Cyberpunk 2127 - Interativa escrita por Lord White Walker


Capítulo 3
Fantasmas Recrutadores e Questões Familiares


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Voltando consideravelmente mais cedo do que eu esperava, o que é bom.
Bem, no capítulo de hoje vamos ter muitos diálogos. Muitos mesmo, pode até ser que fique cansativo (ou não, isso é apenas um teste).
Então, sem mais delongas, aproveitem o capítulo e deixem seu comentário



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———— ————— ——— Cidade Baixa, Nova Iorque

—————— Asher —— Espectro ————

—————— 5/12/2127

Era uma tarefa estupidamente árdua a de tentar enxergar a luz solar na Cidade Baixa, especialmente no caso de Nova Iorque. Contudo, apesar de sua dificuldade, ao olhar para cima e enxergar e sentir os pálidos raios não parecia uma tarefa difícil. Também constatou que lá no alto continuava chovendo.

— Por que vocês, contrabandistas, nunca escutam por completo o que alguém quer falar? — perguntou para a figura suja e desajeitada em meio aos escombros na sua frente.

— Talvez porque não gostamos quando pessoas com sua aparência nos procurem — ele balbuciou, um sorriso zombeteiro em sua cara, contudo não foi diversão que preencheu o loiro, foi uma careta de desgosto.

— Sempre achei que fosse boa pinta — murmurou. — Agora você está disposto a me escutar ou terei que abrir um rombo na sua cabeça?

— Sou todo ouvidos — cuspiu, um pouco de escárnio em sua voz.

— Ótimo — então Asher sentou-se no vão que o corpo daquele homem havia feito ao atravessar a parede. — Há alguém que estou de olho, Blake Silver, já ouviu falar? — então mostrou uma imagem da mulher e viu um brilho iluminar os olhos do contrabandista, contudo ele negou, o que fora decepcionante. — Tudo bem. Ela está em Marte e digamos que… pessoas poderosas estão atrás dela, pessoas que pagam muito bem.

Asher esperou alguns momentos esperando alguma reação do homem que logo lhe atendeu.

— Continue — falou, ainda com um tom grosseiro mas mais suave do que alguns minutos atrás. Abriu um sorriso.

— Irei atrás dela e, como já deve ter imaginado, preciso ser levado para Marte. É aí que você entra.

— Não entendo. Se seus chefes são pessoas tão poderosas — iniciou, ajeitando-se nos escombros da parede para uma posição um pouco mais confortável, não que alguma posição fosse confortável. — Por que você simplesmente não entra legalmente?

— Você é burro? — havia certo desgosto em sua voz. — Os marcianos não são um tipo de gente que aceita muito bem terráqueos, pelo menos não mais, e se algum terráqueo simplesmente aparecer procurando por alguém, especialmente uma mulher… acredito que já possa imaginar o restante.

— Posso ter alguma ideia — murmurou levantando-se dos escombros, sendo acompanhado pelo loiro. Bateu nas roupas para tirar a poeira, estralou alguns de seus ossos e xingou Asher baixinho. — Que tipo de próteses você tem instalado?

— Algumas coisas aqui e ali — ele respondeu com naturalidade, voltando a entrar no ambiente agora não tão escuro do bar. — Se não me engano, mais da metade do meu corpo foi substituída.

Inconscientemente fez uma careta enquanto olhava para as costas do loiro.

— Precisaremos de pessoas pro trabalho.

— Isso não é óbvio? — Asher debochou, chamando um droide para a mesa que sentaram. — Traga uísque pro meu camarada aqui e vodka para mim. E entregue isso para quem quer que esteja no comando — em sua mão havia um cheque que o droide timidamente pegou.

— Voltarei com seu pedido o mais rápido possível, senhor — o droide falou, curvando-se dando meia volta e partindo para além de uma porta.

— Eles se parecem cada vez mais com humanos.

— Eles aprendem — o outro retrucou, havia certo desgosto em seu tom de voz. — Agora, falemos de negócios.

O ambiente era escuro, iluminado apenas por luzes vermelhas e algumas poucas luzes azuis, era difícil enxergar algo que não estivesse imediatamente à sua frente ali. Alguma música tocava ao fundo, uma mistura de eletrônica com rock ou seria alguma espécie techno-punk? Não importava. Haviam também algumas mesas, não muito mais do que vinte, e um balcão com extensas prateleiras logo atrás exibindo uma variedade de bebidas considerável. O droide voltou trazendo consigo dois copos e uma garrafa de cada bebida ordenada.

— Obrigado — o loiro agradeceu e o robô se retirou mais uma vez.

— Então — iniciou, atraindo a atenção de Asher. — Do que ou quem precisamos, exatamente? — murmurou, era sempre bom falar baixo em locais como aquele.

— Bem, precisamos do básico — o loiro falou, tragando um shot de sua vodka. — Precisamos de uma nave e alguém que saiba pilotar. Informações também seria algo excelente. E é essencial ter membros versáteis.

— O que é isso um assalto à Vault? — o outro perguntou com ar de riso. — Se só iremos “extrair” uma garota não é necessário tudo isso.

— Acredite em mim, é necessário — o loiro retrucou, mas deu de ombros, imaginando que tudo fosse apenas exagero. — E é claro, armamento. Sempre precisamos de armamento.

— Armas? Vamos entrar em conflito? — perguntou com visível interesse no assunto.

— Uma precaução — afirmou. — E caso seja necessário, para passar por cima do que quer que esteja no caminho.

— Você está bastante obcecado nessa garota — suspirou, bebericando um pouco de seu uísque. — Não o culpo, eu também estaria.

— Estou desconfiado — rebateu, estreitando o olhar para o moreno que beneficiava o uísque. — Algo no meu interior diz que esse trabalho é perigoso. Que essa garota é perigosa.

— Então por que não recusou o trabalho?

— Porque eu disse à uma amiga que aceitaria e não sou do tipo que não cumpre com o que fala.

— Vejam só, um homem de palavra — riu e murmurou em zombaria. — Será que ele tem honra? São qualidades bastante únicas e raras hoje em dia. Eu diria até mesmo estranhas.

— Sim, sou um tanto antiquado. Sou alguém de virtudes passadas e esquecidas — sorriu de volta e parecia macabro. — Mas também sou alguém dessa era. Não se esqueça — Asher apontou-lhe o dedo — E  não me culpe ou se surpreenda se eu acabar te matando.

A luz era vermelha e mal era possível enxergá-lo, mas seus olhos - mais próteses imaginou - brilhavam em finos anéis brancos. O loiro parecia alguma criatura saída de algum filme de terror, embora qualquer um pudesse ser chamado de serial killer sob aquela iluminação. Involuntariamente mastigou algo, nada, saboreando, talvez, a possibilidade de uma aventura. Suspirou, terminando de tomar seu copo.

— Como devo te chamar?

— Espectro — o loiro respondeu, servindo para si mais um copo, seus olhos subiram para ele. — E você?

— Rider.

 

———————

————————— Cidade Alta, Nova Iorque

———— Belladonna Castellano ———— ECCO

————————— 5/12/2127

Estava impaciente naquele dia, não, precisamente naquela hora. O elevador parecia subir cada vez mais lento apenas para irritá-la, o que ele conseguia com louvores, extraindo grunhidos e a impaciência, expressa com as inquietantes e constantes batidas no piso de mármore. Era raro Niklaus chamá-la, especialmente com aquele tom de voz receoso. Tem que ser algo importante. O elevador parou no último andar.

Com a costumeira demora as portas preguiçosamente se abriram e ela andou apressada, os saltos ressoando a cada passo naquela sala de recepção populada apenas pela secretária que teclava alguma coisa no computador. Seus olhos subiram e tomaram ela como alvo.

— Niklaus está te esperando — anunciou e ela silenciosamente assentiu, indo para a porta. — Quer que eu traga alguma coisa?

— Não precisa — falou, a voz era melodiosa e bonita. — Acho que Niklaus não vai gostar de ser interrompido — a secretária concordou e nada mais falou, então ela bateu na porta e recebeu um abafado “entre”.

Niklaus não era o tipo de homem para liderar uma corporação, Donna sempre achou que se sairia melhor que o irmão mais velho, mas muito ocasionalmente - geralmente em momentos como aquele - Niklaus passava a aura de um líder, coisa que às vezes duvida ser capaz, o que a irritava. E a aura de Niklaus, naquele momento, era esmagadora apesar dele estar virado de costas para ela.

— Você demorou — ele falou, sua voz era grave e mesmo não a olhando, era perfeitamente audível.

— Você me chamou não tem mais do que meia hora e está reclamando? — chiou a loira.

— Tempo é dinheiro nos dias de hoje, papai dizia isso frequentemente — então ele finalmente se virou, seus olhos eram escuros e severos, os cabelos eram castanhos com alguns fios já se tornando grisalhos assim como a barba que acrescentava mais alguns anos na sua verdadeira idade. — E você perdeu meia hora.

Ele estava julgando-a.

Respirou fundo algumas vezes, mais do que gostaria, Niklaus sempre tinha a capacidade de tirá-la do sério terrivelmente. Talvez fosse o jeito dele se vingar.

— E? — ela falou, o olhar de seu irmão ainda como o de um juíz. — O que você quer me contar de tamanha urgência?

— Esta manhã recebi uma ligação — ele iniciou, levantando-se de sua confortável cadeira para olhar a cidade pelas imensas janelas do escritório. — Pensei que seria uma simples ligação comercial de alguém querendo fazer negócios, até que percebi de quem era o número.

— E quem era? — não gostava daquele suspense exagerado.

— O nome Anthon Stein lhe lembra alguém? — ele perguntou, um meio sorriso em sua boca.

— Como não lembrar — sussurrou. — E o que esse magnata queria.

— Nada de mais. Sendo honesto, me preparei para receber uma oferta de compra das ações da empresa — brincou, então Niklaus voltou-se para ela, agora seu olhar era apenas sério. — Ele disse que um Titã talvez precisasse de ajuda, e que gostaria que nós ajudemos.

— Com “nós”, você quer dizer a empresa — Donna afirmou e Nik assentiu. — E por que está me contando isso?

— Ora, Bella, você é uma mulher tão inteligente e ainda não pensou nisso?

Após alguns breves instantes pensando uma intensa raiva cresceu em seu âmago e quis gritar com o homem, mas se conteve e cerrou os dentes o mais forte que pôde.

— Você não está pensando…

Você vai ajudar esse Titã — ele interrompeu e não conseguiu controlar sua fúria.

— Como você pôde? — rugiu, dando três largos passos para frente, ficando a pouco menos de dois metros do irmão. — Você faz alguma ideia de quem eu sou? Eu sou o carro-chefe de publicidade nessa empresa. Não tenho tempo para poder ajudar Titã nenhum. E você me manda isso? Você por acaso pensa que eu sou substituível?

— Não, você não é substituível — Niklaus falou como se esperando tudo aquilo. — Caso contrário já teria te trocado faz muito tempo. Aliás, é justamente por você ser nosso “carro-chefe” que te faz perfeita para isso.

— Me dê boas justificativas — rosnou ela dando mais um passo à frente.

— Tão irritante — suspirou. — Bem, você tem contatos, muitos contatos, talvez até mais do que eu, você seria mais útil para aquele Titã do que qualquer outra pessoa na empresa. Também acredito que seja mais fácil acreditar que você veio a mando meu do que alguém de uma posição mais baixa.

Ele tinha dois bons pontos com ele. Fechou os olhos, fez uma careta e suspirou.

— Ainda assim, você podia ao menos ter me dito!

— Bella, não reclame — Niklaus falou quase num rosnado, ainda assim sua voz era potente e havia raiva nela. — Papai te mimou muito. Você era única para ele, então não me surpreendi quando você começou a desejar o cargo de chefe. Mas cá estamos nós, eu sou o chefe, não você. Você, que me fazia ter discussões com minhas namoradas para dormir com elas depois, você, que adorava zombar de mim sempre que me superava em algo ou ganhava um diploma novo, você, que deseja o que eu de certa forma conquistei por mim mesmo.

— Não me venha com discursos ressentidos e melodramáticos, Nik — Donna, falou cruzando os braços, seu semblante era sério e impassivo. — Posso até ter sido úncia pro papai, mas você sempre foi o maioral em casa. Você e Andreas sempre foram o centro de tudo. Você foi mimado, tinha tudo o que queria, quando queria. E Andreas também, sempre recebeu tudo que pediu num estalar de dedos — vociferou. Sua fúria era cada vez mais palpável e tinha certeza que seu rosto estava vermelho de raiva.

— Sim, eu fui mimado — ele admitiu sua raiva agora era controlada, ainda assim imensa, e o tom grosseiro agora era uma sombra maldosa encobrindo sua face. — Fui mimado, fui o centro das atenções porque eu sou o primeiro e porque papai quis que eu lhe sucedesse. Agora não pense que eu recebi este cargo de presente ou herança. Não, eu subi desde fundo até aqui, e tive que me chafurdar em muita merda até chegar onde estou, enquanto você simplesmente recebeu o que tem de mão beijada. E ainda quer ser chefe — ele riu, e era uma risada sombria que lhe causou arrepios. — Você não merece ser chefe, Bella. Não merece nem a posição que tem. Mas se você quer que eu engula minhas palavras e eu sei que você quer, terá que ajudar este Titã.

Era em momentos como esse, quando Niklaus ficava furioso, que Donna se encolhia como uma garotinha medrosa e a sombra do mais velho se projetava na loira, agigantando o irmão e diminuindo a mulher que inconscientemente se curvava.

— Onde vou encontrá-lo? — perguntou entredentes, apertando os braços tão forte que talvez os cortasse apesar das roupas.

— Ele vai estar na boate de High Sky amanhã. Esteja lá.

— E como vou saber quem ele é? Tem algum nome ou foto?

— Nada — o moreno suspirou, talvez decepcionado por também não saber a identidade do Titã. — Mas Anthon disse que era um Titã e como bem sabemos não é difícil reconhecer um. Agora, saía.

Sua face se contorceu em escárnio e raiva. Fechou os olhos e respirou profundamente. Girou nos calcanhares e se dirigiu até a porta numa fúria muda. Precisava extravasar em algo e sabia perfeitamente o que faria a seguir.

Com um desgostoso sabor de derrota em sua boca - algo amargo e repugnante - e a fúria a tentando, ela saiu. Contudo não bateu a porta, tampouco fora descortês com a secretária, apenas estava terrivelmente irritada. Bufou, grunhiu e quis gritar, mas se limitou a batucar o piso do elevador.


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Notas finais do capítulo

É isso.
Espero que tenham gostado do capítulo, qualquer coisa, de novo, é só falar no comentário, tanto pra me deixar mais feliz, quanto pra me apontar erros ou coisas pra melhorar.
Aliás, digam se vocês gostaram dessa forma com bastante dialogo, porque estou pensando em fazer muitas interações entre os personagens.
No mais, é isso, até o próximo capítulo :)



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