Cyberpunk 2127 - Interativa escrita por Lord White Walker


Capítulo 4
Reclusos e a Confiança Cega


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem pessoal.



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————— ——— Cidade Alta, Nova Iorque

—— —— Belladonna Castellano —— Skyward

—————— 6/12/2127

 

Já era noite quando chegou numa das maiores construções de Nova Iorque, o prédio Skyward. Agora, uma imponente construção com mais de mil e quinhentos metros de altura, o Skyward só perdia em altura para a Torre, uma enorme construção - um enorme conjunto habitacional na realidade - que facilmente batia os dois mil metros de altura, o Skyward era, ao menos em seus andares superiores, uma torre para entretenimento e o High Sky era o salão especial para a alta classe de Nova Iorque.

O elevador subiu rápido e suas portas se abriram num relativamente largo corredor, o lugar era escuro com grande parte daquele andar era naquelas horas, e só havia um caminho, para frente, que levava à uma porta guardada por dois brutamontes claramente aprimorados vestidos em elegantes trajes pretos. Seguiu reto. Seus passos eram confiantes e só eram abafados pela música que tocava baixinho. Nenhum segurança a impediu.

Abriu a porta e o que viu foi algo no mínimo corriqueiro. Uma enorme balada, era isso o que High Sky era, e apesar de desgostar do ambiente haviam certas particularidades de uma balada. Em festas sempre haviam pessoas interessantes. Fez seu caminho primeiro ao bartender, era sempre importante uma bebida. Pegou um copo de rum e subiu para a espécie de camarote logo acima do bar. De lá de cima ela olhou toda a festa e se sentiu um pouco decepcionada.

Se olhasse para baixo, veria na pista de dança azul claro algumas dezenas de pessoas dançando, a maioria jovens filhos de pessoas ricas apenas aproveitando a vida ao som de boa música do século passado. Era escuro, barulhento, mal iluminado e havia a fumaça daquelas malditas máquinas. Sentiu-se um pouco deslocada olhando para a pista de dança então seu olhar foi para a enorme varanda que possuía uma piscina de tamanho considerável, porém coberta por algum espesso acrílico e sustentada por uma enorme armação de aço, uma pena, pensou, seria tão emocionante um mergulho numa balada. Ao menos a iluminação na água era bonita, um azul brilhante um tanto hipnotizante. Decidiu que ali seria um lugar melhor para se ficar, de qualquer jeito não havia nenhum Titã ali dentro.

Desceu e atravessou a pista, assim como as portas para a varanda, lá o som não era tão alto e não havia tantas pessoas, apenas alguns casais que se devoravam em lugares suficientemente escuros, olhou para o piso, seria o melhor a se fazer, e reparou que até mesmo o piso era de alta classe, feita de madeira de qualidade e impermeada, mentalmente fez uma nota para voltar ali. Até que, ao olhar para frente algo dentro de si sacudiu e ela estremeceu. Ali estava o Titã, alto, talvez mais alto que Niklaus, e estava fumando algo, um cigarro ou talvez fosse um charuto; completamente distraído.

Parou ao seu lado e pegou um cigarro quase que naturalmente.

— Tem fogo? — sua pergunta saiu como esperado, casual.

O homem era alto, incrivelmente alto e loiro, e teve de olhar para baixo para poder enxergá-la. Colocou uma mão no bolso da calça e tirou um isqueiro e acendeu a pequena chama pouco abaixo do cigarro dela que imediatamente tragou um pouco da droga.

— É uma surpresa ver Belladonna Castellano aqui — ele murmurou, sua voz era grave e um pouco rouca. Atraente. E estava tragando o que se revelou sendo um charuto.

— Mentiroso — ela murmurou e viu ele arquear uma sobrancelha. — Você sabia que eu viria.

— Sabia que alguém viria — retrucou o loiro. — Não você.

Ela o fitou e o julgou algo quase indecifrável, Titãs tinham essa mania que ela desaprovava profundamente.

— Dizem que você é uma mulher alta — murmurou num tom que talvez exprimia certa zombaria.

— Sou relativamente alta — afirmou, quase inflando o peito. Sua altura fazia parte de seu orgulho. — Você que é um Titã — brincou, mas ele apenas fez uma careta e fumou um pouco.

— Como sabia que era eu? — ele perguntou.

— Tenho mesmo que dizer? — ela rebateu e ele fez o meneio para que prosseguisse. Suspirou. — Acho que vocês, Titãs, não tem consciência da presença que impõem.

— Somos assustadores?

— São diferentes. Veja você mesmo — apontou. — Tem tantos aprimoramentos aparentes que não me surpreenderia caso tivesse outra coisa aprimorada.

— Isso é bastante direto — ele riu ao entender o que pensou ser uma piada.

— Resta saber onde você conseguiu essa cor de cabelo — apontou novamente para os cabelos loiros prateados do enorme homem ao seu lado, que bagunçou a cabeleira dançando com o vento. Era bonito ela admitiu internamente.

— Eles são quase naturais — murmurou e ainda assim a dúvida persistiu no rosto dela. — Sódio tem a propriedade de clarear o cabelo. Achei que vocês, mulheres, já soubessem disso.

— Não existem muitos shampoos a base de sódio.

— Não use shampoo.

— E destruir meu cabelo com sabonete? — debochou numa risada. — Nunca.

O loiro levou o charuto à boca e passou a olhar para a paisagem, para os prédios abaixo e a mistura de luzes que apesar de tudo era, de alguma forma, atraente e um bocado aconchegante.

— Eu gosto desse lugar — o loiro murmurou

— Do que especificamente? — ela também murmurou. — Da vista ou de High Sky?

— Da vista — ele respondeu rapidamente. — Tem uma certa beleza particular.

— Bem, cada um tem seu próprio gosto — Donna falou após alguns segundos de um silêncio quase confortável, observando a cidade como o Titã. — Mas não nego essa “beleza particular”.

Algum tempo se passou, minutos talvez, enquanto permaneceram ali, recebendo o vento gélido e noturno de Nova Iorque. Seus cabelos esvoaçavam, também eram loiros mas visivelmente diferentes dos do Titã.

— Vou precisar de alguém que saiba lidar com hacking — ele murmurou.

— Hacking? — repetiu para si mesma. — Por que acha que eu conheço alguém assim?

— Porque você é Belladonna Castellano — ele respondeu sorrindo. — Mas não irei pedir só isso, não se preocupe, eu irei usar bastante você.

— Isso pode ter bastante interpretações — murmurou.

— Você se importa com elas? — em resposta ela deu de ombros e ele sorriu. — Eu preciso de alguém que saiba como lidar com hacking apenas por precaução. Duas ou três pessoas estaria ótimo.

— Como irei falar com você?

— Use esse número — ele se virou e entregou para ela um cartão preto com números dourados. Esmagou a chama do charuto num cinzeiro ali perto e passou a andar para dentro da construção. — Seja rápida.

— Espere! — ela o puxou pelo braço e sentiu que eram mecânicos; ainda com o cartão em mãos. — Ao menos diga seu nome. Acho que me deve isso.

Era uma mulher elegante, o loiro concluiu após alguns momentos a analisando. Bonita e charmosa, pensou com o olhar quase suplicante de Donna o perfurando. Suspirou e se desvencilhou das mãos da loira.

O loiro grunhiu de cabeça baixa, para rápidamente levantá-la.

— Titã — falou. — Apenas me chame de Titã.

 

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————— Próximo da órbita de Marte

——————— Capitão E. Drakovich ———— Imperivm

—————— ————— 6/12/2127

 

Marte era um gigante avermelhado daquela distância. A Imperivm estava ancorada numa das docas da estação russa que orbitava o planeta vermelho, pronta para zarpar e se necessário para um ataque. E era a ameaça quase iminente de um ataque que o preocupava agora.

Erik estava preocupado, indo de um lado ao outro da sala, olhos atentos na janela com vista para Marte e um milhar de preocupações faziam peso em seus ombros. Um olhar sombrio e pesaroso havia se formado nas últimas duas horas, quando recebera a mensagem do Almirante Brivich. E agora esperava uma nova mensagem.

— Senhor — alguém o chamou. Virou-se e analisou a mulher que fazia uma contingência. Descansar, foi o que seu olhar disse — Recebemos uma mensagem, senhor.

— Brivich? — perguntou esperançoso.

— Não, senhor — a mulher respondeu prontamente. — Esperava alguma mensagem do almirante?

— Esqueça — resmungou e tinha certeza de que ela faria. — O que diz?

— Um contato de Reznov — iniciou, e não precisou pedir para que ela continuasse. — Um espião do Czar, identificado como Vermelho. Disse que Marte está comprometida.

Uma sensação amarga tomou conta de sua boca. Amargo e repugnante. Suspirou pesarosamente.

— Não está errado.

— Perdão, senhor?

— Não está errado — repetiu, mais rígido, sua voz tomando um tom imperioso de fúria. — Brivich já havia me dito. Pretendem algo, uma revolução talvez.

— Se me permite, que tipo de revolução acha que eles planejam? — ela perguntou timidamente e quase teve vontade de sorrir, mas se deteve.

— Lembra-se de suas aulas de história, garota? — ela assentiu. — Lembra-se das independências nas Américas? Pois acho que é isto que Marte deseja. Analisando agora, não é um de revolução, mas sim uma revolta. Uma rebelião.

— Por quê? — ela sussurrou. — São praticamente livres para fazerem o que bem entenderem.

— Acho que é mais uma independência simbólica — contou, caminhando até sua mesa e pegando um globo. — Uma forma de dizer que superaram seus colonizadores ao derrotá-los, já que nós, quer queiramos ou não, influenciamos muito neles.

— Uma desculpa bastante fajuta, senhor — deu de ombros e reposicionou o globo na mesa, em uma mapa do sistema solar.

— Já matamos por menos, garota — ela assentiu, não que realmente tivesse entendido. — De qualquer jeito, o lado que ganhar irá dominar o perdedor e escrever a história como bem entender, dizendo o quão nobre sua causa era após muito tempo ponderando o que mais seria aceito ou o que menos seria odiado. É isto o que vejo.

— E de qual lado estamos, senhor?

— Ainda somos homens e mulheres leais à coroa — afirmou, havia laços de sangue entre Drakovich e o Czar Magnus. E laços de sangue nunca são traídos. — Quero ver a Imperivm zarpando em duas horas. Dê o sinal amarelo, prepare as armas e diga que estamos sob ameaça de conflito.

— Para onde iremos, senhor?

— Terra — por um momento suas preocupações se foram e tudo o que passou em sua cabeça era o agora e a guerra que estava por vir. — Eles devem estar prontos para o que está por vir.

— E o que está por vir, senhor?

— Morte, garota. Nós todos veremos a morte.

Mentalmente aprovou seu pequeno discurso enquanto a mulher se retirava de sua sala. Olhou para a mesa. O mapa do sistema era completamente digital e se comportava em tempo real. Tocou na mesa e o mapa se transformou em um esquema de três dimensões, quando um ruído incessante começou.

— Drakovich?

— Almirante — respondeu. — Já temos um curso.

— Ótimo — Brivich falou e teve certeza de que ele sorria. — Acabei de ter uma conferência com alguns líderes da FAUNT, disseram que já iniciaram um trabalho contra Marte.

— Que tipo?

— Roubar algo. Uma arma.

— E como farão isso?

— Há um Titã — Brivich falou e imediatamente captou seu interesse. Esperou silenciosamente para que o almirante continuasse. — Estava em repouso. Pelo que soube recebeu aprimoramentos recentes da Pikus, mas isto não vem ao caso. Se quer mais detalhes dele, estarei te enviando um relatório. De qualquer maneira, este Titã estava em repouso.

— Presumo que acionaram ele.

— Sim — ele respondeu. — Ele irá pegar essa arma.

— E quem está apoiando?

— ECCO, a própria Pikus, VEGA e alguns outros. Soube que até mesmo Anthon Stone está envolvido.

— Anthon Stone — repetiu. — Um nome de peso. Como sabe disso tudo?

— Temos que ter olhos e ouvidos em todos os lugares — falou com um ar de riso. — Você também deveria, Drakovich. Ter ligações com o Czar já lhe ajudam bastante, mas você precisa de informação em primeira mão se quiser sobreviver neste nosso mundo.

— Eu confio em Magnus — retrucou, estufando o peito.

— Tem certeza? — Brivich quis confirmar. — Não duvidaria dele ter conhecimento de nossa conversa de agora.

— Que assim seja.

— Me decepciona essa sua confiança cega num único homem — suspirou. — Esteja com suas armas prontas, quando partir. Não tenho um bom pressentimento dos próximos dias.

— Tampouco eu. Drakovich desligando.


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Notas finais do capítulo

Bem, esse é o último capítulo que vou postar até que mais fichas de personagem apareçam, já que, sem personagens, a história não anda.
Então se você gostou da história e quer que ela continue, manda uma ficha e deixa um comentário também, falando o que você gostou ou o que acha que pode ser melhorado.
É isso, até mais! (eu acho)



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