Venha Comigo. vol 3: Vida Morta escrita por Cassiano Souza


Capítulo 7
O que sempre nos resta


Notas iniciais do capítulo

Muitos dos pontos não acabados no capítulo anterior serão continuados aqui, então espero que ainda se lembrem de tudo. E este foi um capítulo que então teve que seguir outro plano, outro que eu já havia pensado e descartado, mas é que quero dar espaço dentre os acontecimentos, para vermos mais dos personagens. Eu sei que eu gostei muito do capítulo, mas acho que você poderá não gostar, ou odiar kkkk já que teremos momentos de tudo aqui, desde pena do personagem, ódio, ou vontade de ajuda-lo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771366/chapter/7

 

Já de pernas doloridas, e de botas sujas pelo sumo do mato pisoteado pelo caminho, continuavam todas as quinze duplas em caminharem distintas pela densa floresta, e, já umedecida pelo orvalho da manhã. Mas, esta, não era uma simples caminhada, não era uma caminhada, ainda eram as rondas em defesa dos sobreviventes do vilarejo. Onde assim, ainda checavam e armavam as armadilhas, e tentavam perceber possíveis ameaças. Um silêncio mergulhado em tensão e duvida acompanhava agora cada um dos patrulheiros. 

— Mais uma desarmada. - Diz Lermin, apontando a sua arma para uma engenhoca constituída de uma foice pendurada em um galho de uma arvore, e cordas e cabos de aços amarados em estacas no chão e nos galhos.

— Bem, mas não é mais “uma”. - Avisa Aduen.

Lermin o-encara desentendido. Aduen esclarece:

— É a décima que conto.

— Que droga, então.

— É, que droga. - Riu baixo. – Mas, ainda podíamos dizer coisa pior.

— É, nunca queria me ver bêbado.

Então, mexendo nos cabos de aço e nas várias cordas e amarrações complexas, Lermin começava a rearmar a armadilha para feras. E olhando para a postura totalmente improvável e cheia de aparente experiência que Aduen demostrava mirando ao arredor e portado o armamento, acabada isso, despertando uma certa curiosidade em Lermin:

— Você nunca esteve em um conflito armado, não é mesmo?

— Não. - Confirmou Aduen. 

— E não possui experiência com armas e essas coisas, possui? - Terminava com a armadilha.

— Não.

Mas, mesmo com essas respostas, Lermin apenas lançava descrença por seu olhar.

— Engraçado. - Diz ele. – Pelo que vi no combate contra os Cybermans... Eu nunca conseguiria imaginar alguém com uma mira tão boa e agilidade dizer que nunca esteve em um confronto armado antes.

E assim, Aduen tentava evitar ao máximo contato visual direto com o amigo. Lermin insiste:

— Você entende mesmo disso, não entende? 

— Claro que não, aquilo foi apenas... Sorte.

— "Sorte"? Então muitos dos outros que estavam comigo deviam ser muito azarados. - Deu uma pausa. – Pois eles tinham muita experiência, e ainda assim estão na pilha de cadáveres agora.

— Sinto muito. O que quer que eu diga?

— Nada, mas isto era só uma coisa que eu estava imaginando. Você não é tão ingênuo o-quanto mostra.

— Eu não sei do que você está falando.

— Ainda não estou falando, só estou imaginando. O que você fazia antes disso?

— Nada, e eu quero que pare com isso. - Avisou irritado.

E de repente, a armadilha acaba se ativando, e vindo em direção de Aduen. Ela era uma ferramenta que acabava soltando as hastes laterais de sua foice pendurada, assim que tinha um dos seus cabos puxados, e que faziam ela descer em disparada. Mas, tentando evitar o pior para o amigo, Lermin se jogava contra Aduen, para retira-lo de mira, e acaba consequentemente tendo o seu antebraço direito sendo ferido seriamente:

— O meu braço! - Berrava pelo chão, e tentando parar o sangue, fazendo pressão contra o enorme rasgo. – Está saindo muito sangue!

— E como isso aconteceu?! Ela devia fazer isso?

— Não! - Franzia a testa fortemente pelo dor.

Enquanto Aduen se volta para a armadilha, notava o possível estopim de sua ativação, um Cybermat saindo silencioso. Mas, mirando certeiro, disparava contra o ser, e acabava o-acertando pontualmente. E Lermin, o encara com um olhar que dizia “viu, eu sei que você não é tão ingênuo”.

— Está sangrando muito! Isto é muito sério. - Diz Aduen, vendo o braço do amigo totalmente encharcado, e sendo percorrido intensamente pelo seu vital fluido. – Não podemos fazer alguma coisa?

— O seu cachecol!

— O meu cachecol?

— Ele é longo, podemos usa-lo como atadura.

— Atadura...? Mas é que...

— Que o quê? Enfaixe logo ele em meu antebraço!

— Não posso. - Avisou envergonhado.

— Não pode?! Aduen, pare de ser egoísta! - E assim, com impaciência e nervosismo, Lermin puxa à força o cachecol de seu amigo.

— Não! - Gritou, tentando esconder seu pescoço.

Com este vestuário arrancado, Lermin entendia de onde vinha o apego que Aduen tinha por aquela mera peça, que ele não usava por simples estilo ou necessidade de se aquecer, mas sim, por esconder o chamativo sintoma que a sua doença lhe trazia, como sérias marcas ao redor de seu pescoço. Aquele era o sinal de um problema muito descriminado por todos, e que fazia com que os seus portadores acabassem sendo maltratados por todos os ignorantes.

— Isso são as marcas do... - Imaginava Lermin o nome da doença.

— São! - Responde Aduen, encarando muito sério, enquanto Lermin, apenas permanecia sem uma reação concreta.

O clima de tensão se forma instantaneamente. Aduen permanecia aparentemente irritado, e Lermin, muito surpreso, mas, não demonstrando nenhum tipo de ódio ou repulsa. Porém, quebrando aquele clima agonizante, algo de muito intrigante acontecia agora, vindo como vários e constantes zumbidos. E de repente, vários Cybermats surgiam depressa por meio do mato e das arvores, e marchavam todos para uma só direção em comum, porém, ignorando qualquer um dos dois indivíduos embasbacados.

— O que é isso? - Questiona Lermin, vendo todos os pequenos seres seguirem pelo mesmo rastro.

— Acho que viram alguma coisa. Ou talvez... Vão fazer alguma coisa! - Supõe Aduen.

— Vá e descubra. - Pede Lermin.

— Ir atrás deles?!

— Sim, vá logo antes que se percam de vista. Siga na mesma direção.

— Mas e você?

— Eu vou tentar ficar vivo. - Disse, pegando o cachecol de Aduen, e o-enrolando envolta do seu ferimento.

Aduen, apenas tentava entender aquilo. O seu amigo estava mesmo sendo o tipo de amigo que ele lhe dissera ser? Ou apenas estava pensando em seu próprio bem? Bom, não era isto o que importava neste momento, o mais importante seria entender que Lermin por algum motivo foi respeitoso pelo menos, e o problema maior parecia estar havendo dentro da floresta, e não no relacionamento deles. E assim, seguindo com a sua arma, Aduen partia sozinho na direção do alvoroço. Mas, algo parecia estar errado com ele também, e logo, parou um instante, repousando enquanto via todo o ambiente zanzar em sua visão.

— Aduen, você está bem? - Pergunta Lermin, de onde ainda estava, vendo o amigo andar cambaleando.

— Sim, eu estou. - Ignorou as suas condições fiscais, por mais estarrecedoras que estivessem, e então continuou. 

***

Horas antes da missão.

— Posso entrar? - Preguntou Gaaiu, entrando na sala do gabinete de seu pai.

— Já entrou. - Respondeu o pai. 

— É. - Sentou-se em uma poltrona. – Está tudo bem com o senhor?

— Está. - Confirmou seco.

— Que bom. - Sorriu triste.

— Hum.

— Pai, eu fiz uma coisa. Eu tive de mostrar o nosso projeto ao Doutor.

— O quê?! - Exaltou-se. - Aquele homem desconhecido?

— E qual o problema? Você me interrompeu e confiou nele, não confiou? - Fitavam sérios, um ao outro.

— É diferente, eu só não queria vê-la cometer os meus mesmos erros.

— E quantas vezes eu já não os-fiz? Não seria nenhuma novidade para nós.

— Eu sei, eu sinto muito. - Uooltc encara entristecido ao chão.

— E tem outra coisa.

O pai lança um olhar atento para a flha. Ela diz:

— Faremos uma missão. Para o Lamet.

— Lamet?! Qual o seu problema?! Faz tudo o que esse homem quer agora? É alguma espécie de paixão idiota?!

— “Paixão”, palavra cega, palavra complexa, mas funciona em muitos sentidos. Mas, principalmente para quem ambiciona algo. Eu não ambiciono mais nada, não tenho mais sonhos.

O pai, toma assim novamente uma triste postura cabisbaixa. Más recordações rodeavam-lhe a mente. A filha termina:

— Os meus sonhos se secaram, como os lagos de água doce de Perob. Não estou apaixonada, papai, estou apenas cumprindo o meu dever. Não estou me arriscando por ele ou por mim, é pelas pessoas.

— Mas será perigoso!

— E quando não foi? 

O velho pai não consegue rebater. A vicie continua:

— Iremos imediatamente. Kral e Gharn já prepararam as naves de combate.

— Que seja. - Bufou triste, mas, depois voltou uma face séria novamente para a filha. – E a sua irmã?

Gaaiu desvia o seu olhar. Uooltc indaga:

— Ela também vai com vocês?

— Não.

— E por que não?

— Porque...

— Porque ela morreu. Não foi mesmo?

— Como sabe?

— Porque isto é algo que já é obvio. Em cada olhar, e em cada palavra sua e dos outros... Eu vejo isto escrito em suas testas.

— É o que quer mesmo saber? Então sim, ela está morta. - Disse simplesmente, sem peso algum. – É assim que as coisas acontecem. - Porém, mesmo com tanta asperidade, ainda deixou uma lagrima escorrer de seus olhos conformados.

— Primeiro eu perdi a sua mãe. - Olhava o velho para o frasco de comprimidos, vazio. – Mas acabei ganhando a sua irmã. Ela se foi, mas ainda me deixou um presente. - Sorriu. – E agora... Perdi o meu presente. E parece que chegou a hora de te perder também.

Gaaiu, continuava calada, porém, com mil frases entaladas em sua garganta, ela parecia conformada, mas, a verdade é que ela ainda era uma criança em seu interior. O pai prossegue:

— Eu só tenho você agora! E não quero que você vá nesta viagem estupida!

— Mas eu irei. - Avisou convicta. – Eu já lhe expliquei o caso, e não quero mais perder tempo. Já estou de saída. - Se levanta da poltrona.

— Faz isso tudo por orgulho, não é?

— Quem disse?!

— Eu estou dizendo. É só uma forma de se vingar do seu pai, e se livrar desse povo, e se livrar das nossas obrigações.

— "Como"?! Eu estou sim cansada de tudo, mas nunca diga uma besteira como essas!

— Digo, pois sabe que dará tudo errado.

E ouvindo esta frase e todas aquelas coisas que o seu pai lhe acusava, Gaaiu acaba saindo da sala, mas, não após um forte abraço ou aperto de mãos com o seu pai, não, nada disso... Ela apenas o-encarou enraivada, e saiu simplesmente, sem nem dizer uma simples palavra como um “tchau” ou “até logo”, por exemplo. Ela estava de fato já cansada de tudo, e quanto mais o tempo passava, mais as obrigações de seu pai iriam a diminuir, e as dela continuar a aumentar.

— Pode ir! - Berrou Uooltc. – Eu estou só, eu aceito isso. Mas não admito a derrota do meu povo. Nós ainda iremos escapar. - Suspirou cansado. – Cumprirei o meu papel, nem que seja por uma última vez.

***

Pela vila, fileiras e mais fileiras de pessoas seguiam juntas rumo ao galpão, como pedido pelo Doutor, e ordenado por Gaaiu. E nos arredores do vilarejo, os corpos das 350 vitimas eram então empilhados uns sobre os outros, com muitos ajudando nesta tarefa, e isto, sendo que não havia tempo nem ao menos para que um enterro mesmo que humilde fosse realizado. E vendo de braços cruzados na praça a multidão passar, o Doutor era então surpreendido por um forte abraço, onde Grace, o-abraçava por trás.

— Ah, abraços traseiros, sempre chegando num momento oportuno. - Comenta o Senhor do tempo.

— Abraços traseiros?! Doutor, eu estou tentando te ajudar! Você precisa inventar um nome melhor para isso.

— Desculpe, formalidade de Senhor do Tempo.

Grace o-virava para si:

— Você está triste, não é?

— Você não?

E ao invés de uma mera afirmação verbal, a doutora apenas expressa toda a sua preocupação e tristeza apoiando a sua cabeça nos ombros do Doutor. Diz ele:

— Daqui a pouco nós iremos, Grace.

— Com “nós” você não quer dizer eu também, quer?

E o Senhor do Tempo nada afirma ou nega. A humana esclarece:

— Pois sempre acontece desse jeito, você sempre me deixa para trás. Por quê?

— Você sabe o porquê.

— Claro que sei. - Se afasta, revoltada. – Humanos quebram fácil, Senhores do Tempo quebram difícil.

— Ou talvez porque eu me importe muito com você, mas você seja infantil demais para ver isso. E você é médica, é ótima sob pressão! As pessoas aqui precisarão de alguém assim por elas.

— Tudo bem, eu sei que sempre que você nos diz algo é para o nosso bem.

O Doutor continuava a permanecer sério. Grace bufa:

— Mas não fique com essa cara!

— É a minha cara atual.

Ouvido isso, a ruiva se esforçava ao máximo para não gargalhar, mas, enquanto o Doutor tentava manter a sua seriedade evitando o contato visual, a humana gargalha quebrando imediatamente a tensão. E assim, o Senhor do Tempo também soltava alguns risos.

— Essa é do tipo de piada que só funciona quando se conversa com um Senhor do Tempo! - Disse a humana.

— Mas tem uma pior, você não sabe qual foi o primeiro rosto que esse rosto viu.

— Ok, mas voltando ao assunto, não acho que precise ir em missão alguma. - Abraçava Grace ao Doutor. – Se você poder livrar todas estas pessoas dos Cybermans de uma vez por todas apenas lhes dando uma humana ideal... Por que não faz isso? Não seria mais fácil me entregar? Se pelo bem de todos... Eu não me importaria, e você ainda recuperaria a TARDIS.

— Grace, se eu ouvir você dizendo isso mais uma vez... Eu irei fazer o mesmo que fiz com aquele colega que eu te contei.

— E o quê? Me jogar em um buraco negro?!

— Sim, e será em um dos super massivos, só para deixar bem claro!

— Certo! Mas... E se usássemos as naves para fugir, não podia ser apenas isso? Os Nipraa roubam elas há muito tempo, devem ter muitas.

— Eles tem, mas não há combustível o-suficiente para todas, e apenas quatro estão em bom funcionamento, são aquelas novas, mas ainda assim, muito acabadas por aquele ataque dos Cyberdrones no resgate. E não quero apenas fugir, quero vencer os Cybermans, apesar de estarmos perdendo feio!

— Bem, como diz a minha mãe... Problemas são como uma brisa para quem tiver coragem.

— São, e ela deve ser uma grande mulher!

— Ela é.

— E por que então ainda não fomos apresentados?

— Porque ela adorava o Brian, o que eu direi a ela quando conhece-lo? “Oi mãe, esse é o Doutor, mas ele não é meu namorado, é só o meu melhor amigo alienígena”!

E assim, riam e sorriam, ainda abraçados, mas, ainda vendo a triste vista das pessoas marchando para o esconderijo, e de cadáveres sendo empilhados. Porém, para esquecer daquele fúnebre e sombrio momento, o nascer do sol dava inicio agora a um novo dia, e um fim à aquela madrugada desolada.

— O nascer do sol. - Comenta Grace, admirando os raios dourados aurora que surgia por de trás das montanhas, e ofuscava as nuvens. – Eu sempre vejo o sol nascendo, sabia?

— Você sempre acorda cedo?

— Médica, se esqueceu?

— Hum, mas você ainda não viu nada. Em Gatuun... - Explicava empolgado. – Uma ilusão de ótica celeste gera uma imagem replicada de todo o brilho da manhã... E mil nasceres e pores do sol surgem no mesmo momento! Onde cores incríveis se encontram... E todo o mundo ao seu redor parece mais alegre... Até cores desconhecidas são avistadas ali!

— É sempre maravilhoso quando você fala sobre algo.

— Talvez seja, mas não é um dom.

— Eu sei, é apenas gentileza. E por isso eu quero lhe pedir... Não morra lá em cima, Doutor. Por favor, me prometa que voltará vivo. Sempre que você me deixa eu acho que nunca mais irei vê-lo novamente!

— Grace, eu não posso prometer nada, não isto.

— Então prometa ao menos que tentará não morrer! Você não é para mim apenas o meu melhor amigo e melhor pessoa do universo, é também o primeiro homem que fez alguma diferença em minha vida.

— Não diga isso, você já deve ter conhecido alguém melhor.

— Não, não conheci, pelo menos não como você! E não estou falando sobre você ser um ser alienígena ou muito sábio e inteligente, estou falando sobre o seu coração. Você é incrível e ainda assim somos apenas amigos! Se fosse com outro, tudo o que ele iria querer seria só um namoro ou uma noite idiota.

— Grace...

— Não, não quero saber, me prometa apenas que ficará bem então.

— Tudo bem! Você venceu... Eu prometo que tentarei não ser aniquilado.

— Melhor agora.

— Mas, aviso de que apenas conseguirei isso depois de ter enfrentado um bando de hostilidades terríveis!

— E este é outro ponto que eu sempre achei injusto, você viveu séculos de existência, ajudou todos os que encontrou, e... Tudo para continuar encontrando mais problemas e ter que enfrenta-los sozinho de novo?

— Claro que não! Você está aqui agora, não está? Para que servem os amigos se não para se ferrarem com a gente?!

— Então entramos na TARDIS para nos ferrarmos com você?

— Não exatamente, mas pode fazer parte do contrato.

E chegando ali junto com Kral e Gharn, Gaaiu vinha até o Doutor, trazendo toda a sua determinação e seriedade em face.

— Doutor, os nossos caças já estão prontos. - Avisou, a vicie líder.

— Está bem. - Correspondeu o gallifreyano. 

— Devemos ir antes do meio dia, certo?

— Sim, iremos agora mesmo. Adeus, Grace.

— Adeus. - Dedicou Grace, conformada. – Boa sorte.

— Regras de sempre. - Piscou para ela.

— Tudo bem, ser esperta e inteligente, correr rápido, e...

— Não comer peras.

Então após esta despedida, partiam o Doutor e os outros que o-acompanhariam para a missão, e Grace, apenas vislumbrava as pequenas naves de combate partirem velozes. Mas, para a sua companhia e apoio, Lermin e Aduen também chegavam ali, o empilhamento de corpos havia terminado.

— O Doutor, ele sempre vai embora.  - Dizia Grace olhando para cima. – E ele sempre demora... Mas eu sei que ele sempre volta.

— Também é assim comigo às vezes. - Resmunga Lermin. – Mas pelo menos no seu caso há uma boa causa.

***

Muitas horas após a missão.

— Apenas continue me seguindo. - Pede Uooltc, ainda guiando Grace para onde ele lhe mostraria uma nova alternativa de escaparem do caos. Andavam por um longo corredor abaixo do galpão.

— Escuro, apertado, este corredor está me dando calafrios. - Comenta a ruiva. 

— Não precisa temer, nós já chegamos.

E assim, adentravam em uma pequena sala vazia, com apenas um estranho objeto encoberto por um lençol.

— Por que me trouxe até aqui? - Observava o ambiente.

— Eu te disse, para que pudéssemos ajudar as pessoas.

— Eu sei, mas o que há nesta sala de tão contundente a ponto de fazer alguma diferença?

— Temos isto. - Uooltc se aproxima do objeto envolto no lençol.

— Tudo bem. O que é isso?

— Esperança.

— Uuu, adoro esperança!

— Eu também, embora a minha esteja se extinguindo da minha alma.

— Não diga isso, por que estaria? Sei que estamos em um labirinto de problemas, mas... Ainda deve haver sim uma saída.

— É, acho que há, mas será muito difícil ter de sair por ela.

— Como?!

— Primeiramente eu devo avisar de que não estou fazendo isso por maldade ou demência. É por sobrevivência, não há outra escolha para nós.

— Tudo bem, eu estou entendendo... Na verdade não!

— Calma, irá entender. E também digo que outro dos motivos que me levaram a esta escolha foi por causa da minha séria condição, não posso mais lutar como antigamente.

Grace franze a testa ainda desentendida. O velho continua: 

— A minha filha é o meu braço direito, mas um braço que tenho certeza que irei perder.

— Claro que não! Pensamento positivo, dará tudo certo. Esperança!

— Dará sim, ou pelo menos eu espero, e esta foi a única forma que me sobrou para salvar o meu povo de uma vez por todas. “Sacrifícios”, às vezes esta é a única escolha que temos.

— Sim. Mas agora... Será que o senhor poderia me explicar exatamente por que está me contando tudo isso?! Acho que eu perdi alguma coisa.

— A sua ingenuidade, me lembra até a Tyam. Mas a Tyam... Ela está morta. 

E a doutora estranha a frieza daquele pai. Prossegue ele:

— Porém, vamos logo aos negócios, o quanto antes terminarmos... Melhor será.

Então, puxando o lençol do estranho objeto de longa silhueta, um Cyberman era revelado. Grace arregala os seus olhos em espanto:

— Um Cyberman?! - Voltou-se para Uooltc, surpresa. – O que pretende com ele? Não acho que isso possa nos ajudar!

— Bem, é algo bem improvável mesmo, mas ele pode. Ele pode ajudar em muita coisa, apesar de estar muito danificado, então, não precisa ter medo.

Grace assopra aliviada. O líder continua:,

— Mas, nem tudo nele está danificado. Eu sei porque por anos fui eu quem o-tentou reativa-lo. Conheço cada mecanismo em sua estrutura.

— Tentou reativa-lo?! Ele é um ser hostil!

— Sim, muito hostil, e por isso eu devo afasta-los da minha gente. E mesmo que muito danificado... Ele tem um pequena função que ainda funciona muito bem. Sabe qual é?

— Não, e não de novo. Ainda estou perdia!

— Muito bem, então conheça o escâner. Ativar escâner! - Falou alto, enquanto manuseava o pequeno controle do Cyberman.

E após isto, uma enorme flash era direcionado por meio do Cyberman em direção de Grace, deixando-a com a simples reação de cobrir os seus olhos por causa da intensa luz. E após dois segundos deste flash, a luz se cessava, e Grace apenas descobria o rosto, confusa:

— Você fez ele me escancear?! Para quê? 

Uooltc sorri triste:

— Fiz para salvar o meu povo. E eu sinto muito, muito mesmo, também gostei de você.

— Tudo bem, mas como isso poderia salvar o seu povo? Até agora você apenas falou e falou e eu continuo sem entender o sentido de uma só frase.

— O que aconteceu foi que eu programei aquele Cyberman para lhe escanear, e então enviar todas as informações obtidas sobre você para qualquer dirigente que fosse.

— Dirigente?!

— Os pequenos coletadores de informações.

— Cybermats!

— Que seja, não me importo com o nome! Mas, continuando, eles então partirão para a Cyber-base mais próxima possível. Não sei onde ela fica exatamente, mas pelo número de dirigentes que surgiram por aí nos últimos anos... Deve haver alguma bem perto. Você é deles agora, “humana ideal”, acha que eu não soube?

E era isso então, triste e trágico, Grace havia sido divulgada aos Cybermans, e agora... O restante das pessoas poderia sim se acalmar, mas e ela? Ela seria caçada, perseguida e muito possivelmente pega, não havia mais esperança para ela, havia?

Para ela talvez não, mas ela se importava tanto com a sua raça que talvez nem ao menos viria a se chatear tanto assim com o seu caso, e talvez, agora o pobre povo dos Perobs poderiam parar de serem explorados com as mentiras de Paradisum. Mas, mesmo assim, Grace apenas continuou ali, perplexa e chocada com o acontecido, entretanto, não por pensar em seu simples bem estar, e sim, por nunca ter pensado que Uooltc seria capaz de fazer isto com alguém qualquer que fosse, e por qualquer circunstancia ou motivo que lhe induzisse a isto.

— Acho que essa será a pergunta errada, mas você... - Indagava Uooltc. – Você está irritada?

— Não. - Respondeu, séria. – Não tem problema.

— Mesmo?

— Mesmo! Tudo bem eu ser um alvo idiota agora, não me importo tanto com isso, mas pensar que você faria algo assim... Eu nunca pensaria.

— Me desculpe, mas era a última alternativa, e não sou eu quem estou dizendo, é só olhar envolta.

— Entendo, às vezes a escolha que nos resta é um sacrifício. Muitas escolhas são difíceis, mas a vida nos força a tomar uma delas.

— É, que bom que você entende.

— Entendo, mas eu nunca irei lhe perdoar. - Avisou decepcionada. – Mas, sempre foi assim, eu já devia estar acostumada. “Grace, a idiota sendo usada por qualquer um que tenha um cérebro um pouco mais rápido”. 

E apesar da traição, Uooltc sentia-se muito magoado ouvindo aquela frase que Grace relembrava, ele não havia feito isso por puro egoísmo, e sim, por necessidade.

— Eu... Eu sinto muito, não fiz por mal. - Engole seco, vendo a tristeza da doutora. – Mas pelo seu bem é melhor correr agora, pois com esta informação que os Cybermans receberam... Logo irão se despertar, e logo viram correndo para cá, atrás de você.

Com a mais pura indignação em seus olhos e o sangue correndo nervoso em suas veias, Grace sem nenhuma palavra a mais, apenas corre em fuga, e o velho líder, apenas discute agora consigo mesmo, sobre as suas ações, porém, não se questionava sobre o que seria certo ou errado... Apenas, o que devia ter sido feito ou não.

***

Como Uooltc disse, os Cybermats partiriam rumo ao covil dos Cybermans, e era isto que havia roubado a atenção de Aduen e Lermin minutos atrás. E por isso, na floresta agora Aduen seguia os inúmeros rastros dos pequenos seres, enquanto Lermin, continuava a enfaixar o seu ferimento. Mas, seguindo o caminho dos seres, ia Aduen não muito bem, ele minutos antes já havia sentido um certo mal estar, algo como uma forte pressão sobre a sua cabeça, e isto, havia sido um dos graves sintomas do seu mal de tratamento tão necessário. E que para piorar, se alarmava agora por ele ter dado por pura bondade os seus últimos comprimidos para o também doente velho líder.

— Ah, a minha cabeça... - Tentava resistir à tontura. – Mas eu serei forte, eu vou conseguir. Vamos lá, Aduenam Gantave, você sempre foi forte. Você já... - Franzia a testa. – Você já fez coisas mais difíceis. - Continuava adiante.

E chegando até onde os rastros dos Cybermats se acabavam, se deparava Aduen com uma enorme estrutura metálica entre as arvores, mas, aquela era só mais uma entre as centenas de cyber-tumbas espalhadas pela galáxia. Então, encarando boquiaberto diante daquela enorme obra, Aduen logo era surpreendido por um intenso brilho ofuscante saindo de uma enorme porta metálica, com uma pequena fresta já aberta, com um bastante e intrigante vapor criogênico sendo emanado de lá.

— É aí que eles entraram? - Aduen estreitava os olhos. - Que coisa é essa?

A curiosidade apenas ia crescendo, onde Aduen não tentava se aproximar, mas, não parava de olhar para a porta, e se perguntar o que sairia dali. Alguns segundos de suspense então haviam acontecido, mas, de repente, as enormes e prateadas portas metálicas se abriam de uma vez, e em meio ao vapor esbranquiçado que se desfazia pelo ar, muitos Cybermans surgiam por entre ele, e encaravam a vista exterior que há 150.000.000 anos não avistavam.

— São Cybermans! - Exclama Aduen, se virando assustado para fugir, mas, devido às suas condições, acabava tropeçando, assustado. – A minha cabeça não quer parar com isso! - Tentava se levantar, mas acabava ainda muito tonto. E vendo Cybermans em sua frente... As suas forças pareciam ainda mais distantes.

Mas, percebendo o decadente humano rastejando pelo chão, os Cybermans já despertos se aproximavam até ele, e ele, apenas testemunhava aquelas figuras acinzentas aproximando-se determinadas até si, mas, como borrões esfumaçados, devido aos seus sentidos parecerem estarem o deixando agora.

***

20 minutos antes. Missão no Lamet-29.

Uooltc cumpriu o sacrifício que achou necessário para o bem dos seus, e Gaaiu, também cumpria mais um neste momento, a missão. E a pergunta que o Doutor a-havia feito martelava incessante em sua cabeça, a de que se ela estaria pronta ou não.

Talvez ela estivesse, talvez este tenha sido o momento mais esperado de sua vida, a morte. Talvez, o pai dela estivesse certo, talvez, ela realmente estivesse tão cansada que não se importava mais consigo mesma, e decidisse seguir a sua infantilidade já sepultada. Onde os traiçoeiros e ferozes Cyberdrones avançavam constantes, em inúmeros enxames vindos em direção das pobres e pequenas quatro naves de batalha. Poucos metros estavam elas umas das outras, mas, que logo iriam se encontrar, mas, em algo que não se poderia dar a tranquilidade de chamar de "encontro amigável".

— Vamos lá! Dez metros apenas! Separar! - Com a ordem, todos obedeciam Gaaiu, berrando pelo interfone. – Estratégia X!

Estratégia X, era isto um modo de se esquivarem em quatro pontos distintos, onde assim, os Cyberdrones acabariam tendo que se dispersarem muito mais. E assim, se dispersavam seguindo as quatro naves em grupos menores, porém, ainda muito velozes e ferozes, disparando constantemente.

— Estamos na frente! - Berra Gharn, contente.

— Pare de comemorar, idiota! Eles ainda estão atrás da gente! - Diz Kral.

— "Idiota"?! Você disse que me amava!

— E por isso eu posso te chamar de idiota, idiota!

— Parem de tagarelar! - Pede Gaaiu. – Atirem com as armas automáticas, e mandem os atiradores traseiros atirarem também.

E assim, se fazia como pedido, onde os indivíduos nos bancos traseiros tomavam os seus controles, e entravam na batalha vestindo um óculos virtual com a imagem do exterior e segurando os controles de disparos. O Doutor, era o atirador traseiro de Gaaiu, mas, não era servindo de atirador que ele queria se engajar ali.

— Doutor?! Comesse logo a atirar, as armas automáticas e as da frente não serão o-suficiente! - Ordena Gaaiu.

— Eu sei, e por isso estou trabalhando duro. - Avisa o Senhor do Tempo, conectando o Cybermat abatido por Grace, em um cabo da nave, e manuseando a chave de fenda sônica nos controles.

— Está de volta com este bando de tranqueiras! Faça algo de útil, não estamos aqui arriscando as nossas vidas por apenas uma bobagem sua!

— Não são tranqueiras! Eu já disse, o nome disso é esperança. E não sabia que você ainda se importava mais tanto assim com o seu bem estar. 

Gaaiu desvia o seu olhar.

— Senhora Gaaiu?! - Chama Neil. – Estão me ultrapassando, acho que a estratégia X não é mais tão eficiente! Já estão em minha frente!

— Na minha também! - Grita Kral.

— Então mudem de rumo! - Ordena Gaaiu. – Voltem para trás, vão pra qualquer direção longe da lua!

E devido a falta de um atirador traseiro que atirasse, a nave de Gaaiu sofria agora uma forte turbulência devido aos disparos que ela acabava sofrendo, e assim, se desestabilizava em seu voo.

— Doutor, me ajude a atirar! - Pediu a pilota, nervosa. 

— Ajudaria. - Correspondeu o gallifreyano. - Mas apenas se nós não possuíssemos uma alternativa melhor.

— Nós não possuímos uma alternativa melhor! Nós não temos nenhuma alternativa!

— Temos, sempre temos, basta apenas usar algo chamado inteligência, e tirar o seu cérebro do cochilo! - Piscou, para a nervosa líder.

Logo, como uma mágica, os Cyberdrones simplesmente começavam a ignorar as naves humanas, e circularem sem um rumo exato, aparentemente em busca de um novo alvo.

— O que você fez? - Pergunta Gaaiu, surpresa.

— Eles pararam de vir atrás de mim. - Diz Neil.

— De mim também. - Diz Kral.

— Ei, Kral, eu também estou vivo! - Avisa Gharn, eufórico.

— Eu sei, dar pra ver pelo seu marcador.

— Me diga logo. - Pede Gaaiu. – O que você fez?

— Bem, algo fantástico, não? - Responde o Doutor. – Mas sendo exato, o que eu fiz foi nos introduzir dentro do banco de dados dos Cyberdrones.

— Nos introduzir?! - Indaga Kral.

— Sim, mas não “nós” exatamente, apenas o software das naves, e o endereço virtual de rastreamento delas.

— Então somos como Cyberdrones para os Cyberdrones? - Pergunta Neil.

— Sim.

— Impossível! Como seria capaz? - Questiona Gaaiu.

— Usando a rede de memória que o Cybermat possui, eles seguem a mesma rede que os Cyberdrones. Passei isso para as naves. É uma rede abaixo da mente Cyberman. Todo mundo vive! - Sorriu largo.

— Você é inteligente! - Elogiou Kral. 

— Eu sei, Kral.

— Já sou a sua fã!

— Eu estou começando a ficar enciumado. - Avisou Gharn.

— Não precisa ficar. - Pede o Doutor. – Não gosto de humanos.

— É humano para nós! De onde é? É de Nova Nova São Francisco?

— Ora, vamos parar com esta conversa fiada! - Ordena Gaaiu. – Se estamos invisíveis então vamos aproveitar a chance, dirijam-se todos para o asteroide.

— Sim, senhora.

E assim, se dirigiam tranquilos ao Lamet, porém, ainda muito desconfiados, e ainda mais com um estranho alerta que era recebido agora dentro dos sistemas das naves.

— Doutor, o que é isso? Venha ver. - Chamou Gaaiu. – Foi você que fez?

— Claro que não. - Negou, vendo várias informações em um monitor da nave. – Isto é...

— Reiniciamento de sistema.

— No meu computador também está acontecendo. - Avisa Kral.

— No meu também. - Diz Gharn.

— E no meu. - Diz Neil. – Mas não me lembro de ter feito!

— Eu também não. - Responde Kral e Gharn.

— Isto significa algo, por que isto agora, Doutor? - Questiona Gaaiu, preocupada.

 – Talvez os Cybermans acabaram descobrindo o que eu fiz, e então reiniciaram os sistemas dos drones para se livrarem de nós. - Supôs o Senhor do Tempo. - Somos como pulgas para eles, isto é o shampoo especial.

— Pare com estas piadas estupidas! Você não entende, isto não irá apenas nos remover dos sistemas deles... Irá nos deixar impotentes por 30 minutos também, as armas não vão funcionar. 

E o Doutor, vidrava os seus olhos surpreso. Gaaiu completa: 

— Ficaremos indefesos, estamos todos mortos.

— Eu não quero morrer aqui! - Choramingou Kral.

— Eu também não! - Avisa Neil.

— Não se desesperem! - Pede o Doutor, mexendo nervoso no computador na nave. – Daremos um jeito. 

E Gaaiu, o-encarou desconsolada:

— Não, Doutor, não daremos um jeito... O sistema acabou de ser reiniciado.

O Senhor do Tempo se mantinha estático, encarando o computador da nave se reativar, e ver que nenhuma de suas armas funcionavam naquele momento.

— Bater em retirada! - Berra Neil, tentando seguir para longe.

Todos tentaram seguir para alguma direção, e os Cyberdrones também acabavam de novamente ver os quatro caças como exatamente o que eram, inimigos. Inimigos esses, indefesos, sem nenhuma capacidade de entrar em confronto, e restando apenas a opção de correr e correr. Mas, nem correr surtiria efeito, os enxames brutais de Cyberdrones agora com os seus sistemas reiniciados eram capazes de funcionarem melhores, e assim, corriam ainda mais rápidos.

— Estão bem atrás de mim! - Berra Neil. – Tem quase 40 deles atrás de mim!

E com isto, assim Neil era completamente abatido. Inúmeros disparos seguiam ao mesmo tempo em sua direção, e vindos eles de todos os lados. E com esta tragédia, os gritos de pânico deste colega eram então escutados por todos por seus interfones, e o som da interferência de seu interfone estraçalhado na explosão, se mantinha constante.

— Corra Kral! - Pedia Gharn, desesperado. – Corra! - Disse, voando em zigue-zague diante dos muitos Cyberdrones.

— Eu não estou conseguindo avançar! - Grita Kral. – Eu também estou cercada!

— Vá sem ela! - Ordena Gaaiu, voando pelas proximidades do Lamet, o que fazia com que alguns Cyberdrones acabassem danificando a grande estrutura, ou, acabassem também se chocando com ela. – Me escutou? Vá! Corra por sua vida!

Presenciando todo aquele tumulto, lagrimas e mais lagrimas escorriam dos olhos tristes do Doutor.

— Eu não irei deixa-la! - Avisa Gharn, totalmente contrario com a ordem.

— Vá, Gharn. - Pede Kral, já chorando. – Não me espere, apenas vá! Pense na vida do atirador que está atrás de você.

— Mas eu não posso deixa-la!

— Pode!

— Não!

E agora, a pobre jovem e apaixonada Kral era então pega pelos vários Cyberdrones que a-cercavam. E de seu marcador, Gharn apenas via o sinal da nave da amada se apagar como o de Neil havia.

— Malditos! - Furiosamente revoltado contra a morte de sua amada, Gharn se voltava agora contra os Cyberdrones que o-perseguiam, mas, como estando sem armas em funcionamento, acabava apenas tentando atropela-los, cegamente furioso. – Vão todos para o inferno! - Berrava, enquanto o pobre atirador que havia atrás dele clamava para que ele batesse em retirada. Mas, devido a fúria que o-cegava e o-ensurdecia, a nave em que estavam agora acabava sendo atingida por mais e mais disparos, e acabando desestabilizada, acabava se chocando contra o asteroide, e ali se estraçalhando.

— Todos se foram. - Diz o Doutor, amargurado, mas, ainda tentando fazer algo a respeito com os seus equipamentos, e Gaaiu, continuava sobrevoando ainda pelos arredores da grande lua.

— Todos se foram porque as coisas funcionam exatamente do jeito que lhe falei, Doutor.

— Você ainda está errada para mim!

— Estou? Então prove para si mesmo o porquê de a sua crença estar mais certa do que a minha. Mostre para si mesmo por que eu estaria errada.

— Você não irá mudar o meu modo de pensamento, eu já passei por muitos problemas, isto não irá me afetar.

— Ótimo, pois você já está perto de me deixar, já estamos em um ponto de teletransporte. Daqui você já poderá entrar lá dentro. - Porém, ainda muitos Cyberdrones continuavam na terrível perseguição. – Me conte apenas o código de autorização.

— 293337, é o que eles sempre usam. Mas e você? Você não pode ficar.

— Ora, não faça como aquele casal de tolos! E eu tenho que ficar, tenho que programar o teletransporte para você.

— Não, ponha a nave em piloto automático e se teletransporte depois também.

— “Piloto automático”, se a vida fosse tão fácil... Mas não posso, os sistemas reiniciaram gora a pouco, só pode haver um teletransporte, o de emergência, e irei direciona-lo a você.

— Eu me recuso!

— Pare de ser estupido!

O Doutor não consegue rebater. A humana insiste;

— Eu vou morrer, eu sei, e eu aceito isso. Você perguntou se eu estava pronta... Aqui está a sua resposta.

— Não é justo!

— A vida não é justa. “sacrifícios”, às vezes é apenas isto que resta para nós. - Gaaiu preparava o teletransporte.

— Eu não quero vê-la acabar assim!

E uma turbulência terrível era de novo presenciada, eram os muitos disparos.

— Está na hora. Adeus, Doutor. - Digitava o código.

— Não!

— E lembre-se, prove para você que eu estava errada, pois para mim... Você pode até correr e lutar por os que ama, mas não adianta. Morte... Morte, é só o que resta no final, nada mais.

Encerrando esta imensa e amarga frase, Gaaiu então teletransportava o Doutor, e assim, iria ele parar em algum lugar dentro da base, e ela... Morreria em sua nave. Mas, antes disto, no momento em que o Senhor do Tempo ainda encarava aquela humana sem esperanças, um sombrio pensamento alimentado pelo show de horrores que ele havia visto, tentava convence-lo de que na verdade a vida era exatamente baseada naquilo que Gaaiu havia dito, morte.

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor, Doutor, perdões por eu sempre tentar destruir a sua vida, não me chame de Dalek! Mas é sempre inevitável partir os seus corações... E o sofrimento ainda está longe de acabar.
Algo que foi bastante presente aqui foi o relacionamento dos personagens, e a tensão no meio dele, e isso me empolgou muito quando eu estava escrevendo.
Este capítulo era pra ser na verdade parte do capítulo anterior, mas ficaria algo muito corrido, então eu resolvi embaralhar algumas partes, cortar outras, e inventar umas novas também, e assim fazer um outro capítulo a mais. Mas queria também trazer o passado de alguns personagens para aqui também, mas não teríamos tempo e espaço para encaixa-los, então fica para a próxima. E alguns deles aqui se mostraram mais obscuros ainda.
Aconteceu tanta coisa de repente, então vamos relembrar de algumas: Grace e Uooltc indo lá na sala era a continuação de uma cena cortada lá do capítulo anterior, e em falar nisso, coitada da Grace! Outra coisa, é revelado que o Aduen deu os remédios dele ao Uooltc lá no capítulo passado também e aqui ele já está vindo sofrer os efeitos da falta do medicamento.
E outra coisa e bem pequena, foi que eu pus a palavra “inexperiente” entre aspas lá no capitulo passado durante as descrições que eu dava ao Aduen, e aqui vemos que ele pode ter mais coisa na vida dele do que apenas a doença, algo relacionado com armas, como percebido por Lermin. E caso tenham se esquecido que o Aduen tinha um cachecol, sim ele tinha um cachecol, contei isso no capitulo 2.
E se caso eu tenha sido ofensivo com as antigas expectativas amorosas da Grace então eu peço desculpas. Pois esta é a analogia do que dá pra gente perceber no filme e no modo de como é a personagem, e também do que eu quero trazer para ela dentro das minhas fanfics, pois isso tem muito da minha visão também, e eu preciso inventar algum fundo para ela também, correto? E o Doutor e ela poderiam ser um casal, mas como eu não quero fazer nenhum romance então isto pode acabar estando bem descartado no momento, talvez... aconteça algum dia, mas não sei, ou... ela acabe ganhando um outo parceiro. E no filme os dois se beijavam toda hora, mas aqui neste volume 3 não, aqui não, no próximo talvez.
Nos próximos capítulos teremos mais do passado dos personagens, e caso algumas coisas estejam mal justificadas então logo elas não estarão mais, pois só não pude falar tudo agora porque é assunto de mais em fanfic de Doctor Who, ainda mais em uma história de plot completo.
E se as naves não tem tanto combustível ou acabadas demais para irem muito longe... então por que simplesmente eles não foram para qualquer lugar no próprio planeta Refúgio, desde que fosse longe? Porque ninguém se sabia quando a cyber-tumba se abriria! sei que é um motivo bem fraco, mas é que seria muito complicado para todos na vila se deslocarem para longe e acabarem então ficando por tempo indeterminado longe da estrutura de seus lares, afinal há ali idosos, crianças, feridos, e é isso aí. E também como dito no capítulo 5, a cyber-tumba pode demorar horas, dias ou anos para se abrir, então seria muito complicado para as pessoas ficarem escondidas em um período sem previsão de fim ou inicio. Então tudo o que eles puderam fazer foi se abrigarem no galpão, e esperarem pelo melhor da missão, uma que eles nem tinham certeza se iria dar certo.
E a história que o Doutor contou sobre ele tentar jogar o colega num buraco negro já foi dito, foi capítulo 3.
Os números do código que o Doutor falou são na verdade o os números de alguns dos arcos da série clássica, arcos com Cybermans. The Tenth Planet, The Moonbase, The Tomb of the Cybermen.

OBRIGADO PELA LEITURA!