Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 35
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. Beijos!



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Eu já havia experimentado situações esquisitas ao lado de William, mas nada se comparava à presença de Katherine. Sua seriedade realmente causava muito desconforto, e seu olhar, sempre observador e, um tanto crítico, conseguia com muita facilidade desconcertar o pobre coitado à espreita.

—Segure os talheres com leveza e precisão. Não use tanta força para cortar um bife que, por sinal, é uma carne de qualidade. – Instruiu se esquecendo de cuidar do prato dela. –É de admirar que William não contratou um professor de etiqueta para você.

—A senhora não está pensando me transformar em uma frescurenta, não é?

—Quero que você seja uma verdadeira dama! – Disse quase estufando o peito. –Quero apresenta-la à alta sociedade desse país, como uma legítima herdeira! – Seus olhos brilharam em satisfação.

—Não quero ser exibida para ninguém! Já lhe disse qual é o meu propósito.

—Seu propósito é ficar na sombra do seu pai, auxiliando-o como se fosse mãe dele?

—A senhora não se importa com seu próprio filho?

—Claro que me importo! Mas, William fez a escolha dele, por isso... – Levantei da mesa. –Onde está indo?

—Vou voltar para New York e vou resolver as coisas do meu jeito! – Decidida, fui à minha mochila, ainda no mesmo lugar que a deixei.

—Eu a proíbo de sair!

—Acabamos de nos conhecer! Como pode se achar no direito de me transformar em um fantoche ou de fazer proibição?

—Eu sou a sua avó! – Disse me fazendo parar. –Não posso permitir que você se vá como William se foi!

Devo dizer, a vida é mesmo uma caixinha de surpresa! É irônico e até mesmo surreal as provações que Deus põe em nosso caminho.

—Argh! – Murmurei me sentindo em uma grande enrascada. -Sinto muito em desapontá-la, mas... – Olhei-a, sem jeito. –Eu não vim aqui me transformar em uma garota ‘perfeita’.

Não era o encontro dos meus sonhos, mas, certamente, Eu já estava esperando algum tipo de confronto, porém, não imaginei que ele surgiria por questões irrelevantes.

—Por que tanta resistência em aceitar uma transformação? – Seu tom de voz se tornou cativante. –Você pode achar que não pode se adaptar a outros modos e costumes, mas foi você mesma que decidiu transformar a sua vida, quando procurou o seu pai.

—Sim, mas... – Minha avó era uma mulher persuadida.

—Vejo-a como um diamante bruto que, lapidado, se tornará uma joia inestimável! – Ela me levou a uma grande parede de vidro. –A natureza foi muito generosa com você. Olhe para si. Veja como é bela!

Fiz o que ela mandou. –Bela... – Murmurei observando meu reflexo. –Tenho um grande volume de cabelo. Eles estão sempre rebeldes.

Katherine sorriu, passando as mãos nele. –É herança da sua bisavó. Ela tinha os cabelos muito compridos e cheios, que eram admirados diariamente. – O comentário se transformou em nostalgia. –Lembrei dela assim que me deparei com você. –Observamo-nos, pelo reflexo. –Eu mal a conheço e já me afeiçoei a você, minha neta. – Ela sorriu, timidamente. –Isso soa estranhamente maravilhoso.

Vi seu sorriso tímido, embalado a carícias ternas. Katherine, de repente, tinha se deparado com um grande propósito em sua vida, e ela não estava disposta em deixa-lo escapar de suas mãos. No entanto, Eu era seu propósito, e não queria ser outra pessoa, porém, me seria ingrato com ela recusar seus cuidados para comigo, uma vez me aceitando abertamente.

—O que Eu tenho que fazer?

—Deixe tudo em minhas mãos! – Falou no ápice da empolgação. –Quando você estiver pronta, voltaremos juntas para New York, e darei uma grande festa, em sua homenagem!

Senti medo das expectativas dela. –Talvez, não tenhamos tempo para isso. Minha mãe não sabe que não estou com William e ele acha que estou com a minha mãe. – Suspirei, pensativa. –Não quero que ele pense que estou dando mancada ainda.

—Mancada? – Indagou confusa.

—Que estou sendo babaca. – Nosso vocabulário era incompatível. –A vaca da... A Kristen e a Stephany fizeram ele acreditar que ainda estou envolvida nos roubos de mansões. – Ela ouvia meu desabafo, sem maiores entendimentos. –Foi assim que conheci William. – Confessei, envergonhada. Ela também me acharia uma criminosa.

—Terei tempo para ouvir tudo sobre você. – Disse me conduzindo ao carro, sempre pronto para recebe-la. –Vou leva-la a meu Spar favorito. Já foi a um Spar antes? – Balancei a cabeça, negativamente. O motorista nos convidou a entrar no carro. –Amanhã iremos ao salão de beleza de minha confiança, depois compraremos roupas e sapatos.

—Não sei andar de salto alto.

—Aprenderá com muita facilidade.

—Uh. – Murmurei preocupada. –Quanto as roupas... Não gosto de coisas muito largas e de jeito nenhum vou usar vestidos combinando com chapéu! Sem chance! – Katherine franziu a testa. Ela usava um chapéu branco, combinando com a roupa.

—Uma dama adora chapéu.

—Mas, não sou uma dama. Sou uma garota de quase dezenove anos, que adora calça jeans, camisetas justas, e tênis. – Ela não estava muito interessada em meu desabafo. –Vou ser zoada se chegar no Brooklin vestida como a rainha Elizabeth!

—Nada me deixaria mais contente!

Olhei-a de esguelha. –Definitivamente, isso não vai acontecer!

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Duas semanas depois...

Em resumo, minha vida ao lado de Rebecca Katherine Griffin, em duas semanas, se transformou em dias cansativos e produtivos. A princípio, me sentir desmotivada por impulsivamente, está sendo lançada a uma mudança radical. Mas, com o passar de horas e dias, e de convivência aguçada com minha avó, acabei me dobrando aos ensinamentos dela, e, certamente, evoluí muito em pouco tempo. Claro, não era uma mudança abrupta, porém, notava-se uma desenvoltura mais confiante em mim, mesmo usando saltos que Eu nunca pensei calçar.

—Está belíssima, cherry!

Meu professor de etiqueta adentrou o meu quarto, elegantemente vestido, como o esperado em qualquer dia da semana.

—Vou ao meu primeiro almoço oficial hoje. – Respirei cheia de nervosismo. –Eu disse que nunca vestiria um vestido frescurento e... usaria chapéu.

E lá estava Eu, usando um vestido delicado e usando chapéu, combinando.

—Está divina, mas nunca mais fale: frescurento! – Conduziu-me segurando a minha mão. –Você deixou que prendessem o seu cabelo magnífico!

—Agora que ele está domado, gosto de mantê-lo preso, às vezes.

—Faz muito bem. Uma dama precisa esconder sua beleza de vez em quando, para dá ar de mistério, e inquietude em admiradores. – Ele sorriu. –Provavelmente, haverá lindos rapazes nesse almoço.

—E com certeza não irei me interessar por nenhum.

—Fala como se seu coração já tivesse dono. – Um suspiro longo me denunciou. –Eu o conheço?

—Acho que não. – Ele não teria pistas.

—Aí está você! – Katherine surgiu radiante. Estava maravilhosa, como se estivesse indo a um grande evento. –Tenho uma neta belíssima, não acha Jimmy?

—Sem dúvida, senhora! – Nos acompanhou ao carro, à nossa espera. –Tenham uma ótima tarde!

—Obrigada. – Dissemos juntas.

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—Eu quero preservar sua identidade a todo custo, mas não pude recusar o convite dos Goldenberg. Meu grande amigo Karl andou beirando a morte com um câncer de proposta e tudo que ele quer agora é celebrar a vida! – Analisou a situação. –Teremos um final de semana corrido antes da viagem.

—A Lindsay já mandou arrumar a sua casa em Manhattan.

—Tenho uma empregada que acha que pode controlar a minha vida. – Ela achou graça. –Vou me hospedar na casa do meu filho!

Nem mesmo Eu esperava por aquilo!

—A senhora vai causar um grande furô!

Ela coçou o queixo e Eu sabia que algo diabólico se passava em sua mente.

—Quero que os lindos olhos azuis de Kristen me enxerguem, passando por todos os lados, me apossando de tudo que ela acha que tem direito! – Ela não poderia está mais decidida. –Será um deleite para mim e um verdadeiro pesadelo para ela! – Ela sorriu para mim, serena como uma devota fiel. –Mas, não vamos falar sobre isso agora. Quero que essa tarde seja especial para você. – Segurou minha mão, carinhosamente. –Devo lhe dizer que Karl já sabe sobre você, por isso resolvi trazê-la comigo. – Ela sorriu, balançando a cabeça. –Ele insiste que você e Dylan, o neto dele, se conheçam. E, para falar a verdade, a ideia também me agradou.

—Espero que não estejam tentando me jogar em uma cilada. Não me produzi toda para achar um namorado.

—Eu faria muito gosto de vê-la namorar um rapaz como o neto de Karl. É um jovem culto, respeitoso, e muito bonito.

—Não estou interessada. – Falei dando de ombros.

—Ai de chegar o dia que você encontrará alguém que vai fazer o seu coração bater muito rápido, mas, enquanto esse dia não chega, haverá muitos admiradores tentando conquista-la.

—E, provavelmente, nenhum deles vai me interessar.

Katherine me olhou fixamente. –Conheço esse olhar. Está apaixonada.

Imediatamente Bryan me veio à mente, como uma conquista improvável.

—É uma paixonite boba. – Sorri forçosamente para ela.

—Paixonite... Se fosse boba, você não estaria com os olhos lacrimoso. – Ela já me estudava há um bom tempo. –Está apaixonada pelo enteado do seu pai?

—O quê? – Quase saltei do banco. –Por que acha isso?

Ela direcionou seus olhos verdes para as calçadas cheia de pessoas.

—Foi muito conspícuo a maneira de você falar sobre ele e não pude deixar de notar sua garra em defende-lo. -  Seus olhos se voltaram para mim, encolhida no banco. –Eu tinha dezessete anos quando me apaixonei pelo filho da governanta da minha mãe. – Ela se envolveu em nostalgia. –Foi um momento da minha juventude que logo passou.

—A senhora conseguiu esquecê-lo?

—Claro que sim. E, se Eu não conseguisse, seria obrigada a esquecê-lo, por que não seria correto amá-lo. – Observamo-nos fixamente. –Compreende o que estou lhe dizendo, Stella?

 

 


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