Wintershock escrita por ariiuu


Capítulo 20
Conversas descontraídas


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como vão?
Mais um capítulo Friday Night pra vocês =D
Divirtam-se!



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O fim de tarde ia se aproximando, quando o sol começava a tingir o céu num tom alaranjado e mais uma vez, Bucky não estava sabendo lidar com sua mente sombria lhe atormentando. Ela o acusava o tempo todo, ao mesmo tempo em que tentava não se sentir culpado ou com forte remorso sobre tudo o que se lembrava a cada dia.

Não era algo fácil... Era uma batalha mental constante e não tinha força suficiente para acalmar seu emocional completamente abalado.

Tentava ficar em alerta o máximo que podia, pois, qualquer deslize acordaria o Soldado Invernal, que se encontrava adormecido nas partes mais obscuras de sua mente.

Evitava dormir quando se sentia angustiado e preste a perder o controle, justamente para não encontrar com Darcy e correr o risco de machucá-la.

Mas quando tentava repousar de dia, no horário em que a estudante estava ausente, era algo quase impossível e acabava desistindo.

As coisas não estavam saindo exatamente como pensava e parte da sua mente insistia em traçar planos mirabolantes para acabar com o que havia restado da HYDRA. Só precisava de pistas para acha-los.

Porém, não conseguia planejar nada diante do cenário atual. Estava recuperando memórias fragmentadas e sem contexto algum, que com o decorrer do tempo tentava entender o real sentido quanto as juntava, em uma única cena...

Lembranças de vários lugares, com pessoas desconhecidas, em missões que não se recordava e em épocas que não fazia ideia...

Se sentia irritado e completamente impaciente naquele momento e não era apenas por causa de sua cabeça fora de órbita, mas por conta do ambiente e o clima que também não ajudavam.

Depois de passar anos na criogenia e em treinamentos em lugares extremamente gélidos, não estava sendo fácil lidar com a primavera estadunidense depois de décadas fora de Nova York.

O Soldado Invernal era um homem do inverno e a primavera não era uma estação que lhe deixava feliz, pelo contrário, era uma época muito feliz, colorida e quente, ainda que a temperatura não passasse de 22 graus... Isto porque o verão nem havia chegado. Imagine quando chegasse...

Naquele momento, o sargento apenas abriu a torneira da pia do banheiro e jogou uma porção de água em seu rosto...

Ele olhou para seu reflexo no espelho...

Alguns fios de cabelo molhados escondiam parte de seus olhos, que não eram os mesmos... Possuíam uma aura misteriosamente sombria...

Seu olhar era como uma arma carregada com todas as balas...

James cautelosamente tocou o seu ombro... Marcado pelas cicatrizes do braço metálico implantado...

Ainda podia sentir a dor fantasma... E o verdadeiro inferno daquela tortura...

Seu nome estava gravado nos livros de história como um herói americano e o mundo pensava que ele estava morto...

Um errante no tempo... Caminhando sem rumo à procura de vingança... e de dias melhores...

Passeando pelas mais escuras lembranças, apenas para descobrir que tudo era em vão...

E o barulho do nada não silenciava a dor que habitava nele...

Diante daquela sensação insuportável, num impulso, Bucky deu um soco no espelho com a mão humana...

O vidro facilmente trincou e ele repetiu o ato diversas vezes...

Em meio aos estilhaços, sua mão começou a sangrar, mas...

Naquele exato instante, ele ouviu a porta da sala do apartamento abrir...

.

Darcy havia chegado...

.

Aquele momento era péssimo para a estudante estar ali. Estava mais uma vez diante de uma crise existencial e não queria machucá-la...

Enquanto pensava em algo, parte do espelho despedaçado caía no chão e um forte barulho de vidro quebrado pôde ser ouvido pela garota que se encontrava na sala.

.

Bucky...?

A estudante logo foi chamando pelo nome dele ao ouvir o barulho.

O soldado pensou em fechar a porta, mas Darcy já havia entrado no banheiro.

Institivamente, ele fechou o punho humano ensanguentado.

— Você está machucado!? - Ao ver a cena, ela se aproximou rapidamente para prestar ajuda, mas ele a afastou imediatamente e passou pela mesma, atravessando a porta do banheiro em silêncio, com um semblante extremamente indiferente.

A garota observou o local e viu vários estilhaços do espelho espalhados pelo chão e muito sangue salpicado pelo azulejo.

Céus... – E então a estudante correu para onde Bucky estava e tentou mais uma vez prestar ajuda ou entender o que estava acontecendo.

Darcy parou atrás dele, que se encontrava em frente ao tanque da área de serviço com a torneira aberta, no ímpeto de limpar todo o sangue de sua mão humana.

— Bucky, você está bem!? O que está acontecendo!? Está tendo outra crise!? – Ela o enchia de perguntas e ele já esperava por aquilo, porém, o mesmo continuou em silêncio, apenas observando a água do fundo do tanque se tornar levemente avermelhada por conta do sangue.

— Você está machucado!? Eu vou pegar alguma coisa pra desinfetar o seu corte, faixas e esparadrapos-

Não precisa... Eu estou bem...

A voz dele, cujo tom era intensamente frio e impassível, a interrompeu, fazendo-a parar no meio do caminho.

— Como machucou a sua mão desse jeito...? Você por acaso deu um soco no espelho do banheiro? – A garota elevava seu grau de preocupação e aquilo lhe irritava profundamente.

— Você não precisa se preocupar, Lewis... Eu estou bem...

— Será que eu posso pelo menos ajudar com o seu corte?

— Não... – Redarguiu, totalmente apático.

— Mas você pode pegar uma contaminação por ter se cortado com vidro...

— Você acha que um assassino modificado geneticamente pode ser contaminado com o resquício de um corte...? – A entoação de sua voz podia ser interpretada como um deboche e ao mesmo tempo uma resposta mal-educada, pois seu humor naquele momento não era dos melhores.

— Bem, levando em consideração que você não tomou nenhuma vacina contra contaminação, sim, eu acho que pode. E isso aí não é um resquício de um corte, É UM CORTE! – A garota rebateu no mesmo nível, tentando ser ainda mais debochada, mas aquilo foi o ponto culminante da paciência do soldado, que imediatamente fechou a torneira e lançou um olhar mortífero para a mesma.

Será que ela não tinha lido em seu arquivo, a parte que dizia que Bucky Barnes havia se transformado em um super soldado? Sua regeneração era superior a de um humano comum.

A estudante expôs uma feição de espanto e recuou um pouco, mas já era tarde, pois Bucky já se aproximava dela, com uma postura ameaçadora e a típica aura nebulosa que só o Soldado Invernal tinha.

— Olha só, antes que você venha me ameaçar de morte, eu só vim mais cedo pra casa pra saber se você tem alguma preferência pro jantar... Eu tava pensando em pizza ou macarr-

A garota nem havia esperado o mesmo se aproximar e logo foi justificando o porquê de estar ali àquela hora, porém, o soldado já havia se achegado o suficiente nela, coagindo-a.

Ele a cercou com o braço metálico entre a parede da sala, ao lado da prateleira de livros, perto da sacada.

O punho humano se fechou, impedindo que o sangue escorresse ainda mais...

O entardecer seguia barulhento, em meio ao som dos carros no horário de pico do lado de fora... E o clima abafado da agitada Nova York em mais uma tarde de primavera, com temperaturas elevadas...

O céu, com seu matiz alaranjado, fazia os fracos raios solares colorirem as paredes da sala no mesmo tom... Os prédios do lado de fora eram pintados com as cores vivas da estação mais colorida do ano...

Na janela, a cortina fina oscilava com a suave brisa adentrando...

Mas em contraste com o ambiente lá fora, o olhar de Bucky era nublado e parecia drenar toda a coragem que ela tinha naquele exato momento... Ainda que os raios solares alaranjados que entravam pelas frestas da janela pudessem se refletir nos olhos azulados do soldado e torna-los quase verdes...

Darcy queria aprender a ler o silêncio dele e construir um muro com palavras que formassem frases filosóficas para que o mesmo se contestasse sobre a forma como enxergava sua vida...

Mas não havia nem mesmo um resquício de um sussurro em seu silêncio, para que pudesse trazê-lo até ela...

Como a estudante sabia que isso seria impossível, tentaria se desvencilhar da melhor forma: apelando para suas piadas filosofais.

.

Já parou pra pensar que você pode ter nascido porque o espermatozoide que ganhou a corrida trapaceou?

.

Silêncio.

Mais silêncio.

...

E nenhuma reação.

Bucky simplesmente continuou fitando-a, como se fosse imune às suas piadas.

Dessa vez não deu certo.

.

O semblante do soldado era completamente nefasto e Darcy não sabia como reagir.

— Toc toc... Quem está aí agora...? Bucky ou o Soldado Invernal...? – Tentava, em vão, fazê-lo se acalmar, porém, suas recentes piadas só serviram para irritá-lo ainda mais.

— Até quando você pretende se arriscar tanto com uma máquina mortífera dentro de casa...?

— A-acho... Que tem um filme com esse nome, ehehe...

— Pare de brincar comigo... Você não sabe do que sou capaz... Meus instintos estão implorando para matá-la... – Sua voz, áspera e exprimindo hostilidade pelas recentes ações infantis da garota, arrancava arrepios nela.

Era incrível que mesmo passando longas semanas juntos, ele ainda lhe causava pânico.

— Você não faria isso... Teve inúmeras oportunidades, mas não o fez... – A estudante retorquia, um tanto relutante, mas quase convicta que ele nunca faria aquilo...

Quase...

— Você não pode ter certeza... – Afirmava, com a voz firme.

— Mas eu tenho... – Ela redarguia, enquanto se encolhia na parede.

— Escute aqui, já estou cansado de suas brincadeiras e piadas... Você pode acabar morrendo se me pegar numa crise que pode trazer o Soldado Invernal de volta...

Ela suspirou, deixando transparecer certa impaciência depois do que ouviu.

— Me desculpa por desapontá-lo, mas não é você quem decide isso... – Darcy respondia sem medo, encarando-o com uma carranca infantil, semelhante ao de uma menina contrariada pelos pais.

James se irritou ainda mais e então segurou o pulso esquerdo feminino contra a parede com seu braço de metal.

Seus olhos, impiedosos, pareciam espelhos que carregavam um brilho nefasto e demasiadamente fatídicos...

Um olhar que queimava inebriante... Fazendo o tempo passar lentamente... A ponto de viajar adentro de suas pupilas, que se dilatavam quando a miravam com tanta profundidade...

Os lábios dele se moveram lentamente...

Eu estive no inferno... Conheço todos os métodos de tortura que você sequer pode imaginar... Não brinque com fogo...

Darcy sentiu um ardor extremamente gelado... Estremecendo de imediato...

— Eu não costumo brincar com fogo... Só com água... Mas isso é só quando vou à praia...

— Não devia levar tudo na brincadeira... Eu sou uma arma e posso matá-la facilmente... -  O olhar impiedoso e atroz, era demasiadamente abrasador.

— Tecnicamente, a arma não escolhe quem vai matar, então, não seria melhor você me dizer se prefere macarronada ou pizza para o jantar? – Darcy tentava mais uma vez quebra-lo no meio com falas que pudessem trazê-lo de volta para a realidade.

As palavras boas tentavam sem sucesso invadir um coração enclausurado pela dor e pelo vazio sufocante...

No emaranhado daquele labirinto... Em mais uma tentativa que parecia inútil, e que não conseguia encontra-lo, arriscava mais uma vez e apostaria que o sargento cederia...

— Você não tem noção, mas nesse exato momento sua mão está fazendo um roxo enorme no meu pulso, porque minha mão está começando a formigar e o aperto está doendo pra caramba...

— Você sabe que não estou usando nem dez por cento da minha força, certo...?

— Woooow, que legal! Você é super forte mesmo, mas de verdade, tá doendo muito... – A garota começou a balançar a mão que formigava, num gesto amigável para aliviar a tensão entre ambos.

Um tanto impaciente, mas receoso de machucá-la, aos poucos ele foi afrouxando o aperto no pulso feminino, largando-o logo em seguida.

— Você podia dizer os dias e as horas que age assim. Dessa forma eu ficaria bem longe, até você se acalmar... – A estudante tentava mais uma vez, dizer algo que pudesse fazê-lo refletir, antes de sair lhe intimidando e relembrando a todo momento que ele era um ex-assassino e que a mesma corria perigo ao lado dele.

— Você não devia estar aqui esse horário... – Protestava, ainda muito irritado. Não queria colocar a segurança dela em risco.

— Saí mais cedo pra fazer alguma coisa diferente pro jantar... Macarronada... Ou Pizza...? – Ela o questionava, sacudindo o pulso que ainda formigava por conta do forte aperto.

Bucky suspirou... Seus sentidos antes tensos, aliviavam gradativamente.

E quando finalmente resolveu se afastar, foi surpreendido pelas mãos da estudante que imediatamente pegaram a mão humana ensanguentada para analisar o corte.

Perplexidade decorreu pelos olhos azuis do soldado.

— É melhor você me deixar fazer um curativo nesse corte. Deve estar doendo muito...

James ficou em silêncio, observando-a, intrigado, por não se importar que o sangue dele respingasse nela.

— A dor é algo que já faz parte da minha natureza...

— Mas não faz parte da minha. Não gosto de ver ninguém ao redor sofrendo. Vem... – E então, Darcy começou a puxá-lo pelo pulso metálico, rumo ao tanque da área de serviço.

Mais calmo, ele obedeceu e a deixou fazer o que queria. A garota desinfetou o corte com álcool, passou uma pomada, enfaixou e colocou esparadrapo.

— Você devia me ouvir mais, sabia? As suas ameaças ainda me dão medo, mas não ao extremo de achar que você quer me matar. – Ela dizia enquanto guardava seu kit de primeiros socorros.

— Você devia obedecer ao seu medo e se afastar... Não é seguro se manter perto de mim quando estou prestes a perder o controle.

— Mas você não perdeu.

— E se perdesse...? Você sabe que podia morrer de verdade?

— Hmm... Ainda acredito que não... Acho que te causo um grande efeito pra você simplesmente me matar...

— Que efeito...? – Indagou, discretamente intrigado.

— Eu ainda não sei... Mas temos todo o tempo do mundo pra descobrir. – E então, Darcy alargou um sorriso... O sorriso mais afetuoso que existia, se assim pudesse descrever.

O soldado não entendia, mas acreditava nas palavras dela. Curiosamente, havia muitas coisas que lhe deixava confuso e lhe fazia ter uma boa impressão dela, tirando suas maluquices e infantilidades fora de hora.

Uma delas era sobre suas expressões faciais... Era inédito saber que uma mulher podia fazer aquele tipo de cara, por diversos motivos.

Outra era suas piadas excêntricas, sem pé nem cabeça nos momentos mais críticos.

E a outra era... Por quê raios seu cabelo cheirava a chantilly e baunilha...? E outras vezes a maçã verde...? Era uma mistura doce e inebriante... Uma singularidade que apreciava secretamente sobre ela.

Talvez o perfume de uma mulher, dissesse o suficiente sobre quem era... No caso de Darcy, que parecia uma criança adulta, a fragrância combinava perfeitamente com ela.

.

.

Duas horas depois...

— Se aqueles idiotas acham que vão ocupar o auditório nesse fim de semana, estão enganados! Temos que ensaiar para a nossa apresentação! Eu reservei com a professora Alice há três semanas!

Calma, Darcy. Você não vai entrar lá e fazer um barraco com a Clarice, né? Os professores podem se irritar.

— Eu não quero saber! Se essa barbie do Paraguai acha que pode trapacear, eu vou fazer de tudo pra ferrar a vida dela!

Darcy conversava com Lindsay, sua colega de faculdade e parceira de TCC, junto com outros dois colegas, por Skype, em uma chamada de áudio.

A estudante e o soldado já haviam jantado. A escolha? Macarronada, e que por sinal estava deliciosa.

Darcy era uma excelente cozinheira, quando queria ser, claro.

Bucky que estava sentado na poltrona perto da sacada, ouvia a garota falar alto, indignada, não entendendo exatamente o porquê, mas sabia que era algo sobre seu TCC...

Eu te entendo, mas vamos com calma. Amanhã eu vou procurar pela professora responsável e resolvemos isso. – Lindsay tentava acalmar Darcy.

— Assim espero! – A garota estava com o rosto vermelho, de tanta raiva.

Espero que seus remédios estejam em dia, Darcy, senão você vai ferrar o grupo todo!— Leon, colega de TCC, dizia tal piada rindo.

— É bom você ficar esperto, Leon, porque senão, depois da nossa apresentação, na cerimônia de encerramento, você pode ter sua bebida batizada e eu não me responsabilizo. – A garota ameaçava, e os outros dois colegas apenas riam como loucos.

Tudo bem, mas você vai batizar a minha bebida com o quê? Com vodka barata?

— Não. Com água da privada mesmo. Tchau. - E então, Darcy encerrou a chamada de áudio.

Mesmo ouvindo contra sua vontade, Bucky percebeu o quanto Darcy podia ser uma garota má que fazia coisas repugnantes com seus próprios colegas de grupo.

Ele permaneceu em silêncio, ignorando o fato de a estudante colocar as mãos na cabeça e chacoalhar de um lado pro outro.

ESTOU MAIS PERDIDA QUE ADÃO EM DIA DAS MÃES!!!

— ...? – Um ponto de interrogação ficou estampado na face dele, completamente absorto, não entendendo nada do que ela disse.

— NÃO PRECISA ME OLHAR DESSE JEITO! EU SEI QUE ESTOU DESCABELADA!!! – Darcy apontou para Bucky, com muita raiva, com os cabelos completamente embaraçados e na frente dos olhos.

— Mas eu não disse nada... – O soldado replicou, inocentemente.

— MAS DISSE COM OS OLHOS!!!

— Você está enganada... Apenas me questionei sobre o que você dizia, pois não consegui entender... – Bucky articulava calmamente enquanto a olhava de forma indiferente, mesmo que por dentro estivesse perplexo pelas ações e falas da garota. Ela era mais maluca do que imaginava.

— EU JÁ FALEI MIL VEZES PRA VOCÊ LER SOBRE NOSSAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS!!!

— Eu vou ler... Não precisa se irritar... – E pensar que quem estava irritado há poucas horas a ponto de descontar no espelho do banheiro, era ele.

— Admita, Bucky... Eu sei que sou descontrolada quando estou com raiva, mas esses seres humanos não ajudam em nada, sabia?

O soldado arqueou uma sobrancelha, tentando entender o sentido de “Esses seres humanos não ajudam em nada”, sendo que ela também era um ser humano, embora não parecesse.

— Bem... Sua reação é completamente normal, de acordo com o livro que estou lendo. Aqui diz que as pessoas desse século são completamente ansiosas e depressivas, por causa do excesso de informações.

— É CLARO, QUERIDO! NÓS ESTAMOS NA ERA DA INFORMAÇÃO!!!

— Sim... Bem diferente da minha época, em que a doença do século era a tuberculose... Hoje a doença do século 21 é a ansiedade, e você tem vários sintomas disso.

— VOCÊ ESTÁ INSINUANDO QUE EU ESTOU FICANDO LOUCA!!?

.

.

Você não está ficando louca, você é.

.

.

Pausa.

Mais pausa.

Mais um segundo de pausa diluída no silêncio da sala.

— Baseado no que você diz que sou louca!!!?

— Baseado no princípio de que uma jovem estudante universitária que vive sozinha, trás um assassino desmemoriado, que trabalhava para serviços secretos rivais do Estados Unidos para morar em sua casa. Isso não é suficiente?

— É o fim... Um soldado de 97 anos me dizendo que sou louca... Em que manicômio devo me internar então...? – A garota saiu andando, segurando a cabeça, pois já estava começando a acreditar que logo seria amarrada numa camisa de força.

— Não devia pensar assim. Você não representa nenhum perigo à sociedade, diferente de mim.

— Hey, você me julga como se eu fosse um bibelô! Posso não ser uma espiã ou uma agente secreta, mas posso ser uma ameaça sim! E também sei me defender muito bem sozinha!!!

— Claro que sabe... Com um taser... – Bucky não aguentou e sorriu, cínico.

Darcy observou a expressão do sargento e sua mente explodiu de raiva.

— Posso usar só os meus braços se quiser!!!

— Claro que pode, mas não poderá fazer muita coisa com eles...

— Quer apostar!?

— Você quer lutar comigo? Isso é alguma piada? – Perplexo, ele levantou da poltrona e a encarou firmemente. Darcy parecia uma criancinha fazendo birra.

— Pare de falar, sargento! Me pare se conseguir! – Então, a garota foi para cima dele, de forma desajeitada.

Bucky não consegue conter o sorriso de deboche. A estudante realmente era engraçada e fazia de seus dias os mais alegres e divertidos, mesmo que às vezes estivesse prestes a perder o controle, com ela presente.

E com os punhos fechados incorretamente, na tentativa de um soco, ele bloqueou facilmente a mão dela, agarrando-a e desviando rapidamente para trás, paralisando-a com um movimento onde conseguiu a manter imóvel e sem chance de retaliação.

— E agora? Acha que pode fazer algo estando tão indefesa? - Ele zombava, fazendo-a rosnar.

— É só porque você é incrivelmente mais forte, veloz e ainda tem um braço biônico pra tornar isso IMPOSSÍVEL!

— Se o meu braço é o problema... - Ele colocou o braço de metal para trás e a segurou apenas com seu braço humano.

Darcy continuou imóvel.

Você...— Ela rangia os dentes.

— Mesmo sem o braço de metal, você ainda fica indefesa... – O sorriso dele era completamente espontâneo e algo extremamente belo de se apreciar, o que fez com que a garota divagasse entre ter ainda mais raiva por mantê-la imóvel, ou se entregar à alegria de vê-lo sorrindo de forma tão natural, sem rastros do Soldado Invernal para estragar tudo.

Mesmo que Bucky fosse um ex-assassino e tivesse um braço de metal implantado, vê-lo em trajes tão normais e informais, como uma regata, jeans e tênis, era algo inexplicável... Uma verdadeira imagem digna de alguém que ela admirava e desejava o melhor depois de todo o pesadelo em que o mesmo viveu com a HYDRA.

— Você tem que entender que eu não sou a pessoa que luta, mas a que dá suporte pelo computador...

— O que você quer dizer com isso?

— Os heróis saem para enfrentar os vilões, e os parceiros dos heróis ficam numa salinha pra ajudar, no computador. – Darcy sorriu de volta.

— De onde você tirou isso...?

— Sério, vá assistir aos desenhos que eu te recomendei! DC Comics está aí pra isso! Recomendo que leia Super choque!

— Você... Não acha que está exagerando quando quer transformar histórias em quadrinhos em realidade?

— Exagero é o Batman não matar bandidos! De resto, é tudo real!!! – E então, a garota tentava desprender seu braço da mão humana que a segurava firmemente.

O sargento soltou o braço dela, mas a pressão foi tanta que a garota se desequilibrou e caiu.

Os olhos dele arregalaram no mesmo instante, porém...

Darcy começou a rir descontroladamente...

Mais um tópico na lista de bizarrices de Darcy Lewis...

— Me desculpe, você se machucou? – Ele se aproximou para ajudá-la a se levantar.

— Não foi nada, Astroboy... – Darcy sorriu matreira, e ele não entendia o que ela queria dizer lhe chamando de “Astroboy”.

A estudante era uma verdadeira incógnita. Quando pensava que estava conseguindo entende-la, ela o surpreendia com coisas que sequer imaginava.

— Já que seu humor mudou, vamos dar uma volta? Está muito abafado hoje... – Ela sugeriu.

— Pra onde...?

— Jura que você não vai dizer não...? – A estudante se surpreendia por ouvir aquela resposta, afinal, Bucky não gostava de sair com ela pra qualquer lugar que fosse.

— Mais uma vez eu a intimidei com uma de minhas crises, então... Acho que essa seria a hora mais propícia para me desculpar...

— Aceitando meu convite pra um rolê!?

— Rolê...? – Os olhos dele a rodearam, confusos.

— Então vamos!!! – Quando deu por si, Darcy agarrou a mão dele e o puxou para a porta da entrada do apartamento.

.

.

Já era onze da noite e só lojas de conveniência estavam abertas.

Darcy estava com o cabelo solto, regata, jeans e Vans vermelho. Suas típicas roupas simples e casuais.

— Por que você quebrou o espelho do banheiro? O que você estava pensando?

— Você não acha que está sendo invasiva me fazendo essa pergunta?

— Não seria melhor se você desabafasse? Eu estou aqui pra isso.

— Eu sei...

Bucky ficou em silêncio por um tempo e ela também. Os dois andavam lentamente e apenas o ruído de seus tênis tocando o asfalto podia ser ouvido.

Vez ou outra, um carro passava, fazendo barulho.

O soldado suspirou e então resolveu quebrar o silêncio.

— Às vezes penso que tudo teria sido diferente se tivesse seguido por um caminho oposto ao da guerra. Acho que o fogo de todas as minhas batalhas me queimaram, e por um momento, o que começou com uma pequena faísca, se tornou um incêndio. – Seu tom de voz era um tanto melancólico.

— Não acho que você devia apagar esse fogo, por que se ele se esfriar, será como apagar uma estrela cadente. – Havia uma expressão animada na voz de Darcy. Quando James se lamentava de algo, ela sempre rebatia com alguma frase filosófica e de efeito.

Como poderia transformar anos de angústia e dor em algo incrivelmente bonito? Havia mesmo algo bonito em todo aquele tormento?

— Por mais que você diga essas coisas com o intuito de que eu veja a minha vida de outra perspectiva, no final, a dor será a mesma.

— É... Dá pra ver que sua vida com a HYDRA te deixou no fundo do poço. Mas a vantagem de chegar ao fundo do poço, é que suas chances de achar petróleo aumentam. - Ela replicou seriamente e Bucky a olhou incrédulo mais uma vez.

Ambos ficaram em silêncio por um tempo, caminhando pela avenida.

Mas depois, o soldado apenas a encarou seriamente e percebeu o quanto o vento tênue acariciava os longos fios ondulados da estudante.

A brisa resvalava por cada madeixa de seus cabelos e emolduravam o rosto feminino, enquanto o olhar azul-celeste cruzava com o seu, como se a mesma quisesse perguntar algo.

E a voz dela o tirou de seus devaneios.

— Vamos numa loja de conveniência comprar um sorvete?

— Acho uma boa ideia.

— Já é. – E então, a garota correu na frente, apontando a loja mais próxima enquanto o semáforo para pedestres estava aberto.

Depois de comprarem dois potes de Ben & Jerry’s, Baked Alaska e Chocolate Fudge Brownie, ambos entraram num parque que ficava no caminho, estendendo o passeio.

— Essa é uma das coisas que faz a vida valer a pena. – A estudante dizia enquanto saboreava seu sorvete e se sentia nas nuvens.

— Gula não é pecado?

— Se gula é pecado, eu sou uma pecadora invicta!

Bucky apenas sorriu modestamente, já um pouco habituado com o jeito exótico de Darcy.

— Tem uma coisa que quero te perguntar há tempos, mas sempre tive vergonha... – Ela correu e se colocou na frente dele, cercando-o.

— Vergonha? Você...? – Questionava, desacreditado.

— Sim... Será que você responderia? – A estudante sorria marotamente.

— Não sei... Depende...

—  Eu quero muito saber... – Ela sorria como uma criança prestes a fazer uma travessura.

— O que você quer saber? – O soldado a indagou, suspirando, já sabendo que a estudante viria com suas piadinhas inconvenientes, no mínimo.

— Você já teve uma namorada? Digo, antes de ser levado pela HYDRA... - Os olhos da garota estavam bem abertos e brilhavam levemente.

Ele ficou em silêncio durante um tempo e então...

Sorriu...

— Isso é uma pergunta inesperada... Por que quer saber?

— Só curiosidade mesmo... – Darcy dizia enquanto tomava seu sorvete de e esperava pela resposta dele com certa ansiedade.

Longos segundos se passaram, mas Bucky resolveu responder.

— Estávamos em guerra. Eu precisava aproveitar a minha vida antes de morrer. – A forma como o soldado afirmou sobre aquilo, soava exatamente como uma fala do próprio James Barnes da década de 40.

— É verdade... Tudo isso estava escrito nos livros que eu li... – Ela revirou os olhos e Bucky franziu o cenho.

— Você realmente leu os livros que falam sobre mim?

— O quê...? Sim... Algum problema...?

— Não... – Ele a fitou profundamente, desconfiado.

Por que ela teria curiosidade de saber mais sobre ele além dos arquivos de Kiev que tinha lhe entregado anteriormente?

— Eu deixei esses livros na escrivaninha da sala. Você não viu? – A garota o questionou.

— Não costumo revirar as suas coisas.

— Ah, eu devia ter deixado no seu quarto então...? – Tentava disfarçar um pouco o seu constrangimento, já que acabara de se lembrar das fotos dos livros que a deixaram ainda mais intrigada por ele.

— Eu não entendi até onde quer chegar com essas perguntas... – O sargento articulava, ainda muito desconfiado.

— Pode ir na frente então... – Ela sugeria.

— Por quê? – James a contestava, cismado.

— Porque eu gosto de olhar a sua bunda. Parece uma maçã... – Darcy proferiu tais palavras ousadas enquanto sorria maliciosamente.

Ele ficou parado no meio do caminho, com uma carranca... como ela conseguia ser tão cara de pau de dizer coisas tão vergonhosas para um homem?

Teria de jogar o joguinho dela então.

— Agora que estamos voltando, vá você na frente então. – Replicou, irritado.

— Por quê?

— Pra que eu possa olhar a sua bunda também. É justo. – O soldado rebateu, tentando se vingar. Darcy precisava filtrar suas piadas, pois qualquer homem pensaria que a garota estava flertando.

— Tsc... tenho outra pergunta...

— Pergunte... – Ele suspirou, um pouco impaciente com as infantilidades dela.

— Você teve uma namorada durante sua permanência na HYDRA?

A pergunta agora era ainda mais ousada e Bucky se questionou se ela tinha encontrado algo sobre seu passado que mencionasse a Viúva Negra.

Mas para descobrir, teria de disfarçar e sondá-la, respondendo coisas até onde achasse relevante, para então, desvendar o motivo de sua curiosidade.

.

Teve uma garota...

.

— É mesmo!? Quem!? Quem!?? - Ela perguntava empolgada.

— Recuperei algumas memórias há pouco tempo... E essa garota... acabamos nos aproximando quando nossos grupos tinham como missão uma colaboração conjunta... isso foi nos anos 50 e... Acabamos ficando juntos de uma forma... mais íntima...

Bucky se recordava daqueles momentos, com Natalia Alianovna Romanova... Mas não diria para Darcy quem ela era...

— Hmmm! Então ela foi sua namorada!? – A voz entoada de forma infantil era notável.

Ele ficou em silêncio e exibiu um sorriso discreto. Não acreditava que estava confidenciando seus segredos mais importantes para Darcy.

— Acho que foi quase isso...

— Quase? Era o quê afinal!? – Indagava, cada vez mais indiscreta.

— É algo complicado e não acho que devia estar falando disso com você. – O soldado tentava se esquivar. Agora ele sabia que Darcy não tinha ideia de nada. Como sempre, eram apenas indagações comuns de uma garota curiosa.

Não diria a ela que as memórias e sensações que tinha quando se recordava da Viúva Negra, não eram nada demais, mas... algo tão profundo como se a mesma tivesse sido o grande amor de sua vida...

Porém, não tinha certeza de nada... tudo ainda se encontrava caótico em sua mente.

— Ah, larga mão de ser bobo! Não tem nada a ver dizer isso pra mim, e já que você não quer entrar em detalhes, eu não vou insistir... Mas agora me fala, como ela era!?? – A estudante continuava com as perguntas indiscretas, extremamente bisbilhoteira.

Bucky balançou a cabeça, desacreditado da ousadia dela.

— Ela era o extremo oposto de você. – O soldado sorriu de forma debochada.

Darcy ficou com raiva, pois seu semblante fechou.

— Hey! Você está me ofendendo de novo, não é!? – A feição de criança birrenta podia ser vista pela vigésima vez naquele dia.

— Interprete como quiser. – O sargento sorriu enigmático e ela amava isso. Parte de seu charme era graças ao seu jeito misterioso.

— Nunca mais te pergunto nada. – Ela passou em sua frente, um tanto irritada.

— Espere, não precisa ficar brava. Deixe eu fazer uma pergunta também...

— Faça. – Respondia, ríspida.

— E o seu namorado? Você não tem um?

— NÃO, NÃO TENHO, POR QUÊ!?? – A garota respondia com outra pergunta, ainda mais irritada, pois aquela indagação lhe fez lembrar de um certo demônio chamado Robert.

— Por que está brava? Não me diga você levou um fora? – O soldado perguntou inocentemente e Darcy apenas deu de costas, colocou o capuz de sua blusa, cobrindo sua cabeça e continuou caminhando rapidamente, o deixando pra trás.

De alguma forma, sentia que a estudante tivesse saído de um relacionamento a não muito tempo. Ela dizia coisas diretas e indiretamente toda vez que falava com alguém ao telefone, além das fotos estranhas que se recordou de ter visto quando a caixa de fotografias dela estava na sala, algum tempo atrás.

— Se você ficar em silencio, vou interpretar que levou um fora e está constrangida em assumir isso... – O soldado indagava, tentando entender a reação dela.

Você... Não sabe de nada, James...— Darcy chamava Bucky pelo seu nome quando estava com raiva dele.

Era bem raro quando isso acontecia... porém...

Pela primeira vez desde que se conheceram, Darcy estava fortemente embaraçada...


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Notas finais do capítulo

E esse embaraço todo? Qual seria o motivo? Darcy Lewis está agindo estranho...
Ben & Jerry's lembra o quê??? Delírio de Avelãs Stark e Fudge do Hulk Raivoso, ahahahaha, só referências aqui :P
+ Fotos do capítulo no wintershock.tumblr.com
Até semana que vem.



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