Delirium escrita por Karina A de Souza


Capítulo 10
It's burning and makes you mad


Notas iniciais do capítulo

Olá.
O título é uma frase da música Geronimo's Cadillac da dupla Modern Talking, que me lembra um pouco de Damon.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/767601/chapter/10

Katherine simplesmente decidiu não falar mais comigo. Ficou furiosa quando contei as condições para sairmos da tumba. “Sua filha da puta burra! Como pode fazer isso? Sabia que está se colocando como prisioneira também? O que você é, uma das cadelinhas da Elena?”.

Na verdade, eu não estava nessa por Elena, e sim pela cidade toda. Katherine era como um furacão, ela levaria alguns mortos com ela em sua “visitinha” a Mystic Falls.

Elena não voltou com sangue. Talvez os Salvatore tivessem descoberto e proibido. Até que teve um lado positivo: Katherine, mesmo morrendo de sede, teria feito um escândalo quando visse sua (suposta) duplicata.

Incontáveis dias depois...

—Temos visita. -Katherine sussurrou, me sentei, enquanto Damon e Stefan apareciam na entrada. -Bom ver vocês. É hora de negociação.

—Não há negociação, Katherine. -Stefan avisou.

—Ah, não? Então podem ajeitando os detalhes do funeral de Ludmille.

—O que?

Katherine me puxou pra perto dela, de costas, e então suas presas estavam no meu pescoço. Gritei, tentando soltar meus braços e me afastar dela.

—Ou vocês acabam com a merda do feitiço, ou eu termino isso aqui, e quebro Ludmille como um gravetinho. Tic tac. É melhor se apressarem. -Aí quebrou meu pescoço.

***

—Você não vai me matar. -Murmurei, Katherine deu um puxão no meu cabelo, me obrigando a ficar de joelhos.

—É melhor não apostar nisso. Vai perder.

—Eles ateariam fogo nessa tumba, com nós duas aqui, antes de te libertarem. A cidade está muito melhor sem nós.

—Vamos ver se isso é verdade. Olá, meninos. É bom vê-los de novo... Agora desfaçam o feitiço. -Eu conseguia ver Bonnie atrás deles, ela não parecia convencida a obedecer Katherine. Encarei a bruxa, e balancei a cabeça negativamente. Meu cabelo foi puxado de novo. -Pare com isso. Você, bruxa Bennet, comece.

—Assim que chegarmos a um acordo. -Stefan disse.

—Já temos um acordo: o feitiço é retirado, e aí eu entrego sua amiga em ótimas condições.

—Katherine. -Ela fez um som próximo a um rosnado e me mordeu de novo. Fechei os olhos. -Tudo bem, nós vamos deixá-la sair.

—Agora vocês me entenderam. Tic tac, bruxinha. Hora de começar.

Mantive os olhos no chão, ouvindo a voz de Bonnie, como se estivesse dentro da água. Quando o feitiço estava quebrado, tive apenas alguns segundos para constatar que estava livre. Katherine me lançou para fora. Os Salvatore, como se fossem um, se moveram pra me pegar, então Katherine não estava mais lá.

—Ela se foi. -Bonnie disse.

—Era o plano perfeito. -Sussurrei.

—Não existem planos perfeitos. -Damon murmurou. -Vamos pra casa. Acabou o show.

***

—Você pode se apressar, ou só estará pronta no próximo século?-Damon perguntou. -Desse jeito chegaremos somente no próximo aniversário dos Fundadores. -Encarei a porta.

—Você invadiu meu quarto? Eu podia estar nua!

—Você sequer está aqui. Agora saia logo.

—Não se apressa uma dama.

—Século errado, Lud. -Revirei os olhos e me olhei no espelho. Dei de ombros, parecia a pronta, e abri a porta. Damon estava arrumando o punho do terno, e quando ergueu os olhos, parecia surpreso.

—Que foi? É tão ruim assim? O vestido é antigo, mas está em bom estado. É o único que eu tenho. -Não era inteiramente verdade, meu vestido de noiva estava enfiado num baú aos pés da cama. -Damon?

Olhei para mim mesma, o vestido era cinza, com um tecido preto, levemente transparente por cima. Eu não estava usando joia nenhuma, tirando meu anel do sol, e tinha feito um coque com trancinhas no cabelo, tirando-o do pescoço.

—Damon?-Repeti. -Eu... Talvez possa pedir um vestido emprestado...?

—Não... Você... Está ótima. -Cruzei os braços, desconfiada.

—Verdade?-Assentiu.

—Está incrível. E, além disso, estamos atrasados. Podemos ir?

—Claro. -Comecei a ir para a porta, mas Damon me fez parar. -Que foi?-Ergueu um pouco a barra do vestido e sorriu.

—Você está de tênis.

—Sim. Não achou que eu colocaria um salto, achou? Podemos ir ou vai querer verificar o resto?-Seu sorriso aumentou.

—Adoraria a segunda opção.

—Como disse?

—Disse que devemos nos apressar.

—Foi o que eu imaginei. -Ofereceu o braço. -Acho que agora podemos ir.

Eu não sei por que aceitei ir com Damon para o baile. Talvez fosse o fato de que passaria dias longe da civilização, no “Programa de Reabilitação do Stefan”. Ele achava que me fazer entrar em sua dieta mataria meu lado “Noiva de Sangue”. Não gostei muito da ideia, mas era isso, ou a programação de Damon, que incluía me prender na tumba ou no porão da pensão.

Então o baile era minha despedida. Tentei me concentrar nisso, em vez de pensar que caso Stefan não conseguisse me “disciplinar”, talvez eu nunca mais veria a luz do sol. Ou da lua.

—E se eu não conseguir?-Sussurrei, sem prestar atenção no que Damon dizia.

—Você não está pensando de novo no “Assassinos não tão Anônimos” do Stefan, está?

—Eu não quero ficar presa de novo. Não consigo pensar em... Escapei de ficar um século e meio naquela maldita tumba, e agora...

—Você vai entrar na linha. Não vai ser fácil, mas... Como é um caso de vida ou morte... -Deu de ombros.

—Que maravilha.

—Esquece. Aproveite sua despedida. -Estendeu a mão.

—Não acha que vou dançar com você, acha?

—Qual é? Dançamos juntos um milhão de vezes.

—No passado. Quando você era o “Damon suportável”.

—Acho que me esqueci que você era um doce. Vamos lá. Só uma dança.

—Okay. Mas não reclame se eu pisar no seu pé. -Abriu um dos seus sorrisos que iluminavam mais que o sol.

—Cadê sua graça de vampira?

—O pisão seria proposital. -Pisquei. -Vamos, antes que eu mude de ideia.

Depois de duas danças (eu não consegui escapar depois da primeira), Damon roubou Elena de Stefan, e eu parti atrás de algo para beber.

Peguei uma taça e quase esbarrei em Caroline.

—Esse vestido foi caro, nem pense em derrubar champanhe nele. -Alertou. Sorri.

—Acho que lhe devo desculpas. Lamento ter atacado você naquele dia. Eu me descontrolei um pouco, e precisava de sangue.

—Okay. Tudo bem. Agora você não pode fazer isso de novo.

—Você é uma... Como isso aconteceu?

—Katherine. Escuta, não sei se você está do lado dela ou do nosso, mas...

—Com certeza não estou com ela. Quanto à estar com vocês... Depende das próximas jogadas.

—Jogadas? Ai, meu Deus, você está com Katherine!

—Shh. Não. Acha que eu estaria com a vaca que me abandonou? Por favor, use um pouco a cabeça. Eu ajudei a pegar Katherine. Se ela conseguiu um jeito de escapar, não é culpa minha.

—Ela teria te matado.

—E agora ela vai matar a cidade toda. Não sei o que Katherine está armando, mas com toda certeza do mundo: não é algo bom. Com licença.

Me afastei, indo para um canto vazio. Um pequeno ponto na minha cabeça começou a doer, como se um prego estivesse sendo enfiado no local. Larguei a taça num móvel e me apoiei na parede.

Então eu comecei a queimar.

Chamas partiram do centro do meu corpo e se espalharam, atingindo o resto numa velocidade surpreendente. Gritei, tentando apagar o fogo, mas sem conseguir.

Fechei os olhos e tombei para trás. Um corpo impediu minha queda.

—Ludmille, abra os olhos. -Uma voz masculina sussurrou, com urgência. -Ludmille. Está tudo bem, pessoal. É apenas um ataque de pânico. Ela só precisa respirar um pouco.

Em seguida estávamos em movimento. Eu, ainda com os olhos fechados, sendo conduzia firmemente para fora.

—Shh, shh. Está tudo bem.

—Damon?-Sussurrei. -Eu estava queimando.

—Abra os olhos.

—Eu não quero ver. -Continuei agarrada a roupa dele. -Não consigo...

—Ludmille.

Abri os olhos lentamente. Não havia sinais do que tinha acontecido na casa. Nenhuma queimadura, nem na minha pele, nem no vestido.

—Como...?-Comecei. -Eu vi as chamas. Eu estava... Queimando...

—Eu te vi desde que você se afastou de Caroline. Você não estava pegando fogo. -Me afastei dele, confusa. -Lud...

—Eu vi... Eu estava vendo... Foi tão... Real... Era real.

—Ludmille...

—Me leva pra casa. Por favor, me leva pra casa. Eu acho que vou surtar...

Damon tentou me encher de Black Magic e Bourbon quando chegamos na mansão Salvatore, mas eu não conseguia engolir nada. Estava entrando em pânico.

—Você bebeu quanto, antes daquilo acontecer?

—Nada. -Respondi. -Eu peguei uma taça, mas não cheguei a beber. -O olhar de dúvida me deixou irritada. -Eu estou sóbria!

—Tudo bem. Acho... Que deve ir dormir. Amanhã cedo vai com Stefan...

—Ainda tem isso. -Murmurei, ficando de pé. -Damon... Obrigada. Se não fosse você, acho que eu estaria no baile até agora, surtando. Obrigada. -Assentiu.

Passei por ele e fui para o quarto. Nem tirei o vestido, apenas me joguei na cama, desejando não ter pesadelos.

***

—Precisa de ajuda?-Elena perguntou, entrando depois de bater na porta. -Já arrumou suas coisas?

—Hã... Não.

—Quer ajuda?

—Eu adoraria.

Tinha acordado fazia uns vinte minutos, e apenas por que Stefan bateu insistentemente na porta, me fazendo sair da cama irritada.

Passei os vinte minutos anteriores andando pelo quarto, ainda com o vestido, e com o cabelo solto e despenteado.

—Elena... Te incomoda que eu esteja indo passar no mínimo uma semana sozinha com Stefan?-Perguntei, procurando algo pra vestir.

—No começo a ideia não me animou muito, mas... Ele... Vocês eram amigos e...

—Não se preocupe. Eu sou a última garota no mundo que representaria algum tipo de ameaça. Eu nunca... Você tem que entender...

—Não precisa explicar.

—Mas eu acho que preciso. -Me virei pra ela. -Quando... Eu me casei com 14 anos, com um homem 26 anos mais velho. Foi um pesadelo completo. Então eu... Eu nunca... Nunca estive com alguém por que quis. E não acho que vou escolher mudar isso tão depressa.

—Eu sinto muito... E... Confio em você. Sei que não faria nada... Bem, é melhor se arrumar, vocês partem logo.

Troquei de roupa rapidamente e saí com Elena, a mochila nas costas. Encontramos Stefan na sala, com sua própria mochila e uma bolsa.

—Pronta?-Perguntou.

—Sinceramente? Não.

—Nós vamos mesmo assim.

—Eu sei. Mas ainda não estou preparada psicologicamente pra ficar longe do conforto da civilização.

—Você vai se acostumar. Vamos?

—Vamos. Tchau, Elena.

Saí, deixando o casal sozinho, para que pudessem se despedir direito, e fui esperar no carro. Damon não deu as caras em momento algum, o que achei estranho, já que ele parecia interessado no “Programa de Reabilitação” onde me meti.

—Quer falar sobre o que aconteceu ontem?-Stefan perguntou, entrando no carro e dirigindo para longe. Elena acenou até nos perder de vista.

—Ontem? Ah. Damon te contou.

—Sim. Quer conversar sobre isso?

—Não. Estou em fase de negação.

—Isso não ajuda muito.

—É assim que venho lidando com as coisas há mais de um século, então vou continuar com meu método. Se importa...?-Apontei o rádio, Stefan negou com a cabeça, então o liguei. A música Delirium, da banda Lacuna Coil encheu o carro. -Amo essa música. Bom... Quais seus planos para essa longa semana?

—Primeiro passo: desintoxicação. Vamos te levar ao limite, deixá-la exausta. Segundo passo: alimentá-la com sangue animal. Terceiro passo: ver o que acontece.

—E qual seu plano B?-Olhou pra mim. -Você vai precisar de um, confie no que estou dizendo. Eu nunca me alimentei de algo que não fosse uma veia humana. Nem sei como caçar animais e não ache que vai me convencer a pegar coelhinhos e esquilos. Eu me recuso.

—Há coisas maiores na floresta, vai achar algo que te agrade.

—E se eu não conseguir?

—Você vai.

—Se for ruim? Se eu não me acostumar com sangue animal? Você vai me obrigar a beber?

—Acredito que não queira que Damon faça os planos. -Olhei pela janela.

—No fim das contas, vou acabar na tumba ou com uma estaca no peito. Não é?

—Não se depender de mim. É muito pedir que tenha um pouco de esperança?

—Talvez.

***

—Como estão indo as coisas?-A voz ansiosa de Elena veio pelo telefone.

—Por enquanto, ótimas. -Stefan respondeu, se esquivando de uma voadora minha. -Mas Ludmille ainda não se cansou nada.

—Você está mais cansado do eu. -Provoquei, conseguindo derrubá-lo.

—É um pouco injusto, considerando que você bebe sangue humano desde sempre, enquanto eu tenho uma dieta rígida.

—Vocês estão lutando?-Elena perguntou.

—Achei que era um bom começo.

—Mas errou feio. -Brinquei, avançando contra ele de novo.

—Tudo bem, vamos parar isso um pouco. Mantenha-se em movimento. Flexões, até eu mandar parar.

—E saber que um dia eu disse que gostava mais de você.

—Começa logo. -Revirei os olhos e o obedeci. Stefan pegou minha mochila.

—Ei, ei, tire as mãos daí...

—Eu sabia que devia ter te revistado antes.

—O que foi?-Essa foi Elena.

—Ela trouxe bolsas de sangue.

—Eu acho que isso vai contra as regras.

—Está achando isso engraçado. -A garota riu.

—É como lidar com Damon, só que mulher. Você devia esperar umas tentativas de trapaça. -Ela estava certa.

—Bem, a Ludmille que eu conhecia não tentaria trapacear.

—Tentaria sim, você é que não pensaria isso. -Avisei.

—Isso significa que umas mudanças terão que ser feitas. -Jogou o sangue fora. Fiquei de pé.

—Stefan!

—Nos falamos mais tarde, Elena. -Desligou o celular.

—Você não podia...

—Nós temos um acordo. Isso não envolve apenas você, envolve a segurança de pessoas inocentes. Se não puder reprimir o seu lado assassino, vai acabar com uma estaca no coração. Entendeu?

—Quer saber? Seria bem mais fácil. Não acha? Finalmente dar um nisso. Um fim a “Noiva de Sangue”. -Alguma coisa na reação dele me chamou atenção. -Que foi?

—Estou apenas... Esqueça. Não vai simplesmente desistir.

—Stefan, pessoas demais se feriram por minha causa. Feriram... Não. Morreram. Não estou sendo uma boa samaritana sugerindo isso. Só estou cansada. Cansada de não ter controle sobre mim mesma. Cansada de abrir os olhos e ver meu vestido de noiva sujo de sangue por que eu fiz picadinho de garotos humanos. Você entende? Estou cansada.

—Eu sei como se sente. -Se aproximou. -Eu sei como é ter um monstro dentro de si e é por isso que estou aqui. Se você desistir agora, o seu monstro vence. A Ludmille que eu conhecia nunca aceitaria perder. -Fez uma pausa. -Continue em movimento, ainda não acabamos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso, por hoje. Será que Lud consegue mudar sua dieta? E Kath, a doida, vai aparecer de novo?
Aguardem os próximos capítulos.
Até mais! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Delirium" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.