As Contrações da Fala escrita por Lyn Black, Indignado Secreto de Natal


Capítulo 6
CAPÍTulo 6


Notas iniciais do capítulo

Ana do meu coração, eu tardo, mas chego aonde você queria!
Boa leitura meus amores!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/772099/chapter/6

CAPÍTULO 6

 

There is a house built out of stone

Wooden floors, walls and window sills

Tables and chairs worn by all of the dust

This is a place where I don't feel alone

This is a place where I feel at home

— To Build a Home, The Cinematic Orchestra



23 de dezembro de 1981

 

A carta “com os detalhes” chegou uma semana antes do Natal propriamente dito, e entre os garranchos elaborados de Sirius, Remus percebeu uma mancha de óleo e como ela tinha sido escrita em momentos diferentes. Alguns rabiscos amarelos de giz de cera, feitos por Harry, foram até mesmo explicados com bom-humor no meio do texto. Ele era esperado pela manhã do dia vinte três, quarto de hóspedes disponível e preparado para sua presença, porque, como Sirius colocara “Harry adoraria ter um Natal estendido, o quanto antes te ver, melhor”.

Sirius também pedira que Remus trouxesse uma árvore de Natal – aparentemente, a deles havia pegado fogo, mas estava tudo bem! – o que fez Lupin quase ter uma síncope de risos e nervoso. Provavelmente, era uma desculpa para decorar a árvore junto de Harry, pensou o rapaz, com um sorriso.

Remus olhou o apartamento mais uma vez e lançou um feitiço extra de proteção. O colchão estava sem lençóis, já que ele metodicamente os guardara para não pegarem poeira enquanto estivesse fora. Mala na mão com algumas mudas de roupa, um vazio no estômago, ele estava checando tudo pela terceira vez, nervoso de deixar o prédio afastado na região menos favorecida de Londres para o Natal de Godric’s.

Sirius havia lhe mandado uma chave de portal, já que a casa estava guarnecida com vários feitiços anti-aparatação, e Remus se agonizava com tudo preparado esperando as dez horas chegarem. Faltavam cinco minutos, checou novamente com a varinha. O pinheiro é bem charmoso, pensou em voz alta. Dentro de um vaso, Lupin pensava em preservá-lo com feitiços até a neve sair e poder ser replantado no quintal dos Potter, mas era só uma ideia.

Folheou um livro de poemas dado por Marlene em seu último aniversário, decidindo-se por levá-lo para tê-lo nas mãos caso a companhia de Sirius fosse muito desconcertante, afinal, o rompante dele em sua moradia fora uma medida paliativa para o lugar estranho onde eles estavam. Distraído com os poemas, ele mal percebeu quando a chave de portal começou a brilhar, indicando que era hora.

— Droga – exclamou, estendendo a mão enquanto encostava tanto na mala quanto na árvore.

A sensação de ser engolido não era tão estranha após anos usando esse artifício, mas Remus nunca quis tanto ter uma lareira mágica.

Cair de cara no chão não era a entrada que ele queria, mas era certamente a mais econômica já que teria que fazer uns malabarismos com trens para chegar ao pequeno vilarejo. Se o pinheiro ficasse intacto, sua missão estava cumprida, riu consigo mesmo, ao sentir-se caindo.

Aresto Momentum. – A voz chegou aos seus ouvidos como uma benção divina, fazendo-o paralisar e depois dar de cara no chão com uma suavidade ímpar.

O barulho de sua mala caindo no chão junto do vaso com o pinheiro – a ideia de ter carregado um pinheiro com ele ainda o fazia rir – foi um tanto espalhafatoso. Da próxima vez, ele certamente encantaria tudo para caber na palma de sua mão, mas aquilo só lhe ocorria agora.

— Você era menos desajeitado em Hogwarts, Aluado – disse Sirius, contendo o riso e estendendo uma mão.

Remus apenas revirou os olhos, e se ajoelhou na neve que havia caído na noite anterior, levantando-se com apoio da perna e dispensando a mão estendida.

— É uma questão de hábito, claramente. – devolveu, tentando manter sua dignidade.

Quando foi esticar sua mão para pegar a sua maleta, Sirius tratou de superá-lo em agilidade.

— Você vem ou vai ficar aí plantado? – perguntou provocando o moço de olhos cor de mel.

Dando os ombros e escondendo as mãos nos bolsos do casaco, Lupin cogitou segui-lo, mas parou.

— A árvore, Sirius. – indicou o pinheiro com a mão.

— Estou vendo, obrigada, aliás. – Sirius ainda continha um pequeno sorriso, tentando manter a normalidade.

— Você pretende deixá-la aqui fora? No meio dessa neve? – questionou, gesticulando com fervor.

Sirius estava ainda concentrado em absorver os discretos rasgos na calça jeans do outro, mas distribuiu sua atenção facilmente.

— Onde você espera que ela fique? – respondeu com outra pergunta e deu uma piscadela, voltando às costas para Remus, quem pareceu sem palavras, preso a sua árvore.

— É uma árvore de Natal –, gesticulou Lupin, claramente desaforado. – trate-a com a devida consideração, Sirius.

O tom mesclava ironia e condescendência, o mesmo que ele fazia quando Sirius falava absurdos apenas para se entreter com sua reação.

Ele virou seu corpo, e trocou a mala de mão, dando um leve tapa no próprio rosto.

— Oh Merlin, como eu pude ser tão desconsiderado, senhora Árvore! – proclamou dramaticamente para o pinheiro. Caminhou até ele, e encostou a mão livre na folhagem. – Eu peço solenemente seu perdão.

Mantendo a seriedade, Sirius escondia uma boa risada diante do jeito que Remus inspirava como se estivesse lidando com uma criança travessa. Ele se manteve na posição, repetindo suas desculpas teatrais até obter alguma resposta de Remus. Quando espiou, percebeu que o rapaz já girava a maçaneta.

— Remus! – gritou com deboche. – Será que já fui perdoado?

Lupin não se dignou a virar para encarar o baderneiro, mas ele sentiu-o revirando os olhos.

— Onde está meu lobinho favorito? – O tom carinhoso, mas ao mesmo tempo resguardado, impulsionou Sirius para dentro da casa também.

Remus estava ainda observando a recriação da sala de estar dos Potter quando ele chegou por detrás dele, pousando uma mão no seu ombro. O sobressalto de Lupin quase fez Sirius ter seu próprio susto. Já estava acostumado com o ambiente e só às vezes se parava observando os detalhes que conseguira manter do que antes era o lar de Lily e James.

Voltou a colocar a mão no ombro do amigo, apertando um pouco seu ombro.

— Eu ficava assim no começo, também.

Remus apenas balançou a cabeça em concordância.

— É estranho. Parece que a qualquer hora Lily vai aparecer pela porta da biblioteca com chá verde nas mãos.

Sirius sabia que se entrassem naquele Natal com aquele espírito, Harry iria apenas ficar mais amuado, portanto, apenas apertou novamente o ombro do outro, em apoio.

— Posso pegar seu casaco? – ofereceu, se colocando ao lado de Remus.

Lupin sorriu, agradecido, e retirou o casaco por si mesmo, procurando o cabideiro com os olhos, mas Sirius apenas balançou a varinha, fazendo com que ele desaparecesse.

— Direto para o seu quarto – respondeu aos olhos caramelados.

Ele anuiu.

— Onde está Harry, então? – perguntou, não escondendo nem um pouco a saudade, mas ainda nervoso, esfregando as mãos nas suas calças sem perceber.

Black apenas deixou-se sorrir por dentro, e indicou a escada, por onde começou a seguir, sendo seguido de perto por Lupin.

— Deve estar acordando, ele estava meio sonolento, não dormiu bem de ontem pra hoje. – comentou Sirius.

Um vinco apareceu na testa de Remus, reconhecendo agora como os olhos de Sirius pareciam mais cansados do que da última vez que o viu.

— Ele está bem? Deve ser fácil pegar uma gripe com esse frio.

Atingindo o segundo andar, Sirius casualmente colocou os cabelos que fugiam de seu rabo de cavalo improvisado atrás da orelha.

— Mais uma noite ruim – explicou Sirius. – Ele está tendo dessas com mais frequência, aí eu o coloco para dormir comigo, mas graças a Morgana não pegou nem um resfriado até agora.

A gratidão era palpável, fazendo Lupin considerar como a rotina de Sirius deveria estar sendo. Pelo menos ele não tinha que trabalhar.

— Algumas ervas podem acalmá-lo antes de dormir, posso fazer algo para ele hoje – sugeriu, seguindo o amigo pelo corredor de chão amadeirado.

As paredes brancas não tinham mais as pinturas usuais, notou Remus, substituídos por fotos bruxas e trouxas. Lupin sentiu os olhos pinicarem diante da foto tirada no casamento dos pais de Harry, mas desviou os olhos. Sirius parecera concentrado demais em não acordar Harry, caso ainda estivesse adormecido, então nem respondeu.

Pé ante pé, Remus entrou no quarto escurecido decorado em tons amarelos, observando a vassoura de brinquedo escorada no canto junto de vários brinquedos coloridos. O seu coração se aqueceu quando viu que, de alguma forma, Sirius recuperara o bibelô que encontrara numa missão pouco após Lily anunciar a gravidez.

Temeroso de acordar o menino que não via há uns bons quatro meses, espiou a criança deitada no berço agarrada, ou melhor, com o rostinho quase afundado, num lobo de pelúcia. Sorriu ao ver os cabelos pretos, tão vivos, de Harry.

— Melhor voltarmos mais tarde – sussurrou para Sirius, já se encaminhando para fora do quarto detentor de uma essência que tinha as mãos de Lily.

Sirius permaneceu parado, olhando a criança de costas para Lupin.

— Sirius – tornou a sussurrar, não querendo atrapalhar o sono do pequeno.

Os temidos movimentos do bebê se mexendo no berço encheram de culpa o coração de Remus, mas fizeram um sorriso vitorioso aparecer no rosto de Black.

Ele esticou uma mão, fazendo um carinho suave na barriga do menino, quem pareceu emitir grunhidos desconexos. Harry virou-se, deixando seu rosto à mostra através das grades do berço, e Remus notou o pequeno raio, já tão famoso, na testa dele.

— Ele já está acordando, enrola assim sempre – comentou, mantendo sua voz baixa.

Remus assentiu, encostando-se no espaço entre a porta e a cômoda.

Sirius virou o rosto e arqueou uma sobrancelha.

— Vai ficar aí longe, Aluado? Ele não morde. – Sua voz era bem-humorada, mas guardava certo receio.

Lupin deu um sorriso sem-graça.

— Não quero assustá-lo. – Tentou se justificar.

Black apenas revirou os olhos e mexeu levemente no corpo de Harry, fazendo o bebê emitir mais sons comuns a sua idade. Um pouco mais perto, Remus observou Harry abrir seus olhos, ainda em meio ao mundo dos sonhos. Mexendo os braços, o pequeno Potter logo perdeu interesse em seu dedo indicador quando percebeu que alguém além de seu padrinho estava lá.

Seus olhos esverdeados trouxeram uma sensação de quentura para o peito de Remus, que abriu involuntariamente um sorriso e se aproximou do berço. A primeiro momento, processando a imagem recebida, Harry rapidamente rolou para perto da grade do berço, segurando-se nela para poder ficar de pé sozinho.

— Hey Harry, se lembra do tio Aluado? – perguntou em um tom baixo, nivelando seu rosto na altura do da criança.

Harry riu e esticou as mãozinhas, pedindo para ser segurado.

— É a sua chance, Remmie – disse Sirius, indicando como o afilhado queria ser levantado por Remus.

Um pouco desajeitado, mas logo se acostumando ao novo peso de Harry, ele colocou-o no seu colo, sorriso bobo no rosto. Sirius jurou ter visto os olhos de Remus brilharem com lágrimas até, mas apenas deixou uma risada gostosa escapar quando Potter, em meio aos seus gritos de guerra, enfiou dois dedos numa das narinas de Remus.

Aquele Natal, enquanto Harry estivesse entre eles para evitar estranhezas, seria o melhor que poderiam fazer.






Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Awnt, esse bebê mexe comigo...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Contrações da Fala" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.