A Bela e o Morcego escrita por Valdir Júnior


Capítulo 1
Encontros Inesperados




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771080/chapter/1

Ela virou rapidamente a bebida na boca e sentiu o calor descer pela sua garganta. “M*****” - pensou – “já é a quarta dose que eu bebo e o sujeito não apareceu ainda!”. Mas suspirou resignada. Sabia que eram ossos do ofício e se preparou para esperar mais um pouco.

Havia chegado à cidade há dois dias e desde então vinha tentando localizar o cara. Tinha apenas uma descrição básica: moreno, magro e baixinho, conhecido como Nick, geralmente usando um casaco do time de futebol da Gotham City University. Tinha informações de que ele frequentava os bares da baixa zona leste e após algumas pesquisas “incisivas” junto à malandragem local, descobrira onde o baixinho costumava molhar a garganta. Uma nota de vinte dólares passada ao cara do balcão ajudara a confirmar que estava no lugar certo. E assim, aqui estava ela, esperando há mais de uma hora o sujeitinho aparecer.

Virou-se então de frente para o salão do bar para observar melhor os frequentadores.  Olhou em volta e não viu ninguém que sequer se aproximasse da descrição do tal Nick, só os bêbados, os malandros e as infelizes que frequentam esse tipo de bar, em qualquer cidade do mundo.  Ah, tinha também aqueles dois brutamontes que não tiravam os olhos dela desde que entrara no bar e que tentavam disfarçar todas as vezes que olhava na direção deles. Um deles era branquelo, forte, atarracado e parecia ter o nariz quebrado. Devia ser um boxeador ou lutador de rua. O outro era um oriental alto e musculoso, com um cabelo cortado em estilo militar.

Finalmente chegou à conclusão de que Nick não ia aparecer e resolveu mudar o rumo de suas investigações. Quem sabe aqueles dois gorilas não pudessem ajudá-la a achar o tampinha? Valia a pena tentar...

Pagou a bebida e se levantou, caminhando para a porta. Assim que chegou do lado de fora e começou a caminhar pela calçada, percebeu discretamente que os caras a estavam seguindo. Continuou a andar devagar, como se estivesse distraída e entrou no beco, entre o bar e o que parecia ser uma loja de penhores.

Quando os caras que a seguiam entraram no beco, deram de cara com ela parada, olhando-os de frente. Isso foi tão inesperado que eles também pararam, olhando um para o outro.

— Perderam alguma coisa, meninos? – ela perguntou encarando os dois, séria.

O oriental perguntou:

— Você é Jessica Jones?

— Sim, sou eu.

O branquelo deu um sorriso meio torto e disse:

— Você “tá” meio longe de Nova York, senhorita Jones.

— Infelizmente o meu trabalho me leva para lugares em que eu preciso estar, gostando disso ou não. Mas parece que vocês já estavam esperando por mim. Que gentileza.

— Nós só viemos trazer um recado do Nick para você.

— Ele não queria falar comigo? Tudo bem... Então qual é o recado?

O oriental simplesmente jogou aos pés dela o farrapo ensanguentado que restou da jaqueta do time da Gotham City University, resmungando entre os dentes:

— É que ele não está mais disponível.

Jessica olhou para o trapo por alguns instantes antes de dizer:

— É uma pena... Ele ia me ajudar a entrar em contato com Luigi "Big Lou" Maroni para podermos negociar alguns documentos que estão com ele e que são importantes para um cliente meu. Podia ser muito vantajoso para todo mundo.

— Como você pode ver, Dom Maroni não está disposto a conversar com você e muito menos negociar.

— E se eu insistir?

O oriental fechou a cara e bufou, enquanto o outro sorria.

— Senhorita Jones, você não sabe com quem está se metendo - disse o branquelo. E caminharam em sua direção.

“E nem vocês” pensou Jessica, já se colocando em posição de defesa.

O primeiro a chegar mais perto foi o oriental, levantando a mão de forma quase displicente para dar um soco em Jessica, pensando como era um exagero mandar eles dois para dar cabo daquela garota magricela. Mas de repente ela não esta mais na sua frente. Ele mal pode se virar antes de sentir suas costas serem golpeadas pelo que parecia ser um punho de puro aço. Ele sentiu suas costelas estalarem e o ar sendo expulso de seus pulmões e, cambaleando, viu a garota aparecer novamente na sua frente, erguendo o punho. Tentou falar alguma coisa antes do punho descer, mas não conseguiu. E tudo ficou escuro.

Vendo seu companheiro desabar aos pés de Jessica como uma trouxa de roupas, o branquelo reagiu rapidamente, sacando uma pistola automática.

— É garota, isto vai ser um pouco mais difícil de que eu imaginei.

Jessica sorriu e respondeu:

— Você não sabe o quanto...

Ele até tentou começar a apontar a arma para Jessica, mas ela se moveu numa velocidade que parecia impossível, e de repente já estava a seu lado, segurando e apertando o pulso da mão em que estava a arma. Ele sentiu como se todos os seus dedos estivessem sendo esmagados por um torno. Chegou a ouvir o barulho dos ossos do punho estourando feito pipocas. Nem viu onde a arma foi parar.

E no meio da confusão e da dor ele percebeu que a garota, segurando o seu pescoço, o pressionava contra a parede do beco. E o olhava nos olhos, sorrindo e falando.

— Olha cara, a noite está sendo longa, eu estou cansada, com fome e preciso de um banho. E como agora você é o único com quem eu posso conversar, vou perguntar só uma vez e gostaria muito, muito mesmo que você me respondesse. Onde está "Big Lou" Maroni e como eu posso entrar em contato com ele?

— Ora, vai se f****, sua vaca! Disse, num fio de voz, o branquelo.

— Resposta errada! – disse Jessica. E começou a levantar o sujeito pelo pescoço, junto a parede, tirando os pés dele do chão.

Quanto o capanga começou a ficar roxo e engasgar, ela começou a descê-lo para voltar a interrogar. Mas em vez de olhar para ela, ele olhava assustado para o alto da escada na parede oposta. E antes que ela pudesse se virar para ver o que estava assustando o branquelo, uma voz cavernosa e firme disse às suas costas:

— Solte ele! Agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Bela e o Morcego" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.