Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 4
Destino


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. Beijos!



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Mantive meus olhos estremecidos no olhar ambicioso de Luke. Por um momento, cheguei a pensar que o mesmo mudaria de idéia em me deixar ir, mas Luke estava claramente ávido por algo incrivelmente excitante. Ele não perderia a oportunidade de treinar duas garotas metidas a espertas a se tornar um deles.

—Então... – Apertei a alça da mochila com força. O medo começava a me apavorar por dentro. Eu só tinha dezoito anos e poderia ir parar atrás das grades por invasão de propriedade, roubo e outras coisas que me tornariam uma péssima influência. Minha mãe nunca me perdoaria. Ela me esganaria antes mesmo de um juiz citar minha sentença.

—Sei que você está desesperada, Stella, mas... – Ele acariciou meu rosto. –Não a obriguei a nada. Você veio por livre e espontânea vontade. – Sorriu como sádico. –A tarefa é simples. – Olhara para a mansão há cem metros de nós. –Você entra, checa a casa e passa o sinal.

—E se tiver câmeras? – Perguntei aflita.

—Dá teu jeito! – Disse perdendo a paciência. –Agora vai! Tem uns caras te esperando no muro.

—Vou ter que pular aquele muro? – Apontei para a parede alta coberta de folhagens. –E se tiver cachorros? Oh, meu Deus! E se Eu dá de cara com um Pitbull enlouquecido?

—Não tem cachorros. Já checamos a área! – Olhou as horas. –Estamos perdendo tempo aqui!

—Vou com ela! – Brigitte correu para o meu lado. –É. Vou com ela! – Reforçou como se quisesse a todo custa se convencer.

—Tudo bem. – Deu de ombros. –Vão!

Demos passos tímidos. A nossa frente uma grande casa demonstrava-se desprotegida.

—Quando Eu saí da cadeia vou ser processada por te estrangular, Stella!

—Você acha mesmo que tínhamos outra saída?

—A culpa é sua por vir atrás de um psicopata! Olha o rolo que nos metemos! – Ela quase gritou. –Torça para que alguém não esteja nos esperando com uma doze engatilhada!

Revoltada, Brigitte correu, temendo ser flagrada por policiais. Tratei de imitá-la.

—Olha só o que temos aqui! Carne fresca!

Cinco rapazes nos cercaram.

—Já sabem o que vocês vieram fazer aqui?

Um garoto escalou o muro como um ninja habilidoso.

—Seremos as cobaias? – Indaguei debochada.

—Nem todo mundo se dá bem na vida, gata. – Dizendo isso, o homem me ergueu. –Levanta as mãos!

—Mas...

Sem tempo para questioná-lo, fiz o ordenado, e fui arrastada para cima.

—Não é nada fácil equilibrar novatos.

Meio desequilibrada, olhei o chão embaixo, e senti vertigem.

—Vamos acabar logo com isso! – Disse Brigitte, na mesma situação que Eu.

Habilmente fomos postas em terra firme. Já não fazia mais sentido ter medo de está invadindo uma propriedade privada, o fato de termos pulado um muro gigante e estarmos sã e salvas nos fez esquecer o imprevisível.

—A gente vai... – Falei virando para trás, mas os garotos habilidosos não estavam mais lá. –Faz sentido seguirmos sozinhas daqui. – Ironizei. –Brigitte... Eu... Quero te agradecer por você ter vindo.

—Eu queria dizer que não fiz isso por você, mas fiz. – Confessou brava.

—Obrigada.

—Não me agradeça, só paguei minha dívida com você.

—Não há dívidas entre amigas, há companheirismo e lealdade. – Sorri para ela, embora Brigitte demonstrasse antipatia. –Você fica aqui e Eu entro.

—Ficou louca?

—Reconheço que fiz besteira em vir para cá. Estou pagando meu erro. – Corri em direção à escada de mármore. –Vai ficar tudo bem. Não tem nenhum rico otário aqui!

Segui em frente ainda ouvindo o chamado de Brigitte. –Stella! Por favor...! Toma cuidado!

—Só preciso observar e acenar. Isso não é difícil!

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 Não sei ao certo quantas voltas era preciso dar para ter certeza de que a maior casa da rua Hamilton estava completamente vazia; bastaram alguns passos, algumas bisbilhotadas nas janelas, e um aceno rápido de mãos.

—Mandou bem! – Luke se aproximou, mantendo o sorriso escancarado.

—Essa é nossa deixa. – Juntei-me a Brigitte.

—Não vão pegar nada? – Indagou Luke. –Já imaginaram quantas jóias podem ter lá dentro?

Brigitte, por algum motivo fútil, se viu tentada a entrar. –Nunca vi um diamante de perto.

—É tentador, mas... – Segurei firme o braço da minha amiga embasbacada. –Temos que ir.

—Stella! Nunca mais vou ter outra oportunidade de ver um tesouro de perto! Já imaginou?

—Como é que é? Você perdeu a noção? Eu...

—Meninas! – Luke ficara entre nós. –Isso aqui não é um parque de diversão! – Assim como seus companheiros, Luke tirou um revólver de debaixo da camiseta larga. –Vamos às compras!

Ao vê-los andar em direção à porta me senti angustiada. De alguma forma, acabei me tornando parte deles.

—Você está mesmo em dúvida se quer fugir daqui? – Corri para o muro. Lá, procurei me agarrar aos galhos.

—Eu só queria ver como é! – Explicou Brigitte, agarrando-se aos galhos aparentemente frágeis. –Estou me sentindo uma fora da lei fodona!

—Guarde o entusiasmo para a prisão perpétua!

—Você é exagerada, Stella!

Não muito longe de onde estávamos, o barulho de um carro despertou nossa atenção. Cheguei a pensar que fosse um carro qualquer passando pela rua quieta, porém, uma freada brusca me fez temer nossas vidas. Alguém estava voltando para casa.

—Tem um carro em frente ao portão! – Brigitte se desesperou. –Vão pegar a gente!

Estiquei-me totalmente até conseguir avistar o carro luxuoso ainda parado.

—Seja lá quem for está correndo perigo! – Eu sabia que, àquela altura, todo o bando de Luke já estava preparado para receber um milionário despreocupado. –O que Eu faço?

—Vamos sair daqui!

Fugi dali era a coisa mais sensata a fazer naquela noite infernal, mas minha consciência falou mais alto que meus medos internos. Eu não queria, nem mesmo poderia, me permitir errar novamente. Aquela situação ia muito além de tudo que presenciei numa única hora. O perigo era papável.

—Foge daqui, Brigitte! – Praticamente me joguei no chão. –Anda! – Gritei fazendo-a se mover.

Stella! Stella!

Continuei correndo. A visão do portão automático se abrindo me causou mais pânico. Eu precisava deter aquele carro, a qualquer custo! Num impulso, quase involuntário, pulei na frente do veículo, fazendo-o frear bruscamente. O leve impacto me jogou no chão.

—Volte! – Levantei atordoada. –Precisa voltar agora mesmo! Sua casa está...!

Um homem, em passos cautelosos, surgiu na minha frente. Não consegui visualizar seu rosto devido à luminosidade dos faróis, embora ele conseguisse com clareza detalhar meu rosto.

—Quem é você?

A pergunta direta me fez refletir. –Você precisa sair daqui! Sua casa foi invadida!

Ele, instantaneamente, observou o alto da mansão. –Você não está aqui para me ajudar, certo?

Meu pulso fora agarrado com força.

—O que está fazendo? Solte-me! – Fui posta como um escudo. –Você não está entendendo! – Então, ele me forçou a entrar no carro. –Não sou um deles!

—É melhor você ficar quieta! – Havia uma arma em sua mão direita, talvez o tempo todo. –Você invadiu minha casa, vai ter que responder por isso de alguma forma!

Amedrontada, levantei as mãos, num impulso carregado de medo.

—Não é para mim que você tem que apontar essa droga! – Meu peito oscilava, como se Eu tivesse corrido uma maratona. –Eles estão...

—Não se preocupe. – Ironizou. –A polícia vai cuidar disso.

Quando tomei atitude de olhá-lo, o clarão de viaturas cegou minha intenção.

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—Eu não sei o que falaram para você, mas... seja lá o que tenham dito, o crime não compensa. Nunca. Jamais.

Aquele era mais um discurso estressante de uma delegada linha dura.

—Não sou uma criminosa.

—Está mesmo difícil acreditar em você, senhorita Stella. – Olhou intensamente nos meus olhos. –Ainda que tivesse uma justificativa sobre o dinheiro na sua mochila, o fato de você ter invadindo uma propriedade particular já significa muito. E não vamos nos esquecer de sua associação com ladrões de mansões. – Ela me encarava fixamente enquanto tomava bons goles de café. –De fato, houve uma ligação antes de você ser pega, e, obviamente, não foi você, mas trata-se de outra mulher. – Ela se inclinou na cadeira. –Quem era a outra garota?

Engoli a seco. Brigitte, provavelmente, ligara para a polícia no momento que decidi sabotar todo o plano.

—A senhora já ouviu minha versão dos fatos! – Desconversei. Ela batia com força o bico da caneta na folha rabiscada. –Só me pus nessa situação por que decidi ajudar ‘aquele’ homem! – Comecei a culpá-lo. –Cadê ele para relatar tudo o que aconteceu?

—Quer mesmo vê-lo? – A gargalhada dela fora estridente. –Querida, considere um louco acaso da vida ter dado de cara com o jovem...

—A mãe da garota está aqui. – Um policial a interrompeu.

—Mande-a entrar. Por enquanto, quero falar a sóis com a senhora Johnson.

Aguardei por meia hora a chegada da minha mãe em uma sala pequena, acompanhada de uma policial. Saber que ela estava lá foi como tirar trinta toneladas das costas. Eu sabia que seu olhar decepcionado me mataria dia após dias, porém, não desanimei vê-la.

—Pode entrar, senhora. Tem meia hora.

A porta se abriu e pude visualizar a silhueta marcante da minha mãe. Assim que seus olhos me alcançaram, corri para abraçá-la.

—Mãe... eu...!

Não pude concretizar meus pensamentos puros, levei uma bofetada antes mesmo de terminar uma única frase.

—Eu deveria...! – Ela fez gestos com as mãos, detendo-se para não me esganar na frente da policial. –Uma faculdade é inaceitável, mas se tornar uma ladra é honroso! –Depois de muito respirar, ofegante, minha mãe virou-se para mim, e encarou-me com inquietação. –Eu esperava um tipo de bobagem qualquer da sua parte, mas... isso foi... Nossa! – Ela puxou uma cadeira e se sentou. A cabeça estava baixa, quase entre as pernas. –A única coisa que consigo pensar é... Por que falhei tanto? Eu só queria vê-la bem instruída! Isso é querer demais para um filho?

—A culpa não é sua. – As emoções falharam. O que restaram das lágrimas era a dura realidade de não poder chorar mais. –Você não precisa está aqui.

—Oh, não? – Minha mãe sorriu doentia. –Assumi um compromisso de protegê-la desde o dia que a concebi. Então, não me venha dizer coisas das quais você não entende! – Ela se levantou, ajeitou o cabelo e tirou o pouco da maquiagem borrada. –Vou tirá-la dessa droga de lugar, mesmo que Eu tenha que enterrar meu orgulho por um único dia!

Soara como um desabafo, mas para mim fora como uma promessa incalculável.

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Eu realmente estava à espera de um julgamento e uma sentença que arruinaria toda minha juventude, porém, milagrosamente, minha mãe havia cumprido a promessa de me tirar da cadeia. Não sei o que ela fez, tampouco a quem ela recorreu, – mesmo que tivesse que enterrar seu orgulho, – mas Eu estava em liberdade. Por outro lado, as conseqüências dos meus atos só estavam começando a pesar na minha vida. Minha mãe fora categórica ao falar que nos mudaríamos de New York. Não me opus, aliás, mal falei desde o momento que recebi minha liberdade.

Stella.

Ouvi um sussurro preguiçoso. –O que faz acordada, Anna?

—Quero água.

Suspirei cansada. –Estou exausta...

—Por favor! O corredor é meio escuro.

Levantei sabendo que de nada adiantaria me opor. –Não demoro.

Fui à cozinha em passos lentos, quase arrastados. Não muito longe ouvi vozes. Meus pais conversavam calmamente.

—Ele vai mesmo remover todos os processos contra ‘ela’?

Parei e aguardei a resposta da minha mãe.

—‘Ele’ prometeu que o enteado fará isso. Você sabe... foi ‘ele’ que deu o flagrante na Stella. Todas as queixas partiram dele. – Minha mãe respirou fundo. –Nunca pensei que Eu voltaria a ver aquele homem para pedir que... – Ela parecia está inconformada. –Meu Deus! Ele continua o mesmo ser arrogante de antes!

—Não pense mais nisso. – Meu pai a consolou. –Parece até brincadeira do destino.

—O destino já brincou demais comigo! – Disse com a voz sobrecarregada de angústia. –Vamos dormir ou tentar pelo menos.

Voltei ao quarto às pressas para não ser vista. Minha irmã Anna já estava dormindo, por causa da minha demora.

—Minha mãe conhece as pessoas da casa que invadi? – Perguntei-me. –O que ela tem a ver com aquela gente?

 


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