Meu querido sonâmbulo escrita por Cellis


Capítulo 20
Meu querido nada demais




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— Espera. Um. Minuto. Aí. — eu disse com todas as pausas possíveis, ainda tentando entender se o que Jimin estava fazendo era o mesmo que eu estava imaginando que ele estava fazendo. 

Vocês me entenderam.  

— O que? — o Park perguntou com simplicidade, como se não estivesse adentrando o meu quarto com meia dúzia de cobertores e um travesseiro amontoados nos seus braços. 

Lá fora caía do céu algo muito parecido com o dilúvio bíblico e, assim que Jimin bateu a porta atrás de si, uma trovoada monstruosa interrompeu momentaneamente o meu raciocínio. 

— O que você pensa que está fazendo com tudo isso? — indaguei e apontei para toda aquela tralha que ele trazia consigo. 

Dito isso, Jimin lançou os cobertores e o seu travesseiro no chão do meu quarto, mais especificamente sobre o meu tapete felpudo, sem nenhuma cerimônia. 

— Trazendo as minhas coisas para dormir aqui. — afirmou, dando de ombros. 

O que?! 

— O que?! — verbalizei o meu pensamento indignado, sendo respondida por outra trovoada bizarramente alta.  

De pé diante da minha cama, eu vi Jimin pular de susto, mas eu não posso julgá-lo exatamente por algo que também fiz. Céus, parecia que o céu de Seul poderia desabar a qualquer momento. 

E eu nem nadar podia com aquela maldita perna engessada. 

— Eu não posso deixá-la sozinha, Jeon. — respondeu. — Pensa comigo: e se você precisar de alguma coisa no meio da noite? Vai sair por aí pulando num pé só de novo, correndo o risco de cair de novo

Abri a boca para rebater, porém, fui obrigada a fechá-la. Jimin tinha um bom argumento, o que me custou alguns segundos de queimação de neurônios para poder respondê-lo.  

— Eu posso ligar para você, oras. — boaSoojin— Assim é mais prático e não fere a privacidade de ninguém, você não acha? 

Outra trovoada e, dessa vez, a mesma veio acompanhada de um relâmpago que iluminou ainda mais o quarto. O Park pulou e levou a mão direita ao peito, nitidamente assustado pela tempestade, mas logo se recompôs e voltou a me encarar. 

— Eu estou sem bateria. — disse, dando de ombros. 

Por que diabos aquilo me soava tão parecido com uma desculpa esfarrapada?  

— É para isso que algum ser humano brilhante inventou o carregador, Park Jimin. — retruquei, o que fez Jimin bufar inquietamente. — Por que diabos você... 

Eu devo admitir que aquela teria sido uma ótima fala se eu tivesse conseguido terminá-la. Digo, eu estava prestes a questionar o porquê daquela insistência toda do Park, lhe dar alguma lição de moral ou, quem sabe, até mesmo chutá-lo para fora do meu quarto com o meu gesso nada versátil. 

 Tudo isso, claro, se a luz não tivesse acabado do nada. 

Não foi como se nós não tivéssemos sido avisados, também. Outro relâmpago foi ouvido, mas, dessa vez, o mesmo veio seguido de um estrondo absurdo na rua e logo depois eu e Jimin estávamos encarando o breu no quarto.  

Quando eu ainda era bem pequena, a minha avó costumava me dizer, nas noites de tempestades, que toda aquela água caía do céu porque alguém estava o lavando. 

Sinceramente, quem quer que esteja fazendo faxina no céu a essa hora da noite, poderia ao menos fazê-la com um pouquinho menos de ódio no coração. 

— O que aconteceu?! — o Park indagou com a voz falha e algumas notas mais agudas. 

Ele estava... com medo

— Um raio deve ter atingido alguma parte da distribuição de luz. — respondi, bufando. — Céus, era só o que me faltava. 

Mesmo com toda a escuridão, eu conseguia fitar Jimin entre um clarão e outro dos relâmpagos. Ele parecia nervoso, coçava a nuca com uma força nitidamente desnecessária e, por fim, tinha os olhos extremamente arregalados. De repente, eu pude ouvi-lo respirar fundo, como se quisesse se acalmar. 

O que diabos estava acontecendo com ele? 

— Bem, parece que eu não vou poder carregar o meu celular. — murmurou. 

Sem nenhuma vergonha ou sem sequer pensar duas vezes, Jimin estendeu as cobertas sobre o tapete, deixando apenas uma de lado para cobri-lo no meio da noite. Ajeitou o travesseiro e eu só consegui piscar os olhos antes que ele já estivesse deitado e devidamente coberto no chão do meu quarto.  

Eu devo comentar que aquela cena era ainda mais bizarra quando vista apenas devido à pouca luz que a tempestade permitia adentrar no cômodo.  

— Jimin... — eu chamei o seu nome, descrente. — Jimin, levanta do meu tapete! 

Nenhuma resposta. Nada. Impaciente e ainda sem acreditar na audácia daquele homem de meio metro e cabelos bagunçados descoloridos, eu fui obrigada a me desdobrar em quatro Soojins para conseguir alcançar a beirada da cama com a minha perna imobilizada, apenas para conseguir visualizar aquela cena mais de perto. Eu poderia estar ficando louca e vendo coisas, talvez... 

Infelizmente, eu não estava. 

Acendi a lanterna do meu celular sobre o Park, contudo, o mesmo fazia questão de apertar os olhos fechados. Estava coberto até a cintura e fingia muito mal que já estava no décimo sono, ignorando completamente a minha presença abismada.  

— Eu não acredito nisso. — murmurei, incrédula. 

Era oficial: Park Jimin só tinha um par de miolos naquela cabeça e, sinceramente, eu desconfiava que um deles já havia parado de trabalhar há algum tempo. Por que diabos ele achava que dormir no chão do meu quarto me ajudaria em alguma coisa? Digo, eu poderia simplesmente gritá-lo se precisasse de algo e... 

De repente, notei algo que gradativamente foi interrompendo o meu raciocínio indignado. Jimin segurava a coberta com um bocado de força, o suficiente para fazer as suas mãos tremerem. Ele estava obrigando os seus olhos a se manterem fechados, sim, porém não era com a mesma intenção que eu tinha em mente. Percebendo o que aquilo poderia ser, eu apaguei a lanterna do celular, porém não me movi. Não demorou muito para que o próximo clarão iluminasse o quarto e, diante do estrondo de mais algum raio caindo sabe-se lá onde, eu vi o Park pular de susto mais uma vez. 

Jimin estava assustado por causa da tempestade. Era provavelmente por isso que ele tinha se infiltrado no meu quarto com toda persistência: ele deveria estar com medo de ficar sozinho. 

Eu tenho que confessar que constatar aquilo fez o meu coração errar uma batida. Era como se eu estivesse vendo uma criança assustada e indefesa entre um lampejo e outro, mesmo que ele tentasse esconder aquilo. Sinceramente, eu não tinha nada contra tempestades — na verdade, até gostava do barulho imponente dos relâmpagos — mas também reconhecia que aquele fenômeno revolto da natureza poderia assustar qualquer um. Lembro-me de que, na minha época vivida no orfanato, era inúmeras as crianças que choravam durante as noites de temporais, não dormiam, tentavam fugir ou se esconderem debaixo da cama... Por sorte, Jungkook sempre fora um amante da natureza e achava os clarões dos raios fascinantes, o que sempre me permitia tentar consolar as outras crianças. 

Talvez o espírito da velha Soojin que tentava ser a mãe de todos estivesse falando mais alto naquele momento, porque, quando eu me dei por mim, já estava pensando em algo que pudesse ajudar Jimin — perguntá-lo diretamente soaria como uma acusação e ele obviamente negaria que estava apavorado, então eu deveria tentar algo mais sutil. Fui me remexendo sobre a cama até conseguir me deitar e, quando o fiz, respirei fundo.  

Era por uma boa causa. 

— Jimin-ssi, você está dormindo? — iniciei, perguntando como quem não queria nada. 

— Eu já disse para você não me chamar assim. — rebateu contrariado, porém mordendo a isca. — Sim, estou dormindo. 

— Sabe, eu tenho algo para confessar. — ignorei sua resposta e continuei. — Na verdade, eu não gosto muito de noites assim. Todo esse barulho, os raios... Isso não me deixa dormir. 

O Park hesitou, contudo, eu sabia que conseguia ser convincente o suficiente mesmo que estivesse mentindo na cara dura. Cruzei os braços e esperei pacientemente pela sua resposta. 

— Você tem medo de tempestades? — ele indagou incerto, por fim. 

Não pude evitar um sorriso de canto. Ele realmente me lembrava as crianças que eu costumava acalmar no orfanato. 

— Sim. — eu respondi brevemente, como se não quisesse admitir aquilo. 

Enquanto isso, eu apenas admirei o som estrondoso de outro relâmpago. Em seguida, me dei conta de que precisava me apressar se quisesse ajudar o Park a resistir vivo até a manhã seguinte.  

— Bem... — começou, um pouco sem jeito. — Tem alguma coisa que eu posso fazer para ajudá-la? 

Não tinha outro jeito.  

 A única coisa capaz de acalmar alguém numa situação de medo como aquela, é mostrar a essa pessoa que ela não está sozinha. E, bem, para isso é necessário que tenha alguém por perto do dito cujo. 

— Na verdade, tem sim. — é por uma boa causa, Soojin. Pense nisso como uma limpeza de karma. — Eu me sinto melhor se estiver segurando a mão de alguém.  

Boa causa uma ova. 

De repente, eu agradeci internamente por tamanha escuridão naquele quarto não permitir que as minhas bochechas repentinamente vermelhas fossem flagradas por nenhuma alma viva, muito menos por Jimin. Eu não conseguia acreditar que estava pedindo para ele segurar a minha mão apenas para acalmá-lo e, pior, que eu tinha ruborizado com aquilo. Um longo momento de silêncio se fez presente, o que eu considerei um tanto constrangedor, mas um clarão fez Jimin se levantar num único pulo e, de repente, o Park estava praticamente se lançando sobre o meu edredom. A pouca luz que entrava pela janela foi o suficiente para que eu o visse puxar a sua coberta até a altura do pescoço, assustado, e em seguida escorregar apenas a mão direita para fora da mesma.  

Ele fitava o teto com firmeza, contudo, mantinha a mão erguida na minha direção. Bem, não era como se eu tivesse como voltar atrás. Coloquei meio braço para fora do edredom, o suficiente para alcançar a mão trêmula e gelada de Jimin e envolvê-la com meus dedos quase que por completo.  

Aleatório à situação, eu simplesmente achei engraçado o fato das nossas mãos serem exatamente do mesmo tamanho. 

Foco, Jeon Soojin! 

— Eu não tenho porque ter medo, não é? — indaguei, seguindo o meu plano. — É só chuva, no fim das contas. Eu estou protegida aqui.  

Como o esperado, eu pude sentir a mão de Jimin relaxar sob a minha. Nós estávamos de barriga para cima deitados um ao lado do outro e ambos encarávamos o teto. Sentindo-o relaxar um pouco, eu deitei o braço que estava para fora do edredom, levando o dele junto. 

De repente, a única coisa que nos separava naquela cama eram as nossas mãos unidas. 

Com esse pensamento em mente, o que antes era a minha missão de ajudar Jimin com o seu medo de tempestade, agora tinha se tornado um motivo para o meu coração disparar e surgir um frio repentino na boca do meu estômago. Era como se eu realmente fosse a pessoa com medo naquele cômodo escuro, sendo que não era exatamente isso que estava acontecendo. 

— Você está certa. — ele disse, interrompendo o meu raciocínio já caótico. Parecia estar falando mais consigo mesmo do que comigo, o que era um bom sinal. — Nós estamos seguros aqui.  

Segurança. 

Claro que eu estava pensando somente naquilo enquanto mantinha a minha mão junto à de Jimin num quarto escuro, no meio de uma tempestade e com direito a sensações esquisitas passeando pelo meu peito. 

Claro que era isso

 

*** 

 

Acordada era uma palavra muito forte para o meu estado de espírito naquela manhã — digamos que eu ainda estava me tornando consciente, porém sem sequer abrir os olhos. Na verdade, eu só sabia que já tinha amanhecido porque a pouca claridade que conseguia invadir as minhas pálpebras fechadas era justamente o que me não me permitia abri-las. 

E, já que estamos falando de verdades, aqui vai mais uma: há séculos eu não dormia tão bem. Talvez fosse por causa do barulho da chuva, mas eu realmente sentia como se tivesse dormido tudo o que merecia em apenas uma noite, como um sono de dez anos, mesmo que ainda nem tivesse me levantado. Até a minha cama e os meus travesseiros me pareciam mais confortáveis e, quem sabe, eu devesse agradecer a Jimin por isso, já que foi o próprio quem finalmente montou o móvel e tirou o meu colchão do chão. 

Jimin. 

Por um breve momento, eu tinha esquecido de todos os acontecimentos da noite passada. Depois de darmos as mãos e Jimin finalmente se dar conta de que estava protegido da tempestade dentro de casa, ele logo pegou no sono, mas sem soltar a minha mão. Eu não demorei muito para dormir e, sinceramente, tinha dormido tão bem durante a noite que não fazia ideia de como nós estávamos naquele momento. Talvez aquele fosse um bom momento para finalmente abrir os olhos e checar a situação, mas também poderia não ser. Digo, eu estava tão confortável naquela posição e... 

Aquela posição. 

Eu estava deitada de lado, praticamente de bruços sobre algo. Era uma posição confortável, contudo, algo me dizia que que aquilo não era um travesseiro — algo como um peitoral sob uma blusa, um coração batendo calmamente sob a minha mão e, falando de mãos, uma dessas repousada no meu ombro. Reparando melhor, havia um braço por debaixo do meu tronco? 

O que? 

Por fim, dei-me por vencida e resolvi abrir um único olho. Superando a claridade — aquela me parecia ser uma manhã incrivelmente linda, levando em consideração a chuva da noite passada — o cenário que encontrei me fez abrir o outro olho num susto. Eu estava abraçada a JiminSim, exatamente como vocês estão imaginando, aquela pose típica de casais com direito à minha cabeça confortavelmente repousada sobre o peito do Park e tudo mais. Além disso, sabe-se lá como, ele tinha vindo parar debaixo do meu edredom, ao invés de em cima como estava na noite passada. 

Cadê o diabo da boa causa, Jeon Soojin? 

Ora pois, eu ainda nem contei o pior da situação: a minha perna direita, a engessada, era justamente a que estava jogada por cima das pernas de Jimin. Pelos céus, ele não tinha sentido todo aquele peso sobre si? Sem contar o fato de que eu devo ter precisado de muita força de vontade para mover uma perna imobilizada daquele jeito enquanto dormia. 

E, claro, tem também a pergunta de um milhão de dólares: como eu faria para tirar aquele trambolho de gesso de cima dele sem acordá-lo? 

— Aish... — sussurrei, me xingando mentalmente por ter tentado ajudar Jimin na noite passada e, justamente por isso, ter terminado assim. Fiz força para puxar a perna de volta, contudo, uma pontada repentina de dor me fez desistir e, o pior de tudo, deixar escapar uma exclamação de dor. — Ai! 

Como se tivesse escutado o som do alarme que deveria acordá-lo todas as manhãs, Jimin abriu os olhos repentinamente e só não se levantou no mesmo ritmo porque o peso do meu corpo o impediu. Mesmo assim, ele não pareceu ligar muito para aquilo. 

— O que foi? — perguntou preocupado, me fitando e puxando com cuidado o braço que estava sob o meu tronco. Segurou-me pelos ombros e se afastou, fazendo uma rápida varredura em mim com os olhos. — Você está com dor?  

Não era possível que ele estivesse tão alheio àquilo. Metade do meu corpo ainda estava sobre o dele, mas Jimin nem parecia ter percebido aquilo. Ele me fitava com olhos preocupados e, no meio de sua varredura, deve ter reparado que a minha perna estava em cima as dele. 

— A sua perna! — exclamou, logo em seguida jogando o edredom que nos cobria para o lado. E lá estava a bonita da minha perna engessada, jogada e atravessada sobre ele. — Você não deveria estar assim. 

Exatamente. O ponto principal da minha linha de raciocínio era aquele: por que diabos nós estávamos assim? 

Com cuidado, Jimin sentou-se sobre a cama enquanto fazia de tudo para não mover nada que estivesse do seu tronco para baixo. Em seguida, colocou uma mão por debaixo do gesso e a outra na parte de trás do meu joelho e, praticamente em câmera lenta, ele ergueu a minha perna e permaneceu a apoiando até que eu conseguisse me sentar. Quando o fiz, ele arrastou um par de travesseiros com a sua mão livre para perto de mim e depositou com delicadeza a minha perna sobre eles. 

— Melhor assim? — indagou ao fim da operação e eu fiz que sim com um aceno de cabeça tímido. — Está doendo? 

— Não. — eu respondi praticamente num murmúrio. — Digo, sim, está melhor assim e eu não estou com dor. 

Céus, até as palavras eu estava embolando. 

O que diabos estava acontecendo comigo? Não era possível que o fato de finalmente ter alguém disposto a cuidar de mim e somente de mim pudesse mexer tanto com a minha pessoa... Quero dizer, eu nunca me julguei uma pessoa carente, muito menos de atenção, então simplesmente não entrava na minha cabeça o porquê de todo aquele turbilhão de pensamentos, emoções e teorias da conspiração passando pela minha cabeça por causa de Park Jimin.  

Nada demais estava acontecendo para tanto alarde.  

— Bem... — o Park iniciou, chamando a minha atenção. — O que você quer de café da manhã? 

Nada demais. 

Pensando bem, não custava nada fazer um pequeno pedido, certo? 

— Cappuccino. — eu disse, tentando esconder um sorriso sapeca. 

Jimin, por outro lado, apenas riu. Levantou-se e logo em seguida já estava pronto para sair do quarto, quando parou por um segundo e me encarou.  

— Você precisa de alguma coisa? — perguntou. — Pelos céus, Soojin, nem pense em esperar eu sair de casa para inventar alguma coisa. Eu só vou comprar um café e já volto. 

— Quantos anos você acha que eu tenho, Jimin? — rebati, revirando os olhos. — Cinco? 

— Não é para tanto. — respondeu, sério. — Eu diria uns seis

A sorte do Park é que ele tinha um reflexo relativamente bom — ignorando o fato de que ele me deixou cair de uma escada, claro — pelo menos o suficiente para sair correndo antes que o travesseiro que eu lancei com a força do ódio na sua direção lhe acertasse. Estiquei o pescoço no sentido da porta e puxei mais um travesseiro para perto, esperando que a cabeleira loira e despenteada de Jimin surgisse por ali de novo, mas isso acabou não acontecendo. De repente, eu me peguei desapontada por ele simplesmente ter ido embora ao invés de voltar para avisar que estava saindo ou apenas para encher a minha paciência de novo.  

— O que? — eu perguntei para mim mesma, de tão abismada com aquela constatação. — Jeon Soojin, o que você pensa que está fazendo? 

— Falando sozinha, eu diria.  

A voz de Jimin ressurgindo das profundezas do núcleo da Terra me fez pular de susto; pelo menos dentro do que a minha perna engessada me permitia. O Park estava recostado no batente da porta e, diante da minha nítida cara de assustada, ele soltou uma gargalhada alta.  

Céus, eu nunca quis tanto levantar para dar na cara de alguém em toda a minha vida. 

— Você não tinha saído? — indaguei, revoltada. 

Na verdade, parecia mais que Jimin tinha me flagrado fazendo algo de errado e, de repente, aquela situação não me pareceu muito certa. De repente, para piorar a minha situação, o Park ergueu uma sobrancelha desconfiada na minha direção e cruzou os braços. 

— Você só estava esperando que eu saísse de casa para aprontar, não é mesmo? — rebateu, me acusando. Quando abri a boca para respondê-lo, ele resolveu continuar. — Bem, enquanto você planejava o melhor jeito de cair de cara no chão mais uma vez, eu estava trocando de roupa para ir na cafeteria e tive uma ideia.  

Tudo bem, agora eu estava curiosa demais para reclamar. 

— Ideia? — eu o incentivei a continuar.  

Jimin riu travesso diante da minha curiosidade e se desencostou do batente da porta para explicar qual parecia ter sido a sua brilhante ideia. 

— Você vai enlouquecer de vez se tiver que passar os próximos três dias dentro de casa, isso é um fato. — ah, um insulto, que belo começo. — Por isso, ao invés de insistir para você ficar quietinha em casa, eu pretendo distrair você. 

Pisquei algumas vezes, absorvendo as palavras do Park.  

— Distrair, Jimin? — indaguei, rindo. — Você realmente acha que eu tenho cinco anos? 

— Seis. — rebateu. — E sim, acho. E é por isso que nós vamos sair para passear.  

Um cachorro de seis anos, era isso que ele achava que eu era, então.  

— Você se esqueceu disso? — apontei para o trambolho que imobilizava a minha perna. 

— Claro que não. — sorriu sapeca novamente. — Mas eu estou disposto a ser as suas muletas. Vamos, Soojin, você não tem mais desculpas para dar e ainda vai me agradecer por isso. — eu duvido muito. — Que tal começarmos saindo para tomar café da manhã? 

Sinceramente, eu daria tudo para descobrir de onde Jimin tirava aquelas ideias malucas — contudo, nem tão sem fundamentos assim. Digo, ele não estava completamente errado... Eu não iria aguentar ficar três dias presa dentro de casa.  

E era só um café da manhã, certo? Ele não ousaria sair me carregando para tudo quanto era lado. 

Não era nada demais. 


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Espero que tenham gostado do Jimin e o seu mais novo pet de estimação kkkk.
Até ♥