Mãe Solteira escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 2
Dia de Domingo


Notas iniciais do capítulo

Nenhum brócolis foi ferido enquanto este capítulo era escrito!

Eu amo brócolis

Próximo capítulo entre dia 05 e dia 10.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773645/chapter/2

Mesmo sendo domingo, Gabriel Agreste acordou às seis da manhã em ponto. Para ele era um dia como qualquer outro, com a única exceção de não ter a assistente o auxiliando e nem o guarda-costas do filho tomando conta do rapaz.

Adrien, por sua vez, lutava contra o sono para conseguir manter a cabeça erguida. Ele acordava cedo com um único propósito justo para fazê-lo levantar da cama: conseguir tomar o café da manhã junto com o pai. Normalmente não conversavam, mal se olhavam durante o desjejum, mas pelo menos passavam algum tempo juntos.

— Adrien — Gabriel começou fazendo com que o Agreste mais novo despertasse um pouco mais — Falou com algum de seus amigos hoje?

— Falei? — o rapaz repetiu, sem entender completamente a pergunta. Ele sempre falava com Nino, com seus outros amigos também, mas não sabia bem se aquilo era pretexto para uma bronca por ir dormir tarde da noite — Sim, falei — ele respondeu, enfim.

Gabriel apenas segurou o próprio celular entre as mãos. Não gostava daquela tela pequena, muito menos de ter que digitar alguma coisa nos botões sensíveis que normalmente eram pressionados por engano, mas ele não aguentava mais a curiosidade. Desde a noite anterior, esperava ao menos uma explicação sucinta da assistente sobre o que foi fazer, mas não recebera nada. Se Adrien mandara mensagens tão cedo aos amigos, que mal teria em ele mandar também?

— Você tem amigos? Digo, vai mandar mensagem para algum deles? — Adrien perguntou enquanto esfregava as costas das mãos cuidadosamente sobre os olhos.

— Algo próximo.

— Pai... por favor, não envie quadros com mensagens de bom dia ou coisa do tipo, nem espalhe aquelas correntes irritantes... e nem clique em qualquer coisa, pode ser um vírus! — o rapaz alertou, completando mentalmente “ou uma imagem perturbadora de alguém desnudo, ou um áudio comprometedor”.

— Agradeço pela preocupação — disse Gabriel de uma maneira sarcástica, encarando o filho sobre as lentes dos óculos e voltando a dar atenção para o celular, logo em seguida.

Em verdade, ele já havia dado um forte indicio para que as preocupações de Adrien pudessem se tornar realidade. Uma vez, em um de seus perfis em redes sociais, acabou compartilhando um vídeo com compilações de gatos em momentos engraçados. Foi apenas um engano, visto que usava de tais meio para a divulgação de sua marca; não demorou mais do que cinco minutos para que todos os seus adeptos da moda estivessem comentando no vídeo, compartilhando e marcando-o em vários posts do gênero.

Com cuidado, Gabriel abriu o quadro de mensagens destinado a Nathalie. Não havia nada lá além de curtos lembretes sobre compromissos agendados, coisas que só serviam como “garantia extra” para nada ser esquecido. Não seria antiético mandar uma mensagem perguntando se estava tudo bem, seria? Bons chefes faziam isso, certo?

— Pai — o rapaz chamou a atenção para si novamente — Tem certeza que a pessoa com quem vai falar já está acordada a essa hora em pleno domingo?

— Absoluta. Nathalie com certeza deve estar acordada — a voz saiu tranquila, enquanto ele começava a digitar o pequeno texto.

— Nathalie? —  era notável o interesse que Adrien estava dando a tudo aquilo, sua preguiça havia desaparecido completamente — Por que não liga pra ela? Você odeia mensagens...

— Seria rude ligar simplesmente para saber se está tudo bem, uma mensagem é algo mais prático: ela verá quando puder e vai me responder se tiver vontade.

— Alguma coisa aconteceu com ela? — a voz do rapaz saiu carregada de preocupação.

— Saberemos em breve — respondeu Gabriel, apertando o botão para enviar. Era algo curto, direto, não sendo exageradamente profissional, mas não deixando claro o quanto a curiosidade estava consumindo o Agreste:

.

Gabriel Agreste diz:

“Conseguiu resolver tudo ontem? ”. [06:03]

.

.

.

Longe da mansão agreste, do centro de Paris e de qualquer preocupação, Nathalie dormia em um sono pesado ao ponto de não ouvir o aviso de uma nova mensagem no celular. Félix, por sua vez, não deixou tal detalhe escapar e rapidamente pegou o aparelho – tomando todo o cuidado possível para não despertar a mãe com seus movimentos.

De todos os trejeitos e comportamentos que herdara de Nathalie, apenas um não o deixava como uma verdadeira cópia: ciúmes. Ele era um possessivo nato com ela, arruinando quaisquer que tivessem sido as chances de alguém se aproximar dela. Ele já não tinha tanto tempo quanto gostaria para ficarem juntos, qualquer um que tentasse roubar a atenção da mãe era um inimigo.

— Gabriel Agreste... — sussurrou o rapaz antes de dar um sorriso discreto, reconhecendo prontamente o nome.

Não poderia deixar as coisas assim. Nathalie trabalhava para ele, negligenciando a própria vida e ao filho por culpa dos Agreste... não iria deixar que consumissem ainda mais o tempo dela. Coisas como aquela mensagem não poderiam mais acontecer em plena folga! Aquele homem precisava entender quais eram os limites!

Com toda a delicadeza do mundo, ele preparou a cena para uma foto comprometedoramente perfeita. Equilibrada entre uma resposta direta, imaginação fértil e uma pequena amostra do quanto sua mãe ficava mais bonita com o cabelo solto, deixando a mexa vermelha mais evidente:

Nathalie aparecia perfeitamente emoldurada no centro da imagem, deitada de costas para a câmera, com o cabelo espalhado sobre o ombro e o travesseiro. As mãos estavam próximas de onde ela abraçava Félix, agora, caídas delicadamente sobre o lençol bagunçado. O cobertor cobria-a até próximo a cintura, o rapaz propositalmente o colocou assim: a cintura fina, evidente até mesmo quando coberta por um grosso suéter, deveria ser realçada!

E lá estava, a foto perfeita de Nathalie sendo enviada para Gabriel Agreste, com a seguinte legenda:

.

Nathalie Sancoeur diz:

“Ela está dormindo ainda! ”. [06:06]

.

Satisfeito por tudo ter sido visualizado praticamente na mesma hora, Félix apagou as provas de sua travessura e voltou para a cama. Era domingo, afinal de contas.

.

.

.

Gabriel colocou o celular sobre a mesa, pegando sua xícara de café e tentando transparecer calma. Tudo o que ele queria agora era que sua assistente estivesse bem em frente a ele, para poder gritar e exigir explicações sobre aquilo. Adrien, por sua vez, apenas deixou a curiosidade guia-lo e observou a resposta que o pai obtivera. Com um sorriso adorável, ele comentou:

— A Nathalie fica bonita de cabelo solto!

— É... — o mais velho suspirou, agradecendo aos céus pela ingenuidade do filho.

Nathalie estava na cama, então a foto foi tomada por outra pessoa. Esta outra pessoa estava antes deitada na cama com ela, os lençóis bagunçados eram a prova disso. Nathalie havia feito uma cena dramática apenas para sair mais cedo e ir à um encontro ou sabe-se lá o que para terminar naquela situação tão...

— Pai, olha só isso! — o rapaz pediu, pegando o celular entre os dedos e dando zoom na janela do quarto.

— O que? — Gabriel olhou a imagem sem achar mais nenhuma prova do quanto sua assistente era uma... uma...

— A vista do quarto da Nathalie é incrível! — a voz de Adrien era animada — Ela deve morar perto de um parque... acha que podemos ir visita-la qualquer dia?

— Se ela convidar, não vejo mal algum — mesmo tentando parecer apático, Gabriel estava a ponto de tomar o celular do filho e taca-lo na parede mais próxima. Sentia-se injuriado, enganado... mal acreditava que ficou realmente preocupado com Nathalie, enquanto seu problema pessoal se resumia, provavelmente, em um encontro romântico prestes a ser cancelado!

E então, como um passe de mágicas, o mais velho lembrou-se de mais um ponto para despertar sua irritação: mandou o guarda-costas do filho acompanha-la. Aquele brutamontes cabeça-oca serviu de motorista particular em um encontro! Pior: talvez ele fizesse parte do encontro! Nathalie era inteligente, ela poderia ter armado tudo para conseguir sair com um colega de trabalho escondida... Gabriel havia caído na armadilha como um imbecil.

Cuidadosamente, o patriarca pegou o celular de volta e resolveu mandar uma mensagem para a outra parte envolvida em tudo aquilo:

.

Gabriel Agreste diz:

“Onde você e a Nathalie foram ontem? “. [06:11]

.

.

.

A mansão Agreste era grande, com vários quartos e salas para as mais diversas finalidades. Entretanto, nos fundos, fugindo de todo aquele senso de grandiosidade e conforto, estavam poucos cubículos destinados a abrigar os funcionários de lá.

Não eram quartos bonitos, não eram convidativos e nunca eram usados. Na verdade, apenas um dos funcionários se manteve disposto a ficar sob o mesmo teto que Gabriel Agreste mesmo fora do expediente: o guarda-costas.

Nenhum motivo pessoal mantinha Gorila naquele lugar, ele simplesmente resolveu que seria melhor juntar economias sem se preocupar em pagar um aluguel. Seu plano, entretanto, foi frustrado nas primeiras semanas: ele gastava todo o salário com saídas noturnas e miniaturas de carro colecionáveis.

A esta hora da manhã, em plena folga, o grandalhão estava se amaldiçoando por passar a noite em claro. Desde o dia anterior, quando descobriu um pequeno pedaço sobre a vida da colega, ele não conseguiu pensar em outra coisa que não fosse uma possível teoria de como Nathalie arrumara um filho e o motivo para escondê-lo do mundo.

.

No dia anterior, na volta para “casa”, ele parou em um estacionamento de um drive thru e começou a tentar entender tudo o que estava acontecendo, se deliciando com um milk-shake extremamente açucarado. O grandalhão pensava melhor no carro enquanto congelava o cérebro.

Teorias envolvendo a máfia italiana haviam sido descartadas, mas restava ainda a máfia japonesa e até mesmo a perigosa máfia russa... Nathalie falava russo!

Então era isso: ela estava envolvida com a máfia russa!

E por que ela escondia o filho? Talvez fosse medo de que algum mafioso usasse o garoto em ameaças... não! Nathalie não era do tipo que se escondia com ameaças – na verdade, era ela quem normalmente ameaçava as pessoas. Provavelmente ela tinha experiências com ameaças!

Gorila ficou pálido, praticamente em pânico com o que acabara de pensar: Nathalie era uma das chefes da máfia que se afastou porque teve um filho e agora queria esconder ele do seu passado enquanto desviava toda a fortuna Agreste e...!

Antes que ele conseguisse concluir sua teoria, uma viatura da polícia entrou no estacionamento. Aquilo só poderia indicar uma coisa: já estavam atrás da Nathalie e agora estavam atrás dele também porque ele sabia demais!

Para fugir daquilo, a única coisa que ele se viu possível de fazer foi iniciar uma fuga em alta velocidade até a mansão agreste. Assim que chegou, ele se jogou na cama e continuou pensando sobre suas teorias e sobre como estava encrencado agora.

.

Horas e horas depois, Gorila ainda estava deitado na cama exatamente do mesmo jeito, pensando sobre tudo o que estava acontecendo. Ao menos ele estava seguro em casa, longe de policiais, mas tinha um perigo ainda maior perto dele: Gabriel Agreste.

O guarda-costas praticamente pulou da cama quando ouviu o barulho de mensagem do celular. Quando viu o nome do chefe na tela, se colocou a caminhar de um lado ao outro do pequeno quarto, tentando pensar em uma desculpa... Ele não poderia entregar uma mafiosa e tentar sair ileso!

.

.

.

Depois de mandar a mensagem, o Agreste olhou com maior atenção para o nome do contato e perguntou ao filho:

— Por que o seu guarda-costas está com esse nome, Adrien?

— Ele deixou — o rapaz curvou os ombros, sentado mais uma vez em seu lugar à mesa — Acho que ele gosta de ser chamado de Gorila.

— ah... — Gabriel fingiu se importar com a resposta do filho, mas ele realmente se importava com a resposta que acabara de receber:

.

Gorila diz:

“Eu não falar croissant” [06:13]

.

O Agreste respirou fundo, começando a bater a colher de chá contra o pires. Era impressionante como a falta de importância que ele dava para as pessoas a sua volta só traziam consequências ruins quando ele precisava delas.

— Tudo bem, pai? — Adrien havia notado a irritação dele.

— Adrien, você sabe de onde é o... Gorila — o mais velho se amaldiçoou por pronunciar aquele apelido tão idiota, mas não conseguia nem ao menos se lembrar do nome do guarda-costas.

— Deve ser russo ou alemão, algo assim — o rapaz curvou os ombros — Por que?

— Nada, nada de importante — e, mais uma vez, Gabriel suspirou. Ele havia investido todo o seu tempo em moda e seus desenhos, sempre deixou a parte da interação linguística com Nathalie... — Acha que ele saberia falar italiano? — aquilo era o máximo que poderia fazer, italiano e francês são próximos...

— Eu acho que ele nem sabe falar — o rapaz tentou soar divertido, mas quando notou a carranca com a qual o pai o encarava, praticamente mergulhou o rosto em sua tigela de cereais com leite.

O Agreste mais velho respirou fundo e mandou uma nova mensagem, esperando que meses em viagens a Itália valessem de algo:

.

Gabriel Agreste diz:

“Parla italiano? ” [06:16]

.

Gorila diz:

“Espaguete? ” [06:16]

.

Aquilo foi a gota d’água!

O Agreste precisava investir urgentemente em um curso de línguas para aquele idiota! Maldita a hora em que ele julgou que o grandalhão era apto para o trabalho simplesmente por ser grande. Nathalie quem havia escolhido a dedo, mas foi ele quem assinou a carteira daquele cabeça-oca!

Em todo caso, ele precisava agir!

Sendo assim, levantou-se e largou o filho ainda na mesa do café-da-manhã. Ele iria resolver aquele problema o mais rápido possível, precisava descobrir o que Nathalie tinha ido fazer – apesar de já ter alguma ideia do que era e não se agradar nem um pouco: namoros acabavam com a produtividade de qualquer um.

.

.

.

Horas haviam passado e Félix continuava dormindo confortavelmente aninhado nos braços da mãe. Suas férias haviam chego, era dia de folga de Nathalie e nada poderia arruinar aquele domingo preguiçoso, nada além de um pequeno gato preto metendo a pata no rosto dele.

— Plagg... — o rapaz murmurou, tentando afastar as patas do gato de si.

— Finge de morto, uma hora ele cansa... — Nathalie sussurrou, mantendo os olhos fechados.

O gato, parecendo notar a estratégia, parou com as tentativas de acordar o dono mais novo e pulou da cama. Ele caminhou de forma elegante até uma estante com alguns livros, virando-se de costas para a mesma, levantando a cauda e...

— Nem pense, gato idiota! — a mulher ameaçou, a esta altura ela já estava sentada na cama e se preparando para levantar.

Plagg, como o cinismo que apenas um gato poderia ter, marcou território em três ou quatro edições limitadas de capa dura que estavam na prateleira de baixo. Nathalie estava prestes a cuspir fogo, pronta para se livrar daquele animal de uma vez por todas, mas teve a mão agarrada por Félix assim que se levantou da cama.

— Mãe... — ele já estava fazendo aqueles olhos irresistíveis — Ele ainda é filhote, por favor...

— Certo, certo — ela suspirou, passando a mão livre pelo rosto e tentando se acalmar — Ele fica, mas ele vai ser castrado! Tente marcar a cirurgia o mais rápido possível.

— Ca-castrado? — Félix arregalou os olhos, surpreso com uma decisão tão severa.

— Acredite, se ele continuar me irritando farei eu mesma. Esse animal precisa entender limites! — Nathalie avisou — Pode ficar na cama mais um pouco, vou tentar limpar isso... — ela se soltou delicadamente do filho e mexeu nos fios loiros, antes de sair do quarto e quase tropeçar em Plagg, que no momento, estava sentado bem no meio do caminho.

— Sinto muito por você... — o rapaz comentou com o gato, chamando a atenção do pequeno para ele — Não acho que seja algo pessoal, talvez se você se comportar melhor a minha mãe até deixe essa ideia de lado.

Tudo o que o bichano fez em relação a sua situação problemática foi subir na cama, se esfregar gentilmente no dono e, em seguida, cuspir uma bola de pelos em um dos pijamas preferidos de Félix.

— Minha mãe realmente tem razão sobre você precisar entender limites — suspirou o rapaz, já imaginando como seria complicado cuidar de Plagg quando estivessem sozinhos.

.

.

.

Preparar o café da manhã foi um verdadeiro desafio, visto que os armários estavam praticamente vazios. Fazia quase um mês que ela enrolava para ir fazer compras, ressalve um ou outro produto que ela adquiria em lojas de conveniência pelo caminho de volta para casa. Ela e Félix só estavam em casa aos domingos, era bem mais prático comerem fora do que enfrentar horas em algum supermercado.

— É realmente isso o que tem para o café da manhã? — o rapaz falava com certa incredulidade.

— Algo contra sorvete de amora? — perguntou Nathalie, com uma fachada perfeita de tranquilidade.

— Nada — ele encolheu os ombros — Só é algo estranho para comer de manhã...

— Se quiser, acho que tem brócolis na geladeira.

— Sorvete é bom a qualquer hora! — o rapaz se calou em seguida, apreciando sua taça de sorvete com cobertura de chocolate.

Ela precisaria fazer compras. Não poderia deixar o filho sobrevivendo apenas com batatas, um pote de sorvete pela metade e pó de café o resto das férias.

.

.

.

Gabriel Agreste estava em seu ateliê, mas estava longe de conseguir produzir algum desenho digno de sua marca. Tudo o que ele conseguia pensar era em perder a melhor assistente que já teve por culpa de um namoro, que resultaria em uma drástica queda na eficiência dela.

Tudo não passava de, no máximo, suposições. Mas para o Agreste era tudo a mais absoluta e concreta verdade: Nathalie estava com paixonite aguda.

Ele não poderia deixar sua assistente arruinar a própria carreira – e a dele – por causa de um amor passageiro! Ele precisava interferir naquilo antes que virasse um relacionamento estruturado, talvez até mesmo um noivado... na pior das hipóteses, um casamento.

O homem balançou a cabeça negativamente, tentando não deixar a imaginação ir tão longe.

Nathalie passava longe do tipo de mulher que quer entrar na igreja de branco ou que quer crianças correndo pela casa. Ela era do tipo totalmente dedicada ao trabalho, talvez disposta a cuidar de um gato. Ele precisava mantê-la assim pelo bem da Agreste!

E então, ele se meteu a formular um plano mirabolante apenas para a manter ocupada ao extremo durante toda a semana. Gabriel não poderia modificar a própria agenda – já havia tentado fazer isso uma vez e deu completamente errado pois ele não sabia que precisava avisar aos outros envolvidos em seus compromissos que estava mudando o horário de algo -, mas poderia exigir o máximo possível de coisas aleatórias de Nathalie.

.

.

.

Domingo não era só o dia de relaxar em família, longe disso, era o dia reservado para as tarefas domésticas: limpeza, cortar a grama, lavagem de roupas e tantos outros afazeres que donos de casa enfrentavam ao longo da semana e, pela falta de tempo, Nathalie condensava tudo em um único dia. Claro, ela sempre contava com a ajuda de Félix, mas ele não poderia ajudar muito sem forçar o tornozelo machucado.

Limpar a casa toda havia tomado algumas horas, mas ver as coisas limpas e arrumadas era relaxante, diferente de lavar as roupas. Tal tarefa era completamente entediante para Nathalie: lavar, colocar na secadora e depois engomar eram atos simples, mas saber quais peças poderiam passar pela secadora ou não era um ponto que a irritava – felizmente, depois de tantas e tantas vezes fazendo a tarefa, ela já havia decorado as normas de alguns tecidos. Montar o pequeno varal na área de serviços, estender peça por peça e depois recolher chegava a ser irritante. Passar repetidas vezes para que as dobras ficassem perfeitas era tortura.

Fugir de tal obrigação por tanto tempo fez com que as roupas ficassem acumuladas por mais de duas semanas, resultando em uma montanha de peças para lavar. Haja logística para resolver aquilo sem ter espaço o suficiente para lavar todas as roupas de uma vez!

Por sorte, Nathalie conseguia montar um fluxograma em sua mente que a serviria perfeitamente:

.

Tem mais peças de qual grupo?

[Roupas claras/Roupas escuras/Roupas coloridas/TODAS]

.

Você pode lavar todas juntas?

[Sim/Não]

.

Tem certeza que quer manchar as roupas?

[Sim/Não]

.

Vamos de novo: você pode lavar todas juntas?

[Sim/Não]

.

Qual sua prioridade?

[Roupas de cama/Roupas do Félix/Suéteres]

.

E o pijama preferido do seu filho?

[Ele vai conseguir dormir sem ele/Se não lavar logo, pode manchar]

.

Nathalie, seja uma boa mãe!

[Lavar as roupas do Félix/Suéteres, suéteres, suéteres]

.

Seja como for, você ainda tem roupas para ir trabalhar, certo?

[Não/Digamos que sim]

.

Você tem uma coleção de suéteres, com certeza tem algum sobrando!

[Ainda tenho um/EU SÓ TENHO MAIS UM!]

.

Você usa o mesmo uniforme todos os dias, ninguém vai notar se repetir o mesmo!

[Verdade/Eu não ligo caso notem]

.

Nathalie sorriu satisfeita, separando todas as roupas escuras de Félix para colocar na máquina de lavar. Entretanto, ela notou que parecia estar faltando algo... tinham bastantes peças, mas não tantas quanto ela esperava.

Então, ela se lembrou de um pequeno detalhe: ela só tinha buscado o filho no colégio, não pegou absolutamente nada dele que estava lá. Ela precisava resolver isso o quanto mais rápido!

.

.

.

A ida ao colégio onde Félix estudava foi rápida. Não demorou nem mesmo uma hora até que tudo estivesse resolvido, as roupas e demais quinquilharias prontas para serem levadas para casa.

O que realmente demorou foi o almoço: pararam no restaurante de sempre, que ficava no meio do caminho até em casa. O lugar estava mais cheio que o de costume, provavelmente por consequência do início das férias. Felizmente, a demora valia a pena: a comida de lá era deliciosa.

Motivados pela fome, mãe e filho comeram como se fosse um verdadeiro banquete, deixando apenas o espaço para a sobremesa: uma taça enorme de sundae para cada um.

Não tinha como ficar melhor!

... Mas tinha como perder um tanto da graça:

Félix notou uma mensagem nova no celular da mãe e aproveitou ela estar concentrada demais em não deixar sua cobertura escorrer para poder pegar o aparelho sem ela notar. Mais uma vez, era uma mensagem do chefe dela:

.

Gabriel Agreste diz:

“Nathalie, onde você guarda as folhas de recado? ” [12:16]

.

O rapaz sorriu de canto, capturou uma foto de Nathalie bem no momento em que ela enfiava uma cereja coberta de chantili na boca e mandou para o Agreste, com a seguinte legenda:

.

Nathalie Sancoeur diz:

“Ela está ocupada guardando cerejas! “ [12:17]

.

Félix sorriu satisfeito, mais uma vez apagando as mensagens e as provas de sua travessura. Claro, a foto ele deixou guardada no celular: eram raras as vezes em que a mãe não estava com o uniforme ou vestindo algo exageradamente recatado. Uma verdadeira pena, já que os vestidos lhe caiam bem.

.

.

.

Longe de lá, na mansão Agreste, Gabriel estava em dúvida se jogar o celular na parede aliviaria mais o estresse do que rasgar folhas de contratos importantes. Ele havia pensado em várias coisas, tido várias ideias para manter a assistente ocupada, mas do que adiantava tudo aquilo se ele não se lembraria depois!? Ele precisava anotar, mas onde infernos Nathalie enfiava todos os papéis!?

As únicas folhas limpas que ele encontrou eram as que usava para desenhar, especificas para seu trabalho. Se ele queria fazer uma lista, teria que ser em uma folha comum! Ele gostava das coisas em seus devidos formatos!

Entretanto, os únicos papéis que achou foram contratos e documentos de avaliação que Nathalie havia deixado para ele assinar. Isso e um pequeno bloco de papel amarelado, um grudado ao outro, que ele reconheceu como sendo o papel que ela utilizava para prender recados pela mesa.

A irritação em não achar nada de útil o fez ir derramando as folhas no chão conforme eram descartados para a função de lista. Ele mandou uma mensagem para ela, mas recebeu apenas um aumento de frustração com uma mensagem tão antiética da assistente.

Agora, ele estava ajoelhado no meio daquela bagunça e pensando em qual método utilizaria para extravasar a raiva.

— Pai, o almoço já... Pai? — Adrien se calou assim que entrou no ateliê — Por que o senhor está aí com todos esses papéis em volta?

— É só... — ele não poderia exigir compreensão, sua mente artística fazia-o tomar decisões diferentes das demais pessoas — ... mais inspirador assinar contratos assim — mentiu.

— Entendo... — sussurrou o mais novo, olhando para a bagunça — Não vai almoçar?

— Vou, claro que vou — falou Gabriel enquanto se levantava — Adrien, você teria algum tipo de papel para listas?

— Er... — o rapaz desviou o olhar, já sabendo onde aquilo iria parar — Depois do almoço procuramos por algum.

.

.

.

Félix estava preocupado com a mãe.

Nathalie havia o levado em casa, ajudado a guardas as coisas que buscaram no colégio e depois foi fazer compras. Ambos concordaram que era melhor Félix esperar em casa, o tornozelo machucado iria fazer com que tudo apenas demorasse mais.

Entretanto, ele havia escondido o celular dela durante o almoço e esqueceu completamente que o aparelho estava no bolso da calça. Agora, horas e horas depois, ele se culpava por não conseguir notícias da mãe.

O rapaz já tinha lido alguns capítulos de um livro qualquer; já tinha devorado o resto do sorvete de amora; já tinha tentado lavar o restante das roupas – o que resultou em um pequeno acidente, nada que a mãe precisasse saber -; já tinha brincado com Plagg e não tinha mais ideias do que fazer até ela chegar, a preocupação não permitia que a imaginação fertilizasse.

E, então, um aviso de mensagens fez com que o celular de Nathalie emitisse um som completamente diferente. Não era o barulho discreto usado para o chefe ou demais contatos profissionais, era um toque fofo. Um toque que se repetiu diversas vezes em alguns segundos.

Movido pela curiosidade, Félix pegou o aparelho na mesma hora e começou a ler.

.

Adrien Agreste diz:

“Nathalie, temos um problema! ” [18:44]

.

Logo em seguida, tinha uma foto de um homem sentado em frente a uma escrivaninha, cercado de canetas, parecendo completamente alheio à sua volta.

.

Adrien Agreste diz:

“Meu pai achou minha coleção de marca textos! ” [18:44]

.

Adrien Agreste diz:

“COMO FAZ PRA TIRAR ELE DE PERTO DAS MINHAS CANETAS!?” [18:44]

.

E, seguindo a mensagem, mais uma foto. Dessa vez tirada de uma forma mais próxima, mostrando vários e vários papéis amassados, canetas destampadas e um homem completamente focado no que estava fazendo.

.

Félix sabia que Adrien era filho de Gabriel Agreste.

Félix sabia que aquelas fotos provavelmente eram de Gabriel Agreste.

Félix sabia que não tinha motivos para ter ciúmes de Adrien, ele e a mãe nem deveriam se ver com frequência, já que ela nunca falava dele...

Porém, que tipo de relação os dois tinham para ele ter aquele toque diferente? O que levava o Agreste Jr a pensar que poderia encher Nathalie de problemas durante a folga, igual o outro? O que Félix poderia fazer para interromper aquilo?

O rapaz sorriu, um sorriso de canto, enquanto enviava a mensagem de resposta:

.

Nathalie Sancoeur diz:

“Pesquisa no Google”. [18:45]

.

Novas mensagens vieram, uma atrás da outra. A primeira de todas era um screenshot da tela do celular em um site de buscas, com a seguinte tema de pesquisa “Como fazer meu pai largar minhas canetas? ”. As respostas obtidas eram completamente aleatórias, na maioria tutoriais de personalização de canetas com temática de dia dos pais.

.

Adrien Agreste diz:

“Não deu certo! ” [18:45]

.

Adrien Agreste diz:

“E agora!?” [18:45]

.

Adrien Agreste diz:

“OMG, ele está falando que vai querer canetas iguais! ” [18:46]

.

Adrien Agreste diz:

“NATHALIE ELE ESTÁ LEVANDO AS MINHAS PRECIOSAS! ” [18:46]

.

Agora tinha mais uma screenshot. Era o mesmo site de buscas, com a seguinte pesquisa: “Como fazer o meu pai não roubar minhas canetas? ”. Novamente, as respostas eram completamente aleatórias e de nenhuma serventia.

.

Adrien Agreste diz:

“VOCÊ PRECISA VIR E PARAR ELE! ” [18:46]

.

Nathalie Sancoeur diz:

“Você precisa aprender a digitar mais de uma frase no mesmo parágrafo, como por exemplo:

Estou ocupada agora, mas amanhã irei trabalhar no mesmo horário de sempre. Tente lidar com ele até lá.

Boa noite. ” [18:46]

.

Adrien Agreste diz:

“Okay! Boa noite, Nathalie! ” [18:46]

.

Aquele coraçãozinho no final da frase fez com que Félix rangesse os dentes. Então Adrien era realmente uma ameaça... não uma ameaça como um namorado ou coisa do gênero, era uma ameaça ainda pior: ele era uma ameaça como filho emprestado!

As coisas não poderiam ficar assim, os Agrestes tinham que entender o limite que estavam ultrapassando!

Antes que ele pudesse pensar em qualquer coisa a respeito, a porta da casa se abriu e Nathalie entrou, esbaforida, com várias e várias bolsas na mão. Ela não falou absolutamente nada, só caminhou lentamente até a cozinha e deixou as alças pesadas escorregarem entre os dedos.

— Mãe? Está tudo bem? Por que demorou tanto? Por que comprou tantas coisas? — enquanto disparava as perguntas, o loiro caminhou da melhor maneira que pode até chegar onde a mãe estava.

— Cansada; fila grande; só tínhamos pó de café; você guarda tudo — foi tudo o que a mulher disse enquanto tentava recompor o fôlego, caminhando lentamente em direção a escada para o segundo andar.

— Vai querer o que para o jantar? — ele elevou um pouco a voz para que ela ouvisse.

— Qualquer coisa! — respondeu a mãe.

.

.

.

Félix poderia dizer com toda a certeza que nasceu com dois dons: o primeiro era de ser azarado, um desafortunado nato, um azarento que nem mesmo uma pata de coelho salvava; o segundo era o de cozinhar tão habilmente quanto um chef talentoso, ao ponto de transformar até mesmo brócolis e frango em uma maravilha gastronômica.

Claro, seu segundo dom era muito mais apreciado por Nathalie do que o primeiro.

Depois do jantar regado com uma conversa casual e curta sobre os cuidados que ele deveria tomar estando sozinho em casa no dia seguinte, era a hora de lavar a louça. Daí entrava o desagrado de Nathalie com o primeiro dom de Félix: ele sempre quebrava copos e pratos quando ia lavar algo. Por mais que ela tentasse impedir o filho, ele sempre fazia questão de querer ajudar.

Naquela noite, entretanto, ela o manteve longe dos últimos copos que ainda tinha com a desculpa de que ele não poderia ficar de pé por muito tempo devido ao tornozelo machucado. Não muito contente, Félix ficou apenas observando-a limpar tudo.

Ele olhava a mãe como se admirasse uma obra de arte: até mesmo com um moletom surrado substituindo os adorados suéteres, o cabelo desgrenhado e descalça, ela era a mulher mais linda do mundo. Pelo menos, ele a via como a mulher mais linda do mundo dele, o que chegava a considerar injusto com as demais pessoas: os outros só conheciam a Nathalie de uniforme e séria, ele era o único que conhecia a mãe daquele jeito.

E então, estragando aquele momento de contemplação, o toque no celular de Nathalie soou de novo. Por sorte, era o toque padrão para contatos profissionais:

— Eu sabia que tinha esquecido o celular em casa! — ela comentou, um tanto aliviada — Vê o que é pra mim, filho?

— Claro — ele sorriu ainda mais aliviado do que ela enquanto olhava as mensagens, não tinha levado a culpa por ficar com o celular.

.

Gabriel Agreste diz:

“Nathalie, qual minha senha do Instagram?” [20:12]

.

Nathalie Sancoeur diz:

“Amanhã falamos sobre” [20:12]

.

Gabriel Agreste diz:

“Eu preciso dela AGORA!” [20:12]

.

Nathalie Sancoeur diz:

“Agora eu estou ocupada...” [20:12]

.

E, como de praxe, Félix enviou uma foto da mãe. Diferente das outras, não tinha nada de muito interesse na foto, era apenas Nathalie lavando a louça. Rapidamente, ele apagou a foto e as mensagens, deixando apenas a primeira.

.

— O que era? — a mulher perguntou, olhando para o filho por cima do ombro.

— Seu chefe quer a senha do Instagram... — ele respondeu encolhendo os ombros, fingindo perfeitamente que não havia feito nada.

— Vídeos de gatinho de novo não... — ela suspirou.

— Acha que ele iria gostar se eu mandasse uma foto do Plagg?

— Do jeito que ele é, provável que crie uma linha de roupas para gatos.. — novamente, ela suspirou — Falando no Plagg, coloca ração pra esse chato — pediu ela olhando para o gato estirado no chão da cozinha, dormindo.

— Não precisa — o loiro sorriu.

— E por que não?

— Ele comeu um monte de coisas enquanto eu estava cozinhando...

Não precisou palavra alguma de Nathalie para que o rapaz entendesse que ela não estava feliz em saber daquilo, bastou ela acenar negativamente a cabeça. O gatinho já dava trabalho demais sozinho, caso começasse a passar mal por culpa de uma alimentação desequilibrada, ela não saberia mais o que fazer.

— Mãe... desculpa? — ele perguntou baixo, saindo de sua cadeira e indo até ela, a abraçando o mais apertado que podia.

— Se não fizer mais, tudo bem — apesar de tentar soar dura, ela já estava sorrindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Caso queiram ler mais:
Nyah!: .br/u/751821/
Spirit: perfil/laviniacrist/historias
Inkspired: /pt/u/laviniacrist/
A3O: /users/LaviniaCrist/works
FanfictionNET: u/2918352/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mãe Solteira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.