Amor em Pigmentos escrita por Kaline Bogard


Capítulo 4
Retorno ao Conselho


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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A semana de licença de Kiba passou suave como se fossem miniférias. Ele ficava sozinho em casa, porque a mãe e a irmã saiam para o trabalho. Então aproveitava para deitar no sofá, jogando online. Comeu mais guloseimas do que sua mãe aprovaria e deixou Akamaru entrar na casa para lhe fazer companhia, algo terminantemente proibido. Tsume amava o grande cão, sem dúvidas. Mas exigia que ele ficasse do lado de fora.

Foi mimado todos os dias por Hana, que voltava para casa sempre trazendo algum doce da loja preferida de Kiba. Um pudim, bolo confeitado, Castella… Ela dizia que dividir a sobremesa com o caçulinha era melhor coisa depois de um dia cansativo na clínica veterinária que abriu há pouco tempo e começava a ganhar clientes e ficar mais movimentada. Ainda que desse todos os doces a Kiba, sem nunca comer nenhum.

O garoto se deixava mimar, oras. Por que não? Ele que era o azarado de nascer Ômega, tinha passado um susto danado com a antecipação do cio e tinha descoberto sua Alma Gêmea no meio de um bando de Alphas que não valiam um centavo furado em questão de decência.

E ali estava um assunto delicado.

Porque o fazia se lembrar de outro Alpha. Seu misterioso salvador…

Conforme os dias foram passando, Kiba se descobriu mais e mais curioso a respeito daquele rapaz. O que teria feito para estar na detenção? E tal interesse era derivado de alguma sensação de gratidão? O desconhecido lhe salvou da maior humilhação que um Ômega pode sofrer…

Não podia responder aquilo com certeza. E esse era outro motivo pelo qual queria encontrá-lo. Para clarificar os próprios sentimentos, além de agradecer devidamente.

No penúltimo dia da licença Naruto causou uma pequena tempestade nas “férias” do melhor amigo, trazendo informações vitais que completaram alguns pontos obscuros e fizeram Kiba ver o acontecido por um prisma diferente.

Naruto descobriu (e só os deuses sabiam como, pois era tão habilidoso em colher informações que em outra vida poderia ter sido um ninja) que o rapaz se chamava Aburame Shino e que não estava por lá para cumprir nenhum castigo.

O jovem Alpha frequentava o Conselho como estagiário. Pelo que Naruto investigou, assistir aulas da detenção era parte do estágio obrigatório para quem seguia a carreira de professor. E Aburame não parecia, mas era mais velho do que eles, tendo se formado na Academia um ano antes de Kiba e Naruto entrarem, por isso nunca se encontraram durante as aulas.

Saber disso fez muito sentido! Era estranho pensar no seu herói como alguém que estava no lugar certo, na hora certa, pelo motivo errado, não? Agora podia pensar “alguém que estava no lugar certo, na hora certa, pelo motivo certo”!

Tantos pensamentos e expectativas fizeram os dois últimos dias da licença voarem. Quando Kiba deu-se por si, era hora de voltar para a escola. A medicação foi muito efetiva e ele não sentia mais nenhum efeito do cio, o que lhe devolveu a segurança rotineira.

E que recepção ele teve!

Assim que pisou na sala de aula foi cercado pelos colegas preocupados, que pareciam saber do acontecido com detalhes, graças a Naruto, que nem disfarçava sua participação em espalhar a história.

Recontou tudo, diminuindo o medo que sentiu e aumentando a resistência e a coragem de enfrentar os Alphas descontrolados, descrevendo a cena como aconteceu em sua mente, não na realidade.

Apesar disso conseguiu comover os colegas.

A turma era mista, claro. Desde que as leis mudaram para se adaptar aos tempos modernos; Alphas, Betas e Ômegas estudavam juntos. A segregação social era ínfima, relegada a espaços que realmente desafiassem os instintos primitivos, sendo o banho público o mais contundente de todos. Alphas, Betas e Ômegas eram obrigados a usar banheiros destinados a cada casta. Betas não ofereciam perigo, pois não se afetavam com o cio dos Ômegas, nem passavam pelo paralelo Alpha. Mas por uma questão de justiça, precisavam seguir a mesma regra.

Durante a narrativa, várias manifestações se fizeram ouvir. Ômegas muito solidários a Kiba lançaram olhares atravessados para os Alphas. E os Alphas garantiam que nunca fariam algo tão malvado quanto perder o controle com alguém mais fraco. Falavam com certeza, chateados em serem comparados com os que quase atacaram Kiba, colega de classe a quem prezavam muito.

O tópico delicado deu a entender que inflamaria os ânimos, mas por sorte o sinal soou e os alunos foram cada um para sua carteira, dissolvendo os cinco minutos de fama de Kiba.

Na hora do almoço, Naruto o arrastou para o telhado, onde recebeu um dos dois bento que Kiba trouxera. Tsume sempre preparava duas marmitas, por saber que Naruto vivia sozinho, emancipado do orfanato onde cresceu depois de perder os pais.

— Você vai no Conselho hoje? — perguntou depois de aspirar o aroma delicioso da refeição — Obrigado pela comida!

— Vou sim — Kiba respondeu e partiu um pedaço de omelete — Primeiro passo em casa para pegar o casaco e devolver pro cara. Depois vou lá procurar por ele.

— Quer que eu vá junto? — Naruto perguntou como se não fosse grande coisa.

O Ômega estreitou os olhos, desconfiado.

— Já pagou a detenção?

— Não, mas é serviço comunitário. Consigo dar uma enrolada…

— Acha que eu preciso que fique me defendendo?

— Claro que não, Kiba! Não vai acontecer nada perigoso, besta.

A expressão do garoto se desanuviou um bocado quando ele compreendeu o motivo da oferta.

— Cê tá se coçando de curiosidade, né, seu filho da puta?

O sorrisão que Naruto deu foi resposta mais do que contundente à questão elaborada.

— Claro! Você tá pagando pau pra esse Alpha. Eu quero saber quem é!

Kiba riu, divertido. Ele nem falou tanto assim em Aburame… falou?

— Relaxa, só vou lá agradecer e devolver o casaco. E pra tentar entender umas coisas. Não é como se fosse me tornar melhor amigo do cara ou algo assim. Nem trazê-lo pra minha vida.

Naruto silenciou por alguns segundos, concentrado em comer do almoço que ganhou. Parecia ponderar sobre algo, e logo revelou o que pensava:

— Ne… as aulas da turma de detenção ainda não acabaram — falou num tom de voz preocupado.

Kiba lançou-lhe um olhar rápido.

— Eu sei. Mas no estágio tem que preencher fichas todos os dias e fazer relatório. Minha irmã que me contou, então acho que mesmo depois que os alunos forem embora esse Aburame Shino vai ficar por lá. Vou arriscar.

Desse modo não corria o risco de rever o Alpha que o destino lhe escolheu, que trouxe cores à sua vida por um breve segundo e a quem Kiba nunca queria reencontrar.

—--

Depois do almoço tinham as atividades extra do Bukatsu. Kiba participava do clube de natação e judô. Naruto preferia futebol e karatê. Alphas, Betas e Ômegas participavam juntos das aulas, embora as competições ocorressem separadas por casta. Não fazia sentido Alphas e Betas competirem contra Ômegas quando se sabia que era impossível para eles vencerem. Na verdade, de Alphas nem mesmo Betas ganhariam.

Aquela era a parte divertida do dia para Kiba, que nem sentiu as horas passarem. Não viu Naruto na saída, como estavam se preparando para os intercolegiais, era comum que às vezes ficassem até mais tarde para treinar com mais empenho. Por isso foi embora sozinho.

Chegou em casa sabendo que estaria vazia. Fez festinha para Akamaru e permitiu que o cachorro entrasse pulando e latindo. O que os olhos (de Tsume) não veem, o coração (na verdade as orelhas de Kiba) não sente…

Jogou a mochila na bagunça do chão do quarto e pegou o casaco de Aburame Shino com cuidado. Antes de sair resolveu passar pela cozinha e forrar o estomago com alguns onigiri, que caíram muito bem.

Quando se pôs a caminho do Conselho começou a ficar animado. E nervoso.

Por sorte o prédio ficava no centro da cidade, próximo ao shopping de Konoha, o que facilitava as rotas de ônibus e impedia que Kiba precisasse esperar muito no ponto.

Menos de meia-hora depois saltava em frente ao bem-quisto Conselho.

— Vamos lá — disse tentando espantar o nervoso e manter só a animação.

Galgou a pequena escadaria de acesso e entrou no hall já conhecido. Sabia que precisava se apresentar para a recepcionista, Beta simpática que o recebeu com um sorriso.

— Olá! — ele soou cheio de confiança ao se apresentar — Meu nome é Inuzuka Kiba. Tudo bem?

— Tudo bem e você? — a moça sorriu, achando graça no jeito despojado. Reconheceu fácil o Ômega da confusão na semana passada e isso a deixou atenta, ainda que discretamente.

— Muito bem — fez um movimento para mostrar o casaco que carregava nos braços. Quando estava no ônibus se arrependeu um pouco de não ter guardado numa sacola — Isso pertence a um estagiário daqui. O nome dele é Aburame Shino. Eu só queria entregar e agradecer.

A funcionária pensou alguns segundos.

— Você deu sorte, rapazinho. O estágio dura até às dezoito horas, mas hoje tivemos um problema com indisciplina e a classe ficou além do horário. Pode esperar ali se quiser, assim que encerrar a atividade eu aviso Aburame-kun — apontou as cadeiras da recepção.

— Obrigado — Kiba agradeceu e foi se acomodar, depois de dar uma espiada no relógio digital. Passavam dez minutos das seis da tarde.

Suspirou, desanimado. Escolheu aquele horário para evitar se encontrar com os adolescentes que cumpriam detenção! Acabara de descobrir que eles ainda estavam por ali e a chance do Alpha que nasceu como sua Alma Gêmea estar também era grande.

Remexeu-se na cadeira. Devia ficar ou ir embora?

Ponderou rápido: a situação era bem diferente, estava em outro contexto. Poderia reagir de acordo, sem a interferência do Cio, sem precisar encarar o descontrole dos Alphas. Não precisava ter medo.

Não que ele estivesse assustado. Ele só balançava as pernas daquele jeito quando estava… ansioso…

O tempo deu a impressão de se arrastar. Nem dez minutos haviam se passado quando ouviu vozes altas e risadas. Captou a presença de alguns Alphas se aproximando, vindo de dentro do Conselho.

Ousava apostar que seriam os garotos que pagavam detenção e iam embora com atraso. Isso significava que Aburame Shino viria em breve! Poderia agradecê-lo e…

Sentiu seu corpo reagindo estranhamente. Os sentidos se confundiram um pouco, dando-lhe uma breve vertigem. Fechou os olhos com força e respirou fundo para se recuperar. Contou até três e reabriu os olhos.

Um pequeno grupo de quatro Alphas por volta de sua idade vinha saindo pelo corredor, certamente acompanhados por outros mais atrás, ainda fora do campo de visão de Kiba. Embora o garoto mal notasse isso, já que algo mais importante requisitou sua atenção.

Não havia mais cinza.

Foi a única coisa que a mente do Ômega registrou.

Não havia cinza nas paredes, nem no pouco mobiliário. As roupas dos shifters que passavam pela recepção eram cheias de variados tons. Cores que Kiba sabia existirem, mas eram bloqueadas de sua visão graças à maldição que castigava sua espécie.

E só era quebrada quando Almas Gêmeas se encontravam.


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Notas finais do capítulo

até quarta-feira ♥



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