tornar o parceiro de crimes de Nathalie, sendo obrigado a traficar pó de café com a máfia russa para que Félix continuasse em segurança. Maldito o dia em que tinha aceitado o emprego lá, ele estaria bem melhor sendo segurança em uma porta de shopping!

— O que está esperando? Vai logo! — a mulher grunhiu, dando um leve empurrão nele, para que andasse até a porta.

O grandalhão entendeu o recado e obedeceu.

Afinal, o que poderia fazer além de obedecer?

Enquanto observava ele se afastar, Nathalie ouviu o aviso de mensagens novas: era Félix. Rapidamente ela pegou o celular e imaginou várias coisas terríveis acontecendo, desde a casa estar em chamas a até mesmo o filho ter batido o dedinho na quina de algum móvel. A mensagem lida a deixou ainda mais preocupada:

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Félix S. diz:

“Mãe, pode me ligar? ” [06:14]

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Longe do centro movimentado de Paris, enrolado em cobertores e abraçado a um travesseiro, Félix ouvia pela terceira vez o recado que a mãe mandara. Plagg, que havia reconhecido a voz da dona, estava junto a ele.

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“Filho, não sei se você estava realmente acordado quando eu me despedi. Só estou mandando uma mensagem para avisar que eu já cheguei. Me avisa se precisar de algo!”.

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— Como você consegue ficar sem ela o dia todo, Plagg? — o rapaz acariciou cuidadosamente o pelo preto do animal — Eu sei que você deve ter suas coisas para fazer, mas eu não tenho... não mais — novamente, Félix ouviu a mensagem de voz.

Sem entender bem a angustia do dono, Plagg se recostou nele. Não chegava a ser um carinho, mas o gato parecia estar tentando consola-lo de alguma maneira. Félix sorriu com o companheirismo do animal, suspirando longamente e, enfim, tendo coragem de mandar uma mensagem para a mãe.

Para a surpresa do loiro, a mensagem foi visualizada praticamente na mesma hora e, segundos depois, o celular dele já estava tocando.

— Mãe? — ele perguntou esperançoso, não tinha nem visto o número de quem ligou.

— Félix, o que houve? Aconteceu alguma coisa? Incêndio? Plagg? Seu tornozelo? — Nathalie disparava as perguntas com uma voz aflita — O que aconteceu? Quer que eu volte para casa? Médico? — ela não dava tempo para respostas, continuava falando e falando. O som dos saltos batendo contra o chão de uma forma ansiosa podia ser ouvido ao fundo.

— Não aconteceu nada, eu juro! — Félix apressou em avisar — Mas... mas se você realmente puder voltar para casa e ficar comigo...

Os segundos seguintes foram formados do mais completo silencio. Nem mesmo o som do salto batendo contra o chão era ouvido.

— Não. — a voz dela era, de certa forma, um deserto gélido: seco e de baixa temperatura — Félix, eu não posso simplesmente voltar para casa! Não tem como!

— Nunca tem como mesmo... — ele resmungou, deixando claro o quão desagradado estava com aquilo — Não tenho nada para fazer, estou entediado. Quando voltam as minhas aulas de...

— Não vão ter aulas de nada nessas férias — a mãe o interrompeu — Você está de castigo, lembra? E mesmo se não estivesse: seu tornozelo está machucado.

— Mas mãe... — o resmungo dengoso foi seguido de um suspiro — Tá, o que eu faço até você chegar, então? Não tenho NADA para fazer aqui. Eu poderia levar o Plagg para...

— Não, Félix! Nada de sair dessa casa sem mim, entendeu? — mais uma vez ela o interrompeu, deixando as ordens mais claras.

— Sim, mamãe... — o dengo aumentou para níveis preocupantes, ele já estava fazendo os olhinhos de gato abandonado — Se pelo menos tivesse algo interessante para fazer, como ver as suas fotos antigas...

— ... Vai ficar quieto vendo elas, sem ligar para mim e sem mandar mensagens?

— Se você prometer me ligar quando puder, prometo não incomodar você.

— A caixa com as fotos estão na quarta gaveta da escrivaninha... — ela suspirou, vencida — Por favor, não tire da ordem cronológica.

— Tá! — ele sorriu animado, se levantando e indo em direção ao tesouro escondido.

— Vou precisar desligar agora. Se comporta — ela pediu, encerrando a ligação sem tempo para despedidas.

— Eu sempre me comporto... — ele resmungou, guardando o celular no bolso — Quase sempre — se corrigiu com um sorriso travesso, pegando a caixa de fotos cuidadosamente na gaveta.

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Gorila já tinha chego onde precisava, pisar no acelerador como um louco tinha suas vantagens. O lugar, em si, não era longe: Le Grand Paris ficava a algumas quadras de distância, o endereço do papel era da porta dos fundos do hotel.

Um tanto amedrontado e completamente desconfiado, o grandalhão bateu na porta e esperou até que alguém abrisse.

— Em que posso ajudar? — um cara alto perguntou, ele parecia um pinguim magrelo com a roupa de mordomo.

— Er... Jean. — Gorila falou o nome que estava no papel, tentando parecer que ao menos sabia o que estava fazendo.

— Oh! — o homem fez uma expressão de surpresa e então sorriu — Ao seu dispor! O que deseja?

O que aquilo significava? Gorila havia acertado a contrassenha para o contrabando de café? Entregava primeiro o dinheiro ou pedia o carregamento? Droga! Ele iria ser preso por trinta anos por tráfico de café da manhã!

— 227 gramas de café Blue Mountain — respondeu o guarda costas, estendendo as notas de dinheiro que Nathalie havia entregado a ele. Quanto tinha ali? De onde ela pegou aquilo? Era parte do que ela estava desviando?

— Creio que posso fazer uma exceção para você... — o mordomo comentou, contando o dinheiro — Quem te mandou aqui?

— E-Er... — E agora? O que deveria responder? Era mais seguro inventar um nome de mentirinha ou era melhor dar o nome de uma mafiosa? Pense, Gorila! Pense! — Na-Nathalie Sancoeur.

— Ah! — e, mais uma vez, o mordomo fez uma expressão de surpresa e sorriu — E por que não disse logo!? Volto em um instante! — avisou, se distanciando em passos largos.

O grandalhão conseguia sentir as gotículas de suor se formando na testa. O que pensariam se vissem ele ali? Mais pessoas traficavam café? Nathalie era a chefe de uma rede de venda clandestina de café? Aquele cara vestido de azul do outro lado da rua era um guarda? Oh... céus...

— Aqui está! — o mordomo anunciou, voltando com um saco de estopa com letras azuis.

Gorila não agradeceu e nem nada do tipo – mafiosos não agradeciam, certo? -, ele simplesmente agarrou o saco e tentou esconder do tal policial que estava do outro lado da rua. Ele entrou no carro e jogou o pacote no chão do veículo, torcendo para que não fosse parado em nenhuma circunstância.

Quando chegou na mansão, manteve o pacote escondido da melhor maneira possível. Ele precisava entregar aquilo para Nathalie antes que alguém descobrisse que ele estava envolvido naquela transação criminosa.

O grandalhão foi direto para a cozinha procurando pela colega, mas só encontrou o cozinheiro que parecia estar um tanto irritado:

— Me dê logo esse pacote! O senhor Agreste só consegue se inspirar com essas porcarias! — o chef estendeu a mão — Tem do comum para você, se quiser.

Então era isso: Gabriel Agreste consumia pó de café alucinógeno, estava explicado gostar daquelas gravatas ridículas.

Gorila precisava urgentemente reformular sua teoria e adicionar mais diretrizes, precisava urgentemente se entupir de café... talvez também precisasse de férias, mas elas teriam que esperar até ele saber de toda a verdade.

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Nathalie já tinha ligado para o filho; já tinha avisado a Adrien sobre sua agenda livre na parte da manhã; já tinha resolvido o problema do café – aliás, estava levando uma caneca para o chefe agora mesmo. Seu dia, pelo visto, seria tranquilo...

— Nathalie, finalmente! Eu preciso que você arrume um curso de francês intensivo que demore, no máximo, uma semana. Também preciso de canetas idênticas as do Adrien, papéis coloridos e uma agenda especial chamada “Planner”... — ele suspirou, tentando lembrar de alguma outra coisa — Ah, e a senha do meu Instagram.

— Não... — a voz saiu tranquila, enquanto ela colocava a caneca próxima do chefe e voltava para a própria mesa.

— Como assim “não”?

— Você já fala francês; você odeia escrever; sua agenda é digital; pode assistir vídeos de gatinhos no Instagram sem acessar sua conta — ela enumerou cada um dos motivos de recusa nos dedos.

— O curso não é para mim, é para o... Gorila — Gabriel disse o apelido com certo desprezo — Eu descobri uma forma artística de escrita chamada “lettering” e preciso de canetas, papéis e inspirações no Instagram... e eu quero um “Planner” para supervisionar minha produtividade

— O guarda-costas fala francês perfeitamente, sua letra é horrível e eu já supervisiono a sua produtividade, senhor — ela encarou o chefe com uma das sobrancelhas levantadas, pronta para rebater qualquer que fosse a justificativa dele... ela tinha um filho adolescente, sabia perfeitamente como lidar com aquilo.

— Como ousa falar que a minha letra é horrível? — a voz saiu irritada — As canetas do Adrien melhoraram ela!

— Uma caneta não melhora a letra de ninguém, senhor... — Nathalie suspirou, tentando manter a calma para aquela birra interminável — Pegou as canetas do Adrien? Aquelas bonitinhas, coloridas?

— Eu precisava delas para... montar um projeto.

— Devolva as canetas do Adrien! — o pedido passou mais a impressão de ordem, ela sabia que as canetas coloridas e tantos outros materiais de papelaria, bem ou mal, era uma forma de manter Adrien motivado nos estudos durante horas à fio.

— Se me der um bom motivo... — Gabriel desafiou, cruzando os braços.

— Não pode roubar as canetas do seu próprio filho! — ela grunhiu, se levantando — Onde estão?

— Eu só peguei emprestado! — o homem virou o rosto, parecendo uma criança ofendida.

— Senhor Agreste, as canetas! — mais uma vez ela pediu, soando como uma ordem.

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Adrien dormia estirado na cama e semienrolado em cobertores. Nathalie havia acordado ele mais cedo e avisado que teria a manhã e parte da tarde livre, sendo assim, o que seria melhor para fazer além de dormir?

Seus sonhos eram demasiado interessantes, inspirados em seus jogos favoritos, repletos de ação, aventura e LadyBug... aquela personagem de um dos jogos era encantadora por si só, mas a cosplayer misteriosa era simplesmente perfeita. Adrien só tinha falado com ela uma única vez, quando teve a chance de ir em um evento de animes, mas precisou ir embora antes de saber quem era a futura mãe de seus filhos.

O rapaz estava salvando sua encantadora companheira de aventuras, quando foi desperto de uma maneira brusca, com o pai e Nathalie discutindo enquanto entravam no quarto:

— Não me importo com seus planos, as canetas são do Adrien! — ela rosnou enquanto levava as várias canetas para a escrivaninha do rapaz.

— Mas Nathalie, não é justo! Eu não posso fazer minhas listas sem elas! — Gabriel continuava teimando que era um motivo válido.

— Nathalie, você salvou minhas preciosas! — o loiro pulou da cama sorrindo de orelha a orelha — Eu nem sei como te agradecer! Você é a melhor! — ele agarrou a assistente do pai, a abraçando e quase levantando do chão.

Ela apenas deu um ar de sorriso para Adrien e mexeu nos fios loiros delicadamente, em seguida, encarou o superior com um olhar sério:

— E se Adrien pegasse suas Copics e papéis importados para desenhar, o que faria?

— O deixaria de castigo por pegar minhas ferramentas de trabalho e, principalmente, por desperdiçar com desenhos... infelizmente, Adrien não tem talento algum para artes — o Agreste mais velho suspirou — Mas não tem como comparar as coisas desse jeito! Eu quero canetas novas, Nathalie! — ele ordenou, novamente incorporando birra na fala.

A mulher suspirou pesadamente, sabendo que teria que ceder cedo ou tarde.

Ela não entendia como uma mulher tão gentil feito Emilie tinha escolhido um egocêntrico, ranzinza e incapaz de viver em sociedade – ou melhor, incapaz até mesmo de compreender as diferentes relações entre pessoas; para ser o pai de Adrien. Ou melhor: não entendia como Emilie conseguiu permanecer casada com ele por tanto tempo...

Nathalie balançou a cabeça negativamente, tentando afastar aqueles pensamentos. Nunca poderia julgar alguém por escolher a pessoa errada, não depois de escolher uma opção tão errada e inviável que resultou em ela estar sozinha com o filho.

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Horas se passaram e Félix estava entediado mais uma vez.

Ele já havia digitalizado todas as fotos e armazenado no celular para garantir que sempre poderia vê-las; já tinha rastreado o celular da mãe para saber onde ela tinha ido; já tinha limpado a caixinha de areia de Plagg... bem, talvez rastrear o celular da mãe não tenha sido algo muito certo de se fazer, mas ele queria saber o que ela fazia o dia todo naquela mansão.

Félix havia ficado surpreso com a quantidade de vezes em que ela tinha que sair de lá para resolver algo do lado de fora, mas ficou ainda mais surpreso por já ser quase uma da tarde e ela não ter ligado para ele. Sinal de que ela ainda estava ocupada. Sinal de que o monstro para o qual ela trabalhava não entendia que uma pessoa precisa almoçar!

Medidas precisavam ser tomadas!

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Gorila estava de pé, em frente a porta do quarto de Adrien.

Ele estava tentando encaixar as novas descobertas em sua teoria, concentrado, até que seu celular vibrou, anunciando uma nova mensagem. Desconfiado de ser uma ameaça da máfia por ter ido contrabandear no lugar de Nathalie, ele relutantemente pegou o aparelho do bolço.

O remetente da mensagem fez com que o grandalhão ficasse pálido, com gotículas de suor escorrendo pela testa. O nome ao lado do número de celular era algo bem recorrente em seus pensamentos, ultimamente.

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Félix S. diz:

“Pergunte a minha mãe se ela já almoçou. ” [12:44]

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O que Gorila poderia fazer?

Como aquele garoto tinha o número dele?

Ele trabalhava para a máfia também?

Todas aquelas perguntas desapareceram quando as portas do ateliê foram abertas, Nathalie passou por elas com uma feição aborrecida e duas canecas vazias nas mãos. Sem querer mais desordem para sua vida, Gorila foi apressado até ela e perguntou:

— Nathalie, você, por acaso, já almoçou hoje? — ele tentou soar o mais habitual possível.

— Isso não é da sua conta, é? — a voz dela denunciava todo o mau-humor — Já, já almocei! Foi o melhor almoço da minha vida! — ela resmungou, caminhando para a cozinha.

O grandalhão fez questão de enviar a resposta na mesma hora:

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Gorila diz:

“Ela já almoçou”. [12:45]

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Félix S. diz:

“Você viu ela comendo? ” [12:45]

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Gorila diz:

“... não! ” [12:46]

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Félix S. diz:

“Pergunte a ela quando ela almoçou” [12:46]

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Para a sorte do grandalhão, Nathalie estava passando por ele de novo. Ela segurava as duas canecas cheias de café, ainda parecendo estar aborrecida com algo.

— Nathalie, quando mesmo você almoçou? — ele perguntou, andando atrás da colega mais uma vez.

—  Vinte minutos atrás, eu acho... — ela estendeu as canecas de café para ele que, sem entender o motivo, segurou as duas.

A assistente caminhou na direção de uma das janelas e, só então, se permitiu ter uma de suas crises de tosse. Aquela tosse seca e irritante estava atrapalhando a vida dela nos últimos dias. Não tinham hora certa, mas felizmente era sempre quando ela estava fora do ateliê... e eram sempre irritantes, deixando a sensação de garganta seca para trás.

— Você deveria pedir férias.

Em resposta, ele recebeu um olhar completamente gélido de Nathalie. Quando as tosses pararam e ela recobrou a compostura, praticamente tomou as canecas da mão dele e voltou para o local de trabalho.

Mais uma vez, ele mandou a resposta para o filho da colega:

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Gorila diz:

“Vinte minutos atrás” [12:53]

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Félix S. diz:

“Impossível, ela estava em uma loja de tecidos. Você deveria lembrar, já que levou ela e buscou” [12:54]

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Gorila diz:

“Você espiona pessoas? ” [12:54]

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Félix S. diz:

“O que importa aqui é que minha mãe está mentindo e está sem almoço. Faça ela comer! ” [12:54]

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Gorila diz:

“Eu não posso simplesmente obrigar sua mãe a comer, feliz! ” [12:55]

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Gorila diz:

“Félix, no lugar do feliz” [12:55]

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Félix S. diz:

“Não me importo em como você me chama, desde que faça a minha mãe comer. É só colocar geleia em alguma coisa e dar para ela! Qual a dificuldade que você consegue ver nisso? Prefere que eu saia de casa, sem conseguir esforçar o meu tornozelo, e vá até aí? ” [12:56]

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Félix S. diz:

“E, para constar, ela ficaria irritada com você se eu realmente tivesse que recorrer a isso” [12:56]

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Era o fim.

Gorila já tinha percebido que Félix parecia ser um engomadinho perfeito, mas não imaginava que ele seria uma peste perfeita.

O garoto com certeza sabia sobre a posição da mãe como chefe da máfia de café e estava usando disso para ameaça-lo. Maldito rapazinho engomado, que herdara o lado cruel de Nathalie e provavelmente o lado irritante de Gabriel... Gabriel era realmente o pai dele? Nathalie não havia recusado tal hipótese – apesar de suas risadas darem ideia de que seria impossível.

Céus... sua teoria seria reformulada mais uma vez!

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Gabriel estava tentando não rir com sua vitória sobre a assistente. Ele já não era uma boa pessoa em seu normal, ele esforçando-se para ser irritante era como o inferno na terra.

Havia pedido todo tipo de coisa aleatória a Nathalie, desde fazer encomendas presencialmente em cinco lojas de tecido diferentes a até mesmo usa-la como tradutora para várias páginas de um e-pub aleatório em romeno que ele tinha arrumado na internet. Claro, este último despertou uma curiosidade avassaladora no Agreste: Romênia era um país? Ciganos tinham um país próprio? Como eles conseguiram fazer um e-pub se nem internet deveria ter lá...

— Seu café, senhor... — ela sussurrou entre os dentes, estendendo a caneca.

— Beba um pouco para eu ter certeza de que não está envenenado — ele pediu, cruzando os braços e mantendo o ar apático. Fez exatamente a mesma coisa nas outras cinco vezes em que pediu café. Nas duas primeiras ele fingiu derrubar no chão por acidente, na terceira jogou em cima de alguns contratos e nas outras duas fez com que Nathalie bebesse praticamente tudo.

— Seria muita sorte se estivesse envenenado... — ela murmurou, tomando apenas um gole. A assistente odiava o Blue Mountain, preferia o forte para manter-se desperta.

— Espero que ainda esteja quente! — ele segurou a caneca, olhando onde tinha a marca de batom de Nathalie para que não bebesse no mesmo lugar. Aquilo poderia ser considerado um beijo indireto? Traição? Ele ainda era fiel a Emilie desde que bebesse em um lugar diferente, certo?

— Espero que morra engasgado! — ela praguejou, voltando para a mesa.

Gabriel Agreste era um artista nato em seus desenhos, mas ele também conseguia ser talentoso como ator. Faria com que a assistente se arrependesse do que falara, assim como a faria se arrepender de comprometer a própria eficiência arrumando um namorado.

Ele deu um gole na bebida, depois outro, depois mais um e então começou a tossir. Uma tosse irritante, forçada, seca, incontrolável... não demorou até que a caneca caísse da mão e ele precisasse se agarrar a grande tela eletrônica que usava para desenhar. O drama só aumentou quando Nathalie encarou o chefe, ainda em dúvida se era uma brincadeira ou não: ele fez com que a tosse piorasse ainda mais, já estava com o rosto completamente vermelho quando se deixou cair no chão de joelhos.

— Se-Senhor Agreste? — Nathalie se levantou, nervosa, encarando o chefe — E-Eu vou pegar água!

— Não! — ele estendeu a mão na direção dela, mas voltou a tossir em seguida e recolheu o braço, pressionando o próprio peito. Seu plano idiota estava sendo divertido — A-Ar...

— Ar? Está sem ar!? — os olhos azuis dela se arregalaram — E-Eu pego água? Chamo uma ambulância? O que faço!? — seus planos de contingencia não incluíam o chefe morrer engasgado com café... talvez com uma gravata, mas não com café.

— A-Avise ao Adrien... — ele suspirou, tossindo um pouco mais em seguida — Que... a culpa... é... é sua...

— Vou mandar o Gorila leva-lo para a emergência! — ela anunciou, ignorando completamente a acusação e saindo apressada do ateliê antes que fosse testemunha da morte do próprio chefe.

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Nathalie andou o mais rápido que os saltos permitiam e invadiu a cozinha, quase colocando as portas abaixo. Gorila não estava na frente da porta de Adrien, só podia estar lá ou no banheiro – preferencialmente, ele estaria na cozinha.

O olhar dela estava transmitindo todos os sentimentos que seu rosto não transpassava: preocupação, nervosismo, raiva, ódio, irritação... fome. Félix estava com razão de se preocupar em a mãe ficar sem almoço, talvez a fome a deixasse ainda mais irritada com tudo.

Gorila, que estava terminando de derramar quase uma garrafa de mel em cima de várias torradas, permaneceu parado no mesmo lugar, parcialmente protegido por um balcão de mármore. Ele entendia de sobrevivência selvagem, já tinha visto muitos reality shows sobre isso: bastava que ele não fizesse movimentos bruscos, a megera demoníaca iria se aproximar, comer e depois iria sair sem fazer vítimas.

— ... Isso ai é mel? E torradas? — Nathalie encarava aquele prato como se não comesse nada há meses, esquecendo-se completamente do motivo que a levou até ali.

— É... E pode comer quantas quiser — o grandalhão falou baixo, empurrando cuidadosamente o prato na direção dela e se afastando alguns passos — Preciso ir ver se a porta do quarto do Adrien ainda está no mesmo lugar...

Foi uma desculpa completamente idiota, mas do que importava? Nathalie já estava salivando só em sentir o cheiro daquele manjar adocicado. Ela só precisava ficar sozinha com as torradas indefesas. Gabriel só precisava sobreviver até ela terminar de se alimentar.

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O Agreste mais velho estava em seu escritório, estirado no chão e encarando o teto com certa impaciência. Já faziam mais de três minutos e Nathalie ainda não tinha aparecido lá... se fingir de morto não estava na lista, mas seria divertido dar um toque extra de drama ao dia. Infelizmente a assistente não estava cooperando.

Os dois eram amigos. Era relação mínima esperada entre os dois, já que Nathalie e ele trabalhavam juntos durante anos e ela ainda não tinha pedido demissão – não que ele realmente fosse deixar ela se demitir, afinal de contas, o contrato que fez com ela era praticamente uma venda de alma.

Como amiga, ela deveria estar preocupada. Não tinha motivos para ela demorar tanto com o socorro! A não ser...

Gabriel sentou-se no chão, emburrado.

Ele havia cometido uma falha terrível: deixou Nathalie sozinha por tempo demais. Enquanto ele “morria” no chão do ateliê por culpa dela, a assistente poderia estar se derretendo de amores pelo namorado, conversando com ele pelo telefone ou algo do tipo!

O Agreste se levantou.

Nathalie acabar com a própria eficiência por culpa de um namoro era um empecilho, mas parar de ligar para a vida dele era um absurdo! O trabalho precisava vir em primeiro lugar, sendo assim, o chefe vinha em primeiro do primeiro lugar!

Gabriel saiu do ateliê com a sua melhor carranca, procurando em toda a sua volta pela assistente. A primeira coisa que encontrou foi o guarda-costas do filho, de pé, no mesmo lugar de sempre.

— Onde está a Nathalie? — a voz do Agreste saiu fria com uma leve nota de irritação, deixando claro que estava irritado.

O grandalhão pareceu ficar nervoso com a pergunta, provavelmente estava acobertando o namoro da colega de trabalho. Tudo o que o guarda-costas conseguiu fazer além de alguns grunhidos incompreensíveis foi apontar para a porta do salão de refeições.

Gabriel caminhou silenciosamente, queria apanhar a assistente no flagra...

Ele decepcionou-se quando entrou no cômodo e não encontrou ninguém, mas chegou a dar um sorriso de canto quando ouviu a voz de Nathalie vindo da cozinha. Sorrateiramente, ele caminhou e entrou no cômodo. Estava abaixado atrás do balcão próximo da entrada para que a assistente não o visse: ele queria ouvir bastante para ter provas contra ela.

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Félix estava satisfeito com sua nova peça de xadrez: Gorila. No começo, ele não havia gostado nem um pouco do guarda-costas dos Agreste saber sobre ele, mas agora entendia o quão divertido poderia ser usar o grandalhão.

Ele ficou ainda mais satisfeito quando notou que suas ordens haviam sido seguidas: não demorou nem cinco minutos para que o celular dele tocasse e a foto da mãe aparecesse na tela. Ela estava tirando uma pausa para o almoço.

— Félix, o que você fez? — Nathalie nem deu tempo para um “oi” — O que eu disse sobre se comportar?

— Mas eu me comportei! — o rapaz mentiu — Eu só perguntei o seu amigo se você estava bem!

— Quantas vezes eu preciso te lembrar que não sou idiota, Félix? Eu sei que você rastreou meu celular o dia todo! — ela fez uma pequena pausa para comer uma das torradas — Já disse para você não fazer isso — novamente, ela fez uma pausa. Deu para ouvir o som de uma porta batendo ao fundo.

— Mas mãe! Eu só fiz porquê... — ele foi interrompido, antes de conseguir se explicar:

— Sem “mas”! — a voz dela estava bem mais rígida do que antes — Eu quero mudanças nesse seu comportamento ou vou tomar medidas mais drásticas! Você não pode esperar confiança se você não confia em mim, Félix!

— SABIA QUE VOCÊ TINHA UM NAMORADO! — uma voz masculina gritou ao fundo.

— SENHOR AGRESTE! — Nathalie gritou.

Depois disso e de mais alguns barulhos incompreensíveis, a ligação caiu.

O rapaz não ficou nem um pouco feliz com aquilo, precisava arrumar um jeito de manter o Agreste longe da mãe, custe o que custasse! Até mesmo durante uma pausa para o almoço ele conseguia ser irritante!

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Gabriel havia escutado as últimas frases de Nathalie e interpretado como uma briga entre ela e o namorado secreto. A única coisa pior do que a assistente estar apaixonada, era ela estar apaixonada por uma pessoa possessiva e desconfiada que até mesmo rastreava o celular dela! O que mais faria este tal de Félix? Invadir a mansão atrás dela!?

— SABIA QUE VOCÊ TINHA UM NAMORADO! — ele gritou em tom acusador, levantando-se de seu esconderijo e apontando para ela.

— SENHOR AGRESTE! — Nathalie cuspiu as palavras junto com as torradas que tinha acabado de enfiar na boca, começando uma crise de tosses por causa do susto com direito a até mesmo deixar o celular cair.

— O que...? — o superior suspirou, tentando entender como sua entrada triunfal tinha saído tão mal.

— Nunca... NUNCA MAIS... faça isso! — a mulher grunhiu entre as tosses, tentando retomar a compostura.

— Tanto faz... — ele revirou os olhos — Você estava demorando, de qualquer jeito. Aproveite que seu celular está quebrado e volte para o ateliê — a voz saiu apática como sempre enquanto Gabriel saía da cozinha — não esqueça de levar o meu café!

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Horas passaram; Félix havia enchido Gorila de perguntas sobre a mãe; Adrien tinha saído de casa apenas para um ensaio fotográfico; Nathalie estava tentando não matar o chefe...

Gabriel ainda estava irritado com sua assistente. Se fosse qualquer um outro de seus empregados, ele já teria despedido devido tamanha falta de senso profissional: ela preferiu discutir com o namorado do que socorrer ele! Mas ele estava falando de Nathalie: precisaria de cinco pessoas extremamente treinadas para conseguir substituir ela.

Restava, então, irritar a assistente com os últimos itens da sua lista de maldades para o dia. Faltavam apenas dois quadradinhos para riscar:

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“Mande-a pegar os desenhos”.

“Aja como um gato”.

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O Agreste suspirou profundamente, tomou um gole de seu café e falou, com a voz mais apática possível:

— Preciso que vá até a sede da empresa e traga os esboços utilizados para aquela cantora, Clara se não me engano, no final do ano passado.

— Senhor... — a assistente encarou-o confusa — Já são oito da noite, não é mais sensato eu fazer isso amanhã pela manhã?

— Eu quero hoje! — o chefe respondeu com sua carranca séria, mas no fundo soava como uma criança mimada.

— Eu tenho cópias de todos os esboços, posso imprimir agora mesmo se o senhor quiser — ela suspirou, se preparando para sair da sala.

— Não quero cópias, quero os originais. Quero eles sobre a minha mesa, hoje ainda! — o homem complementou — E seria bom se estivessem em ordem cronológica, minha inspiração funciona melhor assim — apesar do rosto apático de sempre, ele sorria em escarnio por dentro.

Nathalie encarou o superior por alguns segundos, vasculhou suas gavetas em busca da chave da sala dele na companhia e se levantou. Ela não disse uma palavra sequer, porque caso abrisse a boca, com certeza seria demitida por justa causa.

As visitas de Nathalie a companhia costumava ser algo rápido, eram restritas a poucas vezes ao mês em que ela tinha que ir a reuniões no lugar do chefe, pegar ou assinar documentos e deixar os esboços para a equipe técnica. Todas as vezes, Gorila a levava e buscava.

Mas naquela noite, a visita era um “castigo”. Gabriel estava irritado com ela e aquela situação deixava isso mais do que claro: teve que chamar um taxi porque o colega precisou ir urgentemente buscar uma encomenda do outro lado da cidade pouco antes de ela precisar sair; teve que se explicar com os seguranças, visto que quando chegou ao enorme prédio da Agreste já havia fechado o expediente; teve que procurar os esboços na sala do chefe sem informações concisas...

Ela demorou horas. Aproximadamente três.

Quando finalmente voltou para a mansão Agreste, carregando várias pastas de arquivo, ainda teve o trabalho de verificar se estavam todos em ordem cronológica ou não – para a sua sorte, a maioria estava.

Quando ela terminou tudo, exausta, já passava de meia noite.

— Ótimo trabalho — o superior comentou com desinteresse, observando a pilha de desenhos e a cara não muito satisfeita da assistente.

Gabriel continuava irritado com ela, mas estava feliz porque iria riscar o último item de sua lista de maldades. Ele fez algo que jamais se imaginou fazendo: como um gato, da forma mais cínica possível, ele empurrou lentamente a pilha de papeis para fora da mesa. Nathalie observou as folhas se esparramarem pelo chão como se tudo estivesse em câmera lenta.

— Oh... — ele fingiu surpresa — Pode ir para casa quando acabar de arrumar isso — disse simplesmente — Amanhã de manhã teremos uma videoconferência, mas quero analisar os desenhos antes para ter base — comentou, enquanto saia do ateliê — Não se atrase: às seis em ponto eu preciso de você e do meu café.

O Agreste fechou a porta, tentando não dar suas gargalhadas malignas ali mesmo. Nathalie, por sua vez, tentava não rasgar todos aqueles papéis... ela já estava ficando farta de aturar aquilo, o gênio do artista egocêntrico estava testando os limites dela ao máximo.

Se não fosse por uma promessa estúpida para Emilie, ela já teria matado o chefe enforcado com uma de suas gravatas ridículas. Porém, nada a impedia de fazer vingança no mesmo jogo de Gabriel Agreste.

Aquela ideia a fez sorrir monstruosamente, enquanto recolhia os desenhos. Nathalie ensinaria a ele como ser maquiavélico de verdade.


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Notas finais do capítulo

Nyah!: br/u/751821/
Spirit: perfil/laviniacrist/historias
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A3O: /users/LaviniaCrist/works
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