Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 6
Mais que óbvio!


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. gente! Muitas emoções por aí! Beijos!



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O plano de mudança da senhora Johnson estava a todo vapor. Um dia depois de nossa última conversa, minha mãe decidiu acabar com o suspense, e por fim, resolveu categoricamente se mudar de New York. Para não contrariá-la, e na minha posição não era prudente, aceitei fazer as malas, mesmo sabendo que Kimberly Evans estava fugindo! Sim, estava cada vez mais nítido. Ainda que ela negasse, seus motivos seriam supérfluos. Havia muito mais naquela súbita mudança que o medo de meus supostos ‘amigos’.

—Eu sempre quis voltar para a Califórnia, mas a mãe de vocês nunca interagiu positivamente com a idéia. – Meu pai transbordava em felicidade. –Vocês irão adorar as praias, sem falar que...

Os observei. Todos pareciam muito animados, especialmente meu pai, por que estava finalmente voltando para a terra natal. Minha mãe também estava animada, no entanto, senti como se ela estivesse tirando um grande peso das costas. Sua aparência era realmente de serenidade.

—Por que tardei tanto a tomar essa decisão? – Indagou minha mãe, fechando mais uma caixa. –Vai ser ótimo para todos essa mudança.

Poderia ser, mas Eu não estava satisfeita. Sair de New York seria uma tarefa muito difícil para mim, principalmente no quesito social. Fazer novos amigos não me era fácil e a dificuldade aumentava quando tudo se tornava ainda mais complexo.

—Vou sentir saudades da Brigitte. – Falei, em voz alta.

—A Brigitte vai poder visitá-la sempre que quiser. – Disse minha mãe.

—Provavelmente minha amizade com a Brigitte será esquecida como muitas outras. – Previ o óbvio. –Acha mesmo que alguém que mora em New York visitaria a Califórnia sempre que quisesse? – Sentei no sofá, ignorando a bagunça de coisas. –Eu quero mesmo ser positiva, mas está sendo muito difícil.

Houve silêncio entre nós.

—A idéia de morar em outro estado parece radical, no entanto... – Os argumentos da minha mãe começaram a falhar. –É necessário.

—Não para mim. – Não me acovardei a revelar minha oposição. –Tenho capacidade de me virar sozinha.

—Está insinuando que quer ficar?

Diante da pergunta intimidadora da minha mãe, me encolhi frustramente. Era um desafio e tanto morar só, no entanto, em algum momento da vida aquele esperado dia chegaria.

—Mãe...

—Não há a menor possibilidade de Eu deixá-la aqui! – A senhora Johnson estava mais inflexível que nunca. –Como vai se sustentar?

Eu não tinha um plano para minha vida, como sempre, mas pensei em algo que realmente me livraria das garras da minha mãe.

—Vou entrar na Universidade de New York.

Não só minha mãe ficara chocada, Petter também se mostrou estupefato.

—Você... – Minha mãe deu um longo suspiro. –Stella... você...

—Estive pensando e acho que é o melhor para mim. – Enfatizei sabendo que faltava pouco para a senhora Johnson se render. –Vou conseguir uma bolsa. Tenho notas para isso, além de uma ótima reputação acadêmica. – Disso, meus pais não tinham a menor dúvida. –E aí? Vai me deixar ficar?

Minha mãe, depois de horas trancada no próprio mundinho conservador, se viu sorridente e otimista. Eufórica, ela não rejeitou o impulso de um abraço apertado em sua primogênita. Como poderia não se orgulhar? Finalmente ela poderia dormir tranqüila sabendo que meu futuro seria diferente do seu.

—Amanhã mesmo iremos à Universidade. Quero falar com o Reitor pessoalmente. Claro, Eu ficaria mais feliz se você estudasse na Columbia University, mas isso não importa. Você estará em uma ótima universidade!

—Mal posso esperar. – Meu plano de fuga fugiria do meu controle. Não tinha mais volta.

—Temos que fazer um blinde! – Petter foi à geladeira. –Temos um pouco de vinho! – Comemorou providenciando copos.

—O que tem mente? Aposto que está relacionado a direito ou matemática, talvez.

Falei à primeira coisa que me veio à mente: –Engenharia Civil e Urbana.

Minha mãe não escondeu a falta de entusiasmo. –Engenharia Civil e... Urbana? – Perguntou. –Por que isso?

Por que, ao ser encurralada, ligeiramente olhei nossa janela aberta, avistando uma construção qualquer há quinhentos metros.

—Acho interessante. – Não era uma resposta a ser dada para alguém como Kimberly Evans. Ela sondaria meu interesse abrupto e teria certeza de que Eu não estava levando nada a sério. –Não sei o porquê ainda, mas... é o que desperta meu interesse. – Dei de ombros.

Minha mãe olhava-me sem saber o que comentar. Sua reação foi observar o marido.

—Isso não importa! – Petter abriu a garrafa. –Temos que fazer um blinde! Nosso país ganhará uma grande engenheira!

—________________ᵜᵜᵜ________________

Como o prometido, minha mãe me levou à Universidade de New York pontualmente às oito horas da manhã. Ela não só me obrigou a escovar os cabelos, como também arrumou um vestido blazer, de cumprimento até os joelhos, sem decote. Foi como está na pele de uma garota pronta para ser devota de uma seita acadêmica.

—Faz muito tempo, Kimberly!

—Exatamente dezoito anos!

Assisti as saudações entre o reitor George e a ex-aluna exemplar.

—O que fizera todo esse tempo? Imagino que tenha se tornado uma excelente advogada.

—Minha vida ganhou um rumo muito diferente do que Eu pretendia. – Observei minha mãe. Aquela conversa não poderia está mais interessante. –De fato, perdi o interesse em direito e... me aventurei na vida. – Ela estava incomodada. –Fiz alguns cursos, mas nada comparado à faculdade.

O reitor George parecia não acreditar que a melhor aluna do campus, dezoito anos atrás, tinha desistido de tudo que conquistara com mérito.

—Eu estava numa situação complicada naquela época, por isso achei mais lógico me juntar ao Petter e investir na loja de conveniências. Foram dois anos muito trabalhados... Conseguimos juntar dinheiro, porém... Algo deu errado.

E fora aí que ela começou a trabalhar para valer, se esquecendo do tão sonhado diploma.

—É uma pena. – George pigarreou. –Agora, vamos falar sobre a Stella. – Disse entusiasmado. –Um currículo impecável! – Revelou analisando minha história de vida no ensino médio. –Com certeza um exame de conhecimento não será um obstáculo para ela. – Sorriu fechando a pasta.

—Como sabe, estou me mudando para a Califórnia. Gostaria que ela tivesse uma resposta o mais rápido possível.

—Podemos fazer o teste agora mesmo. – Disse sabendo que Eu tiraria uma boa nota. –Normalmente não costumo avaliar as pessoas com tanta pressa, mas Stella é uma exceção. – Graças à popularidade de Kimberly Evans. –Está pronta para o teste?

—Vai ser moleza! – Respondi arrancando risos do reitor que transbordava em simpatia.

Enquanto aguardávamos o resultado do exame, ficamos a observar cada detalhe ao nosso redor. Para minha mãe, era como ter voltado ao tempo. Fora ali que ela vivera seus melhores e piores momentos.

—Você tinha uma popularidade incrível. Como pôde jogar tanto esforço e dedicação no lixo?

Minha mãe não se intimidou com a pergunta. –Eu me apaixonei. – Ela nunca me dera uma resposta tão clara. –As pessoas cometem erros quando estão cegas pela paixão.

—Você nunca me disse algo parecido.

—Já está na hora de você saber. Além do mais, não há nada de novidade em histórias como a minha. – Ela foi à janela entreaberta. Focou nos alunos embaixo. –Enfim, isso foi há muito tempo. – Virou-se para mim e começou a arrumar meu cabelo. –Você morará aqui. Sentirá falta da sua família?

—Mas é claro que sim! – Sorrimos entristecidas. –Está aqui me dá um pouco de medo.

—Isso é normal, eu também me senti um peixe fora d’água. – Rimos juntas. –Mas, você logo se achará. É uma garota gentil e prestativa. Fará bons amigos, tenho certeza disso! – Eu não estava tão certa. –Escute, Stella. – Sua seriedade me atingiu. –Sei que o mundo se torna um parque de diversões quando se tem sua idade, mas, por favor, esteja muito ciente dos seus atos.

—Não se preocupe.

Preocupação para a minha mãe não lhe faltaria. Ela sabia que a universidade não era um convento.

—O reitor está demorando. Estou ficando nervosa agora. – Confessou minha mãe, um tanto apreensiva.

—Desculpem a demora. – O reitor surgiu nos deixando ainda mais ansiosas. –Um aluno novo foi flagrado urinando na mochila do colega, mas isso não vem ao caso. – Ele indicou as cadeiras para nos sentarmos. –Eu não esperava outro desempenho de sua filha, Kimberly. – Elogiou.

—Então...? – Minha mãe uniu as mãos tamanha era sua ansiedade.

O reitor George fizera uma cara de suspense. –Quando pretende ocupar o seu quarto?

—Aaahhhh!!!!

Kimberly Evans, tão cheia de seriedade, não se agüentou e gritou promovendo mais um abraço em sua filha assustada.

—Amanhã ela se mudará para cá! – Decidiu minha mãe. –Estou tão feliz! – Sorriu escancaradamente. –É meio louco por que também me sinto apreensiva.

—Não se preocupe, Kimberly. Eu mesmo vou me encarregar de mantê-la informada sobre a Stella.

—Isso me deixa mais tranqüila!

Universidades normalmente inspiravam liberdade, mas no meu caso, a liberdade viria acompanhada da desconfiança. Embora o reitor me visse como uma promessa acadêmica, assim como minha mãe fora, ele não iria ignorar o fato de que, assim como qualquer outro adolescente, Eu também estava propensa a me meter em enrascadas.  

—________________ᵜᵜᵜ__________________

Ignorando tantas informações a respeito do novo rumo da minha vida, continuei organizando meus pertences. O quarto já estava quase vazio.

—Posso entrar?

Dei de cara com Brigitte. –Claro que sim! Senti sua falta!

Abraçamo-nos e covardemente choramos.

—Não temos por que chorar! Olha para você, Stella! Se livrou de uma tremenda enrascada e está indo para a Universidade de New York!

—Ah! – Suspirei um tanto confusa. –Foi por impulso.

—É o seu destino, garota! Você deveria está feliz.

—Não é ruim, no entanto... Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. – Era angustiante senti tantos sentimentos de uma única vez. –Eu me sinto pronta para sair daqui, mas... Por que tenho a sensação de que está faltando algo?

—Como assim?

Brigitte não entenderia, nem mesmo Eu saberia descrever minhas angústias. Aparentemente, minha vida se tornaria fabulosa, na visão de qualquer jovem.

—Deve ser a TPM. – Dei de ombros. –Tem notícia do Luke?

—Sumiu do mapa, por enquanto. – Brigitte estava aliviada. –Essa mudança te fará bem. Não terá mais que cruzar com aquele problemático.

—Uh. – Luke não me importava. –Fui à empresa Griffin.

—A casa que invadimos é dessa gente, certo? – Balancei a cabeça, confirmando. –Teve coragem de ir lá?

—Esse homem foi o responsável por minha soltura. – Falei pensativa. –Minha mãe parece ter um vínculo de amizade com ele, mas... sinto que não é bem isso. – Era a primeira vez que Eu escancarava minhas avaliações sobre Evans e Griffin. –Minha mãe não enterraria todo o orgulho para ter ajuda de um velho amigo. Além do mais, o senhor Griffin proibiu qualquer pessoa com parentesco com a minha mãe de pisar os pés em sua empresa. Foi como se ele soubesse que Eu iria procurá-lo.

—Ainda está muito bolada com o que aconteceu.

—Você não consegue enxergar? – Brigitte estava longe de seguir meu raciocínio. –Não consigo pensar em outra coisa a não ser a possibilidade do senhor Griffin ser o meu... pai! – Minha amiga olhava-me estática. –Não há outra explicação! Tem que ser ele! É ele!

—Acalme-se. – Brigitte me obrigou a sentar. –Stella... isso é muito sério.

—Não estou brincando, Brigitte! – Comecei a andar em círculo. –Eu não queria aprofundar minhas vagas suspeitas, mas foi ficando cada vez mais óbvio! – Minha amiga ainda estava longe de acreditar em minha suspeita. –Só há um jeito de tirar essa história a limpo.

—Confrontando sua mãe?

—Não, ela não, mas o próprio Griffin!

 


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