Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 3
Trabalho sujo


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoas! Beijos!



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Sofrendo com uma terrível dor de cabeça, fui à janela entreaberta, e apreciei o sol das dez horas da manhã. O dia ensolarado me fez pensar em minha família e na diversão grupal ao longo do dia, apesar de tantas ironias.

—Eu sabia que ia te encontrar destruída! – Brigitte invadiu meu quarto. –Toma isso. – Jogou um vidrinho cheio de comprimidos para mim.

—O que é? – Indaguei desconfiada.

—É um levanta defunto. – Contou caindo sobre a minha cama desarrumada. –Tem algo para contar sobre ontem à noite? – Calei-me. –Vi você saindo da festa com o tal do Luke.

—Não aconteceu nada.

Levantei. Abri o vidro e engoli um comprimido.

—Ok! – Brigitte estava insaciável por detalhes. –Vai vê-lo de novo?

Foquei o rosto dela sem saber o que Eu deveria dizer. –Ainda não pensei sobre isso.

Ela respirou profundamente. –Sua mãe vai arrancar o seu coro quando esbarrar com um marginal à sua procura. – Dissera em tom de crítica.

—Não está acontecendo nada! Só rolou um beijo e isso foi tudo! – Quase gritei para que ela entendesse. –E quer saber? O Luke não é um cara ruim.

—Vai defendê-lo? Você nem o conhece!

—Você também não o conhece. – Vesti um blusão e um tênis. –Já parou para pensar que ele pode ser um cara legal, mesmo fazendo algumas idiotices?

—Conta outra! – Ela sorriu debochada. –O que tem para comer?

—Tem um pouco de tudo, menos coisas práticas.

—Adoraria comer ovos com bacon.

—Não vou cozinhar para você.

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Com a ausência total da minha família, tive plena privacidade para mexer nos pertences da minha mãe. Não houve um único lugar no quarto que meus dedos ágeis não tivesse bisbilhotado. Ao final de cada caixa vazia, a frustração se tornava mais nítida, tanto que acabei aceitando o fato de que minhas tentativas eram em vão. Eu nunca saberia o que aconteceu com minha mãe no passado.

—Você está mesmo distraída.

Um riso ligeiramente conhecido invadiu meus ouvidos. Assustada, virei bruscamente para trás, e dei de cara com Luke. Observei sua pose destemida, para depois focar no seu rosto expressivo. Ele parecia se divertir com meu espanto.

—C-como... – Respirei fundo e mantive a calma. –Como entrou aqui?

—Pela porta. – Respondeu sem rodeios.

—Há três trincos nela.

—Todos de péssima qualidade. Lembre seus pais de investir pesado na segurança. – Aconselhou entregando-me um papel. –Aluguel atrasado de novo?

—Você não pode ler correspondências dos outros! – Puxei o papel com agressividade da mão dele. –Vá embora! Não quero que os vizinhos te vejam aqui!

—Relaxa! Ninguém vai me enxergar se Eu não quiser.

—Você não é o homem invisível! – Praticamente o empurrei para fora do quarto dos meus pais. –Invadir a casa dos outros é crime! Eu poderia chamar a polícia.

—Faria isso contra um cavalheiro? – Perguntou ofendido. –Já provei que sou confiável.

—Não sou do tipo que confia nas pessoas facilmente. – Luke estreitou os olhos. –Você tem um minuto para sair ou... – Despreocupado, ele se sentou no sofá. –Você se drogou por acaso? Estou te expulsando!

Quando Eu estava pronta para gritar, Luke jogou dois maços de dinheiro sobre a mesa de centro. Não deu para esconder meu espanto, era a primeira vez que meus olhos castanhos observavam tantas cédulas juntas.

—Dá para pagar três meses de aluguel. – Disse ele, olhando-me seriamente. –Sei que você vai agir com um discurso clichê de moralidade, mas... – De pé, ele ajeitou a jaqueta. –Conversa não paga contas, certo? –Ele se aproximou, tocando meu rosto gentilmente. –É um presente.

Instantaneamente me afastei do seu contato. Sem palavras, andei para trás, até sentir a porta contra minhas costas.

—Espera mesmo que Eu aceite esse dinheiro?

—Na verdade, não espero, mas gostaria que você aceitasse. – Dissera cheio de expectativas. –Pense na alegria da sua mãe.

Compenetrado, ele se aproximou da porta, obrigando-me a escapulir para o lado. Segui seu trajeto sem pressa e o observei passar pela porta entreaberta, como se fosse rotina andar por lá. Quando seu corpo sumira do meu alcance, fechei a porta com força, e a tranquei com tudo que estava designado a ser um item de segurança. Não contente, arrastei um pequeno sofá de dois lugares, fazendo uma barricada improvisada. Mais tranqüila, embora um tanto ofegante, voltei a olhar o dinheiro deixado na mesa de centro. Eu não sabia que atitude tomar, mesmo tendo certeza de que Eu tinha que devolver toda aquela grana. A verdade é que, por uma fração de segundos, consegui prevê o sorriso da minha mãe ao ter um pouco de dinheiro sobrando.

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Tive esperança de encontrar Luke pelo Brooklin, mas a terra parecia ter o engolindo. Não havia sinais do rapaz em parte alguma tão pouco a certeza de que Eu logo o veria. Julgando como tudo aconteceu, era bem provável pensar que Luke havia planejado cada ato. Ele sabia que, cedo ou tarde, todo aquele dinheiro acabaria me tentando. E, aconteceu como o previsto. O fim de semana se fora e o que restou dele começava a assombrar minha mãe. Mais uma vez Eu testemunhava suas aflições. A reza não tinha outro verso senão o fundo do poço.

—O que faria se alguém colasse muito dinheiro em suas mãos agora?

Aguardei a resposta da minha mãe, ansiosamente.

—Ninguém colocaria dinheiro algum em minhas mãos, mesmo Eu assinando uma promissória.

—Mesmo se fosse para ajudá-la? – Ela parecia pensar. –Um ato generoso, digamos assim.

Minha mãe arqueou a sobrancelha esquerda. –Eu não aceitaria. Você sabe que não teríamos como pagar, então...

—E se fosse um presente?

—Por qual motivo? – Indagou interessada. –Stella... as pessoas não ajudam as outras simplesmente por ajudar, existem motivos fortes que as impulsionam a... – De repente, nossa conversa perdeu o sentido. –Em vez de ficarmos falando sobre o impossível, deveríamos fazer um bolo... com bastante recheio de brigadeiro! O que você acha?

Vi seu sorriso escancarado e me emocionei. Minha mãe era uma mulher fabulosa, embora tivesse uma vida tumultuada. Vê-la inspirada e feliz me fazia acreditar, veementemente, de que um dia, aquela fase ruim acabaria.

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Três dias se passaram e Eu continuava me sentindo culpada. Eu não fazia a mínima idéia de onde Luke poderia está e isso me deixava extremamente irritada! Eu precisava achá-lo! Aquele dinheiro não mais poderia ficar no meu poder ou terminaria falhando.

—Não quer guardar o dinheiro por que sabe que vai acabar usando-o?

—Não por motivos fúteis. – Justifiquei a Brigitte, encantada com tantas cédulas em cima de seu lençol.

—Você não roubou!

—E nem trabalhei para tê-lo. Não é meu, e tampouco é do Luke. Deve se tratar de dinheiro sujo! – Juntei as cédulas e as guardei na mochila. –O que deu em mim para deixar que aquele inconseqüente do Luke se aproximasse?

—Você queria um homem, garota. Lembra-se disso? – Ironizou arrumando os cabelos desgrenhados. –Nunca tive essa sorte.

—Sorte é Eu ainda não ter me enfiado em uma roubada! – Pus o boné. –Vamos! Preciso encontrar o Luke ainda hoje!

—Táááá. – Suspirou deprimida enquanto se arrastava á porta. –Vamos parecer duas idiotas!

—Que seja!

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Fora com cautela, – e muito jogo de inteligência –, que chegamos a uma casa pouco visitada pelo dono dela: Luke. Embora tivesse um vocabulário afiado por palavras graves, o rapaz metido a garoto indomável tinha um lar e uma família.

—Por que não me disse onde ele mora?

—Por que não é legal vir à casa de alguém como ele. – Brigitte continuou observando, assim como eu.

—Eu estava pronta para me deparar com uma casa em péssimo estado.

—Por que pensou isso?

Dei de ombros, mantendo meus olhos na porta fielmente trancada. O tempo passou e só fomos nos dá conta de que já era tarde quando nossas pernas começaram a formigar, devido a mesma posição.

—O que ainda estamos fazendo aqui?

—Esperando aquele cara!

Respondi apontando para a porta, que, devagar se abriu. Luke aparecera nela, muito bem vestido por sinal.

—Ele está se despedindo de alguém. – Comentei. –O que faremos agora?

—O plano é seu, então lidere. – Brigitte baixou as calças e ali mesmo fez xixi. –Céus! Não me agüentava mais!

—Ele vai entrar no carro! O que faremos para segui-lo?

—A única opção é um táxi.

—Boa idéia!

—Estou brincando! Stella! – Cochichou tentando me deter, mas Eu já estava acenando para um dos táxis na nossa direção.

À medida que nos embrenhávamos no bairro chique, de casas verdadeiramente luxuosas, a perseguição ia se tornando cada vez mais estranha.

—Não estou entendendo por que o Luke está aqui. – Murmurei para Brigitte, muito atenta ao meu lado.

—Pode entrar no próximo quarteirão! – Ordenou ao taxista. –Vamos voltar discretamente. Acho que sei o que Luke está fazendo aqui! – Disse cheia de mistérios.

Longe do táxi, voltamos para o lugar onde o carro de Luke havia estacionado.

—Ele está de olho em uma dessas casas! Claro! Vai acontecer! – Disse empolgada.

—Acontecer o quê? – Perguntei completamente perdida.

—Alguém vai voltar de férias e encontrará a casa revirada. – Ela pegara o celular. –Podemos filmar tudo de camarote, sem que ninguém nos veja!

—Você ficou louca? – Tomei o celular de suas mãos ansiosas. –Estamos diante de um crime! Deveríamos ligar para a polícia!

—Por que faríamos isso?

—Por que é o certo! – Esbravejei apavorada. –Vamos sair daqui e fazer uma denúncia! – Puxe-a pelo braço, no intuito de tirá-la de lá, mas minha intenção foi severamente interrompida por um par de olhos sérios.

A cena era lamentável. Diferente de tudo que Eu tinha experimentado de horripilante na vida. Não dava mais fugir, muito menos disfarçar. Tínhamos que encarar aquela situação com calma e muita, muita sorte.

—Gosto da tranqüilidade desse bairro, principalmente por que consigo ouvir meus pensamentos, com clareza, e, nesse momento, meus pensamentos estão um pouco desordenados. O que não é nada bom.

Brigitte tocou meu braço. Estava trêmula e fria.

—Você desapareceu... – Comecei, fingindo autocontrole. –Fiquei entediada.

Luke deu meio riso, sinicamente. –Vocês estão aqui por um motivo e, obviamente, não é pelo mesmo motivo que o meu.

Senti alívio ao notar que ele não escutou meu vexame em denunciá-lo.

—Se seu único motivo é ter grana extra... nós duas também pensamos da mesma forma. – Continuei no seu jogo. Luke, de repente, parecia interessado. –Por que não nos deixa tentar?

Brigitte quase gritou em agonia. Era a única maneira de sairmos de lá inteiras, fingindo ser um deles.

—Ok. – Depois de muito pensar, ele cedeu nossas supostas ambições. –Você vai entrar na casa e acenar para que nós entremos. – Encarregou a difícil missão a mim.

—Provavelmente os proprietários estão viajando. – Falei.

—Pode ser, mas não queremos arriscar nosso pescoço.

—E quanto ao pescoço de Stella? Ela pode ir presa se a pegarem! – Disse Brigitte, preocupada.

—Se ficar tagarelando te deixo presa lá dentro! – Vociferou ameaçador. –Esqueci de avisar que as mulheres da Côrte também fazem trabalho sujo.

 

 


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