Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 33
Los Angeles


Notas iniciais do capítulo

Cap. postado! Beijos!



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Viagens aéreas eram uma verdadeira aventura para mim, porém, aquela foi a primeira vez na vida que senti medo de entrar em um avião.
Eu estava certa do que queria e como agiria, mas foi a abordagem sínica de Kristen que balançou minhas certezas. E como não pensar em William? Eu nem me despedi dele como deveria ser e tão pouco levamos a diante a conversa que escancarava nosso ponto de vista em relação ao outro e esclareceria dúvidas que pouco a pouco estava me desanimando. Eu sentia um grande progresso entre William e Eu, mas ainda faltava uma das coisas mais importantes em nosso relacionamento pai e filha: afeto físico.

Alô. Stella?

—Quem mais seria? – Perguntei observando a imensidão do mar em baixo. –Estou em um avião agora.

—Primeira viagem familiar? Deixa Eu adivinhar o destino. – Brigitte fez mistério. –Miami!

—Los Angeles e estou indo sozinha, fazer uma visita surpresa a minha avó que, provavelmente, não sabe que existo.

—Desembucha. O que tá pegando?

—É muita coisa para falar por telefone, mas, em resumo, a Kristen saiu da zona de conforto! Finalmente ela se mostrou quem realmente é!

—Vocês brigaram?

—Nos desentendemos sim e a coisa foi bem feia! Graças a Deus encontrei uma aliada naquela casa.

—Uma aliada? O que houve com o seu irmão Bryan?

Ela ousou ser sarcástica. –Não posso contar com o Bryan para mais nada! Aquele idiota vai mesmo levar uma vida sem sentido com a Grace, então... – Ela também ousou soltar um risinho. –Não quero falar sobre isso. – Pigarreei, sentindo a garganta travar. –Uma empregada de confiança está me ajudando.

—Caraca! Como você conseguiu fazer com que um empregado de confiança do seu pai traísse a patroa?

—Acho que minhas lágrimas repentinas fizeram Eva sentir pena.

—Você andou chorando? – Perguntou preocupada. –Você nunca chora e se andou chorando é por que a coisa tá bem feia! – Disse aumentando sua preocupação. –Stella, não está na hora de abrir o jogo com a sua mãe? Ela me liga quase todos os dias perguntando sobre você! E vive reclamando que você não atende as ligações dela! – Soltei um longo suspiro. –A Kimberly vai ir atrás de você um dia desses e vai te levar para a Califórnia com ela!

—Nem pensar! Continue falando que estou bem e que... vou visita-los assim que Eu puder!

—Não é você que tem que dizer isso a ela?

—Se Eu falar com a minha mãe ela vai descobrir na hora que não estou bem! – Falei mais alto que o esperado. Resultado da minha agonia foi olhares chateados por todo lado. –Você deveria ir me visitar.

—Não sei se vou saber me comportar na frente daquela gente rica.

—Quer ouvir uma piada engraçada? Kristen foi secretária de William, por isso não se sinta insegura ao lidar com ela. Está mais confiante agora?

—Você está me sacaneando, não é?

—É real, garota! A loira metida a poderosa já foi assalariada como todos nós, meros mortais! – Rimos juntas.

—Que vadia esperta! Ela conseguiu fisgar o seu pai direitinho!

—É isso que me preocupa!

—Eu também ficaria preocupada. Mas, pensando bem, a desgraçada tem uma beleza invejável. Sabemos que mulheres bonitas conseguem tudo o que querem.

—Valeu mesmo pelo lembrete. – Ironizei. –Vou tentar descansar um pouco.

—Tudo bem. Me ligue assim que puder!

—Ok. Boa noite.

—______________ᵜᵜᵜ_______________

Arrumei minha mochila novamente, pronta para deixar o hotel modesto na cidade de Los Angeles. Com um pedaço de papel em mãos, que Eva escreveu com a mão esquerda trêmula, entrei no táxi já alguns minutos à minha espera, abordando o motorista que se dizia experiente na profissão.

—Conheço essa área sim. Só mora gente bacana lá. – Disse devolvendo o papel a mim.

—Quanto tempo até lá?

Ele observou o céu claro. –Uma hora, sem trânsito.

—Tudo bem. Podemos ir. – Incentivei o homem, tomando fôlego.

—De onde você é? – Perguntou dando partida no carro.

—New York.

—New York? – Ele sorriu desdenhoso. –Nova-iorquinos costumam ser arrogantes.

—Você está generalizando mais de dezenove milhões de pessoas. Isso não é legal. – Foi o ponto certeiro para calá-lo por toda a viagem.

Lembro-me da primeira vez que fui atrás de William, em um bairro comercial cheio de edifícios gigantescos. Agora, Eu estava em um bairro residencial, com casas exuberantes, que chegavam a ocupar um quarteirão inteiro.
Com as pernas moles e o coração acelerado, ergui a cabeça, observando o muro coberto por folhas verdejantes.

—Número 34. – Voltei a conferir a numeração. –Parece que é esse.  – O interfone estava a um passo de mim. –É isso!

Ao levantar o braço, um carro preto apareceu. O portão se abriu e um segurança apareceu.

—O que deseja? – Perguntou o homem, com cara de quem estava prestes a entrevistar um delinquente.

—Aqui é a residência da senhora Rebecca Katherine? – Perguntei, ligeiramente estreitando os olhos para o carro atrás de mim, há dez metros de distância.

—Quem quer saber?

Engoli a seco, abrindo a boca.

—Por que tanta demora? – Ouvi claramente uma voz curiosa vinda de dentro do carro. –O que está acontecendo, Roger?

—Perdão, senhora. – Foi ao carro. –Aquela garota está a sua procura.

—E quem é ela? – A pergunta, um tanto grave, me deixou em pânico.

O segurança se dirigiu a mim. –Quem é você?

É agora ou nunca, pensei.

—É a moça que passeará com os cachorros, senhora! – Uma mulher surgiu no portão, ofegante. –Disseram que você viria às dez da manhã e não às oito. – Disse me conduzindo pelo braço. –Venha comigo!

—Mas... ! – Observei o carro passar por mim. –É que...

—Tenho instruções a fazer. – Disse me conduzindo. –Você está prestando atenção?

—Quê? – Diante da exuberância da casa a minha frente, as palavras e o raciocínio me faltaram. Como poderia uma única pessoa morar em uma casa tão grande? Chegava a ser assustador pensar em Katherine Griffin isolada em seu calabouço luxuoso.

—A Fify é a queridinha da casa, por isso você precisa tomar muito cuidado com ela.

—Quem é Fifí?

—É Fify. – Corrigiu impaciente. –Chega de papo. Cadê sua credencial?

—Então... – Dei um sorriso forçoso. –Não vim para passear com cachorros.

—Eu sabia! – Ela surtou, praticamente. –Se quer um emprego, precisa encaminhar o seu currículo para a agência! E já vou dizendo que só temos vaga para jardineiro! – Curta e grossa.

—Não estou procurando trabalho.

—E o que você ainda está fazendo aqui?

—Bem, parece que essa é a casa da minha avó, Rebecca Katherine Griffin!

Para a minha surpresa, a mulher riu alto. –É mais uma maluca dizendo ser parente de pessoas ricas?

—É melhor você parar de rir da minha cara e levar isso muito a sério. – Minha expressão brava surtiu efeito nela. –Será que você pode dizer a senhora Griffin que a neta dela veio conhece-la?

A mulher olhou em volta. –Se isso for uma brincadeira...

—Não é uma brincadeira. – Falei tão séria quanto ela. –Diga que sou filha de Kimberly Evans, ex-namorada de William.

Ela estava relutante em confiar naquelas informações.

—Se é mesmo neta da senhora Katherine, vai saber dizer que tipo de flores ela gosta.

—Orquídea? Toda mulher gosta de orquídea.

—Qual a cor favorita dela?

—Todas, menos a que Eu escolher!

—O que ela costuma fazer antes de deitar?

—Ler um livro? Isso é clássico.

—Está bancando a engraçadinha comigo?

Suspirei, entediada. Se havia uma coisa semelhante entre William e Katherine, era o péssimo gosto para escolher funcionários.

—Olha, moça! Eu atravessei o país para conhecer essa mulher; peguei dinheiro emprestado, não tive uma conversa descente com William, por que a nojenta da Kristen me interrompeu, dormi mal, fiquei em um hotel estranho, e...

—O que você disse?

—Eu disse muita coisa. Não vai querer que Eu repita tudo, não é?

—Só a parte que você chamou a nora da senhora Katherine de nojenta. – De repente, a carranquisse da mulher desapareceu, como em um passo de mágica. –De onde você surgiu, garota?

—É uma longa história.

—Acredito. – Comentou no ápice de uma grande revelação. –Como você chegou até aqui?

—Eva me ajudou.

—Eva? – Ela acabou rindo, um tanto incrédula. –A mesma Eva que odiava escutar a conversa dos patrões atrás da porta?

—Você a conheceu?

—Se a conheci? Trabalhamos juntas por dez anos! – Disse voltando ao passado. –Depois que a senhora Katherine se mudou de New York não tivemos mais contato. Ela ficou com o senhor William e Eu vim para Los Angeles com a... sua avó. – Seu olhar se tornou incrédulo. –Meu Deus! Isso vai pegá-la realmente de surpresa! – Ela observou a mansão por alguns segundos, como se bolasse um plano. –É a primeira vez na vida que não sei o que devo fazer!

—Você pode me levar à senhora Katherine.

—Sem prepara-la antes?

—Estou pronta para esse encontro.

—Mas ela não. – Me conduziu à mansão. –Você vai esperar pela senhora Katherine na sala de visitas. – Orientou fazendo um gesto para o segurança se afastar. –A propósito, qual o seu nome?

—Stella.

 


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