Delirium escrita por Karina A de Souza


Capítulo 11
In the night, no control


Notas iniciais do capítulo

O título é um trecho da música Self Control, da Laura Branigan.



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O resto do dia foi continuou cheio. Stefan não me deixava parar nem por um minuto. Eu estava sempre em movimento. Quando o sol começou a se por, eu estava exausta.

—Podemos parar?-Perguntei, desviando dos ataques de Stefan. -Estou cansada. Mas não o suficiente para beber de animais.

—Então o segundo passo será dado amanhã.

—Nada de coelhinhos hoje?-Uma voz perguntou, atrás de mim. Me virei, o punho pronto para acertar o intruso. Damon conteve o soco com facilidade. -Não foi dessa vez.

—O que está fazendo aqui?

—Está anoitecendo. Você pode voltar pra casa, eu pego o turno da noite. -Franzi a testa.

—Você não precisa fazer isso.

—Se Ludmille se descontrolar, o que acontece geralmente a noite, eu tenho mais chances de controlá-la do que você.

—Ela não vai...

—Ela é doida. -Olhou pra mim. -Sem ofensas. -Me virei para Stefan.

—Você pode ir. -Avisei. -Vá para casa, encontre Elena. Não precisa ficar preso aqui comigo.

—Não trouxe sangue. E não planejo desvirtuar nossa noivinha macabra. -Acertei uma cotovelada nele. -Ela vai ficar bem.

—Qualquer coisa, eu empalo ele. Fique tranquilo.

—Tudo bem. -Murmurou, pegando suas coisas, e encarou o irmão. -É bom não ajudá-la a trapacear. Nada de sangue. E nem de álcool. Passa pra cá. -Damon bufou e entregou uma garrafa de Bourbon de dentro da jaqueta, que eu nem tinha notado. -Nada de passeios na cidade. Nem festinha na floresta. Estamos entendidos?

—Sim, mamãe. -Stefan olhou pra mim, sabendo que não dava pra levar Damon à sério.

—Nós entendemos. -Afirmei. Parecendo satisfeito, ele se foi.

—“Nós entendemos”. -Imitou. -Foi um pouco convincente.

—Jura? Eu estava falando sério. -Me virei pra ele. -Vamos seguir as regras de Stefan.

—Por quê?-Dei de ombros. A verdade era que, depois do que ele tinha dito naquela manhã, eu não queria desapontá-lo. “Eu sei como é ter um monstro dentro de si e é por isso que estou aqui. Se você desistir agora, o seu monstro vence”. O monstro não vai me vencer.

—Se não se importa, vou me ajeitar pra dormir.

—Dormir? Nada disso. Ainda não acabou.

—Damon, estou exausta.

—Se está falando e consegue ficar de pé, não está.

—Até agora seus planos eram de fazer uma zona aqui...

—Mas alguém quer ser uma boa garota, então vamos nos manter comportados. -Se encostou numa árvore. -Agora, por que não pega aquela corda e começa a pular?

***

Desmoronei em cima do saco de dormir, exausta. Não conseguia imaginar como iria caçar alguma coisa no dia seguinte.

Damon parecia tranquilo, sentado num tronco, com um pequeno cantil que no mínimo estava cheio de bebida.

—Damon... Por que realmente veio pra cá? -Perguntei, encarando a fogueira que ele tinha feito.

—Eu já disse, caso não se lembre.

—Não acha que eu acredito nisso, acha? Como se você fosse se meter no meio do nada com uma garota problemática, apenas para que o seu irmão pudesse estar com a namorada dele. -O encarei, iluminado pelo fogo, e senti medo.

Eu o conheci quando era só uma criança, mas ficamos sem nos ver por um século e meio. Quão mudado ele estava? Quão vulnerável eu estava, esgotada e no meio do mato, longe da civilização?

Me encolhi, lembrando a comparação que tinha feito quando Damon me torturou, no primeiro dia. “Você é igual a ele”. Ele. Robert. Mas era verdade? Num momento de medo, eu tinha visto uma coisa que Robert fazia: tortura.

—Um sexto sentido me diz que se você conseguisse, estaria bem longe daqui nesse exato momento. -Damon disse. Movi os olhos para encará-lo. -Você está com medo.

—Como sabe?

—A primeira vez em que vi esse olhar em você, foi quando seu pai anunciou Robert Haus como seu noivo. Você sequer o conhecia. Saiu correndo do salão pouco depois, sem que ninguém percebesse.

—Você percebeu. -Deu de ombros.

—Percebi. E fiquei surpreso ao ver que voltou.

—Tinha medo do que aconteceria se eu fugisse. Depois percebi que devia ter fugido. Qualquer destino teria sido melhor. Eu não entendo por que foi Robert. Meu pai estava tão fixado em escolher um Salvatore. “A melhor família da cidade”, ele dizia.

—Mas o que teria acontecido depois? Katherine chegaria...

—Se tornaria sua amante. Talvez me empurrasse da escada. Eu pelo menos teria uma morte melhor.

—Não seria uma vampira.

—E muitas pessoas ainda estariam vivas. Acho que é melhor dormir. Boa noite, Damon.

—Boa noite.

Engolindo o resto do medo, me virei para o outro lado, e apaguei.

***

Stefan voltou quando eu ainda estava dormindo. Mas foi Damon quem me acordou com um grito, e riu do meu susto.

—Juro que vou te socar e me alimentar de você. -Ameacei, ficando de pé. Olhei para Stefan.

—Hora da caça. -Avisou.

—Que ótimo.
Começamos a caminhar, sem pressa. Damon nos seguiu, no mínimo achando que estava vendo um programa sobre vampiros bem interessante.

—Eu já disse que não chego nem perto de animais fofos. -Lembrei.

—Damon, o que está fazendo?-Me virei. O Salvatore mais velho estava segurando um fofo coelho.

—Servido, irmãozinho?-Perguntou. Arranquei o animal dele.

—Ninguém toca nessa coisa fofa. -Soltei o coelho, que correu para longe.

—Acabou de soltar o café da manhã do Stefan.

—Se ficou só para nos encher com seu sarcasmo e deboche, sugiro que vá embora, antes que você vire meu café.

—Oh, Deus, estou assustado.

—Vamos continuar. -Stefan sugeriu.

Continuamos andando, tentando ignorar Damon, que agora cantarolava Little Russian, fora do ritmo.

—Aquilo não é fofo. -Stefan sussurrou, apontando.

—O que é pra ser aquilo?

—Uma raposa, eu acho.

—Pode ser um kitsune disfarçado. -Damon comentou. -Uma vez eu tive problemas com kitsunes. Shinichi e Misao. Eles...

—Damon, shh.

—Raposas são fofas. -Sussurrei. -Não posso matá-la.

—Você decide: pessoas inocentes, ou raposas fofas?

—Você sabe que é uma escolha cruel. Mas tudo bem... Espero que raposas sejam gostosas.

A pobrezinha nem viu quando cheguei. Avancei, agarrando-a e lançando uma pequena onda de Poder, para acalmá-la. Tudo bem, eu prometo que vou matá-la rapidamente.

Mas quando comecei a beber... Bem, problemas a vista.

—Não posso beber isso!-Gritei, cuspindo. -É horrível! Não tem nem como comparar com sangue humano!

—Continue. -Stefan pediu, neguei com a cabeça. -Ludmille, por favor... Damon, o que está fazendo agora?

—Gravando tudo, para vermos no futuro. -Respondeu. Stefan tirou o celular dele.

—Ludmille...

—Eu nunca vou me acostumar a beber isso. -Interrompi. -Bebo sangue humano desde sempre.

—Eu sei como se sente agora. Sei como é de repente ter que beber algo que não é um terço tão bom quanto sangue humano, mas você precisa se obrigar a fazer isso.

—Funcionou com você?-Assentiu. -Então tá.

Voltei a beber, tentando usar aquele truque de fingir estar bebendo outra coisa. Isso até que ajudou, mas no fim, aquele gosto horrível estava na minha boca.

—Você conseguiu. -Stefan disse, se ajoelhando ao meu lado e colocando a raposa numa cama de folhas. -Ainda com sede?

—Não vou beber de novo.

—Amanhã, então. E até que se acostume.

—Enquanto isso não acontece...?

—Você continua na floresta.

—Tudo bem. -Fiquei de pé. Damon estendeu o cantil prateado que vi na noite anterior. Um pouco surpresa por saber que ele não tinha bebido tudo, aceitei

—Ludmille.

—É só pra tirar esse gosto ruim da boca. -Devolvi o cantil.

—É melhor não ficar bêbada durante essa semana, pode causar descontrole e nós não precisa...

—Estão sentindo isso?

—Sangue. -Damon murmurou. -E humano.

—Damon, -Stefan começou. -segure...

Antes que ele terminasse, eu já estava correndo, seguindo o cheio. Era uma coisa automática. Puro instinto.

Cheguei na fonte: provavelmente o cara tinha sido atropelado enquanto andava de bicicleta. Havia muito sangue, mesmo. E infelizmente, vários curiosos em volta. Eu posso colocá-los pra dormir em segundos e depois... O que? Não! Eu não posso!

Dois pares de mãos agarraram meus braços e me levaram de volta para a floresta, antes que algum humano nos notasse.

—Eu posso ir por conta própria. -Avisei, tentando colocar os pés no chão.

—Sim. Ir direto pras veias daquele cara. -Damon debochou.

—Claro que não! Eu não ia... Me soltem!

—Eu tenho correntes na minha mochila...

—Espero que sejam pra brincar de 50 Tons de Cinza com alguma garota idiota que você vai pegar na rua, por que se for pra me prender...

—Segunda opção, sinto muito.

—Stefan!-Chegamos no ponto onde montamos acampamento. -Eu não vou atacar ninguém!

—Tudo bem, vamos soltá-la. -Stefan disse, largando meu braço. Damon demorou, mas repetiu o gesto. -Você não está bem alimentada, podemos contê-la bem fácil caso tente correr de novo.

—Eu entendi.

—Vou pegar as correntes. -Damon avisou. Me afastei dele.

—Nada de correntes. -Stefan interferiu.

—Ela estava prestes a beber daquele cara como se sua vida dependesse disso.

—É só o começo da semana. Em alguns dias ela se acostumará com sangue animal e isso não acontecerá de novo.

—Podem parar de falar de mim como se eu não estivesse aqui?-Perguntei. -É desconfortável.

—Desculpe.

—E quanto às correntes?

—Eu estou no comando, vamos fazer do meu jeito. Nada de correntes.

—Seu plano vai afundar mais rápido que o Titanic. -Damon debochou. -E eu estarei pronto para assumir. Com correntes e muita verbena.

—Obrigada por colocar fé em mim. -Retruquei. -E no seu irmão. Garanto que isso aumentou o nosso amor por você.

—Awn, eu também amo vocês. E é com todo esse amor que eu vou esperar o barco afundar. -Pegou sua mochila. -Volto mais tarde, preciso recarregar e procurar meu almoço. Divirtam-se caçando raposas. E caso encontrarem um kitsune... Não caiam no papo de cura para vampiros: é treta, confiem em mim. -Então piscou e se foi.

—Como alguém pode ser tão irritante?

—Deve ser um teste divino. -Stefan murmurou. -Deus está nos testando.

—Se o matarmos, a gente falha?

—Provavelmente.

—Que pena. Bom, não se pode ter tudo na vida. -Stefan olhou pra mim, então caímos na risada.

***

ALGUNS DIAS DEPOIS

—Eu disse que o plano dele ia dar errado!-Damon disse, irritado. Franzi a testa.

—Do que está falando?

—Atrás de você, noivinha.

Olhei pra mim mesma, estava com o vestido de noiva. Me virei lentamente e recuei. Havia uma garota caída no chão, num ângulo estranho. Havia sangue, nela, no chão, no vestido e em mim.

—Eu fiz isso?-Sussurrei, me abaixando ao lado do corpo. -Eu não me lembro... Eu... Damon, ela estava grávida?-Pela primeira vez notei a barriga dela, um pouco volumosa. -O que foi que eu fiz?

—É melhor você subir. Eu cuido disso.

—Damon...

—Sobe. -Me levantei e comecei a me afastar. -Stefan vai ficar furioso...

Aumentei o passo e entrei no quarto. Eu estava chateada, e culpada. Tinha passado por uma semana difícil, sem cair em tentações (mesmo achando acidentalmente uma bolsa de sangue na mochila de Damon). E então surtava de repente e matava uma (suposta) grávida?

Tirei o vestido e o atirei do outro lado do quarto. Eu tinha falhado.

—Não tem mais jeito. -Murmurei, encarando o tecido sujo de sangue. -Damon vai te enfiar no porão, amarrada como um presente de natal.

Ergui o olhar para o espelho...

E gritei.


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Notas finais do capítulo

Sinichi e Misao são dois irmãos kitsunes que causaram bastante problemas nos livros.
Mais treta chegando... Por que a Lud se assustou agora?
Enquanto isso, no próximo capítulo... Há um estranho zanzando por Mystic Falls... E considerando o histórico da cidade, isso significa problemas.
Até mais!



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