Bastou fechar a porta do banheiro para que Cassiopeia pudesse começar a ouvir os gritos vindo do que ela supôs ser a sala de jantar. Ronald parecia furioso e não tinha nenhum receio em demonstrar e gritar aquilo para qualquer um que quisesse ouvir. Mesmo com a voz abafada, as ofensas que ele declarava sobre ela e sua família era bastante claras.

A garota loira suspirou. Ela sabia que aquele estava fadado a ser um fim de semana bastante longo e, com sorte, o garoto gritaria menos nos dias seguintes.

Mais tarde naquela noite, o jantar parecia uma verdadeira guerra fria. Os dois Weasley mais jovens - Ronald e Ginerva - estavam numa batalha silenciosa contra os gêmeos e a própria mãe - e Cassiopeia , obviamente,- e seu pai nem mesmo havia voltado do trabalho.

Ela havia sido movida para o quarto que ficava em frente ao dos gêmeos, e no momento em que os dois adolescentes foram deixados sozinhos por Fred, ela e Jorge se sentaram no chão entre as duas portas. Eles conversaram e conversaram até que ambos estavam cansados demais para não cair no sono um contra o outro, e foi assim que Molly os encontrou.

Sendo sincera, ela não estava 100% satisfeita com uma Malfoy em sua casa. Nem mesmo 50%. Nem mesmo 10% satisfeita. Mas a única vez que ela havia visto Jorge tão feliz com algo além de Cassiopeia era quando ele falava de suas invenções; ele tinha o mesmo olhar em seus olhos castanhos ao falar sobre ela que o que adquiria ao falar de suas invenções. Molly já sabia que ele amava a menina, mas depois de vê-la com ele, ela tinha certeza que a jovem Malfoy sentia exatamente o mesmo por ele — mesmo que os dois ainda estivessem escondendo isso de si mesmos. Ver a loira se derretendo nos braços de seu filho e saber através Jorge como ela estava lidando com alguma tensão familiar pesada a fez sentir um pouco de pena por ela em seu coração, o bastante para recebê-la debaixo de seu teto. 

Encontrar os dois no chão não foi uma surpresa. Seu filho sorria como um bobo, repousando a mão sobre a da loira enquanto ela se apoiava completamente nele. 

— Vamos lá, querida. — Ela ajudou Cassiopeia a ficar de pé depois de empurrar o filho pra dentro de seu próprio quarto, e guiou a menina suavemente enquanto ela entrava cegamente no outro. — É hora de dormir.

— Boa noite. — A menina murmurou com o rosto pressionado contra o travesseiro, e Molly se perguntou se ela estava acordada o suficiente para saber que ela não estava em casa.

— Boa noite, Cassiopeia.

. . .

— Não é tão ruim assim. — Cassiopeia olhou para frente, girando uma flor entres dedos. — São apenas algumas semanas até podermos voltar para Hogwarts.

Eles estavam sentados na grama quente no jardim atrás da casa.

Era oficialmente o aniversário dela agora, os dois haviam se afastado dos outros para ficar juntos, e estavam conversando sobre os Malfoy de novo, e sobre como ela não podia se sentir confortável com todos os visitantes com o mínimo de detalhes possível.

— É muito tempo. — Ele murmurou. — Queria que você pudesse vir pra casa nova, mas é a maior bagunça. Mamãe está um pouco paranoica e quer deixar tudo arrumado.

Cas apenas abriu um pequeno sorriso pra ele. Ele estava mentindo — exatamente como ela —, mas ela não conseguia ficar chateada. Jorge tinha seus próprios segredos para guardar e ela certamente não conhecia nem metade deles.

— Tudo bem. Não tem problema.— A loira estendeu a mão, tocando a dele e ele logo segurou a dela com firmeza.

Em um momento hesitante, mas instantâneo, Jorge puxou Cassiopeia para mais perto e a deixou descansar a cabeça em seu ombro.

— Podemos sair todos os dias. — Ele sugeriu. — O cemitério em Godric's Hollow está sempre vazio.

A garota apenas sorriu silenciosamente, respirando fundo quando ele começou a fazer pequenos círculos com o polegar nas costas de sua mão.

Quando Cassiopeia levantou a cabeça para olhar para ele, o rosto de Jorge estava bem ali, a pouquíssimos centímetros de distância do seu. 

Ela simplesmente amava os olhos dele. Eles eram profundos e doces em uma cor que lembrava a adolescente de chocolate polvilhado com caramelo e ouro, brilhando toda vez que o sol os encontrava.

Sem ela perceber inicialmente, Jorge moveu a mão para o seu cabelo e colocou uma mecha loira atrás de sua orelha lentamente. 

— Jorge… — Ela soltou um sussurro.

— Cas… — Ele mordeu o próprio lábio inferior por um momento, movendo-se cada vez mais perto dela.

“Me beije”, ela queria dizer. “Por favor, me beije.”

Seu nariz roçou contra ela, hesitante, e Cas fechou os olhos. Seus lábios tiveram apenas tempo de roçar um no outro quando os dois ouviram um chamado e se afastaram rapidamente.

— Jorge, a sua mãe… — A pessoa que os interrompera parou no meio da frase e Cas pôde ver todo o rosto e pescoço de Jorge se avermelhando quando ele se levantou rapidamente. — Desculpe, eu não quis interromper.

— Sem problemas. — Ele passou as mãos no tecido da calça por um momento, limpando-se da terra que havia grudado enquanto ele estava sentado. — Eu vou ver o quê ela quer.

A garota loira apenas se virou para onde ele tinha saído, sentindo suas bochechas e rosto queimando de vergonha. De pé atrás dela estava ninguém menos que Hermione Granger com um olhar muito surpreso.

— Malfoy?!

A adolescente mais velha olhou para a jovem nascida-trouxa por um momento, ainda um pouco chocada com sua interrupção abrupta, mas logo se pôs de pé com um olhar de superioridade.

— Granger, eu ficaria agradecida se você mantivesse o que você viu para si mesma.

A garota olhou para Cassiopeia por o que pareceu ser uma eternidade, mas engoliu em seco e assentiu.

— Sim. Claro.