Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 7
Estranhamente casual


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. pessoas! Beijos!



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—Leia com atenção o regulamento interno da Universidade. – Uma mulher mal humorada me entregou uma apostila. –Assine e me entregue.

—Agora?

A pergunta honesta a fez respirar profundamente. –Não costumo esperar mais que dois minutos para ter esses papéis assinados. – Frisou.

—Desculpe, mas não costumo assinar o que não li. – Peguei a apostila, me preparando para deixar a sala.

—Onde pensa que vai? – A mulher também se levantou, em abrupto.

—Vou ler esses papéis, com calma, e já te devolvo.

Deixei a sala antes que ela ousasse me prender. Distraída, guardei os papéis cheios de burocracia, e andei sem muito pensar para onde estava indo. Foi assim que cheguei ao meu novo quarto, pela terceira vez naquele dia estranho.

—Isso está ficando ridículo.

Desisti de girar a maçaneta e abrir a porta. Era típico de alguém deslocada e sem amigos se refugiar em um quarto nada familiar. No entanto, o quarto de número 156 era o meu novo endereço, e, querendo ou não, ele era meu único refúgio.

—Preciso mesmo assinar esses benditos papéis!

Foi a desculpa que dei para voltar ao quarto, entretanto, minha decisão fora interrompida por um grupo de meninas e meninos que invadiram o corredor dos dormitórios aos cochichos. Entre risos e abraços eles se organizavam para invadir os quartos, como se já estivessem combinados.

—Isso é normal por aqui. – Uma garota loira, alta, de olhos incrivelmente azuis, ficara ao meu lado, observando os casais alvoroçados. –Desde que ninguém nos surpreenda. – Ela sorriu e estendeu a mão. –Sou Jane.

—Stella. – Fiz o mesmo para cumprimentá-la.  

—Você pode trazer seu namorado para cá, mas tem que tomar muito cuidado. Se te pegarem é suspensão na certa! Você é bolsista?

—Cem por cento.

—Minha nossa! Você está oficialmente condenada! Não terá liberdade para nada, já que não vai querer perder a bolsa, certo? – Nada falei. –Somos colegas de quarto. – Ela abriu a porta e me convidou a entrar. –Eu queria ter ficado com o lado da janela! – Decepcionou-se.

—Ele é todo seu. – Dei de ombros.

—Valeu! – Pulou enquanto batia palmas. Seu jeito era muito peculiar, desde o comportamento agitado e, aparentemente, liberal, à roupas descoladas e maquiagem forte. –De onde você é, Stella?

—Do Brooklin.

—Do Brooklin? Deveria ter ido para uma Universidade longe, evitaria a sua família vir para cá todo fim de semana.

—Eles se mudaram para a Califórnia.

—Se deu bem, garota! Família longe, liberdade escancarada! – Comemorou arrancando o vestido nada discreto. –Estou na faculdade de Advocacia. E você?

—Engenharia.

Jane parou o que fazia. Ela estava, absolutamente, chocada com a minha resposta.

—Desculpe, mas isso não tem nada a ver com você.

Eu poderia também julgá-la, no entanto, seria uma grande ofensa associar moda a seu visual exagerado. Para uma futura advogada, ela sofreria com os típicos olhares conservadores à profissão exigente.

—Já conheceu a lanchonete?

—Ainda não.

—Parece ótima! Vamos comprar refrigerantes.

—Eu... – Minha mala ainda estava ao lado da cama, aguardando a dona desatualizada desfazê-la. –Estou morrendo de fome!

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Jane não era uma companhia ruim, mas também não era o tipo de pessoa que você quer está ao lado mais de trinta minutos; a não ser que a vítima de sua conversa adorasse falar sobre roupas, sapatos, e garotos.

—Como uma garota de New York se veste como se estivesse indo à feira? Sem ofensa.

Minhas roupas eram seu alvo. –Eu sei que você está esperando mais uma resposta clichê de que não ligo para as roupas que visto, mas a verdade é que ligo. – Dei uma boa mordida no sanduíche. –Eu queria poder gastar oitenta por cento do que ganho, às vezes, com roupas, como toda garota, entretanto, minha consciência não permite.

—Quem liga para a consciência? – Ela riu.

—Ligaria se você tivesse uma mãe batalhadora como a minha. Sem ofensa.

Jane sorriu constrangida. Ela estava começando a perceber que sua conversa sem filtro começava a me incomodar. Eu poderia ser tão insuportável quanto ela.

—Parece que você tem uma vida difícil.

Fora a coisa mais sensata e inteligente que ela dissera.

—Não. Só não tive sorte.

Jane refletiu. –Meus pais acham que dinheiro não tem nada a ver com sorte.

—No meu caso tem, acredite. – Perdi a fome. –Vou andar um pouco. Preciso espairecer.

Levantei afastando a cadeira. Quando estava prestes a deixar a lanchonete, uma garota despertou minha atenção. Era como está vendo Regina George sendo aclamada por seus seguidores.

—Eu já deveria saber que uma garota dessas iria cair de pára-quedas aqui. – Assisti o tumulto. –Vamos lá! Fale um pouco sobre a senhorita Barbie. – Voltei a sentar.

—O nome dela é Stephany, mas ela gosta de ser chamada de Stephany Griffin.

Aquele maldito sobrenome estava mais uma vez atormentando-me.

—Griffin... – Murmurei, aturdida. Inegavelmente paralisei. –Ela... – Respirei pausadamente, sem tirar os olhos da garota extremamente assediada. –Algum parentesco com a famosa família Griffin da Rua Hamilton?

—Sim. Ela é enteada dele.

Não quis demonstrar ansiedade, mas, na verdade, me bateu uma terrível vontade de saber tudo sobre àquela garota.

—Então, o tal Griffin não tem filhos legítimos? Pelo que sei, ele tem outro enteado.

—Ah! O irmão da Stephany! – Jane derreteu-se na cadeira. –De vez em quando ele vem aqui. Arranca suspiros por toda a Universidade. – Disse alto. –Uma vez fingi que estava passando mal só para ele me dá uma carona. Não rolou! Ele disse que sabia que Eu não estava precisando de ajuda.

—Como ele descobriu?

—Cheirei o pescoço dele descuidadamente. – Ela suspirou alto. –Cheguei a pensar que ele seria gay, mas o cara namora uma garota sem graça há um ano e meio.

—Você me parece muito bem informada sobre essas pessoas.

—É a lei da popularidade. Sempre esteja informada sobre pessoas influentes. Eu morreria se tivesse que viver um dia da minha existência sem saber nada sobre elas!

Jane continuou de olhar fixo na garota há cem metros de nós. Enquanto minha colega de quarto ressaltava a exuberância do vestido de Stephany Griffin, popularmente conhecida, Eu, no entanto, estava aprofundada ao fato de que, meu suposto pai biológico, era um homem não só respeitado, mas, aparentemente, endeusado por seus enteados.

—Ela não parece ser uma garota ruim, mas, com certeza, mimada e convencida. – Joguei a mochila nas costas. –Vou preencher esses papéis.

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De nada me serviu a calmaria do jardim no preenchimento dos papéis. Depois de um ponto de interrogação e um ponto de continuação, desisti da leitura minuciosa e pus minha assinatura selando por completo meus regulares compromissos.
Nada roubaria minha atenção, pois Griffin e seus enteados já haviam ocupado todo espaço da minha mente. Eram várias perguntas me flechando e um único sentimento me despindo: raiva. Ela estava me incomodando severamente e Eu não estava sabendo manipulá-la, sequer existia um motivo palpável para tal coisa. Poderia sim, de fato, existir não só um, porém vários motivos para a minha súbita ira, mas todos eles, diante de uma afetiva realidade, pareciam vagos. Escancaradamente, senti ciúme de uma relação que não me pertencia.

—Isso não poderia ficar mais interessante! – Falei a mim mesma, impacientemente decidida a levantar e marchar à sala do Reitor. –Não só tenho que guardar essa droga de segredo, como tenho que fingir que não sei nada a respeito sobre Stephany Griffin. – Bufei de raiva, acelerando os passos. –O que vai acontecer agora? – Observei o céu. –É melhor Eu nem perguntar! Com toda essa sorte que estou tendo, é bem possível que caia um meteoro na minha cabeça bagunçada!

Um meteoro seria um exagero, mas não escapei de tombar perigosamente com alguém de frente.

—Droga! – Inevitavelmente caí de bunda no chão. –Você não olha por onde anda?

Foi a primeira coisa que falei, coberta de raiva, antes de encarar o causador da minha queda. Surpreendentemente, observei a mão estendida para mim, para depois, então, olhar com atenção o rosto sério do homem a minha frente. Instantaneamente me senti nervosa, como uma garota que acabara de completar os tão sonhados quinze anos, afinal, nunca havia acontecido de alguém, como aquele homem de aparência perfeita, me derrubar casualmente.

—Estou bem. – Educadamente aceitei sua ajuda. –Obrigada. –Estranhamente me vi tímida e rubra.

—Não há de que. – Dissera mantendo a seriedade. Sua voz calma, embora muito sexy, impactou, mais uma vez, meu autocontrole. –É uma combinação desastrosa andar rápido, sem atenção alguma, enquanto é possuída pela raiva. Seja mais atenta ao andar por aí.

—Como é? – Em um estalo, toda a admiração por aquele gentil cavalheiro tinha sumido, juntamente com a cordialidade dele. –Se Eu soubesse que um idiota esbarraria em mim teria mudado minha rota. –Joguei a mochila nas costas.

—Provavelmente se você tivesse mudado sua rota, não teria esbarrado em uma pessoa, mas em um ônibus em alta velocidade. – Rebateu, calmamente.

—De repente um ônibus em alta velocidade contra o meu corpo seria a solução dos meus problemas, senhor incrivelmente perfeito! – Ironizei, lhe dando as costas. –Babaca!  - Sussurrei.

—Sou Bryan Griffin, senhorita Stella! – Fui rendida, automaticamente, por seu disparate. –A Universidade de New York está perdendo credibilidade. É surreal que uma ladra de mansões se instale aqui com honrarias. – Paralisada fiquei, sem conseguir mexer um músculo. –Só quero esclarecer uma coisa. – Meu coração bateu forte quando ele se aproximou de mim, e falou baixinho, no meu ouvido: –Se dependesse de mim você ainda estaria atrás das grades! – Virei bruscamente para ele, oscilando. Encaramo-nos como velhos inimigos.

—Mas, não dependeu de você, então guarde para si toda essa arrogância. – O enfrentei. –Eu também tenho algo a lhe dizer. – Ele olhava-me intensamente. –Eu deveria ter deixado você se ferrar naquela noite! – Ele não negou desconforto. –Ao contrário de você, ninguém me obrigou a fazer o que era certo. – Dei-lhe as costas. –Babaca! – Não sussurrei, falei alto para que o mundo me escutasse.


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