Delirium escrita por Karina A de Souza


Capítulo 4
Verbena




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—Ludmille?-Me virei. -O que está fazendo aqui?

—É uma festa. Decidi vir.

Olhei em volta. Vários jovens estavam espalhados pelo espaço aberto, bebendo, conversando, dançando, discutindo. Sorri. Parecia um pouco com o baile proibido que havia na floresta tantos anos antes.

—Acho que não deveria estar aqui. -Olhei para Elena.

—Sabe... Eu tenho um acordo com Damon. Não vou matar ninguém nessa cidade.

—Que... Bom.

—Eu não queria atacá-la.

—Stefan me contou. Só acho que...

—Ficaremos todos bem, Elena. Sem drama. -Coloquei as mãos na cintura. -Já te disseram que você é...

—A cara da Katherine? Já. Mas sou totalmente diferente dela.

—Isso é bom. Kath era maluca.

—Vocês não eram amigas?

—Éramos. Ela salvou minha vida. -Desviei o olhar. -Eu... Com licença. -Comecei a me afastar rapidamente.

 

—Ludmille, espere! Ludmille!

***

—Ludmille! O que houve?

Abri os olhos lentamente. A dor ainda não tinha passado. Era como se cada osso estivesse quebrado, como se cada parte minha estivesse ferida. Doía respirar, piscar... Doía estar viva.

Senti o gosto de sangue na boca e entrei em desespero.

—Ludmille, preciso que me diga o que houve. -Katherine pediu, abaixada ao meu lado. -Quem fez isso?

—Robert. -Engasguei. Não conseguia respirar.

—Ela não vai sobreviver. -Olhou para Emily.

—Nem pense nisso. -A outra disse. -Não pode...

—Ela vai morrer.

—Eu sei. É triste, mas não temos escolha. Nós temos que ir. -Tentou puxar Katherine, agarrei o pulso da vampira.

—Eu não posso deixá-la assim!

—Katherine... -Se soltou da mulher.

—Eu não vou deixá-la.

***

—Você está bem?-Elena perguntou.

—Estou ótima.

—Tem certeza?
Olhei para ela, tão idêntica e tão diferente de Katherine. Nunca imaginei que isso era possível. Acho que eu nunca as confundiria.

—Ludmille?

—Estou bem, mesmo.

—Ótimo, estão ficando amigas. -Damon zombou, se aproximando e ficando ao meu lado. Elena suspirou. -Parece que alguém vai roubar o posto de BFF que antes era de Katherine.

—Tá fazendo o que aqui?

—Caroline me contou que você estava aqui. E eu estava te procurando. -Decidi não perguntar quem era Caroline.

—Está me seguindo ou quer o posto de BFF?-Sorriu.

—Prefiro o posto de “amigo com recompensas”. -Revirei os olhos.

—Por que estava atrás de mim?

—Precisamos conversar. Com licença, Elena. -Então saiu me arrastando.

—Muito delicado, Salvatore. Prefiro você humano.

—E eu prefiro você de boca fechada. -Me soltou. -Por que veio aqui?

—Por que é uma festa. Pessoas vão a festas.

—Engraçadinha. -Fechou a cara. -Se algum humano se machucar, por que a senhorita saiu por aí rasgando a garganta deles, eu injeto verbena em você e te prendo naquela tumba de novo.

—Achei que fosse me matar.

—A pena máxima só vale para assassinatos. Estou falando sério, Ludmille. Mystic Falls não é mais segura para vampiros do que era antes.

—Com você ajudando o Conselho matador de vampiros, não duvido.

—Se não pode vencê-los... Junte-se a eles. Os tenho na palma da mão. Sei de cada passo, e nunca me tornarei um alvo.

—Há um jeito mais fácil do que sair matando... -Alguns adolescentes passaram por nós, abaixei a voz. -... vampiros. Use compulsão neles...

—Apenas uma palavra: verbena. -Bufei.

—Merda

—A maioria usa. Em cordões, colares, pulseiras, perfumes, até bebem. Compulsão não é mais a nossa arma.

—Então vamos caçá-los um por um e matá-los, como deveríamos ter feito séculos atrás. -Franziu a testa.

—Eu deveria ser a última pessoa a perguntar isso... Mas o que houve com a doce Ludmille?-Sorri.

—Ela está morta, Damon. O que mais teria acontecido com ela? Agora se você me der licença, senhor Salvatore, eu vou aproveitar a festa.

***

—O que foi que você fez? O que foi que você fez, Ludmille?-Abri os olhos. Damon estava me sacudindo com toda força, fazendo minha cabeça bater na parede atrás de mim.

—Está me machucando! Me solta!

—Achei que tivesse sido claro ontem!

—Do que está falando?-Me fez ficar de pé e me puxou até a sala de estar. -Oh meu Deus.

Havia quatro corpos no chão. Quatro garotos. Quatro gargantas abertas. Quatro vidas arrancadas. Lentamente, movi meu olhar para mim mesma, até reparar que usava o meu vestido de noiva, agora mais sujo de sangue.

—Eu te avisei!-Damon gritou.

—Eu não queria... Eu nem lembro... Eu... Sinto muito...

—Achei que tinha me entendido!

—Eu entendi. Juro que entendi. Não sei como isso aconteceu!-Agarrou meu pescoço, pronto para quebrá-lo. Estava tão desnorteada que não reagi. -Por favor, não.

—Nós tínhamos um acordo.

—Damon...

***

—... Dos corpos. Não é um problema. Mas isso não diminui o fato de que ela vai nos colocar como alvos. -Me sentei, a voz de Damon vindo até mim como se estivéssemos no mesmo quarto. Ele parecia furioso.

—Trancá-la na tumba não vai... -Esse era Stefan.

—Melhorar as coisas? Óbvio que vai. É menos uma vampira agindo como se Mystic Falls fosse uma lanchonete vampírica.

—Você sempre agiu assim, Damon.

—Agora não estou agindo assim. É querer demais permanecer aqui com a cabeça acima do pescoço e sem uma estaca perfurando meu coração?

Tentei bloquear a voz dos Salvatore e me concentrei em tentar lembrar do que tinha feito.

Matei quatro garotos, okay. Mas como, quando e por quê? Devia ter sido depois da festa. Acho que os compeli a vir comigo para a pensão. E então...

Suspirando, saí da cama e tirei o vestido, enfiando-o no baú onde o guardava. Encarei meu reflexo no espelho, estava péssima. Cabelos, rosto, pescoço e mãos ensanguentados.

Tomei um banho demorado, esfregando o sangue para fora de mim. Tentei não pensar na cena que Damon me fez ver na sala. Assim que me vesti, tomei coragem e fui atrás do Salvatore mais velho.

Damon estava em uma das salas, em frente a lareira, um copo de bebida mãos. Ele não se virou quando entrei.

—Você não me matou.

—Não. -Respondeu.

—Eu lamento pelo que fiz e... Agradeço por não ter me matado.

—Não deixei de fazer por você. Stefan me pediu. E a antiga Ludmille. Ainda acho que ela está viva e em algum lugar. -Olhei para baixo.

—Ela morreu no dia em que o marido a espancou dentro da própria casa. Você nunca mais vai vê-la, Damon. -Deu um gole na bebida e se virou.

—Eu gostava dela. Era uma garota legal e sabia se divertir. -O encarei. Ele tinha um sorriso malicioso.

—Nunca tive qualquer de sentimento por você que não fosse amizade.

—Sabe como eu sei que a velha Lud está viva?-Fiz que não. -Você acabou de falar nela e não a chamou de “ela”. Algo me diz que eu vou ver Ludmille Morgan de novo, a verdadeira.

—Não seja tão esperançoso.

—Não estou sendo. Acho que estou apenas... Prevendo algo. -Revirei os olhos.

—Então vamos esperar pra ver.

***

—Então ainda temos os blá blá blá dos Fundadores?-Perguntei, andando ao lado de Damon.

—Sim. Eles adoram essas coisas.

—Miss Mystic Falls?

—Aconteceu faz algumas semanas. Você ganhou umas duas vezes não foi?-Ri.

—Acho que sim. -Nos misturamos a multidão. -Então as coisas não mudaram tanto.

—Mais ou menos. -Paramos em frente a porta, eu não podia entrar. -Carol.

—Ah, Damon. -A mulher se aproximou. -Sejam bem vindos, entrem.

—Ela tem jeito de Lockwood. -Apontei, seguindo o Salvatore pela casa.

—Acertou na mosca. -Murmurou, dando um pequeno sorriso. -Anos se passaram, mas eles ainda parecem metidos. -Segurei o riso. -As famílias fundadoras. -Olhei para a lista, atenta.

—A minha não está aí. Ajudamos a fundar Mystic Falls. -Fiz cara feia.

—Depois do escândalo sobre você... Não me admiro terem riscado os Morgan. -Acertei uma cotovelada nele. -Ei. Você era a última Morgan, a órfã e sem família, e aí foi descoberto que era uma vampira. E é verdade que os Morgan nunca fizeram muito pela cidade.

—Damon.

—O que? É verdade. -Me afastei dele, vendo alguns objetos antigos. Vai querer ver isso aqui. -Olhei para onde ele apontava. -A última vez em que assinou a lista de presença numa festa dos fundadores.

—Eu ainda assinava como Morgan. E aqui está você. -Apontei para o nome acima do meu. -Meu par naquela noite.

—Você quis dizer “babá”. -Riu.

—Eu vou arrancar sua língua. -Não pareceu intimidado.

—Seus pais, bem aqui. -Apontou para os nomes. -Ludmille, você os matou, não foi?-Me afastei.

—Acho que vou pra casa. -Segurou meu braço. -Não fique no meu caminho.

Me soltei dele e saí o mais rápido possível na velocidade humana. Me apoiei no carro de Damon, furiosa. Qual é o seu problema, Ludmille? Sua estúpida idi...

—Você está bem?-Me virei. O homem recuou um pouco. -Está se sentindo mal?

Sem pensar avancei nele segurando meus braços e atacando sua garganta. Quando o sangue encheu minha boca, o soltei, engasgando e caindo para trás.

—Verbena. -Resmunguei.

Olhei para cima, o homem tinha uma estaca em mãos agora. Ia me acertar quando alguém agarrou seu pulso.

—Sem querer me meter, mas o que está acontecendo aqui?-Era Damon.

—Ela me atacou.

—Ah, ela atacou?-Me olhou cheio de repreensão. -Eu já falei sobre isso, Ludmille.

—Essa é a Ludmille?

—Enquanto eu não a matar, sim. -Soltou o homem e me fez levantar. -Esse é Alaric. Sugiro que não o morda de novo, a não ser que goste de verbena. -Cuspi no chão.

—Eu não queria... Atacá-lo. -Murmurei, cambaleando, Damon continuou me segurando com força, caso contrário eu já teria desmoronado.

—Ultimamente você tem feito muita coisa que não queria fazer. -Alfinetou. -Vou ter que colocar uma mordaça em você?

—Babaca.

—O que você disse?

—Eu te disse que eu te amo muito e por isso você vai me ajudar. -Sorriu.

—Ela é um doce, não é?


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Notas finais do capítulo

Comentários sempre são bem vindos.



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