Meu querido sonâmbulo escrita por Cellis


Capítulo 9
Meu querido mármore branco


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Mais uma vez, obrigada por todo o carinho e paciência ♥

Boa leitura.



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— Você pode me explicar o que diabos nós estamos fazendo aqui? — Jimin me perguntou, nitidamente impaciente.  

O Park vinha me perguntando durante todo o caminho até a loja de materiais de reforma para aonde diabos nós estávamos indo e, sinceramente, ele já estava parecendo o Burro do filme do Shrek — e eu, obviamente, já tinha atingido o mesmo nível de vontade do Shrek ao que desrespeitava lançar o Burro para fora da carruagem. Muitíssimo preocupada com a curiosidade ou impaciência dele (de Jimin, não do Burro), eu não havia lhe respondido em nenhuma dessas vezes, o que agravou ainda mais a sua situação nervosa. Eu apenas lhe dava as coordenadas e lhe dizia em quais ruas ele deveria virar ou entrar, pois não queria que Jimin cogitasse mudar de ideia em relação ao seu acordo e, assim, perder a reforma da minha adorada cozinha. 

Por fim, quando ele estacionou na frente da loja para reformas, eu esperava que suas perguntas tivessem sido respondidas. 

Mas eu estava redondamente enganada. 

— Jeon Soojin, por que você me ligou e me disse para buscá-la em casa para virmos até aqui? — ele fez outro questionamento, provavelmente o vigésimo em menos de uma hora.  

Alcançando um daqueles carrinhos de compras, eu o virei nada delicadamente na direção de Jimin, quase acertando o seu pé com as rodinhas. Em resposta, ele tentou disfarçar um pulo assustado para trás, porém só tentou mesmo. 

— Isso não é um pouco óbvio, Burro?  — retruquei igualmente sem paciência e, quando percebi a besteira que havia saído da minha boca, cogitei por um breve segundo sair correndo ou me esconder no primeiro buraco que encontrasse. Céus, onde estava a minha sanidade? — Digo, Jimin. Park Jimin, claro. 

Se esse homem já consegue confundir o pouco juízo que eu tenho desde agora, imagina quando estivermos morando sob o mesmo teto.  

— Se fosse óbvio eu não estaria perguntando. — ele respondeu, nitidamente magoado por eu ter tecnicamente o chamado de burro. Eu poderia tentar me explicar, mas isso me custaria uma força de vontade que eu não tinha naquele momento. — Isso quer dizer que você aceita a minha proposta?  

Eu o encarei, séria. O carinho de compras mantinha uma distância considerável entre nós dois e, como já era fim de tarde, a luz do Sol se pondo dava um tom alaranjado aos cabelos dele que me faziam querer rir, pois aquilo me lembrava a água usada para cozinhar salsichas.  

Foco, Soojin. 

— Mas é claro, oras. — respondi. — Por isso nós viemos até aqui, para comprar o material para a reforma da minha cozinha. 

Tudo bem, eu poderia ter dado a notícia de um jeito mais maduro ou tranquilo, porém aqueles mármores brancos que custavam meses do meu suado salário estavam ocupando e mexendo demais com a minha cabeça. 

Eu mereço um desconto, está bem? 

Contudo, pelo olhar abismado de Jimin, ele não parecia pensar o mesmo.  

— E você não poderia ter simplesmente me dito logo isso? — poderia, mas jamais admitiria, óbvio. Ele respirou fundo um par de vezes, parecendo estar pedindo ajuda psicológica a todos os chakras possíveis. — Está bem, esqueça isso. Vamos entrar primeiro e depois resolvemos o restante. 

Por um lado, toda aquela confusão havia sido algo bom, pois Jimin já estava sendo notificado sobre o que a convivência comigo lhe reservava. Nós acabamos dando aquele assunto por encerrado sem mais palavras e, em seguida, adentramos a imensa loja enquanto eu empurrava embasbacada o carrinho pelas — infinitas — seções dos mais variados materiais para reforma. Havia desde seções de cimento até as de lustres, e eu confesso que cheguei a pensar se aquela não seria a visão que eu teria caso pudesse morrer e ir para o céu naquele exato momento.  

Deus não dá asa à cobra e, sendo esperto o suficiente, também não daria materiais de reforma e decoração nas minhas mãos. 

Por um momento, eu tive pena do bolso do Jimin, porque eu estava prestes a fazer um belo estrago nele. Porém, logo em seguida me lembrei dos momentos bizarros que ele me fizera passar em apenas alguns dias, então dei de ombros e me dirigi à seção de mármores destinada a encontrar os meus bebês branquinhos e brilhantes. 

Além disso, Jimin era rico, oras. Ele estava mais do que pronto para levar uma picada de mosquito em seu bolso. Aquilo era ótimo para mim, pois significava que eu estava me autorizando a comprar o que quisesse sem nenhum remorso.  

E em paz, eu esperava. 

— O você está procurando? — perguntou Jimin, andando logo atrás de mim pela seção de mármores.  

— Mármore branco. — eu respondi, empurrando meu carrinho pelo corredor feliz da vida. De repente, em exibição em uma parede nos fundos da loja, encontrei a pedra que eu tanto procurava. — Achei você, meu bebê!  

Branquinho, o pedaço de mármore branco decorado com algumas rajadas de um tom um pouquinho mais escuro chegava a reluzir diante da luz do fim de tarde. Caminhei até a pedra e ergui meu dedo indicador direito, correndo o mesmo por aquela preciosidade e sentindo todos os pelos dos meu corpo — até os dos lugares mais inacessíveis, digamos assim — se arrepiarem. 

Isso é o que os estudiosos chamam de amor à primeira vista

— Posso fazer uma pergunta? — Jimin indagou, atrapalhando a minha profunda conexão com aquela obra de tarde.  

Céus, eu deveria tê-lo chamado só quando já estivesse na fila do caixa. 

— Eu queria muito responder que não, mas sei que você acabaria fazendo de qualquer jeito. — eu disse, dando de ombros. — Pergunta.  

Ele pareceu um pouco ofendido com a minha sinceridade, porém pareceu ignorá-la e seguir em frente.  

— Por que branco

Aquilo na voz de Jimin era... desfeita? Não, não podia ser. Não existe nenhum ser humano desse mundo que não ache o mármore branco a peça mais linda de uma cozinha ou, sendo sincera, de qualquer outro cômodo de uma casa, certo? 

Certo? 

— Por que não branco? — rebati, virando-me para ele.  

Logo atrás de mim, Jimin deu de ombros.  

— Não sei, me lembra um hospital. — ele respondeu. — Eu nunca gostei de todo aquele branco naquela cozinha, mas... 

— Mas a casa não é sua, certo? — eu o interrompi, antes que ele dissesse alguma blasfêmia. Fitei o meliante diretamente nos olhos, que claramente se sentiu intimidado. — Minha cozinha era branca antes do fogo e continuará sendo totalmente branca, mesmo depois. 

De repente, Jimin me encarou em silêncio durante um par de segundos e, em seguida, bufou. Bagunçou os cabelos loiros, parecendo estar querendo arrancá-los do seu próprio couro cabeludo.  

— É por isso que eu achava melhor nós termos conversado sobre a minha mudança antes de começarmos a fazer compras assim. — disse, parecendo estressado.  

Produção, me confirma aqui no meu ponto se Park Jimin está mesmo achando que vai poder dar pitacos sobre a minha casa só porque estará alugando um quarto nela. É isso mesmo?  

— Você vai se mudar e poderá fazer isso quando quiser. Nós vamos calcular o valor e, depois que tudo estiver pago, você poderá ir embora da minha casa. — afirmei, dando alguns passos para frente. — Pronto, estamos conversados.  

O Park arregalou os olhos, parecendo chocado com a minha fala.  

— Eu não acredito que você... 

— Eu que não acredito que você... 

— Parabéns!  

Minha santa das mulheres perseguidas por sonâmbulos abusados, de onde veio isso?! Interrompendo a nossa discussão — que, à propósito, estava prestes a virar um remake de uma rinha de galos — com um grito, uma mulher baixinha e com os cabelos pintados de um rosa vibrante imergiu do nada. Obviamente, eu e Jimin berramos com o susto e quase pulamos no colo um do outro, mas só fomos reparar no restante da cena após o espanto inicial: a mulher usava um uniforme da loja e, acompanhando-a, estavam mais uma meia dúzia de funcionários e alguns clientes curiosos. Algum desmiolado havia jogado confetes vermelhos sobre nós dois, enquanto outro segurava um enorme coração de cartolina e mais uma dezena de outras bizarrices aconteciam ao mesmo tempo. 

Aquilo era demais para que eu pudesse processar, quem dirá descrever. 

— O que... — Jimin iniciou, ainda recuperando o fôlego roubado pelo susto. — é isso? 

A vendedora de cabelos rosa sorriu ainda mais, o que também era um pouco assustador.  

— Parabéns, vocês são o casal de número noventa e nove a entrar na nossa loja! — ela exclamou. — Feliz Dia dos Namorados! 

Eu não sabia se eu havia me tornado a pessoa mais normal do mundo em um piscar de olhos ou se, talvez, todo o restante das pessoas resolvera enlouquecer de vez. Casal noventa e nove? Dia dos Namorados? Quem diabos fez do dia de hoje o Dia dos Namorados? 

Namorados?! 

— Espera! — eu disse no mesmo segundo que notei aquele terrível mal-entendido. — Nós não somos... 

— De acordo com a nossa promoção de Dia dos Namorados, vocês têm um desconto de 99% em qualquer peça da loja! — a vendedora me interrompeu, mantendo-se animada. Céus, o que tinham dado para aquela mulher beber? — Só não pode ser mais de uma peça, hein?  

Aquilo era, sem nenhuma dúvida, a maior insanidade que eu havia escutado em toda a minha...  

Espera, ela disse 99% de desconto?! 

— Mas nós não somos namorados. — Jimin esclareceu, parecendo desconfortável com toda aquela atenção voltada para nós dois. Um dos funcionários segurava até mesmo um bolo com duas velinhas acesas, então eu até poderia entender o lado do Park. — Desculpe.  

— Não são? — a atendente indagou, triste. 

Eu precisava fazer alguma coisa. Se eu pudesse pagar pelo meu querido mármore, Jimin não se sentiria no direito de opinar sobre o mesmo — e nem teria esse direito — e eu poderia decorar a minha cozinha com aquela obra dos deuses sem mais estresses. Aquele desconto me daria a peça praticamente de graça, então...   

— Não somos! — exclamei. De repente, engoli todo o orgulho que me restava e o tranquei no mais profundo poço dentro da masmorra do meu ser. Agarrei um braço de Jimin e o entrelacei no meu, abrindo um sorriso que, na minha concepção, era o menos forçado que eu conseguia dar diante daquela situação. — Nós somos casados. 

Eu pude sentir a cabeça de Jimin virar-se bruscamente na minha direção, por isso, antes que ele pudesse berrar para os quatro cantos da loja qualquer espécie de protesto, eu pensei rápido o suficiente para acertar-lhe um tapa bem dado em seu peito.  

— Aigoo, querido! — disse, tomando a animação da vendedora como minha inspiração. — Você não precisa ficar envergonhado de dizer que somos casados apenas porque ainda não oficializamos nossa união. Eu já disse que morarmos juntos já é o suficiente para mim, seu bobo

— O que diabos você...  

Jimin iniciou, nitidamente revoltado com toda aquela atuação, mas parou de falar no mesmo instante em que me aproximei bruscamente do seu ouvido.  

— Se você não quiser se assombrado por mim no meio da madrugada, melhor cooperar. — sussurrei. 

De escanteio, eu pude vê-lo arregalar os olhos. 

— Olha, você está fazendo isso por causa do desconto? — ele sussurrou de volta, deixando o desespero tomar conta de si. — Eu posso pagar pela peça que você quiser, não se preocupe. Só não continue com isso, eu imploro.  

Eu devo confessar que ver Jimin implorar por algo aos murmúrios aflitos era um tanto prazeroso; mas não o suficiente para me impedir de ganhar aquele desconto. 

— Você disse qualquer peça da loja, certo? — eu o ignorei, dirigindo-me à vendedora. A mulher acenou positivamente com a cabeça, sorrindo animada. — Pois eu já sei o que vou levar.  

— Ótimo! — ela concordou. — Contudo, antes da senhora me mostrar o que deseja, poderíamos tirar uma foto do casal? É para deixar a promoção registrada no hall de entrada da loja. 

Engoli em seco, provando do meu próprio veneno. Aquilo significava que eu nunca mais voltaria a pôr os pés naquela loja, pois não correria o risco de ser pega na minha própria mentira. 

Bem, eu teria que dar adeus ao meu pequeno paraíso, mas era por uma causa válida. 

— Claro. — concordei, forçando outro sorriso. 

Ao meu lado, Jimin parecia atônito demais para expressar qualquer reação. Soltei o seu braço quando percebi que ainda o segurava, o que pareceu acordá-lo de seu transe.  

— Você me paga. — foi a vez dele sussurrar no meu ouvido, em tom de alerta. 

Cômico. 

— Não. —  sussurrei de volta. —  Você estará pagando por tudo hoje, Park Jimin. 

Pude senti-lo controlando sua respiração ao meu lado, enquanto a tal vendedora sacava uma máquina fotográfica do pescoço de algum outro vendedor — eu teria me perguntado quem ainda usava essas coisas no dia de hoje, se aquela não fosse uma câmera de última geração que provavelmente custava mais do que o salário da mulher que a manuseava. Ela ajeitou o objeto e, em seguida, pediu para que nos aprontássemos.  

Eu me coloquei ao lado de Jimin e, em seguida, exibi novamente meu sorriso sincero. Ao contrário do que eu esperava, a vendedora abaixou a câmera no mesmo instante. 

— Que tal uma pose um pouco mais aconchegante? — sugeriu, sorrindo assustadoramente.  

Tudo bem, eu estava começando a ter medo daquela mulher. 

Voltei a entrelaçar meu braço no de Jimin, que enrijeceu a postura. 

Câmera para baixo novamente. 

— Vocês não disseram que são casados? — ela brincou, sendo seguida pelas risadas de seus comparsas. — Podem fazer melhor do que isso! 

Eu estava a um piscar de olhos de fazer aquela mulher engolir aquela câmera caríssima, quando, de repente, Jimin desvencilhou seu braço do meu. Eu o fitei, confusa, mas meu estarrecimento veio realmente quando ele usou o mesmo braço para abraçar a minha cintura de lado.  

O que?! 

Esquecendo aquela farsa, tentei me afastar dele, mas isso só fez com que ele me apertasse um pouco mais contra ele.  

— Sorria, querida. — disse, sorrindo para a câmera.  

— Você é um homem morto. — sussurrei para que apenas ele me ouvisse, fitando a câmera no meio da ameaça.  

Sorri e, em seguida, o flash da câmera quase me cegou.  

O que uma mulher não está disposta a fazer pelo seu mármore branco? 

— Que tal outra? — a vendedora indagou, ainda animada. De repente, sacudiu os ombros e fez um biquinho. — Vamos lá, só mais uma.  

Tudo bem, eu definitivamente não estava disposta a fazer aquilo. Oficialmente desistindo, eu me convenci naquele mesmo instante de que obrigar Jimin a pagar pelo meu mármore seria menos estressante do que lidar com aquela mulher.  

Mas ele não parecia concordar comigo. 

Quando eu estava prestes a empurrá-lo para bem longe de mim e dizer algo do tipo “Olha, gente, não é que eu me enganei? Esse não é o meu marido, não.” eu senti meu corpo sendo girado pela mesma mão que repousava na minha cintura. O fato de Jimin precisar de apenas um braço para me rodar daquele jeito, colocando-me exatamente de frente para ele, só não era um disparate maior do que o fato de que eu estava de frente para ele daquele jeito

Arregalei os olhos, pega de surpresa.  

— O que diabos você pensa que está fazendo, Park Jimin? — indaguei, firme.  

Sem nenhum medo do perigo, ele sorriu vitorioso de canto, em resposta. Eu estava colada a ele de um jeito que nem uma folha de papel sequer poderia ser colocada entre a gente, o que ele pareceu ter interpretado como a deixa perfeita para colocar uma mexa do meu cabelo para atrás da minha orelha, ainda sorrindo daquele modo arrogante. 

— Eu disse que você iria me pagar, Jeon Soojin. — teve a audácia de dizer.  

Minhas pernas estavam tremendo de ódio naquele momento, certo? Sim, claro, exatamente como os pinschers

Espera, por que diabos ele estava aproximando ainda mais seu rosto do meu? 

Eu juro que cheguei a pensar que a minha única saída naquele momento seria gritar — ou chutá-lo em suas partes sensíveis — e eu estava prestes a fazê-lo, quando Jimin encostou seus lábios na minha bochecha. Eu estava tão petrificada no meu lugar que, quando o flash quase me cegou pela segunda vez, eu sequer pisquei. Jimin continuou o beijo em minha bochecha por mais um par de segundos e, sinceramente, eu estava realmente cogitando chutá-lo naquele lugar se ele não me soltasse na próxima meia fração de segundo.  

— Ótimo! — a vendedora exclamou. — Aigoo... vocês fazem um casal tão lindo! 

Todos ao nosso redor concordaram e, claramente segurando uma risada, Jimin por fim me soltou.  

Ainda me custava acreditar que ele tinha mesmo feito aquilo e, por isso, eu me mantive estática. 

— Eu também acho. — disse, dando de ombros. De repente, virou-se para a vendedora com um sorriso no rosto. Ele parecia outra pessoa. — Então, a peça que a minha querida esposa gostaria de levar é aquele mármore ali... 

Eu poderia ter gritado, dado uma surra naquele traseiro abusado dele ou até mesmo entrado em sua brincadeira apenas para tentar vencê-lo, contudo, tudo o que tinha sido capaz de fazer fora ficar parada. Feito uma estátua, eu deixei Jimin tirar sarro da minha cara bem na minha cara

Park Jimin, o que diabos você fez comigo? 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Na verdade, esse capítulo não foi dividido no meio como eu costumo fazer, então se vocês puderem me contar se gostaram dele assim ou se acabou ficando muito cansativo, a autora que vos fala seria eternamente agradecida.

O que uma mulher não faz pelo seu amado mármore branco, não é mesmo?

Até, queridos ♥