O IMPÉRIO DOS DRAGÕES escrita por GONGSUN QIAN


Capítulo 6
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Palanquim: veículo para uma pessoa, usado em países orientais (como China e Índia) e que consiste numa espécie de liteira fechada ou de leito ou assento coberto, preso a um varal que é levado no ombro por dois, quatro ou seis homens ou, por vezes, no dorso de elefantes ou camelos.

Dianxia: Alteza

Sam Wan e Chat Pak: Na cultura chinesa acredita-se que o conceito de espírito e alma são totalmente diferentes. O espírito é chamado de Chat Pak, ele possui 7 partes e pode reviver 7 vezes, por isso eles acreditam nas sete encarnações e se a pessoa sobreviver as sete, no final poderá entrar no estado superior, como a Nirvana. o Sam Wan são as três almas, essa não possuem ligações terrenas como o espírito, elas se elevam a níveis superiores. Elas são divididos em três para buscar a tão almejada paz.

As descrições do funeral da personagem da rainha foi de um ritual funeral tradicional chinês. Somente os nobres possuíam tal ritual.

Furen: Grande senhora, uma forma mais formal de se dirigir a uma consorte ou concubina.

Sí Che Wu: hora do cavalo (11:00 às 13:00)

Estela funerária: Estelas são placas em de pedra, madeira ou faiança com inscrições e imagens. As estelas funerárias eram colocadas nos túmulos com preces que garantiriam o bem estar do morto e lembrariam aos vivos seus feitos em vida.



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A neve rasa caía lentamente pela relva baixa e já sem vida mostrando um cenário triste juntamente ao som do canto melódico do monge das montanhas ao sul de Naki, que fora especialmente trazido para o funeral da grande rainha Tai'Ner de Naran. Era uma manhã desolada.

O palácio de Naran estava coberto de mantos brancos que escondiam as cores vibrantes e alegres dos detalhes de cada pedaço, uma forma de mostrar o extremo luto ao espírito que partiu e guia-lo a vida em paz. Os presentes no local vestiam Branco, e muitos retiraram os enfeites extravagantes para prestar condolências finais ao espírito da rainha que lutava para partir do mundo.

O rei estava perto do caixão de madeira com detalhes de ouro tão puro que reluzia até mesmo num dia onde as nuvens estavam cinzentas e o céu parecia não ter vida. As lágrimas do pobre homem puderam ser vistas pelos servos mais baixos do palácio, desde os trabalhadores que carregavam os carrinhos de estrumes e fezes, até os servos da tinturaria alcançando o alto escalão dos servos majorais pertencentes ao exército, que estavam escondidos pelos cantos das pilastras observando o último adeus.

Os reis de outros Estados presentes estavam juntos aos familiares, o rei de Naki e sua consorte, o rei de Honga com seus dois filhos, o rei de Sunri e o General com seu filho, agora noivo da princesa Mei Yang.

A última nota entoada pela cítara ecoou de forma esmorecida e o caixão de madeira fora levemente suspenso para o ritual de passagem. A família real de Naran se reuniram próximos ao caixão e se ajoelharam em sinal de respeito. O monge colocou as flores de lótus em volta do corpo da rainha e iniciou o funeral.

― A alma não morre, é eterna, Nascer não é começar, morrer não é acabar. Ela vaga pelo mundo imortal em busca de paz. O San Wan finalmente parte e busca seu destino para acompanhar seus ancestrais. Convoco a família para o cortejo final. O espírito de Tai'Ner Zhi luta para atravessar o grande rio do esquecimento.

O rei se ergueu do pó de onde encontrava seus resquícios de alma, e pegou sua oferenda para a sua falecida esposa. Um prato de fungos cozidos e arroz para lhe dar leveza em seu estado puro. Todos os familiares tinham que prestar suas oferendas.

Mei Yang, em meio às lágrimas e soluços fortes e descontrolados não conseguia se levantar. O cortejo foi parado no exato momento em que todos esperavam sua oferenda, entretanto a herdeira não conseguia se controlar.

― Mei Yang, todos esperam por você! – Amon falou impaciente de estar naquela posição desconfortável.

― Eu não consigo, é minha mãe! ― Ela abriu a boca de forma exagerada e chorou tão alto que espantou todos os presentes. Seu noivo, do outro lado do pátio de entrada sentiu intima compaixão de seu estado decadente, se pondo de pé andou até ela e ajoelhou ao seu lado de forma sutil e doce.

― Não chore, sua mãe está aqui presente assistindo o cortejo real. Acha que ela ficaria feliz em vê-la dessa forma escandalosa? ― Yan Feng soou um pouco mais divertido que o normal fazendo Mei Yang parar de chorar e limpar as lágrimas que borrara seu belo rosto. ― Vá entregar sua oferenda à sua mãe, ela precisa disso para fazer a passagem. Sabe como o caminho até o lugar de paz é árduo e sofrido.

A princesa prontamente se ergueu do seu estado de dor e pegou sua oferenda das mãos da serva ao seu lado. Em passos lentos e tremidos ela se aproximou do caixão aberto onde viu sua mãe jazida ali dentro com suas vestes tão majestosas e com uma expressão tão serena que Mei Yang, por um breve momento, achou que ela estivesse apenas dormindo. Em seu peito havia uma pedra de jade e em volta do seu corpo várias flores de lótus deixavam o aroma mais suave, o que chamou a atenção da princesa.

― Sua vez, princesa de Naran. ― o monge se afastou por breves momentos para deixá-la a sós com sua mãe.

Mei Yang estendeu os grãos cozidos a sua frente e colocou na mesa ao lado do caixão. O incenso que queimava ao lado do corpo da rainha acalmava o peso do local e impregnava cada canto do pátio.

O restante da família se seguiu com grande pesar. Yoshio, filho da consorte Ayame, se dirigiu ao caixão em lágrimas e depositou a sua oferenda, as concubinas do rei, Amon e por fim a consorte com seus olhares pedantes. Ayame Pegou sua oferenda, e de forma muito delicada e cheia de trejeitos, puxando suas vestes para que não sujasse no chão onde o exército e todos os servos caminhavam dia e noite, se curvou ao caixão e ofereceu a sua parte.

Quando todos deram suas oferendas, os guardas se aproximaram e fecharam o caixão com cordas e tiraram das varas que suspendiam e levaram até o palanquim* e encaixaram o objeto firmemente ali.

Os nobres dos quatro Estados presentes se puseram na frente, o rei de Naran com sua família, o rei Tao Jun, o general e seu filho Yan Feng de Sunri, porém esse último, preocupado com o bem estar de Mei Yang se aproximou dela e segurou suas mãos.

Os portões do palácio foram abertos e todo o povo de Naran estava próximo as laterais esperando a saída do corpo da rainha para o cortejo final.

palanquim* com o caixão percorreu as principais ruas de Naran, onde apenas os nobres residiam, as classes mais baixas assistiam toda cena por detrás das casas, em cima do telhado, alguns até subiram em árvores para ver o acontecimento mais desastroso dos últimos anos. Mei Yang passou os olhos por cada canto e esquina como se quisesse gravar cada pedaço de seu povo. Afinal, raramente saía do palácio.

Após todo caminho, o caixão que estava cercado de guardas e homens do exército liderados por Qiang Mao, estavam guiando os nobres de volta ao palácio. O retorno foi pior, pois parecia que cada passo que eles davam, mais distante parecia à rainha de sua vida terrena.

Assim que o palanquim* retornou ao palácio os monges acenderam os incensos para guiar o espírito da rainha de volta ao lar.

― Mi Gu – Mei Yang chamou seu tutor que estava ao seu lado encarando tudo com grande pesar. Os olhos de Mi Gu estavam pesados, porém sua mente trabalhava de modo acelerado desde a noite passada quando a rainha caíra morta no salão de festa espantando todos os convidados. O grito de dor do rei ao ver sua amada desfalecida ao chão fora tão forte e impactante que não houve um ser sequer dentro do ambiente que não chorasse. Os gritos misturados com as lágrimas do homem convocando os guardas e os servos para lhe ajudarem a tirar a rainha do lugar comovendo os corações de todos, mas já era tarde. A mãe da jovem princesa não vivia mais naquele mundo. E ele sabia que quando aquele cortejo chegasse ao fim, o rei iria querer o mandante morto, e se Mei Yang não abrisse seus olhos, ela poderia ser a principal suspeita.

― Fale, Dianxia. ― todos pararam na entrada do templo onde a estela funerária da rainha já estava pronta para receber seu espírito.

― Por que havia um colar de jade no peito da minha mãe? Pra que todo esse cortejo? ― ela encarava cada monge perfeitamente alinhado em volta do templo com incensos nas mãos e todo povo com grande luto e respeito. Sua mente jovem ainda não entendia a importância da passagem de uma alma para o mundo espiritual.

― O ser humano possui o Sam Wan que são três e Chat Pak que são sete. Os sete espíritos são apegados à vida terrena, por isso existem as sete encarnações, sete Chat Pak, pois eles esperam a alma retornar. Contudo, por outro lado, existem as três almas, ou seja, os três San Wan que se partem quando o ser morre. Está vendo aquela Estela Funerária? ― Mi Gu apontou para a pedra com as escrituras dos monges e o tecido com a imagem da rainha delicadamente desenhada que estava orgulhosamente ostentado no lugar de maior honra dentro do templo ― Ali residirá uma parte do espírito da sua mãe, por isso que esse lugar é de extremo respeito e santidade. A outra parte do espírito fica junto ao corpo preservando sua forma material até a sua volta, por isso que o caixão percorreu toda cidade, sua mãe precisa se purificar com os cinco elementos, água, terra, fogo, metal e madeira. E a última parte do espírito se dirige ao mundo imortal buscando equilíbrio e paz para voltar à vida. Quando sua mãe voltar, todo o Sam Wan, que é a alma se unirá novamente com o Chat Pak, o espírito, para um novo trajeto, um novo corpo, uma nova vida. Isso se repete por sete vezes, sete vidas, ou seja, sete almas.

Mei Yang coçou a cabeça imaginando como cansativo deve ser passar por tudo isso para encontrar paz.

― E por que minha mãe estava com um colar de Jade em seu peito e todas as flores de lótus?

― A Jade é a única preciosidade terrena que pode purificar a alma humana. Sua mãe irá se encontrar com o deus dos mortos Diyu, e deverá apresentar a jade para sua travessia do mar do esquecimento. A rainha se esquecerá de tudo que viveu, para então reencarnar, e o que guiará seus caminhos até lá são as flores de lótus que limpam os maus caminhos e expulsam os maus espíritos e os inimigos que deixou nesse mundo.

― Minha mãe irá se esquecer de mim? ― Mei Yang quase chorou com esse pensamento.

― Sim! Ela precisa voltar à vida, e para voltar ela precisa esquecer.

A princesa encarou a imagem da sua mãe perfeitamente pintada a sua frente como se realmente ela estivesse ali, mas a voz do monge chamou atenção de todos para dentro do templo. O grupo de homens carecas com roupas laranjas que carregavam potes de incensos em suas mãos adentraram o local. Antes da entrada dos nobres o local foi purificado, todos retiraram seus sapatos e adentraram o ambiente se curvando a grande Estela da rainha.

― Minha mãe está ali? ― Mei Yang encarou o altar da rainha, oferendas, incensos e objetos que pertenciam a ela.

― Sim, uma parte do espírito dela residirá ali juntamente com os ancestrais, por isso que viemos aqui de tempo em tempo oferecer nossas oferendas.

Finalmente Mei Yang entendeu toda aquela cerimônia e ritual minimamente detalhado.

Já era por volta do Sí Chen Wu (11:00 às 13:00) quando o cortejo terminou e todos voltaram para seus palácios. O rei se trancou no quarto juntamente com sua dor, os nobres reis convidados foram encaminhados para pousarem no palácio de verão e Mei Yang seguiu seu tutor para junto de sua àrvore. Já Amon sabia seu destino.

O primeiro príncipe andou tão apressado pelo palácio que por pouco não tropeçou em seus próprios pés.

Quando avistou o palácio da nobre consorte apressou-se de maneira assustadora e expulsou todos os guardas e servas que espreitavam a porta.

Ao entrar no palácio Xia, da consorte Ayame, Amon nem se dignificou a se ajoelhar em sinal de respeito, apenas sustentou com o olhar a figura de sua mãe sentada bebericando o vinho enquanto massageava suas têmporas.

― O que fez a rainha? ― Amon apontou seu dedo indicador acusando abertamente a consorte de traição.

― Como ousa entrar...

― Como você ousa matar a rainha? Ficou louca? Meu Pai já ordenou fazer uma busca acirrada pelo palácio em busca do assassino. E se te descobrirem? Acha que mesmo que sua posição como consorte vai te salvar da morte?

― Que atos tão desastrosos pratiquei para merecer a morte? Tem alguma prova contra mim? ― Amon se irou profundamente a ponto de sentir ímpetos de jogar sua própria mãe para os porcos. Aquela mulher tola não entendia a gravidade de matar uma rainha.

― Não precisa se esforçar tanto para saber. Está óbvio que foi você.

― A pessoa que deu a iguaria para aquela desastrada da rainha foi sua própria filha, não eu! ― Ayame levantou-se num acesso de fúria.

― Quem em sã consciência irá acreditar que a tola e fútil da minha irmã armou um esquema tão engenhoso? Olhe para Mei Yang, ninguém do conselho, nem o próprio rei acreditará em tal história.

― Por que não? Por acaso ela está isenta de ser uma assassina?

― Nesse caso, sim! ― Amon passou as mãos pelo seu coque o desfazendo completamente. Sua ira se aprofundou de tal modo que precisou sentar para pensar no que faria pra salvar sua própria mãe de uma condenação certa.

― Está se preocupando à toa, ninguém suspeitará de mim. ―  Ayame murmurou

― Então ousa confessar seu pecado!

― Que pecado? ― Ayame se alterou. Já estava cansada de viver à margem esperando o rei todas as noites enquanto ele ignorava todas as consortes pelo seu amor para com a falecida rainha. ― estou realizando seu desejo de ser rei! Já não basta ter que viver uma vida medíocre dentro desse palácio de consorte esperando um homem velho e decrépito que não ama suas concubinas, sendo que nasci pra ser rainha e você nasceu pra governar. Aquela infame ousou roubar o rei para si e pariu aquela criatura desprezível roubando seu trono! Pecado é você e Yoshio serem julgados como bastardo apenas porque Tai'Ner Zhi deu a luz uma filha de uma linhagem real. A linhagem do rei e da rainha! ― Ayame balançou as mãos no ar numa reverência exagerada e irônica. ― Vou te devolver o trono que sempre foi seu.

Amon encarou sua mãe descrente do que acabara de ouvir. Nunca imaginou o ódio e rancor que ela guardava sobre todos, inclusive da rainha, que era apenas uma inocente. Por um momento ele analisou o que levou sua progenitora carregar um peso tão grande em seu coração. Todos os anos de amargura sem poder falar ou se manifestar contra os favores do rei. Tendo que dividir suas meras horas mensais com outras tantas mulheres, e no final ser rechaçada e excluída dentro de um palácio.

― Sabe por que o rei me deu esse palácio? ― Ayame agora estava encarando a vista através da janela. O pátio coberto de neve e tristeza, assim como sua alma jogada naquele lugar solitário. ― Peso na consciência. Eu dei minha vida, doei meu tempo para ele, dei dois filhos homens que ele tanto se orgulha. Consegui manter a paz entre meu Estado, Yate e Naran na guerra há vinte anos. Se não fosse eu interceder ao rei de Yate para que não se unisse a Kase, Naran teria sido esmagada como uma formiga. Eu consegui manter a paz, eu que fui vendida como uma qualquer para se casar com um desconhecido apenas para trazer poder ao meu Estado de nascença. Mas, olha onde estou? ― a consorte apontou para a sua volta e sorriu descontrolada. ― Jogada num palácio luxuoso apenas pra apagar o peso que ele carrega de ter trocado a única mulher que o ajudou por um amor a primeira vista. Fui abandonada por Yate que me vê como uma mulher abandonada e sem poder, e por Naran. Sou essa mulher que você vê.

― Minha mãe é invejada por todas as mulheres dos seis Estados. Tem tudo que alguém poderia ter. Riquezas, poder, influência e um palácio somente pra si. O que mais deseja? ― Amon apertou os braços de sua mãe com fúria.

― Ser rainha! ― os olhos de Ayame se estremeceram ao proferir essas palavras. A amargura que carregava em seu coração já cegara qualquer tipo de afeto ou amor que poderia nutrir por alguém. ― Ver você ao trono. E não vou descansar enquanto isso não acontecer.

― Pare! ― Amon e sacudiu o corpo pequeno e fragilizado da consorte. ― Não vê que suas ações põe em cheque meus planos? E eu? Sabe a vergonha que carrego em ver uma menina de quatorze anos tomar meu lugar? Sabe quão humilhante é ter que lutar contra minha pequena irmãzinha? Sua vida é regada de luxo e riqueza, mais até que a falecida rainha um dia sonhou em ter. O rei te dá mais até do que merece. É o máximo que uma mulher pode desejar. Mas, sou eu que carrego o título de bastardo por onde quer que eu vá apenas por ter nascido no ventre de uma consorte.

― Pare! ― Ayame gritou tentando se soltar das mãos fortes de Amon e tapar os ouvidos. Não queria escutar aquelas palavras acusadoras de seu filho, já não bastava escutar acusações de todos por não ter se tornado rainha e feito seus dois filhos uma linhagem perfeitamente real. 

― Seja o que estiver armando, desista. Será um milagre se sobreviver a esse evento da rainha. Me escute, Não faça nada precipitado. ― Amon jogou a consorte pelas enormes mantas ao chão e completamente contrariado seguiu em passos pesados pelos corredores de volta ao seu palácio.

Ayame, entre as pesadas mantas pelo chão e completamente desolada pensou que aquilo era apenas o começo. Jamais descansaria enquanto aquele trono não fosse seu. Fizera por Naran o que nenhuma mulher fez. Ela lutava pelo sua recompensa. Pelo seu direito, apenas!

A consorte se ergueu e ajeitou seu Hanfu* e sorriu com seus planos que estavam em andamento. A morte da rainha era só o começo, ela jogaria toda aquela corte abaixo e daria ao seu filho o trono. Aquela traidora estava morta e se tudo desse certo logo sua filha estaria junto com ela do outro lado.

― Furen* ― a serva de maior confiança da consorte entrou em seus aposentos se curvando delicadamente. ― a nobre consorte de Naki está ao lado de fora à sua espera.

Ayame respirou fundo e balançou a cabeça negativamente algumas vezes. Porém, apenas fez menção para que a serva deixasse a mulher entrar.

E, assim que An Chyou entrou pelas portas do salão do palácio Xia, fez uma breve reverência e se aproximou do local onde a consorte estava. As duas se cumprimentaram de maneira cordial e se encararam por breves segundos.

― Sente-se ― Ayame apontou para o assento ao seu lado. Naquele dia ninguém poderia usar nenhum tipo de enfeite, nem roupas extravagantes, por isso que quando An Chyou viu a figura da Consorte de Naran quase não reconhecera. Afinal, ele usava atavios extremamente exagerados.

― Eu sinto muito pela perda do Estado. A rainha Tai'Ner era uma mulher virtuosa, magnânima, uma luto extremo. ― Ayame encarava An Chyou com um brilho de deboche e vazia. Seus ouvidos não suportavam mais ouvir o nome da rainha, tampouco de sua morte.

Sua leal serva se aproximou com uma bandeja de chá e ambas foram servidas.

― O que me choca, é que a rainha fora morta diante dos olhos de todos e o culpado está solto. ― a consorte de Naki comentou com o olhar fixo no jeito de Ayame. ― o rei mandou fazer as buscas, mas até agora nada...

― Não sei o costume em Naki, nobre consorte, mas aqui Em Naran é proibido o harém se intrometer em assuntos do Estado. ― An Chyou sorriu abertamente e se ajeitou em seu assento. 

― Não é o que parece, ma se a consorte diz, está dito! ― Ayame estava farta daquela presença. Sempre odiou Naki e seu poder fraco e dependente de Naran para tudo. Então, para demonstrar sua insatisfação com a presença da mulher em seu palácio, apenas soltou um largo suspiro de um falso cansaço e pôs as mãos na cabeça como se tivesse sentindo uma dor dilacerante. ― Vejo que estou incomodando. Já estou de saída. ― An Chyou fez uma breve reverência e sorriu falsamente para Ayame. Mulher desaforada, ainda arrancarei esse sorriso de sua face! Pensou a a consorte de Naran ― Espero que o culpado seja severamente punido. Que o céu o castigue com toda fúria e que não sobre nada de sua existência. Esse é o desejo de todo povo, e dos corações dos Estados adjacentes.

Ayame arregalou seus olhos e fechou suas mãos num punho feroz. A vontade de avançar sobre aquela mulher tomou seu ser, que foi preciso um controle sobre-humano para se segurar.

Ao se ver sozinha finalmente jogou sua raiva atirando todos os vasos de porcelana, que foram presentes do rei, para todos os lados. Sua irritação estava se elevando a modo que estava entrando em uma histeria. 

― Furen, Furen* ― sua serva tentava lhe acalmar. ― tome cuidado, a jovem princesa está ao lado de fora observando tudo ― Ayame se virou tão rápido que viu Mei Yang por detrás da porta de entrada encarando sua cena humilhante.

― Ora, sua... ― Ayame apontou para a princesa com tanto escárnio que até Mei Yang se apavorou ― Segurem ela! ― os guardas do palácio tiveram certo receio de obedecer a ordem da consorte, mas por fim seguraram os braços da jovem princesa e a levaram para dentro. ― sua intrometida, insolente...

― Como ousa falar comigo nesse tom? ― Mei Yang gritou mais alto que ela. ― Se meu pai descobrir que uma das mulheres de seu harém ousou tocar em mim, será severamente punida. ― Ayame soltou um sorriso lateral. Suas mãos tremiam de tanto nervoso a ponto de soltar uma turbação por todo seu corpo. Aquela princesa, fruto do ventre podre da falecida rainha, a mulher que roubou tudo de si, que tirou seu trono, seu lugar por direito, finalmente estava em suas mãos. Seus olhos emanavam rancor que quando suas mãos se ergueram desferindo um tapa forte no rosto da jovem princesa seu corpo se acalmou, como se seus nervos tivessem tomado um chá calmante. Parecia que estava se vingando de seu passado atormentado pelo fantasma de Tai'Ner.

― Meu Pai ficará sabendo... ― Mei Yang gritou tão alto que a consorte desferiu outro tapa. E não satisfeita pediu que as servas trouxessem sua vara de castigo caseiro.

― Furen*, hoje é dia de luto, ninguém no palácio está autorizado a castigar um servo sequer, ainda mais a jovem princesa herdeira. ― Ayame pouco se importou. Estava cansada da presença daquele pequeno ratinho tolo que pegou a vara e entregou para seu braço direito, sua mais leal serva. 

― Vá, quero cinquenta varadas. ― sua serva apenas pegou o objeto, e com as mãos trêmulas desferiu as dez primeiras varadas. O olhar de todos dentro do salão era de espanto. Mei Yang gritava de dor enquanto seus braços eram presos por guardas que temiam por suas vidas.

Então, as portas do salão se abriram e o rei entrou apressado com o semblante fechado marcando mais ainda suas profundas expressões de velhices.

― Quem ousa praticar castigos no dia de luto? ― o rei gritou e todos se ajoelharam desesperados. Mei Yang estava chorando copiosamente pelas varadas que agarrou a barra das vestes de seu pai. ― Guardas! ― o rei chamou sua tropa e prontamente todos adentraram o local. ― levem todos presentes para a prisão, amanhã todos terão seus castigos duplicados.

A consorte estava jogada ao chão sem reação. O rei nunca a visitava, nunca sequer fora ali para cumprimentá-la desde que conheceu Tai'Ner. E agora ali estava ele, com seu manto branco pelo luto, seus olhos fatigados da vida e  com eterno desprezo da sua imagem jogada no chão aflita.

Quando o rei encarou sua consorte apenas sentiu nojo. Como uma mulher poderia ter se transformado num ser como aquele?

― A serva que castigou a princesa será severamente punida ― o rei ordenou que levassem a tão leal serva da consorte para divisão de tortura. ― Enquanto a nobre consorte, será levada ao palácio frio. Ficará lá até pensar em seus atos pecaminosos diante dos deuses num dia onde a falecida rainha luta para enfrentar o outro lado da vida.

Ayame balançou a cabeça em negação e descrença. Por que tudo tinha que ser contra ela? Por que aquele homem não lhe amava?

No dia seguinte a nobre consorte de Naran fora levada para o palácio frio do exílio, todos os presentes foram chicoteados cem vezes, e a serva que puniu a jovem princesa teve seus olhos arrancados para que nunca mais pudesse olhar para um nobre. 


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Notas finais do capítulo

Bjsss e até a próxima!!!!



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