A Bela e o Morcego escrita por Valdir Júnior


Capítulo 2
Conversa no Beco




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Jessica Jones virou-se vagarosamente na direção de onde estava vindo a voz. A princípio não enxergou muita coisa. Parecia haver uma figura sombria agachada no alto da escada. Em seguida começou a distinguir dois olhos brilhantes, que a encaravam com firmeza.

A voz tornou a repetir:

— Eu mandei você soltá-lo.

De repente a figura se mexeu, pulando do alto da escada e caindo quase suavemente a sua frente. Jessica ficou na dúvida se ele era mais assustador lá em cima ou agora, na sua frente, sob a luz do beco. E Jessica Jones não costuma se assustar tão fácil.

Ele era grande, em todos os sentidos. Tinha quase 1,90 m, com uma musculatura rija e bem definida, sem exageros. Vestia uma roupa muito escura, que em parte era uma armadura, com um grande morcego se destacando no peito. A cabeça estava coberta com um capuz negro que lembrava algo entre um morcego e uma gárgula e uma grande capa, também negra, cobria as suas costas e descia tocando o chão. O queixo quadrado emoldurava uma boca severa, que era quase somente uma linha. E os olhos, que deixavam entrever um azul profundo, transmitiam uma autoridade que não admitia contestações.

Desta vez, ele não pediu que ela soltasse o branquelo. Apenas se aproximou, pegou a mão com que ela segurava o pescoço do sujeito e puxou.  A força que Jessica sentiu naquela mão a surpreendeu. Podia ter resistido ao puxão, porém abriu a mão e deixou que o capanga se soltasse, escorregando pela parede. Este, depois de inspirar com dificuldade umas duas vezes, olhou para um e outro, gaguejou algumas palavras e desmaiou.

Vendo isso, Jessica suspirou e disse meio decepcionada:

— Lá se vai minha fonte de informações...

O Homem-Morcego perguntou com firmeza:

— O que está fazendo em Gotham City, senhorita Jones?

Jessica Jones o encarou, calada. Depois de alguns segundos, disse:

— Então, o famoso Batman existe mesmo? Eu sempre achei que era uma lenda urbana. Mas admito, você é impressionante, cara! Se eu fosse uma criminosa, já teria me borrado toda... – ela parou, pensou um pouco e perguntou – Como você sabe quem sou eu?

— Poucas pessoas chegam a Gotham sem que eu saiba quem são. Mas você ainda não me respondeu. O que está fazendo na minha cidade?

Jessica olhou calmamente para ele, virou-se, pegou um caixote em um canto do beco, sentou-se nele de maneira relaxada, e disse:

— Se você sabe quem eu sou, sabe também que sou investigadora particular. Fui contratada por um advogado amigo meu, Mathew Murdock...

— Eu conheço "Matt" Murdock. Mais do que você imagina.

“O que ele quer dizer com isso?”— pensou Jessica intrigada.

Batman continuou:

— Sei que você andou tentando falar, com certa "insistência", com um chefete das docas chamado Nicolla, conhecido também como Nick. Parece que não teve muita sorte e ainda irritou as pessoas erradas.

— Na verdade eu já havia combinado com este tal Nick um encontro. Ele me levaria ao escritório de um chefão local, Luigi "Big Lou" Maroni, com quem eu iria tentar negociar alguns documentos que são muito importantes em um caso que Matt está defendendo. Mas Nick não apareceu onde havíamos combinado...

— Então você começou a procurá-lo. Porém não conseguiu encontrá-lo e ainda apareceram estes dois marginais dizendo que ele não estava mais “disponível” e que Dom Maroni não queria conversar...  Eles estavam falando sério. O que sobrou do Nick não vai falar com mais ninguém.

— Pois é, eu percebi. Mas quando eu ia fazer aquele malandro abrir o bico e me dar algumas informações úteis, você chegou e atrapalhou tudo.

O Batman se agachou ao lado do capanga ainda estava inconsciente junto à parede, examinando seu pescoço e pulso, e se virou novamente para Jessica.

— Você não ia conseguir nada com eles. São peixes pequenos que só fazem o trabalho sujo. Eles provavelmente nunca viram Dom Maroni pessoalmente, muito menos sabem como entrar em contato com ele. Com certeza foram mandados para dar um susto em você. Ou coisa pior.

— Pois parece que eles não tiveram muita sorte com isso – Disse Jessica com certa raiva.

Depois de examinar também o outro capanga, Batman se aproximou mais dela e a encarou sério.

— Isto levanta outra questão. Estes dois parecem ter lutado com um gorila, dos grandes. Estão com concussões e alguns ossos quebrados. A única outra mulher que eu já vi bater assim tão forte é uma guerreira amazona com quase o dobro do seu tamanho.

Jessica Jones disse apenas:

— Digamos que tenho alguns segredos.

O Homem-Morcego encarou Jessica em silêncio por alguns instantes e finalmente disse:

— Muito bem Jones, vamos fazer o seguinte: eu vou investigar o que aconteceu para que Dom Maroni desistisse de falar com você e ainda mandasse estes dois infelizes. Encontre-me aqui, amanhã, neste mesmo horário. Passarei então a você tudo o que descobrir sobre Maroni e os documentos.

— Ei, espere aí, morcegão. Eu não pedi e não preciso da sua ajuda. Posso muito bem conseguir essas informações pelos meus próprios meios.

Um brilho raivoso passou pelos olhos do Batman. Aproximou-se da garota até ficar bem perto dela e falou de uma maneira que não deixava dúvidas.

— Jones, eu vou ajudar você por dois motivos. Primeiro, porque é importante para um caso de Matt Murdock. E segundo, porque eu quero que você esteja fora de Gotham o mais depressa possível. Portanto, vai fazer como eu falei. Ou eu farei você conhecer alguns dos meus “segredos”.  E tenho certeza de que você não vai gostar.

 Antes que Jessica pudesse responder, Batman tirou um arpeu hidráulico do seu cinto, apontou para o alto do prédio e sumiu na escuridão.

 


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