Stella escrita por Gil Haruno


Capítulo 15
Entrada triunfal?


Notas iniciais do capítulo

Voltei, pessoas! Boa leitura! BJS!



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Antes mesmo dos primeiros raios de sol surgirem na manhã de quinta-feira, deixei o hotel sem que minha mãe percebesse. Só pude lhe deixar um bilhete, contendo um pedido de desculpa sincero, e um ‘eu te amo’ sublinhado. Não era um Adeus, apesar do nosso relacionamento mãe e filha está estremecido, era, simplesmente, minha vontade de dar meus primeiros passos sozinha, mesmo que a queda fosse certeira.

—São trinta dólares. – Cobrou o taxista, deixando minha única mala na calçada.

—Trinta dólares? Isso é um roubo!

—Se está de mudança para cá é porque pode pagar, não acha? – Ele riu desdenhoso e estendeu a mão. –Não tenho o dia todo, garota.

—Está bem! – Relutante, entreguei a ele meus últimos centavos.

Quando o táxi se foi, me dei conta que naquele momento não havia mais ninguém para me acompanhar, tampouco para distrair-me com coisas bobas. Era o edifício Griffin e Eu frente a frente, tudo ou nada. Não tinha mais volta.

—Você de novo.

O segurança com cara de poucos amigos veio a mim, ora desconfiado, ora mais sério.

—Preciso falar com o Bryan.

—Impossível. O senhor Bryan não está na empresa.

—Não está? – Indaguei muito surpresa. –Onde ele está, então?

—Não sou pago para dá informação.

Ele me deu as costas. –Você não está apto para trabalhar com pessoas. Sabia disso? – Ele me ignorou, completamente. –Você pode chamar o senhor William.

—Se não sair daqui, chamarei a polícia.

—Vai chamar a polícia para intimidar uma garota desarmada e que não representa perigo algum a sociedade? Você não acha que a polícia tem coisas sérias para serem resolvidas?

—Já avisei!

Certo de que jogar conversa fora com o colega era mais importante que minhas súplicas, o homem fechou o grande portão automático por completo, aniquilando o projeto de uma entrada triunfal, porém, ele não esmagaria minha tentativa de adentrar o edifício.

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Em resumo, ocorreu que fiquei toda a manhã plantada no mesmo lugar: como uma sem teto sentada na calçada de uma lanchonete movimentada. E, por assim dizer, a tarde não foi tão diferente: minha única saída fora para comprar um hambúrguer e um refrigerante, nada mais.
Quando a tarde começou a dá espaço a noite, que se pronunciava timidamente no verão, comecei a ficar terrivelmente desapontada com a falta de sorte. Aos poucos, as pessoas deixavam o edifício e isso me alarmou a chegar muito perto do portão, à espreita de Bryan ou William.

—Com licença! – Arrastei a mala mediana um tanto atrapalhada. Um jovem rapaz, aparentemente da minha idade, decidiu dá importância ao meu aceno conturbado. –Oi. Desculpa te abordar assim é que preciso de uma informação urgente.

—Se Eu puder ajudar. – Ele foi gentil, mas notava-se estranheza em seu olhar.

—Preciso saber se Bryan ou William estão na empresa.

—Você os trata com tanta intimidade... Tem parentesco com os Griffin? – Demorei a lhe responder. Eu não sabia como me pronunciar. –O segurança pode te ajudar. Boa sorte.

Observei ele ir embora e levar com ele o resto de entusiasmo que consegui reunir naqueles minutos cruciais.  Sem esperança alguma, sentei sobre a mala, já suja e sem uma rodinha, e esperei pela boa ação do tempo. Por volta das sete horas da noite um outro segurança se aproximou, provavelmente estava incumbido a comandar a vigilância noturna.

—O que faz aqui com essa mala, senhorita?

Apesar da pergunta bisbilhoteira, seu tom de voz era brando.

—Não sou uma ameaça, senhor. – Fechei os olhos, sentindo-me exausta. –Só preciso ficar por mais uma hora e Eu prometo que irei embora.

—Desculpe, mas não posso deixá-la ficar aqui, ainda mais portando uma mala.

Abri os olhos e o encarei por longos segundos. O homem de meia idade estava visivelmente sem jeito de expulsar da calçada uma sem teto, aparentemente.

—Está bem, senhor vigilante. – Levantei recolhendo meus pertences. –Você parece ser um cara legal. – Bocejei me espreguiçando. O cochilo desajeitado me arrumou um pequeno problema na coluna. –Pode dá um recado ao senhor Bryan?

—Hã?

—É. Não estou aqui à toa. Acontece que o seu colega de trabalho, o careca altão, fez pouco caso quando lhe disse que queria falar com Bryan.

—O senhor Bryan não costuma ir embora cedo depois de uma reunião.

—Ele está aí?

—Até o momento, sim.

—Aquele filho da puta! – Xinguei enlouquecida. –Passei o dia todo nessa calçada!

—Eu sinto muito. Nem todos sabem lhe dá com pessoas.

—Foi exatamente o que Eu disse aquele cretino! – Em êxtase, ergui a cabeça, frisando o topo do prédio. –Não tenho a menor dúvida de que foi o próprio Bryan que barrou minha entrada! – Enfurecida, voltei meus olhos atiçados pela ira ao homem que tentava entender minhas palavras em meio à fúria e pressa. –O senhor tem que me deixar subir! É urgente!

—Não posso fazer isso sem a autorização do senhor Bryan!

—Aquele almofadinha não vai me deixar entrar! Chame William Griffin!

—O senhor William realmente não está, senhorita.

—Então...! – De volta ao marco zero, caí sentada sobre a mala. Eu já estava decidida a ir embora quando uma idéia ousada iluminou minha mente perturbada. –Diga a Bryan que farei um escândalo se ele não me deixar entrar.

—Um escândalo?

—É, um grande vexame! Do tipo que dará manchete nacional! – O homem piscou os olhos azuis por várias vezes seguidas. –Não estou brincando! Fui muito boazinha até agora!

Não houve mais perguntar, tão pouco raciocínio para tentar desvendar meus propósitos. Ao perceber que não se tratava de uma ameaça em vão, o vigilante se apressou a informar a Bryan o que estava acontecendo na calçada do edifício Griffin. Contados um minuto e meio, o vigilante voltara ao meu encontro. Embora Eu estivesse calma, meu coração tamborilava fortemente à espera de uma resposta, essa que, talvez, não viria a meu favor. Aquela altura, já me era elaborado o que Eu diria às câmeras.

—Tenho permissão para guiá-la à sala do senhor Bryan.

—Sei o caminho.

—Sem mais nem menos, senhorita. – Fora categórico. –Deixe a mala na cabine, ninguém mexerá nela.

—Isso não me preocupa. – Ao passar pelo portão, joguei a mala em um arbusto. –Está segura. – Dei de ombros. –É melhor o senhor não me acompanhar. Não vou pegar o elevador para ser rápido.

—Vai subir todas essas escadas?

—Bryan não te alertou? – Apressada, deixei o homem para trás. Obviamente, ele me seguiria pelo elevador.

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Ofegante e sem disposição cheguei ao último lance de escada. Antes de abrir a porta vermelha, juntei meu longo cabelo negro desgrenhado e fiz um coque no topo da cabeça. Sem necessidade alguma, embora disposta a tomar coragem, pus a camiseta por dentro da calça, mas resolvi deixá-la como estava.

—É agora ou nunca!

Depois de um dia exausto, não havia mais ensaios para a minha entrada, por isso empurrei a porta, e tive uma grande surpresa.

—Eu sabia que você viria pelas escadas.

Bryan já me aguardava, na porta de saída de emergência.

—Você não teve a mínima decência de me deixar subir! – Passei por ele, como um furacão em chamas. –Foi o dia mais quente do ano e Eu estava lá fora, sentada em uma calçada, com uma mala na mão! – Esbravejei. –Que tipo de pessoa age dessa forma com outro ser humano?

—Para começo de conversa, ninguém me avisou que você estava lá fora! – Disse já furioso. –Além disso, não tenho obrigação alguma de dá abrigo a você! É o cúmulo que você ameace chamar a impressa aqui só por que se alto titulou uma ‘conhecida’ minha! – Disparou sem deixar Eu abri a boca. –Que fique claro de uma vez por toda! Não tenho mais assuntos para tratar com você! Eu sequer quero voltar a vê-la! Está me entendendo?

—Olha só para você! De novo se achando inatingível! – Ri na cara dele. Estávamos frente a frente. –Se Eu fosse um homem lhe daria um belo soco nessa cara de capa de revista e sairia daqui gloriosamente satisfeita, mas não posso ir embora sem revelar os motivos pelo qual estou passando tamanha humilhação.

—Se você fosse um homem, com toda a certeza Eu baixaria ao seu nível! – Depois de nos enfrentarmos olho no olho, nossos ânimos se acalmaram. –O que você quer de mim, Stella? – O sarcasmo dominou suas palavras. –Por que Eu não consigo entender o que faria você pensar que Eu sou a pessoa certa a te ajudar. Caso não tenha notado, nem mesmo amigos somos.

—Você está completamente certo. – Concordei mais calma. –Acontece que você me pareceu humano demais quando disse com todas as letras que me ajudaria a resolver minha situação com sua irmã. Mas, foi só um engano. – Respirei profundamente. –Sabe, juro por Deus que estou morrendo de vontade de sair daqui correndo e nunca mais pôs os pés nesse lugar, no entanto, tenho mesmo que ficar aqui, e lhe dizer uma coisa importante.

—E o que é tão importante assim para você chegar à total desespero?

Antes de lhe responder, fiz uma pergunta: –Pelo menos posso me sentar? – Ele deu de ombros, indicando a cadeira. –Você deve saber que minha mãe e o senhor Griffin namoraram no passado.

Bryan pôs as mãos nos bolsos, estava tão tranqüilo quanto Eu. –Sei que eles foram amigos e nada mais.

—Eles namoraram sério por algum tempo. – William não contara sua história da juventude ao enteado.

—Por que está me dizendo essas coisas se... ? – Bryan olhava-me com dúvida. –Não. – Ele sorriu incrédulo. –Não há a menor chance de William ter tido um filho na juventude!

—Uma filha, e ela está bem aqui! – O clima, de repente, voltara a ser tenso. –Ele nunca falou sobre mim, não é?

—William seria incapaz de esconder a identidade de um filho! – Apostou, convicto. –Não sei o que aconteceu no passado da sua mãe e William, mas você não pode ser filha dele. Não faz sentido!

—Sou filha de William Griffin e posso provar a hora que você quiser! – Bryan estava compenetrado. –Quando posso fazer um teste de DNA?


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