Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 21
A colisão entre dois opostos


Notas iniciais do capítulo

Hello galere, sexta-feira à noite é dia de capítulo novo!
Mais quatro personagens novos serão apresentados, então quem quiser saber como eles são, entre no wintershock.tumblr.com pra conhecê-los. Eu tinha que ter feito uma imagem com todos os personagens, mas não fiz por fata de tempo, desculpem x(
Esse capítulo é bem especial. Um dos meus favoritos, pois mostra um desentendimento entre os personagens de um modo sério, mas que os aproximarão ainda mais. Espero que gostem.
Divirtam-se então.



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Darcy estava num trabalho cansativo junto de seus outros colegas estagiários. Estavam elaborando planilhas e apresentações para o evento da PYM Tech.

Era mais de nove e meia da noite.

— Eu tô moída... – Helena Wright, estudante de biologia e a segunda estagiária que Jane contratou depois que o fluxo de pesquisas aumentou, dizia, um tanto cansada.

— Eu já virei pó de cemitério desde as três da tarde... – Dylan Smith, estudante de geologia e o estagiário que entrou no lugar de Ian, declarava quase morto em cima da cadeira.

— Eu ia sair com um gatinho hoje a noite... Espero que pague hora extra por massacre de encontros também, Jane... – Andrew Adams, estudante de matemática e estagiário prodígio, reclamava com seu típico jeito feminino que deixava bem claro o quão chato e extravagante ele era.

— Pois eu estou perfeitamente bem... Amadores... – Nathan Lawrence, estudante de física e o estagiário mais competente, afirmava com o corpo totalmente resistente a longas horas de expediente.

— Queria ter dinheiro pra poder jogar minhas coisas na parede com tranquilidade... – E finalmente, Darcy Lewis, estudante de ciência política, completamente enfurecida por não estar em casa, vendo seu seriado favorito em canal fechado enquanto come pipoca caramelizada. A garota estava deitada de braços cruzados no sofá ao lado de uma das mesas do laboratório, com um boné xadrez cobrindo totalmente seu rosto.

— As horas extras serão pagas a todos vocês, então parem de reclamar. – Erik redarguia, um pouco sem paciência com todas aquelas crianças.

— Podem ir agora. Amanhã continuamos. Mas não esqueçam que essa reunião é importante e todos vocês irão conosco, então se preparem para não darem vexame no dia. – Jane alertava a todos os seus estagiários reclamões.

— Vexame? Não nos chamamos Darcy Lewis pra dar vexame. – Nathan, o estagiário mais competente e a cobra mais peçonhenta do prédio (segundo Darcy), dizia enquanto a encarava Jane com uma cara de vencedor.

— Seu dia chegará em breve, Nathan Lawrence, pois a vingança é um prato que se come com batata frita. – Darcy o rebatia, seriamente e com o tom de voz mais sombrio que o habitual.

— Darcy... Já pensou em procurar ajuda psicológica? Se quiser, posso indicar um ótimo médico para você... – Nathan continuou cutucando Darcy, mas ela não pareceu se intimidar.

— Aprenda, Nathan... Quando uma mulher quer ser vingativa, o capeta senta pra aprender. – A garota proferia tais palavras de modo nebuloso e ameaçador, enquanto continuava deitada de braços cruzados e com o boné cobrindo seu rosto.

— Aah, chega dessa palhaçada agora! Levanta logo daí! – Jane chutou a bunda de Darcy tão forte, que a garota rolou do sofá no mesmo instante.

Os estagiários idiotas riam... Erik massageava as têmporas e Jane continuava chutando Darcy.

E assim foi a noite da estudante universitária, morta de cansaço por estar fazendo TCC e trabalhando até altas horas.

Mas um pouco antes de pegar o elevador, Nathan a seguiu.

— Hey, espere aí, senhorita encrenca! – O colega de trabalho se aproximou. Seus cabelos cobriam parte de seus olhos, ficando difícil enxergar sua expressão, mas ela podia ver a sombra de um sorriso cínico.

— O que você quer...? – A estudante redarguia, impaciente. Ele não sabia o quanto ela o odiava.

— Vou precisar que me envie o relatório que te pedi hoje de manhã.

— Sinto muito, mas pretendo chegar em casa, tomar um banho, fazer um mega sanduba, assistir a um filme de terror e dormir. – A feição dela era de puro tédio.

— Você sabe que eu não sou a Jane, não é...? – Ele se aproximou ainda mais, numa pose de intimidação, mas aquilo não pareceu lhe afetar... E então...

Darcy sorriu, petulante.

— Na escola de malandragem que você estudou, fui expulsa por mau comportamento... – Ela avançou mais um passo, ficando muito perto dele, sem quebrar o contato visual.

O maldito era mais alto e fazia todas as mulheres que se aproximavam, se acovardarem com sua presença...

Menos Darcy...

E como ele a odiava tanto quanto ela o odiava... Principalmente quando a mesma ia trabalhar com aquele boné xadrez cafona, que lhe deixava ainda mais patética e digna de pena.

— Darcy... Posso parecer bonzinho, mas... Já matei várias pessoas... Em minha mente... – Ele também não quebrou o contato visual, mantendo seus olhos fixos nos dela.

— Ooh, é mesmo... Aposto que eu estou na sua lista de pessoas mortas... – E então, os dois continuaram se encarando impetuosamente, como se estivesse numa batalha sangrenta.

— Você nunca cede, não é...? – O moreno, alto, cujos cabelos se encontravam cobrindo parte de seus olhos, dizia em tom aterrorizante, mas como sempre, Darcy não se amedrontava em sua frente.

— Você é idiota assim o tempo todo, ou tira folga nos fins de semana...? – Ela cruzou os braços, deixando claro que não sairia dali enquanto o mesmo não recuasse.

— Você está me deixando nervoso com sua infantilidade, Lewis... Envie a porcaria do relatório hoje... – Nathan insistiu, em tom irritado.

— Você não é meu chefe, então não vou mandar porcaria nenhuma de relatório... – A garota sorriu docemente.

— Não me faça perder a paciência com você de novo, ou-

— Ou o quê!? Vai contar à Jane que não estou fazendo o que você pede!? Vá em frente! Eu não tenho medo de um palerma como você! Ela vai rir e mandar você parar de me perseguir, porque sei exatamente que você faz isso apenas pra se sentir superior e inflar o seu ego... – E dessa vez, o olhar da garota era de ódio.

— Aah, vá a merda, Darcy! – Nathan gritou, completamente nervoso e então...

A garota tocou seu ombro e o olhou de forma descarada.

.

— Nunca cheguei tão perto de tocar a merda...

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E ela virou de costas, entrou no elevador, apertou o botão do térreo, fazendo as portas se fecharem, acenando para o mesmo, como forma deboche.

Nathan ficou com os olhos arregalados, sem acreditar que ela realmente tinha feito aquilo.

.

A garota saiu do prédio e foi para casa.

.

.

Depois de meia hora, Darcy chegava em seu apartamento completamente exausta e logo correu para o banheiro para tomar banho, afinal, seu seriado já tinha acabado mesmo.

Após o banho, a garota foi até a cozinha preparar o seu sanduíche para ver algum filme de terror da sua coleção e logo depois cair na cama, afinal, o dia seguinte seria bem corrido.

Darcy colocou seu pijama, mas dessa vez não era uma camiseta e calça largas, mas sim um baby doll preto, que se resumia a uma blusa com alças finas e um short curto.

Estava quente naquela noite.

A casa estava silenciosa....

Se perguntava se Bucky estava dormindo ou tinha saído.

Fazia um mês que ele estava hospedado em seu apartamento.

Mesmo sendo um homem de outro tempo, ele fazia questão de dividir as tarefas da casa com ela e normalmente mantinha tudo muito limpo e organizado, pois o mesmo ainda se encontrava na fase de aprendizado sobre o mundo atual.

Por mais que se sentisse incomodado com o fato de uma mulher trabalhar, o soldado ainda não tinha conhecimento suficiente para agir como uma pessoa normal que se encaixasse naquele tempo.

Bucky se queixava de coisas que Darcy revirava os olhos por julgar não ser nada demais.

Coisas como:

Usar seu chuveiro.

Dormir em seu quarto de hóspedes.

Comer sua comida. 

E quando ela estava no trabalho, ligar sua TV, ler seus livros, ligar seu aparelho de som ou mesmo usar um celular que ela comprou especialmente para ele.

Mas a estudante não ligava para nada daquilo. Sempre o lembrava que a geração dos anos de 2010 era a geração mais folgada e mimizenta que existia. Normalmente os jovens dessa época não faziam nada, nem mesmo arrumavam suas próprias camas, e todos aceitavam esse tipo de comportamento como algo completamente normal, então ele não tinha porque se sentir tão mal, já que o mesmo ajudou a salvar a América e o mundo ao lado do Capitão América. Havia zerado sua cota de responsabilidades, na opinião dela.

Mas James revidava, dizendo que em sua época, os homens já lidavam com responsabilidades gigantes e eram extremamente maduros, o que não estava muito na moda no século 21.

.

Depois de terminar seu lanche e desligar a TV no meio do filme “O Massacre da Serra Elétrica”, Darcy resolveu ir para a cama. Tinha que dormir pois o dia seria corrido e ela teria de ter paciência em dobro para aturar o demônio do Nathan lhe perturbar em seu expediente.

Então, a garota fez seu ritual de sempre. Desligou todas as luzes e foi ao banheiro escovar os dentes para enfim descansar.

Mas quando a mesma saiu do banheiro e chegou no corredor, avistou a porta do quarto onde Bucky dormia, sentindo curiosidade em saber se ele estava ali ou não.

Ela caminhou até lá e girou a maçaneta, cautelosamente.

Quando abriu a porta, o soldado estava do outro lado, dormindo profundamente, mas numa posição um pouco estranha para uma pessoa normal.

Ele estava deitado de lado e seus braços estavam cruzados na altura de seu peito.

Talvez os militares fossem treinados para dormirem daquele jeito? Como se estivessem prontos para serem atacados?

Ou os militares fingiam que dormiam?

Por conta da mudança de estação, a primavera havia chegado e o clima estava um pouco mais quente, então todos os dias Bucky dormia sem camisa.

O soldado se remexeu, afastando a mão humana para o canto da cama.

Talvez ali, fosse o único lugar que o mesmo pudesse se sentir à vontade a ponto de ficar do jeito como bem quisesse, sem o olhar de desprezo de qualquer pessoa em relação ao seu braço de metal.

Apenas por curiosidade, Darcy se aproximou da cama onde o mesmo dormia, para observá-lo.

Bucky parecia bem. Mesmo tendo crises quase todos os dias. E normalmente quando isso acontecia, ele saia e só voltava de madrugada, talvez porque quisesse resolver tudo sozinho, sem envolve-la. Porém, Darcy temia que ele nunca mais voltasse...

A garota se compadecia de sua situação. Não devia ser nada fácil lutar diariamente para não enlouquecer.

Embora enfrentasse todo aquele sofrimento sozinho todos os dias, a expressão no rosto dele era serena.

Ela o observou... em silêncio...

Uma mecha se encontrava bem no meio do rosto dele e a estudante se sentiu tentada a tirá-la da frente de sua face...

E foi o que ela fez enquanto o mesmo dormia...

Seu toque foi extremamente sutil...

Mas inesperadamente a mão dele disparou contra ela num movimento veloz, agarrando seu pulso firmemente.

Seus olhos abriram só depois que sua mão agarrou o pulso feminino...

A expressão dele estava fechada, nebulosamente em tons intensos...

O azul de seus olhos se encontrava quase esbranquiçado, por conta do brilho assassino que os mesmos esbanjavam.

O olhar penetrante do Soldado parecia lhe ferir de forma invisível...

Darcy estava assustada. Era incrível como os reflexos do sargento eram incríveis e terrivelmente precisos.

O aperto em seu pulso era forte e ela já sentia sua mão começar a formigar.

— O que você está fazendo aqui...? – Questionou-a de forma incisiva. Sua voz se encontrava mais grave e enfadonha do que o normal.

— Eu... Só vim conferir se você estava dormindo... Me desculpe por te acordar... – Já a voz dela soou suavemente temerosa. Sabia que não podia brincar com ele quando o mesmo se encontrava naquele estado.

Na penumbra do quarto, a luz fraca da lua, da rua e dos prédios à volta, deslocava filtrada através das cortinas da janela.

Ele permaneceu segurando o pulso dela e não quebrou o contato visual com a mesma em nenhum momento.

Darcy já começava a pensar que quem estava ali não era o soldado perdido que precisava de ajuda, mas sim...

O Soldado Invernal...

Ela se calou e deixou o silêncio falar. Não tinha mais o que contestar, pois temia piorar a situação.

Bucky se levantou, e no susto, Darcy puxou rapidamente seu pulso para longe, desfazendo o aperto no local que se encontrava vermelho.

Seus frios e imponentes olhos azulados, perdidos na imensidão do nada, já estavam causando arrepios nela... A expressão profunda e gélida ainda era assustadora...

Ele a defrontava majestosamente de modo assassino...

Já sabendo o que lhe esperava, Darcy institivamente começou a se afastar, recuando lentamente alguns passos para trás...

Mas ele se locomoveu no mesmo ritmo, seguindo-a enquanto a fitava fixamente, sem o mínimo de expressão em sua face.

Ela recuava... E recuava...

Até se encostar na parede...

Darcy se sentia encurralada e aprisionada, ao alcance das mãos dele...

Os olhos do soldado focavam na figura da garota nas sombras do quarto...

A luz da lua refletia para fora de seu braço cibernético e o brilho metálico era instigante...

O barulho dos lentos passos no assoalho fazia com que a estudante começasse a estremecer por dentro, na medida em que comprimia cada vez mais a distância entre ambos, quase como um tic tac de um relógio que estivesse marcando a hora exata de sua morte...

Seu físico bem trabalhado, o braço de metal, as cicatrizes em seu ombro e o aspecto nebuloso, complementavam a aparência de um assassino perfeito...

Os cabelos escuros e desgrenhados escondiam parte de seu rosto, mas ele ainda podia ver o azul dos olhos dela cintilarem de medo...

O Soldado apenas observou aquela expressão silenciosamente... Se satisfazendo com o fato de a mesma o temer de forma letal e estar facilmente acessível, fazendo seus instintos assassinos correrem livremente...

Darcy olhou para os lados por instinto. Aquela mesma situação havia acontecido algumas vezes e ela sempre temia acabar morrendo por ser descuidada. Mas no fundo...

Ela ainda confiava nele...

Seu corpo ficou ainda mais tenso e trêmulo quando o soldado finalmente a alcançou...

Existia somente a parede e ele... Com ela no meio...

A garota estava um pouco alarmada e tentou recuar...

Mas o olhar do sargento era predador e quanto mais o fitava, mais se sentia sugada para dentro de uma dimensão perigosa...

A estudante tentou formular algo para dizer, mas tudo o que pôde soltar, foi um fraco suspiro...

Os olhos de Bucky escureceram, sentindo o Soldado Invernal tentando assumir o controle...

Ele lutou contra seus impulsos para voltar atrás...  Mas sentia como se estivesse em espera, aguardando ordens...

.

Como uma máquina, ele se encontrava em Stand-by...

.

Darcy percebeu que ele permaneceu imóvel, e com a expressão petrificada, com o olhar perdido, não parecendo ver a realidade diante de seus olhos...

Ele não tinha consciência nem mesmo de estar respirando direito...

A garota sabia que Bucky era constantemente controlado e ordenado para executar ordens que seus superiores lhe designavam, então...

Aquela foi a brecha perfeita.

.

— Soldado... Respire...

.

Ele a olhou confuso... Estava esperando algo diferente da frase “Soldado, respire”.

Mas instantaneamente foi o que ele fez...

Ele a olhava, desnorteado... As palavras que costumava ouvir nessas horas eram ditas em alemão ou russo... Não em inglês...

Se sentia enfraquecido... Muito mais fraco a cada instante... Todas as luzes ao redor pareciam desbotar...

Sua memória desvanecia... Como a ausência da luz que ocasionava a escuridão... E só restavam sombras...

E a noite seguia sendo engolida pela madrugada...

Bucky respirava pesadamente... Havia recebido ordens para que respirasse...

Mas a sensação que tinha era de estar caindo mais e mais fundo dentro de si...

Havia dias que não conseguia pensar, porque sua mente transbordava e ele se perdia na vastidão de si mesmo...

— Bucky... – Darcy cortou violentamente o silêncio e os devaneios dele, com sua voz.

O soldado a atendeu e passou a mirá-la profundamente...

Seus olhos a rodeavam, fitando-a veementemente no ímpeto de a reconhecer...

Um flash de memória vinha em sua mente...

Uma mulher num salão de festas com um lindo vestido branco na altura dos joelhos, o penteado usual da época, maquiagem leve, e os olhos azuis... Penetrantemente azuis turquesa, de modo fascinante...

Aquela lembrança repentina e misteriosa lhe fez curiosamente olhar para Darcy ainda mais intensamente...

Bucky suava frio e sentia um imenso arrepio percorrer por toda a sua espinha ao tentar se recordar da sombra daquela mulher...

Contornando seu semblante, decorando pontos, tentando descobrir os mesmos traços da mulher de seu confuso e enigmático flashback...

Uma gota de suor escorreu por sua testa, chegando até a bochecha... Ele estava atônito e alterado emocionalmente...

A garota não entendia o desespero daquele olhar em desvendá-la, quando Bucky resolveu dizer...

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— Katherine...?

.

Num derradeiro momento de insanidade, ele se viu pronunciando aquele nome, e Darcy...

.

.

Fez uma cara completamente assustadora...

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— O... Quê...? – Gaguejou, não acreditando que o soldado havia dito aquele nome.

E ela se perguntava o porquê...

Ainda perdido, Bucky se sentia esvanecendo e se dissipando por dentro... Suas memórias estavam desfocadas, sem cores e sem significado algum...

Sua mente se encontrava como uma neblina que se dissipava facilmente...

Espreitava através das páginas de sua própria vida, mas não conseguia obter respostas... Tentava procurar no mais profundo e obscuro lugar de sua mente, o que tudo aquilo significava e a verdade continuava implícita e escondida nas entrelinhas de fatos que ele julgava serem importantes...

Espiando pelos cantos, nas brechas da sua existência nos anos 40, e até mesmo antes dela, tudo continuava longe e embaralhado, como se a linha do tempo de sua história fosse um enorme quebra-cabeças, e que milhares de peças tivessem desaparecido, deixando tantos espaços vagos, que ele jamais poderia contar ou resgatar...

Vendo que o mesmo ainda continuava perdido e não entendendo porque tinha lhe chamado por aquele nome, Darcy mais uma vez resolve interromper os pensamentos dele.

— Bucky, olhe pra mim... – A feição dela era séria.

E ele a obedeceu, mais uma vez.

Ambos olhares azuis se misturaram...

Ela moveu os lábios sutilmente, formulando uma frase que pudesse trazê-lo de volta.

— Você sabe quem eu sou...? – O tom melodioso, tão habitual aos seus ouvidos e ao mesmo tempo tão distante, que lhe fazia relembrar de coisas que ele havia esquecido, lhe despertava de modo enigmático e um tanto familiar...

A figura da mulher em sua frente...

A mesma de mais de 70 anos atrás...

Onde ele estava...? Quem era ela...?

Repentinamente, as memórias atuais eclodiram e ele rapidamente começou a se recordar...

Ele balançou a cabeça, no ímpeto de acabar com todo aquele transe e então, respondeu à pergunta dela.

— Você é... Darcy Lewis... – Sua voz ressoou imprecisa, como se ainda estivesse preso no cenário do flashback dos anos 40, com a misteriosa mulher que era assustadoramente igual à que estava na sua frente naquele exato momento.

— Ótimo. E você sabe onde estamos...? – Darcy contestou, tentando fazê-lo retornar para onde estava.

— Nova York... – Declarou, ainda com os olhos imersos nela e ao mesmo num vácuo invisível...

— Quem é o seu maior inimigo...? – A garota continuava com as perguntas óbvias, mas profundas, que o faziam ser quem ele era atualmente.

— HYDRA... – O timbre sem emoção e quase inaudível, ainda podia ser ouvido. Mas seus traços suavizavam com cada pergunta que a mesma fazia.

Bucky foi recobrando o sentido de tudo e agora estava bem assimilado com a realidade à sua volta... E Darcy mais uma vez estava ali para lembra-lo disso.

Porém, tudo ainda continuava cinza, sem lógica, sem sentido e escuro demais para suportar.

A garota suspirou de alívio quando percebeu que o Soldado Invernal não assumiria o controle.

— Ainda bem que você se lembrou de tudo... – Ela sentiu seus músculos relaxarem e o nervosismo ir embora.

Mesmo que ele tenha se esquecido por alguns minutos de tudo à sua volta, Bucky sabia que Darcy havia entrado em seu quarto e lhe acordado. Ele julgava aquele ato extremamente insensato e perigoso.

— Por que você entrou aqui...? – Indagou-a, com a voz mais profunda e áspera que o comum.

— Me desculpe... Entrei porque pensei que você podia ter saído e quis conferir se não havia fugido... – A entoação da voz dela estava normal e sua personalidade infantil e inconsequente voltava a dar as caras.

— Não devia ter feito isso... – Ele protestou, de modo impertinente aos atos tolos que a garota cometia nas piores situações onde o Soldado Invernal pudesse aparecer.

— Eu sei, mas... Não tenho medo de você quando consigo espantar o Soldado Invernal para bem longe... – Sorriu, delicadamente satisfeita por sempre conseguir controla-lo, ainda que tivesse a sensação de que poderia ser morta toda vez que tentasse trazê-lo de volta.

Porém...

.

Num efêmero instante, Bucky agarrou os pulsos dela e a empurrou contra a parede, prendendo os braços femininos na altura do pescoço...

.

Darcy rapidamente se espantou pelo movimento fugaz e violento.

Nunca conseguiria se desvencilhar de seu enlace, pois o mesmo era terrivelmente mais forte do que ela.

— O que está fazendo...? – A garota contestou, sobressaltada.

O olhar dele se moveu sobre ela, de baixo para cima... Lentamente... E impetuosamente colérico... Quase como se fossem duas lâminas... lhe cortando...

— Quem você acha que é para fazer isso...? Quando foi que eu te dei liberdade ou permissão para tentar me controlar e me trazer de volta...? – A voz dele vibrava de modo feroz. Era nítido que o soldado se encontrava enfurecido naquele momento.

Darcy não sabia o que responder. A única coisa que sempre a fazia agir daquela forma, era a vontade de salvá-lo...

— Quando você tem uma crise, eu acabo tentando te ajudar... foi assim desde que nos conhecemos... – Replicou, coagida.

Seu olhar mortífero, álgido e impassível, lhe congelava mortalmente por dentro...

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— Jamais toque numa ferida, se não souber como curá-la... – Declarou, impiedosamente. Seu aspecto retinia aflição... Suplício, agonia e dor...

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Seu olhar era indômito e aterrorizante...

Não deixaria ser controlado por alguém como ela... Não poderia...

Darcy estava completamente imóvel e presa... Atada pelas mãos fortes que a prendiam contra a parede gelada atrás de suas costas.

Ela mirava detalhadamente o rosto masculino, contornado majestosamente pelo resplendor melancólico da lua...

Seus cabelos escuros... Desgrenhados delicadamente a ponto de alguns fios se encontrarem simetricamente emoldurados em seu rosto, transformando seu semblante em algo lindo e viciante de se vislumbrar...

A garota tentava desvendá-lo a cada segundo, a todo instante em que insistia mergulhar no oceano azul de seus olhos, que se encontrava profundamente congelado...

Era incrível o quão fascinante um homem tão arcaico, indesvendável e longínquo como ele a intrigava, e justamente por ser alguém que pertenceu a um tempo que ela almejava ter conhecido, tudo parecia tão diferente e envolvente a ponto de agitar todo o seu conceito de realidade e ficção...

Às vezes, a estudante se via presa num livro de ficção, num tempo remoto ao qual não conseguia fazer parte, nem mesmo se lesse vários livros da mesma época...

James Buchanan Barnes lhe mostrava um mundo anacrônico em que a mesma sempre sonhou estar...

Sua vida, seus modos, seu comportamento que as aos poucos mostravam inermes traços de seu verdadeiro eu, despertava sensações excitantes nela...

Mas...

Darcy não se renderia facilmente diante da ordem atroz que ele lhe deu...

Ela não aceitaria ser afastada, e então, resolveu rebate-lo com o que sabia fazer de melhor quando se sentia injustiçada...

.

Se impor...

.

— Você pode ser mais forte, mais habilidoso, mais inteligente e mais preparado do que eu, em todos os sentidos, mas... Nunca terá a sabedoria que adquiri depois de todo o conhecimento que armazenei nos meus 23 anos de vida. – Ela retorquiu seriamente, com o semblante completamente diferente do que Bucky estava acostumado a ver todos os dias.

— Você não sabe de nada... Eu sou um assassino... A imagem de todas aquelas pessoas que matei... Ainda estão frescas em minha mente...! – Conclamou, desesperado e desgastado mentalmente... James não conseguia viver carregando todo aquele fardo, deixando rastros de sangue ao longo do caminho...

Darcy revirou os olhos e ele interpretava aquilo como um verdadeiro deboche.

— Quando lutou na segunda guerra mundial, também não matou pessoas? – Indagou-o, pertinaz e impiedosamente num tom de voz mais grave que o usual.

Bucky estranhou aquela pergunta.

— Sim... Matei várias pessoas... Mas era uma guerra. É diferente.

— Não tem diferença. - Darcy expeliu tais palavras de modo feral.

— O quê? - Contestou abismado. Porque repentinamente aquela garota estava dizendo aquelas coisas?

— Os soldados nazistas que você matou, também eram pessoas, seres humanos como você. Então, se é pra se sentir culpado, inclua a enorme lista de soldados que você matou na segunda guerra. – O olhar de Darcy era indelicado. Sua face carregava traços pesados e extremamente arrogantes.

— O que você está dizendo é um absurdo. Eles eram nazistas... Nossa missão de salvar a Europa, os aliados e o planeta eram muito mais importantes do que a vida daqueles soldados... – Protestou, tentando fazê-la entender.

— Bucky, quem você acha que tem que vencer? O bem ou o mal?

— O bem... Sempre... – Replicou, convicto.

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— Errado... Vence quem é o mais forte.

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A expressão impenetrável e enérgica parecia intimidar de alguma forma o Sargento James Buchanan Barnes.

Bucky alargou o olhar. Ele não entendia Darcy... Como ela conseguia ser tão divertida, infantil e louca e logo depois ser tão cruel, fria e impiedosa ao dizer coisas que faziam tanto sentido e que confundiam seus pensamentos...?

— Você não sabe o que está dizendo... – Contestou, perplexo e sua feição era de puro colapso.

— Até hoje, todas as minhas palavras foram confortantes, mas quando o confronto com a realidade, e com uma visão de mundo mais racional, você fica amedrontado, não é mesmo...? – E quando Darcy terminou de proferir tais palavras árduas...

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Bucky apertou seus pulsos com mais violência, fazendo-a gemer de dor no mesmo instante.

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— Pare... Você está me machucando...! – A garota implorou. Não conseguia sentir seus braços, pois a pressão e a contrição intensa em seus pulsos era tão brutal, que tinha a impressão que ele lhe desmembraria ali mesmo.

Seu olhar feral...

Um verdadeiro inferno gélido...

Bucky se aproximou ainda mais seu rosto do dela, contornando os traços de seu rosto com o olhar, apenas para aterrorizá-la muito mais.

— Eu não estou brincando... – Articulou, tenebrosamente perto de seus lábios... Deixando o lado obscuro de sua mente tomar conta mais uma vez...

Darcy ficou em silêncio, permanecendo naquela posição incômoda, totalmente vulnerável...

A pele da garota era extremamente branca... Deslumbrantemente alva... Condescendentemente cálida...

O perfume dos cabelos ondulados dela, soava como uma doce fragrância lírica e inefável, que passou a lhe acalentar pouco a pouco...

Parte dela estava apavorada... E sentiu seu rosto arder de constrangimento com a aproximação tão repentina... Darcy não estava acostumada a tê-lo tão perto de si... De seu olhar cruzar com o dele tão intimamente, mas... De alguma forma, ele causava efeitos catastróficos em seu emocional e ainda não entendia o porquê... Porém...

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Ela suportou a dor, engoliu os suspiros e lhe defrontou novamente...

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— Pode me machucar, ou mesmo me matar... Eu não me importo... Não vou mais correr ou fugir de você... Eu não vou desistir de quebrar o seu código mental, até que você se torne um homem normal de novo...!

Darcy não recuou um milímetro e permaneceu imóvel, lhe afrontando impetuosamente através de seu olhar esplendidamente azul...

A estreiteza do olhar feminino era extremamente intrépida e a tenacidade de sua decisão ao lidar com a figura do Soldado Invernal era admirável.

Sua ousadia o golpeou fatalmente, a ponto de instantaneamente soltar as mãos dela...

Ele ficou parado... imóvel... fitando o nada...

James queria negar que tentou mais uma vez remendar as circunstâncias fora de controle... Não queria agir através de impulsos assassinos e deixar o maldito monstro sair da jaula...

E antes que pudesse fazer ou pensar qualquer coisa concreta...

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Darcy pegou em suas mãos gentilmente, cobrindo-as com as suas...

.

Tal gesto afetuoso lhe surpreendeu, e ele a fitou confuso...

— Apenas me diga, Bucky... Me diga o que você quer que eu faça... Eu quero te ajudar...

James ficou perplexo... Ele acabara de ameaça-la, quase perdendo o controle de tudo e se rendendo aos instintos assassinos do Soldado Invernal...

Ele sequer pensou direto no que ia dizer... As palavras se formaram naturalmente, direto do seu cerne... O núcleo de sua alma, que lhe foi tirado quando se tornou uma máquina de matar...

— Eu não quero... Te machucar... – Proferiu assustado. Ele se odiava por não ser capaz de se controlar... Por não conseguir vencer a si mesmo...

— Você não vai... Você não tem que se preocupar com isso... Eu estou aqui pra te auxiliar sobre esse novo mundo bizarro...

Ele olhava para as delicadas mãos segurando as suas... Os pulsos dela estavam marcados... Completamente vermelhos...

O sargento não conseguia se perdoar...

— Se continuar aqui, eu posso te machucar... Posso até te matar e eu jamais me perdoaria por isso... – Replicou com a voz embargada. Não se recordava de ficar tão sentido por ferir alguém... Não depois que se tornou o Soldado Invernal...

— Você não vai me matar... Você não vai matar mais ninguém... – Darcy o acolheu ternamente, segurando a mão humana e a mão de metal, no ímpeto de lhe confortar da melhor forma possível.

Sem saber como e por quê... Aquela garota atrapalhada e barulhenta... Havia se tornado sua heroína. Alguém que tinha facilidade em ser quase imune a situações ameaçadoras.

Ela também era um grande e instável incômodo...

James a observou, se concentrando em todos os traços suaves de seu rosto...

E ela o observava de volta, contemplando seu semblante... lhe emoldurando...

E então, a estudante se sentiu surpreendida quando as mãos dele seguraram as dela de volta por um tempo e o soldado passou a percorrer lentamente a ponta de seus dedos até os pulsos, tocando os locais onde deixara marcas por tê-la segurado com tanta brutalidade.

— Me desculpe... – Ele retorquiu, com um grande pesar em sua voz e completamente arrependido de tê-la ferido.

— Hey... Não precisa se desculpar... Eu sei exatamente da sua condição... Isso vai acabar um dia... Eu te prometo... – O timbre da garota era firme, convicto e promissor. De certa forma, Bucky se sentia seguro toda vez em que a mesma lhe consolava com tamanha comiseração.

Ela conseguia devolver aos olhos opacos do soldado, o verdadeiro brilho da esperança...

Alicerçar seus planos... Colocar seu vagão no trilho...

— Eu espero um dia poder retribuir... – Redarguiu, ainda se sentindo culpado por machucá-la.

— Não se preocupe... Se um dia aparecer uma barata voadora, vou estar aqui pra mata-la com uma chinelada... – A garota sorriu de canto, se perguntando se Bucky também era como os homens do século 21, que corriam quando uma barata aparecia.

Então, finalmente, Darcy conseguiu arrancar um meio sorriso singelo do soldado, fazendo-o se tranquilizar depois de tudo.

— Agora eu preciso dormir, porque tenho trabalho dobrado amanhã... E também tenho que continuar os tópicos de uma das apresentações do TCC... – A estudante se desvencilhava rapidamente dele, já com mil coisas na cabeça e andando alguns passos rumo à porta do quarto, porém...

Ele a impediu de sair através de um toque suave em seu ombro.

Darcy virou o rosto...

.

— Obrigado... Boneca...

.

O Soldado agradecia, chamando-a carinhosamente por um adjetivo que os homens diziam as mulheres na década de 40. Um apelido intrigante e ousado, mas ao mesmo tempo fofo...

.

.

E aquilo fez com que ela estremecesse por dentro e seu coração badalasse freneticamente...


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Notas finais do capítulo

Coração badalando freneticamente não é um bom sinal... Alô, Darcy, CUIDADO!
Os personagens novos estão aqui: wintershock.tumblr.com
Quem será essa Katherine? :O
Digam o que acharam desse capítulo. Deixe seu comentário, pois vocês me ajudam com coisas que eu não percebi por algum motivo.
Até sexta que vem!



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