O IMPÉRIO DOS DRAGÕES escrita por GONGSUN QIAN


Capítulo 7
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo não tem a intenção NENHUMA, de ser homofóbico. Apenas atente ao conteúdo histórico contado. Pois, a China, nos dias de hoje, é extremamente homofóbica, pode imaginar há 243? Pois bem! é um fato histórico que acontecia diariamente, e mais ainda, os homens que se sujeitavam a essas práticas, muitos deles, sentiam que seu orgulho estava ferido. Não quero que ninguém se sinta ofendido, é apenas história. Espero que todos entendam!



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Naki 243 a.c

O som da chuva pesada caindo por cima das árvores e arraigando o chão seco e rachado trazia uma calma ao estado de nervos do Ministro Jing Khe de Naki. Depois de meses sem uma gota de água caindo do céu, finalmente os deuses agraciaram o povo com as bençãos da natureza.

O Homem já por volta de seus sessenta anos, já fatigado, careca com longo bigode que poderia facilmente ser trançado, com profundas olheiras e dores musculares, estava sentado em sua biblioteca tomando uma taça vinho enquanto pensava nos últimos acontecimentos.
O seu rei em terras estrangeiras para o funeral da rainha que fora brutalmente assassinada por alguém que ainda não fora descoberto. Naki à mercê de tudo isso, pois se Naran vinha sofrendo com ataques dentro dos próprios muros, o rei poderia ser o próximo alvo, e se o rei morresse todos estariam perdidos.

Jin Khe balançou a cabeça negativamente algumas vezes enquanto analisava os documentos dos últimos alimentos que entraram e saíram de Naki.

Apenas os grãos e o pouco de pão doado por Honga e as sacos de comida de Naran em troca do ferro. Uma troca injusta, porém necessária. Afinal, trocar uma preciosidade como o ferro por comida era vexaminoso. Contudo, Naran mantinha o controle total sobre eles. O que trazia tamanha revolta ao ministro, já que o poder deles eram totalmente limitado pelo Estado vizinho que comandava até mesmo as entradas de comidas, as fronteiras de quem entrava ou saia e principalmente o tesouro nacional, que já era escasso. Naki possuía autonomia apenas na teoria, pois tudo era devido a forte influência de Naran.

O ministro estendeu sua mão direita enrugada e pegou o pincel que estava sobre sua mesinha, e mergulhou na tinta preta, estendeu um papiro a sua frente e escreveu uma carta de agradecimento a Honga e Naran, seu ultimo trabalho desde a revolta de Kase há vinte anos quando desuniu todos os povos que viviam como um só. Quando Naki vivia em glória com suas minas de ferro, com seu solo fértil e grandes plantações e exportavam para os demais Estados. Mas, tudo agora pertencia a Kase, e o restante vivia sob o poder de Naran.

As portas vermelhas de madeira se abriram e o ministro viu quando um clarão reluziu no céu ao lado de fora, mostrando a chuva torrencial que cairia pelas próximas semanas. Seu servo, Lei Yu, completamente molhado adentrou o local e não ousou pisar nas tapeçarias, apenas se curvou ali mesmo na porta de entrada e estendeu um pergaminho perfeitamente enrolado e selado com o símbolo que ele conhecia muito bem. Jin Khe se ergueu de seu assento e andou até seu servo e pegou o conteúdo de suas mãos.

― Ora, ora... ― Jin khe apenas sorriu ao ler o conteúdo da carta. Finalmente seus dias de glória estavam chegando.

― O que a consorte deseja dessa vez? ― Lei Yu perguntou se pondo de pé observando a reação feliz que Jin Khe esboçou. Algo muito raro para ele desde que sua filha resolveu servir o exército e abandonar as expectativas de um bom casamento.

― Ayame deve estar louca em enviar um pergaminho com esse conteúdo, mas o desespero dela chegou a níveis imensuráveis já que foi exilada até segunda ordem do rei. ― Jin Khe gargalhou ao imaginar a consorte sem seu ar superior, seus enfeites, sem absolutamente nada, enfiada num palácio escuro e frio sozinha. Um lugar perfeito para assegurar que suas maldades não ultrapassem sua mente perversa.

― O que tanto ri?

― Aquela lorpa da consorte veio me pedir ajuda ― o ministro gargalhou mais ainda a ponto de seu estômago doer pelo esforço. ― está trancada no palácio frio, ninguém tem autorização para visitá-la, nem mesmo o filho. Deve estar louca de ódio. O momento perfeito para usar o que temos de melhor. ― Jin Khe sentou novamente e seu servo, lhe serviu mais vinho. - ela quer derrubar Naran e entregar ao bastardo de seu filho. Em troca lucrarei bastante.

― Como a consorte pretende derrubar o rei? Naran segue leis rígidas e mais ainda, as tradições são severamente utilizadas. Mesmo que o rei caia, Amon jamais tomará o poder. Enquanto Mei Yang respirar sobre essa terra, as chances do bastardo de Kong Naran chegar ao poder são nulas.

― É exatamente por isso que ela roga pela minha intervenção. Já está na hora das coisas mudarem. Naran está no centro há muito tempo, chegou o momento do cenário se inverter.

― O que ela pediu na carta? ― Lei Yu se aproximou do fogo para espantar o frio que atingira seu corpo. Suas roupas molhadas colavam em sua pele lhe causando um arrepio. Retirou suas vestes pesadas e encharcadas. Ele não queria retirar, sabia bem o que aconteceria, mas sua pele gritava por um pouco do calor das chamas que crepitavam na lareira forneciam. Estava tão distraído que não notou a aproximação do ministro que estava bem atrás observando seu corpo exposto. As mãos já velhas do homem percorreram o abdomem do servo com calma, como se quisesse sentir cada pedaço de pele que ali havia. Fazia tempo que não tinha alguém em seu leito, e seu servo preferido estava despido a sua frente lhe causado uma dor em suas partes intimas. Jin Khe encarou os olhos de Lei Yu com ardor, e por fim o beijou. Foi algo repentino, mas não negado. Lei Yu retribui o beijo com igual intensidade para mostrar sua lealdade para com aquele homem. O servo sabia da carência de seu senhor, um homem velho que foi forçado a se casar desde cedo para gerar descendência, mas no fundo sentia nojo de sua própria mulher que já falecera há anos. Apenas nos braços de seu servo ele realmente sorria. Jin Khe nunca fora tão feliz como era agora. Por outro lado, Lei Yu estava se sentindo invadido. Retribuía as carícias do seu senhor desde a infância, quando ainda era um menino orfão resgatado das ruas e levado para a casa da família Jin. Todos da cidade tinham tamanha admiração e um, certo medo daquele sobrenome, já que Jin era sinônimo de força dentro de Naki. Agora, já um homem feito, tudo aquilo era natural, mas não alcançava seus instintos. Já estava acostumado e servir seu senhor em seu leito. Apenas pensava que tudo aquilo era por ela, e apenas por seu maior amor. ― Está sentindo algo, meu senhor?

Lei Yu indagou ao perceber que Jin Khe se afastou com a fronte enrugada de preocupação

― Não, apenas cansado de um dia estressante... ―Jin Khe pegou a carta da consorte e atirou no fogo. Aos poucos o papiro foi desaparecendo entre as chamas e o alivio foi lhe consumindo. Aquelas palavras tinham que desaparecer. ― A consorte quer que eu derrube o rei a princesa.

― Como um ministro de Naki irá conseguir tamanha façanha?

― Acha que Ayame faria uma carta sem ter um plano? A mente daquela mulher perversa trabalha de modo acelerado. Ela já pensou em tudo. E de quebra vamos jogar esse rei frouxo de Naki no chão. ― Jin Khe sorriu encarando a chuva e as fortes trovoadas ao lado de fora. Naki finalmente se livraria de um peso morto como aquele rei louco.

― Um esquema engenhoso e arriscado como esse requer um plano minucioso. Fará isso de graça? ― Lei Yu perguntou.

― Claro que não! Em troca eu terei o que mais quero. Um cargo decente e minha filha casada. ― ao falar isso Lei Yu estremeceu.

― A senhorita Er Xi se casará? ― o servo perguntou um pouco abalado.

― Sim! Se tudo correr bem, ela se casará com o príncipe Amon quando o mesmo assumir o trono. Minha filha sendo uma rainha... Tudo que mais sonhei. ― Jin Khe encheu seu peito de orgulho. Sua filha sairia daquela vida desgraçada que escolheu para si, e subiria ao trono de Naran.

― Er Xi não aceitará tão fácil. Ela escolheu a vida militar. Ela ama sua vida e estar na frente das guerras. Uma mulher única, jamais se curvaria a homem algum nesse mundo. Jamais aceitará tal coisa. ― as palavras do servo soaram normal aos ouvidos do ministro, mas seu coração se encheu de desgosto ao pensar em Er Xi casada.

― Ela não tem que escolher. Já tem idade de se casar, já passou até! Uma mulher de vinte anos solteira e servindo ao exército ao lado do general. O que dirão dela?

― Que é uma mulher corajosa e determinada.

― Bah! Uma mulher precisa casar e ter filhos. Como ficará a geração da família Jin? Ela precisa casar!

O som das batidas ao lado de fora tiraram os dois da conversa. Lei Yu se vestiu rapidamente com suas roupas de antes e o ministro voltou para seu modo inicial, sentado mexendo nos papiros. A porta se abriu e uma jovem de longos cabelos negros, parcialmente presos num grampo prata com delicadas flores como enfeites, que voavam ao vento fazendo com que alguns fios transpassassem pelo seu rosto fino e delicado, com traços de uma dama requintada, surgisse junto ao céu negro da noite. O corpo esguio e bem formado se encontrava dentro de uma armadura, escondendo seus encantos, mas de forma alguma sua beleza.

Lei Yu quase perdeu a respiração ao ver Jin Er Xi entrar pelas largas portas dos aposentos de seu pai com seu capacete prata nas mãos e com seu belo sorriso, que deixava as damas mais belas da corte, morrendo de inveja. Er Xi era uma verdadeira flor de begônia rara e quieta, com um coração de guerreira. Não havia um homem sequer que não admirasse sua força e determinação.

― Papai ― Er Xi se curvou ao ministro e ele apenas levantou para lhe cumprimentar. ― Senti sua falta.

― Também senti a sua, meu pequeno rouxinol. Vejo que acabou de chegar das fronteiras ― o ministro se atentou ao capacete nas mãos da filha.

― Vim correndo para lhe ver. ― Er Xi então se atentou ao servo sentado perto da lareira e observou suas roupas pesadas e encharcadas e fechou seu semblante. ― Lei Yu, como pode se vestir com essas vestes num tempo frio? Vá se trocar antes que pegue um resfriado.

O servo sentiu vontade de chorar com as doces palavras e preocupação da jovem dama. Prontamente ele se levantou e antes de sair, pegou as mãos da dama e depositou um beijo casto e emotivo.

― É um prazer que esteja de volta, minha senhora ― Lei Yu sorriu profundamente animado e se retirou. Er Xi por fim abraçou seu pai. O ministro não retribui com muito ardor, mas no fundo estava feliz pela volta da filha.

― Quanto tempo ficará dessa vez?

― A divisão me deu alguns dias de folga. Ficarei aqui com o senhor.

Jin Khe preferiu esconder seus planos para um futuro casamento para sua filha. A personalidade da dama era arredia, um espírito livre demais acostumado a cavalgar quilometros e a manejar uma espada. Estava na hora dela aposentar de sua vida como um soldado e descansar a ponta de seu hanfu em casa e arrumar um bom casamento.

Er Xi se despediu do pai com uma breve reverência e saiu pelas portas alcançando o pátio de entrada onde estava coberto por água. O céu parecia um manto negro, sem nenhuma estrela, apenas escuro como um abismo e apenas se podia ouvir o som da chuva pesada caindo sobre toda Naki. Depois de três meses longe de casa, estar andando pelos corredores do palácio vermelho era nostálgico.

― Minha senhora ― Er Xi se assustou ao perceber a presença de Lei Yu a sua frente. Estava tão perdida no cenário que esqueceu que ali havia pessoas.

― Lei! ― a mulher falou sorridente.

― Eu senti sua falta... Ficará muito tempo dessa vez? ― Lei Yu se aproximou um pouquinho conseguindo ver os olhos castanhos de Er Xi. A falta que sentira dela era tão grande que apenas queria abraçá-la. Porém, sentia nojo de si mesmo. Já deixara de ser um homem há muito tempo, o homem que ele queria ser para ela. Seus sonhos de ter a jovem dama para si fora arrancado ainda na infância quando era obrigado a se deitar na cama do ministro e, satisfazer a lascívia daquele homem que chamava de senhor.

Agora, bem próximo de Er Xi, desejou voltar no tempo e nunca ter vindo para o palácio vermelho. Talvez pudesse encontrar a jovem senhorita num outro lugar e ter a coragem de erguer os olhos e a encarar de igual para igual, confessar seus sentimentos e fazê-la feliz como sempre idealizou em seus delírios noturnos. Mas, era um desgraçado que dormia com o pai do amor da sua vida, e jamais teria seu orgulho de homem novamente para ter tais esperanças.

― Ficarei tempo o suficiente para pagar a bebida que fiquei te devendo. Lembra-se, da nossa aposta? ― Lei Yu lembrou-se perfeitamente da ultima vez que estiveram juntos. Er Xi apostou que choveria naquele mesmo mês, mas seu conhecimento mostrava que choveria meses mais tarde, o que ocorreu. Esse encontro já fazia três meses, mas ainda martelava tão fundo em sua mente que parecia que tinha sido há poucas horas. ― Você parece estranho. O que houve?

O servo percebeu que o ministro ainda não contara a sua filha que ela poderia se casar com o príncipe bastardo de Naran. Ao pensar nisso a alma de Lei Yu quase desfaleceu em tristeza.

― Não houve nada, senhorita. ― Lei Yu sorriu com os olhos decaídos. ― Quando me pagará a bebida?

― Agora mesmo! Venha, vamos comemorar meu retorno. ― Er Xi pegou nas mãos do servo e esse sentiu todo seu corpo esquentar e um rubor lhe subiu a face. Estava acostumado a servir o seu senhor na cama, mas nunca se acostumaria com o simples toque de Er Xi. A jovem senhorita levou seu servo até seus aposentos. O lugar estava impecavelmente limpo. Nem parecia que a dona estava longe há três meses. Lei Yu acendeu todas as lamparinas enquanto Er Xi, por detrás do biombo, se trocava e contava suas últimas experiências em batalha. Ele nunca faria nada que manchasse a honra da jovem senhorita, mas os anseios de tê-la apenas para si eram incontroláveis em certos momentos. Por isso, Lei Yu se retirou porta a fora com a respiração acelerada. Seu peito subia e descia de forma frenética. O servo pôs a mão no peito, tentado controlar sua paixão avassaladora e fechou os olhos apenas ouvindo o som da chuva para acalmar seu coração apaixonado. Ele não era digno! Nem um pouco digno de ter sua senhora somente para si. Deveria se contentar em ter apenas a escassa amizade entre eles que perpetuava desde a infância.

― Lei Yu ― a voz doce de Er Xi soou e ele logo se recompôs para adentrar seus aposentos. Er Xi estava vestida com um hanfu branco de dormir com delicadas flores do vale bordadas de cima a baixo, muito diferente da armadura que estava há pouco tempo. As vestes mostrava a bela jovem que era, o que fez Lei Yu abaixar a cabeça rapidamente em pura vergonha de ver a sua senhora tão bem relaxada em sua presença e ele em completo desespero.

Mas, por quê estava sentindo aquilo? Eles cresceram juntos como irmãos. Em seu coração ele sabia que Er Xi apenas o via como um grande amigo, mas seu espírito gritava seu amor exasperado a ponto de pedir aos céus que morresse. Preferia partir desse mundo ao ver Er Xi casada com outro homem.

― Tome, essa taça é sua ― ela estendeu o vinho e sem encará-la, apenas pegou e deu um gole. Lei Yu sentou de frente para ela e encarou finalmente a jovem senhorita que estava de olhos fechados saboreando o vinho. Suas feições estavam relaxadas e suas bochechas levemente coradas a deixando mais feminina.

Ela jamais poderia se casar com o bastardo de Naran. Mesmo que não fosse digno dela, Amon também não era. Er Xi só casaria com alguém aprovado por ele. Lei Yu tomou seu vinho e sorriu forçadamente. Se o plano da consorte de Naran desse certo, um novo mundo seria construído. Naki seria uma nova terra, mas a maior tragédia seria em sua vida, porque perderia para sempre sua amada. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por acompanhar, bjssss e até!!!



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