O IMPÉRIO DOS DRAGÕES escrita por GONGSUN QIAN


Capítulo 8
Capítulo VII




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Através do vidro, Mei Yang observava a neve cair ao lado de fora. O dia estava cinzento como todos do palácio após a morte da rainha há duas semanas. Sua criada não parava de entrar no quarto com os presentes de aniversário que ela tanto relutou para ver, mas que agora tinha a obrigação de analisar um por um e agradecer a cada pessoa que se dispôs a lhe presentear.

Muitos Hanfus de todas as cores e bordados diferentes lhe foram dados, joias, prendedores para seus cabelos do mais refinado ouro. Então, um pequeno vidrinho da cor do céu de verão, lhe chamou atenção. O frasco parecia brilhar em suas mãos. Assim que destampou, Mei Yang inalou a fragrância levemente adocicada do Jasmin com outra substância que não conseguiu identificar, e sorriu.

― Quem me presenteou com esse perfume? - a princesa perguntou a sua criada.

― Esse é uma fragrância rara, só existe uma em todo mundo. Dizem que pertenceu a deusa das fragrâncias quando ela vagava pela terra e acabou se perdendo. Foi um presente especial do rei de Naki.

― Vou escrever pessoalmente para ele. Adorei o presente. Quanto aos demais peça para Mi Gu escrever em meu nome agradecendo...

― Uma princesa deve aprender a ser grata aos seus convidados. ― Mi Gu parou na porta de entrada do quarto com suas costumeiras vestes azuis de um instrutor e os pergaminhos para a aula do dia. Ao ver os materiais que Mi Gu orgulhosamente ostentava em suas mãos, Mei Yang bufou.

― Sou uma princesa, não deveria escrever. Meu Pai não escreve cartas de agradecimento quando recebe algo importante.

― Seu pai é o rei, tem afazeres importantes a fazer, mas o que princesa que nada faz pelo dia pode ter de tão importante que não possa escrever algumas cartas de agradecimento? ― Mei Yang queria retrucar seu tutor, mas já conhecia Mi Gu desde pequena e sabia que não havia meios de discutir com uma mente tão sábia como o do homem a sua frente. Ela apenas pegou sua pequena bolsa de pano, onde continha seus pincéis e tinta, e seguiu Mi Gu pelos corredores até alcançar a sala de inverno, onde os três filhos do rei se reuniam para estudar durante a fria estação. Mei Yang foi ausente de seus afazeres de herdeira por duas semanas consecutivas, mas agora, pela ordem do rei, todos do palácio tinham que retornar suas atividades.

Amon não se encontrava ali, Mi Gu já sabia que o primeiro príncipe possuía orgulho demais para dividir as aulas com seus dois irmãos mais novos. E quando colocou seu pergaminho sobre a mesa encarou Yoshio que já estava ali com semblante cansado.

― Segundo príncipe, o que houve? ― o tutor estava seriamente preocupado com o menino. Mesmo que a educação de Yoshio não estivesse totalmente em suas mãos como a de Mei Yang, seu coração se preocupava com o jovem príncipe que já tinha que lidar com o fato da mãe estar exilada até segunda ordem do rei. Yoshio era muito diferente do seu irmão. Enquanto Amon era rude e devasso, Yoshio ostentava em seus olhos escuros a inocência que seu irmão mais velho nunca teve. Era meigo nas palavras, e paciente no ouvir, um perfeito príncipe negligenciado pela coroa, e principalmente pelo próprio pai.

― Não é nada... ― falou ele baixinho, mas Mi Gu já sabia o que era. Então ele chamou atenção de Mei Yang que encarava Yoshio com desdém e abriu o pergaminho. A princesa estava sorrindo vitoriosa, afinal Ayame havia lhe surrado, e suas costas ardeu por pelo menos uma semana. Todas as criadas do palacio da princesa foram retiradas do estado da costumeira calma para cuidar dos gritos de dor da pequena dama.

― Hoje vamos estudar o que houve na guerra há vinte anos...

― Ah, não! ― Mei Yang protestou. ― Por que não estudamos algo interessante, como aqueles mitos que você sempre conta? Qualquer coisa é melhor que política dos seis Estados.

― Como o jovem príncipe está visivelmente mal, eu darei uma trégua e contarei o que querem saber, mas qualquer história que queiram saber não pode fugir do real assunto que viemos estudar. ― Mi Gu viu os olhos de Yoshio brilharem de curiosidade. Afinal, diferente de Mei Yang ele se interessava pelo aprendizado, e se Mei Yang não fosse a futura herdeira do trono, e se não existisse Amon com sua real ambição, Mi Gu apostaria todos seus palpites sobre Yoshio.

― O que tem a dizer sobre eles? ― Yoshio perguntou. ― Como sabe que eles são Deuses mesmo e não outras coisas?

― Certamente, apenas os ancestrais sabem como eles são fisicamente. Eu não conheço ninguém que tenha visto um deus, mas se me derem um minuto posso lhes trazer alguns escritos antigos que falam a respeito. ― Mi Gu foi até os cômodos inferiores do palácio onde, as escrituras tidas como mitos pelo rei foram jogadas, e pegou os pergaminhos dos antepassados de Naran e retornou a sala de aula. ― Sabe o que é isso? São escritos dos velhos homens. Aqui eles contam tudo o que viveram quando os deuses viviam na terra.

Mi Gu abriu o pergaminho onde tinha os escritos do céu, escrito pelo primeiro senhor de Naran, quando aquela terra ainda era governada pelos senhores feudais e a família Naran, que hoje governa sentado ao trono, outrora fora apenas uma família de grande poder. Seu fundador era Kong Naran I, um homem que acreditava fielmente nas crenças dos deuses e seus poderes, escrevera cada pergaminho contando suas experiências com os seres celestiais.

― Esse aqui é um pergaminho de seu antepassado. Ele conta como o deus da guerra lhe auxiliou nos embates contra os outros clãs na era do feudo. Os seis clãs mais influentes dos seis Estados governavam fortemente, em Naran, o clã Naran que era tido como sinônimo de autoridade e força, por isso essa terra recebeu esse nome. Em Naki era o clã Jin, que ainda perpetua até hoje. Em Kase era clã Wei. Em Sunri era o clã Feng, a família de seu noivo, princesa. Em Honga o clã Li e Yate era o clã Shu. Esses seis clãs tinham uma força tremenda e como a maioria dos poderosos, não estavam satisfeitos em ter somente a suas terras, eles queriam mais. Então os seis clãs feudais lutaram ferozmente por território e a guerra foi tão sangrenta que acabou com muitos inocentes e o caos se espalhou no mundo. Não havia mais uma fruta ao pé, parecia que o sol era negro, porque até o dia se dissipou. Então, após muitas guerras, Kong Naran I conseguiu derrubar o clã Shu e Wei trazendo o maior poder para si. Logo depois, os demais clãs, que tinham sido sucedidos pelos seus filhos, se uniram a Naran trazendo novamente a paz. Naran se tornou a capital dos seis Estados e os demais clãs prestavam contas a nós.

― Onde entra os deuses em tudo isso? ― Mei Yang perguntou, agora já mais interessada na história.

― Na era das guerras feudais, os antigos reis relataram que os deuses lhe auxiliaram durante as batalhas. O deus da guerra se apoderou do exército de Naran indo para a batalha mortal destruindo o caos que havia. Então, tudo foi unificado através do poder celestial. Mas, não pensem que ele veio somente para isso ― Mi Gu abriu um grande pergaminho. Nele havia uma pintura delicada de um homem sentado sobre um cavalo branco, as suas roupas negras de um grande general eram majestosas, mas o que chamou a atenção de Mei Yang foram os cabelos platinados do homem, eram idênticos de Yan Feng, só que numa versão mais adulta e muito mais bela. Com certeza aquele homem da pintura devia ser algum antepassado do clã Feng.

― Uma fera extremamente poderosa escapou da prisão celestial. Essa fera trazia desordem cósmica instaurando o caos por onde passava. Os deuses vieram para caçar a tal criatura, e trazer paz ao mundo mortal, mas para isso foi preciso destruir os homens, já que o caos que havia na besta habitava nos corações nos corações mortais. ― contou

― E o que tem essa pintura com os deuses? ― a princesa ainda estava perdida na imagem do homem de cabelo platinado.

― Esta é a representação do deus relatado; O pergaminho diz que foi um dos deuses que guerrearam junto aos homens... ― Mei Yang riu de Mi Gu. Seu pai devia ter razão e toda aquela história devia ser apenas loucura.

― Esse homem não é um deus, deve ser algum antepassado de Yan Feng, ou o fundador do clã Feng. ― Mei Yang tratou logo de deixar claro suas suspeitas. Nunca que Yan Feng seria um deus, nem descendente de um deus. Isso era tão absurdo quanto ela ser uma deusa.

― Por que os deuses escolheram Naran? ― Questionou Yoshio que estava mais interessado na explicação.

― Não sei, isso Kong Naran não relatou. Mas, a guerra só foi parada quando essa besta foi selada novamente pelo deus da guerra e a paz voltou a todas as esferas.

― Qual o nome dele, do deus da guerra que trouxe a paz? ― os olhos de Mei Yang fixaram o de Mi Gu procurando algo para refutar aquela teoria de que aquele homem era um deus.

― Também não sei, princesa. O Pergaminho apenas diz que o deus da guerra, o deus das estrelas e o deus dos mortos se uniram para prender a criatura sombria.

― Esse monstro devia ser realmente forte...

― Com certeza, segundo príncipe! Para três deuses do mais alto patamar celeste vir a terra, é porque a criatura devia ser realmente muito poderosa. Aqui diz que é por causa dessa besta que o caos no mundo existe, que ela se alimenta do ódio e de maus pensamentos, e através dela que as guerras se iniciaram. Sua existência trás enorme desequilíbrio para o mundo e por isso ela vive selada nas mais profundas camadas imortais.

― Por que Kong Naran I não relata os nomes, ele não relatou nem o nome da besta? ― Mei Yang ficou aborrecida.

― Não! E isso é irrelevante. Se a tal criatura realmente existe, está aprisionada, e nunca mais voltará a atormentar os mundos. Agora voltando a explicação. Logo após a guerra ter acabado e todos os seis Estados viverem em paz, uma nova era iniciou. Os Estados foram unificados, a prosperidade tomou conta do mundo e todos viveram bem até a revolta de Kase há vinte anos...

― Isso eu já sei! ― Mei Yang cansou de ouvir sobre a política. O assunto sobre os seres celestiais estava bem mais interessante. ― Kase se cansou de viver como província e se rebelou junto com Sunri contra Naran e seus aliados. Após uma guerra sangrenta a margem do rio Amarelo que corta os três Estados, Kase, Yate e Sunri, os dois estados rebeldes conseguiram sua tão almejada independência. Logo após Yate se rebelou também e Naran já sem força se rendeu entregando a carta de emancipação. Então, as três províncias passaram a ser governadas por reis, cada Estado levantou seu rei e Naran ficou com a parte mais fraca, Naki e Honga, mas não demorou muito para que os dois conseguissem a independência também, já que Naran não possuía mais força para uma guerra tão grande e entregou os pontos fazendo acordos entre os dois Estados vizinhos. E assim nasceu os seis Estados como conhecemos, Naran e seus aliados políticos Naki e Honga, e os três Estados com o qual não temos muito contato, Porém agora, infelizmente, somos obrigados a conviver com Sunri nas nossas terras.

― Não diga isso, princesa. Logo estará casada com o futuro general de Sunri e se orgulhará de seu marido.

― Mei Yang não irá se casar, jamais! ― Yoshio falou baixo e cortante.

― Yoshio tem razão. Não me casarei com um filho de general, apenas com alguém à minha altura. ― Acresentou, ela.

― E quem está a sua altura, Dianxia?

Mei Yang se calou e pensou em Qiang Mao. Porém, os sons de risada ao lado de fora da sala tiraram os três da concentração da aula.

Através da porta que dava ao pátio, Mei Yang viu seu noivo com uma espada na mão. Ele parecia mais velho do que aparentava. Apesar da pouca idade, ele era alto e forte, de acordo com suas limitações. Suas roupas pretas com detalhes prateados combinavam perfeitamente com seus cabelos platinado que balançavam levemente pela rasa neve que caía lembrando perfeitamente a figura que acabara de ver na pintura. Por breves segundos Mei Yang se perdeu em sua beleza, seu coração deu um pequeno sobressalto ao ver que Yan Feng mirou a espada em Qiang Mao que se aproximava com a espada para um pequeno embate. Então, os olhos bicolores de Yan Feng encontraram os seus e a princesa perdeu a respiração quando ele sorriu para ela mostrando detalhes em seu rosto que ela ainda não havia percebido, como o brilho que seus olhos possuíam quando sorria. Mei Yang por fim se rendeu e admitiu para si mesma que não havia um ser, em toda essa terra, mais belo que seu noivo.

― Preste a atenção aqui, Yan Feng. ― Qiang Mao sorriu ao ver que o menino sorria como um bobo para a princesa. ― Poderá ter sua noiva para sempre, mas a sua vida poderá acabar aqui.

― O general está muito confiante da vitoria. ― Yan Feng não esboçou nenhum sorriso o que fez o general se calar. Aquela pequena criança a sua frente parecia ter se transformado num homem com aquela espada nas mãos. Qiang Mao observou o general Chun Zheng sorrindo para a cena como se a vitoria do seu filho já estivesse garantida.

Então, ergueu sua espada e avançou sobre Yan Feng que estava tranquilo no mesmo lugar. Assim que a lâmina desceu sobre o menino, o mesmo se desviou com tanta maestria como se tivesse entoado uma dança, e ergueu sua espada em direção de Qiang Mao num movimento tão certeiro que as lâminas se chocaram fazendo um som fino e cortante pelo dia nublado. A espada de Yan Feng cortou a defesa do general e num gesto rápido o menino atravessou a espada pelo braço do general apontando sua lâmina para o pescoço do homem. Qiang Mao esbugalhou os olhos ao constatar que sua espada não estava mais em suas mãos e sim nas mãos de Yan Feng e a lâmina pontiaguda estava mirada num ponto vital de seu corpo.

Quando sua espada saiu de suas mãos? O general ainda estava perdido no que acabara de acontecer.

― Meu filho é um prodígio, Qiang Mao ― Chun Zheng se aproximou ― nós acostumamos o chamar de pequeno deus da guerra. Ninguém, em toda Sunri conseguiu o vencer num embate. Será um grande general.

Yan Feng se retirou sua espada que estava apontada para o general e devolveu a dele, e logo se voltou para a porta do salão onde Mei Yang estava em pé olhando a cena embasbacada quase acreditando que seu noivo era um deus. Como aquela criança venceu do seu tão amado general?

Yan Feng andou firmemente até Mei Yang e guardou sua espada. A princesa estava divinamente bela naquela manhã, e não devia ser mais segredo para ninguém dentro daquele palácio que o jovem estava perdidamente apaixonado por ela.

― Que magia usou para ganhar do general? ― Mei Yang foi grossa em sua pergunta assim que Yan Feng se aproximou dela.

― Não há magia, apenas habilidade. ― Yan Feng se orgulhou de si mesmo. Havia algo para mostrar aquela princesa além de seus atributos físicos. Mei yang abriu a boca para protestar, mas se calou ― Que tal darmos uma pequena volta?

― Não! Tenho deveres a cumprir. ― Mei Yang mentiu descaradamente. Não havia nada a fazer, a não ser caçar Qiang Mao pelo palácio.

― Então, terei que ser indelicado com minha futura rainha. Iremos no casar no futuro, e quero conhece-la bem antes de nos unirmos.

― Não precisa me conhecer bem, logo terá um harém apenas para si, como meu pai. E eu terei obrigações como rainha. E eu já disse que não vamos nos casar! ― Yan Feng sorriu. Aquela menina ainda relutava sobre o destino dos dois. Porém, ela iria abrir os olhos e ver que não havia pra onde fugir à não ser casar.

― Não terei nenhum harém, apenas minha rainha basta para preencher meu coração. Não sou um homem ambicioso quando se trata de amor. ― Yan Feng segurou as mãos da princesa e colocou entre seu braço. Mei Yang não conseguiu sair. Mesmo que quisesse se afastar, havia algo naquele menino que atraia totalmente sua curiosidade. Talvez fosse o fato de ao se tocarem a energia que havia em seu corpo se dissipasse como fumaça. A presença de Yan Feng perto de si era monstruosamente sugadora.

― Não pense que aceitando essa passeio vou me casar...

― Ainda iremos discutir isso? ― Yan Feng ergueu as sobrancelhas para ela e a puxou mais para si. ― Não vamos falar sobre casamento, vamos apenas falar sobre nós. O que gosta de fazer pelo dia? ― Mei Yang não queria responder, mas achou melhor abrir a guarda pelo menos naquele momento e manter uma conversa amigável.

― Desenhar e observar o céu. ― ela olhou para o alto onde viu os pássaros voando.

― Observar o céu? Um tanto curioso. Mas, quando olho para o céu estranhamente me recordo da sua imagem. ― as bochechas de Mei Yang coraram tanto que ela sentiu todo corpo queimar. Com um pouco de força ela conseguiu tirar suas mãos dos braços de Yang Feng e se afastar um pouco.

― Não diga essas palavras. Não pretendo me casar. Mesmo que eu seja uma rainha acho que sou nova para contrair qualquer matrimônio. As leis de Naran são rígidas e não se preocupam com o bem estar do governante, mas eu preciso me preocupar comigo mesma.

― Não pense nada de errado, Yang'Er... ― ao ouvir Yan Feng lhe chamar pelo seu apelido, o seu coração sentiu algo familiar, como se aquela voz tivesse lhe chamado por aquele nome outras vezes no passado. Porém, era impossível, nunca conheceu Yan Feng antes de seu aniversário. ― Não vou fazer absolutamente nada que não queira. Mesmo que sejamos forçados a nos casar, serei extremante respeitoso com sua pessoa. ― Yan Feng depositou um beijo em suas mãos e se retirou.

Pela primeira vez Mei Yang sentiu algo diferente por aquele menino. Ele não queria seu trono, nem sua pessoa. Ele a respeitava e isso era o mais importante para ela.

Talvez casar com Yan Feng não fosse de todo modo mal, ele poderia ser um bom amigo no futuro, alguém que a auxiliasse nos seus deveres ao trono. E ela ficaria em demasiada alegria se ele pudesse deixar de falar aquelas palavras que fazia seu coração pular e fosse mais calado.

Assim que alcançou o pátio de entrada a princesa viu seu pai sair do portão principal montado em seu cavalo negro com selas vermelhas, sua roupa de rei e a coroa de ouro com sua imagem real. Seu rosto estava visivelmente cansado, olheiras profundas marcavam seus olhos, e Mei Yang constatou que ele não dormia há semanas.

― Mei Yang ― seu pai lhe chamou a atenção e a princesa o viu descer do cavalo e a puxar para si. ― eu irei para as fronteiras de Naki reavaliar algumas coisas, e enquanto eu estiver fora espero que assuma sua responsabilidade como princesa herdeira.

― Papai, eu não sei...

― Você sabe! ― O rei pôs as mãos nos ombros da filha com os olhos brilhantes de confiança e sorriu para ela. Mei Yang não lembrava a última vez que seu pai sorriu assim, mas aquela sensação era boa. ― É minha filha, então está preparada para governar.

O rei nada mais falou e somente subiu em seu cavalo e os portões se abriram. O exército de Naran partiu. Qiang Mao e o rei lado a lado na frente guindo o restante dos homens. E por fim tudo ficou em silêncio.

A deusa selada mal podia imaginar que a sua dor estava apenas começando.

Qiang Mao trotava lentamente pelos pequenos vilarejos até que alcançou as montanhas cobertas por neve. O dia cinzento e frio, não podia impedir à chegada dos seus homens as fronteiras antes do fim da lua cheia.

A escolta oficial estava em volta do rei. A viagem estava calma e apenas no inicio. Seriam quatro dias sem quase nenhum descanso, já que o rei estava visivelmente mal e não aguentaria muitas horas sobre o lombo do cavalo e tudo recairia sobre ele. O som das águas do riacho próximo alegrou os ouvidos do general. Todos desceram dos cavalos para encher seus potes, enquanto o rei entrou do palanquim já cansado das poucas horas que cavalgou.

Um velho arruinado – pensou o Qiang Mao.

Por breves momentos se arrependeu do que prometera horas antes. Toda paz que conhecia iria por baixo a partir de hoje, mas se fosse para conseguir a posição que tanto almejava ele seria capaz de tudo.

Qiang Mao guiou seus homens até a margem do riacho e deixou apenas cinco escoltando o palanquim do rei.

― General, aqueles cinco não darão conta de proteger o rei caso algo aconteça. ― Qiang Mao sorriu mentalmente com a afirmação de seu soldado. Era exatamente aquilo que ele previa.

― Eu acredito fielmente nas habilidades dos meus homens. Por que acha que eu sou o general? ― enquanto todos sorriam pela calma que se encontravam, Qiang Mao sentiu seu coração vibrar ao perceber o movimento rápido dos homens de preto que pareciam voar por cima das longas árvores l. Somente os homens mais sensitivos de seu exército sentiram a presença horripilante dos assassinos passarem por eles e seguir em direção ao Palanquim do rei. O dia pareceu perder a calma e dez homens saíram disparados ao local onde a majestade se encontrava. Qiang Mao correu logo atrás sem muita pressa deixando o restante para trás.

O local estava intacto, exceto pelos cinco homens de seu exército escoltando o palanquim e o exército de pessoas vestidos de preto com os rostos cobertos por mascaras avançando ferozmente.

― Não se precipitem, não sabemos quem são ― o general gritou para seus homens.

― General, o rei! ― um dos seus aliados apontou para o palanquim e prontamente ele quebrou o cerco que o impedia de chegar ao seu protegido e subiu onde o rei se encontrava. Assim que abriu as portas, Kong Naran se espantou. O homem estava branco, feito cera.

― Não se preocupe majestade. Protegerei sua vida com a minha. ― os homens avançaram sobre ele e tudo ficou nebuloso. Sangue escorria pelas espadas dos inimigos e seus homens não estavam suportando. Os assassinos eram extremamente habilidosos, porém ele era mais. Qiang Mao desembainhou a espada e saltou do palanquim matando pelo menos dois homens com um único golpe. Ele tinha que manter a pose até o auge do dia surgir. E quando o brilho da espada dourada do homem de preto surgiu entre eles, Qiang Mao suspirou aliviado. Quase todos seus homens que chegaram ali estavam mortos, apenas dois permaneciam de pé e esses dois tremiam de medo do homem encapuzado que embainhava a espada dourada. Aquele era o momento perfeito para dar o golpe final.

O general ergueu a lâmina e atingiu os seus dois homens que atrapalhavam seu plano. Assim que os dois caíram mortos, ele abriu o palanquim e viu o rei sentado assustado com o som das espadas.

― Os inimigos foram destruídos? ― Kong Naran II perguntou esticando o pescoço para observar ao lado de fora.

― Ainda falta mais um, majestade. ― Qiang Mao retirou a flecha negra de dentro das roupas e sorriu quando viu os olhos do rei se arregalarem para ele assustado. Ayame tinha que pagar muito bem por aquele gesto de traição que ele estava fazendo. Poderia perder sua posição, até mesmo sua vida se alguém desconfiasse o que ele estava prestes a fazer.

E num movimento certo, Qiang Mao atingiu o coração do rei. O grito do homem foi abafado pelas mãos frias do general que tapou-lhe a boca sorrindo.

― Um homem deveria se contentar apenas com a mulher que mora em seu coração. Quando a ganância de preencher sua cama com muito hanfus femininos cega nossos olhos, o corpo do homem perece. E foi essa a causa do seu fim.

― Por que? ― o rei perguntou já quase se esvaindo.

― Pergunte a nobre consorte quando ela partir para a outra vida. ― Kong Naran perdeu o controle da respiração e o sangue de seu corpo começou a se esvair pelo palanquim, sua boca espumou um líquido amarelado e seu corpo tremeu por três vezes antes de perder a total consciência. Naran II sempre soube que um dia veria sua amada Tai'Ner, mas não que fosse tão depressa. O som dos pássaros cantando foi a última coisa que ouviu e seu último pensamento foi Mei Yang.

O Estado de Naran perdeu seu tão estimado rei.

Qiang Mao olhou para seu cúmplice e todos os mortos ali presentes. Logo o restante dos homens estariam de volta e eles tinham que ser rápidos. O general rasgou a manga de sua blusa e o homem de preto atingiu seu braço com a espada dourada fazendo um pequeno estrago e logo em seguida sumiu por entre as árvores. Logo, os restantes dos homens começaram a chegar e já era tarde. O rei estava morto com uma flecha cravada em seu coração, e os assassinos estavam bem longe a essa altura.

― Fomos emboscados! ― Qiang Mao gritava de dor e dissimulação. ― o rei! Vejam como está o rei! ― os soldados atravessaram depressa o pequeno espaço coberto de corpos e sangue e vasculhou o palanquim onde o corpo do rei já se encontrava morto.

― General, sua majestade... ― o soldado não conseguiu completar, contudo Qiang Mao já sabia do ocorrido. 


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Notas finais do capítulo

ATÉ A PRÓXIMA, MEUS QUERIDOS!!!!



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