Contos de uma Viajante do Tempo Vol 1 - James Dean escrita por Sofia Casanova


Capítulo 11
Capítulo 11




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30 de Agosto

Olívia tinha que admitir: passar um tempo com James Dean era se esquecer de tudo, do mundo, de quem era, do que fazia. Ela nem sabia mais o que era pra fazer quando chegou  no necrotério. Mas ela sentiu um pouco de alívio, visto que não é muito dada a ficar fora de casa e muito menos na casa de estranhos. Ela tinha hábitos solitários e caseiros. Enquanto preenchia a papelada do dia, ficava pensando em Donald e se questionava se James estava falando a verdade ou queria tirar da cabeça dela qualquer tentativa de voltar com ele. A esta altura ele já deve ter conhecido Glória Noble  mas não quis falar.

“É, tenho que admitir que James possa estar certo. Ele não gostava de mim com intenção de ficar comigo.”

A semana passou devagar e Olívia tentou se concentrar cada vez mais em tentar salvar a vida de James mas não sabia como. Ele ligou para ela na Segunda de noite e na Terça. Ele disse que passaria a semana na casa dos tios em Indiana e que viajaria de lá para o Texas. Olívia aproveitaria pra dar uma fugida e fazer outra coisa pela cidade. Ela conhecia uma parte dela mas não toda. Decidiu andar pela cidade e procurar uma livraria ou talvez um sebo. Ela sempre mantinha consigo uma lista de livros que ela comprava a cada 6 meses e procurou algum que fosse de antes de 1950 . Não havia nenhum, mas andaria nas livrarias assim mesmo.

2 de Setembro
28 dias para o assassinato

Era Quinta-Feira, dia de almoçar cedo e ficar a tarde toda assistindo seriado no Notebook.Estava atravessando a rua quando alguém a chamou.

Ela olhou para trás.

Era ele.

Ela olhou ao redor para ver se alguém o reconhecia e andou na direção de seu carro.

— Vamos almoçar comigo, entra no carro.

— Como uma adolescente fugindo com o Elvis, Olívia não pensou duas vezes: entrou no carro de Donald .

— Você fica linda de enfermeira.

Todo mundo achava que ela era enfermeira por causa do vestidinho branco.

— Obrigada. – ela riu – Como você está?

— Estou bem. – ele ligou o carro – Vamos almoçar. Você tem algum compromisso hoje?

— Nenhum.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos.

Olívia lembrou-se de colocar o cinto de segurança e pegou Donald olhando para suas pernas.

— Você continua em forma – disse ele .

— Você continua lindo.

Ele sorriu sem graça.

Donald era acostumado a ouvir que era lindo mas não de pessoas próximas. Ele era muito inseguro e escondia seus complexos na comédia, nas piadas e na dança, onde ele realmente se sentia confiante.

— Seu namorado não vai notar sua ausência?

— James não é meu namorado. Estamos saindo, mas não é nada sério e duvido muito que vire algo sério.

— Você pensou no que falei ?

— Sobre voltar a dublar ?

— Sim. – ele a olhou e voltou a atenção para o trânsito.

— Sinceramente, eu não sei.

— Existem alguns musicais sendo trabalhados, se você quiser eu te coloco para cantar ou para dançar.

— Não, dançar não! Tenho pavor de câmera.

— Está sendo um desperdício você escondida naquela sala abafada cantando para desenhos da Disney – ele desviava a atenção do trânsito para o corpo dela, como se ele acabasse de perceber que ela tivesse deixado de ser adolescente. – E sinceramente, já que temos intimidade então vou dizer o que penso: Você não me falou a verdade na casa do Michael.

Olivia riu.

— Não falei mesmo não.

— Então...  porque  a senhorita sumiu? Jack Warner disse que você foi a melhor funcionária que a Warner Bros já teve: Invés de ficar perturbando para ganhar outro contrato sumiu de vez.

Olívia gargalhou.

— Eu vim para cá para fugir da guerra. Eu queria esquecer o que passei e começar minha vida e Hollywood é bastante fria, mentirosa, suja, promíscua e descobri que estou mais sozinha aqui do que na guerra. Achei que saindo desta vida de glamour e vivendo como os mortais, talvez eu conseguisse apagar tudo.

— Isso é. Hollywood não tem nada a oferecer exceto dinheiro.

— Eu tenho medo do estrago que Hollywood pode fazer na minha vida. Tenho medo de ser igual as atrizes: 5 maridos, rouba marido da outra, se afundar em drogas e virar uma diva por morrer jovem.

Ele permaneceu sério, em silêncio e concentrado.

— Mas, você está pedindo com tanto jeitinho que vou acabar reconsiderando.

Ele sorriu de novo. Ele sempre ficava sem saber o que dizer quando sua “fã número um para sempre” o elogiava ou era carinhosa. Ele acreditava em tudo o que ela dizia, afinal ele não teve esta atenção nem com sua mãe nem com a esposa. Quando chegaram ao restaurante, ele pediu uma mesa privada. Foram conduzidos a uma mesa em uma sala mais interna. Depois de pedirem, esperaram o garçom se retirar para continuarem a conversa.

— Eu me divorciei. – começou ele

“E lá vamos nós de novo” – pensou ela.

Olívia tentou se manter calma.

— Ela fez algo contra você? Ameaçou?

— Não, foi tranquilo, exceto que antes do divórcio oficialmente sair ela já estava saindo com um ator.

Olívia poderia ter fingindo que estava surpresa mas não estava: ela leu na internet.

— Você está bem depois disso?

— O pior já passou.

— E sua filha?

— Eu a vejo sempre que posso.

— Você está bebendo?

— As vezes sim. Mas não como antes.

— Está saindo com alguém para esquecer tudo isso?

— Não.

“Ainda não encontrou Glória Noble. Ótimo.”

— Me perdoe me intrometer na sua vida, mas... porque você está com o James Dean? Ele não faz seu tipo.

Olívia riu. Ele realmente a conhecia.

— Simplesmente aconteceu.

Eles almoçaram conversando sobre os projetos da MGM, Paramount e Warner Bros. Donald era o primeiro ator a ter 3 contratos no mesmo ano e ele não parava 1 minuto, sempre trabalhando, cantando, criando  roteiros.

Ele ainda insistia que ela voltasse a dublar.

 Ela estava se apaixonando por ele de novo.

— Você tem meu número. – disse ele na porta do Hotel Rosewood. – Se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

— Você também, se precisar conversar.

***

Olívia tomou um banho, arrumou a sacola de  roupas que iriam para a lavanderia e fez uma lista do que precisava comprar na farmácia:

2 Desodorantes

1 pacote de Band Ai para calos nos pés

Cera Depilatória

Gilette

Perfume

Desceu para jantar rapidamente e passou o resto da noite assistindo série no seu notebook. Ela não sentia falta da internet e gostava da vida old que estava levando: pomada no rosto, bobs nos cabelos. Considerando o padrão de perfeição de beleza imposto entre 1990 e 2017, ela era quase uma diva em plena década de 50 com seu corpo trabalhado no Boxe e no Tae Bo,com dieta à base de proteínas, usando maquiagem simples, própria da época. Ela seria perfeita se não fossem as malditas espinhas. Uma coisa que não mudava: dor de cotovelo. Na guerra, em Hollywood ou em 2017, ela sempre tinha uma dor de cotovelo pra contar.

Sem ligações de Donald ou de James, a semana passou devagar e sem muito a se fazer. Foi ao cinema no sábado assistir a uma sessão de filmes antigos que eles disponibilizavam. Assistiu East of Eden, o primeiro filme de James Dean e no Domingo,IT com Clara Bow, sua atriz favorita do cinema mudo.Ainda no sábado,após a sessão, andou pela cidade até chegar no Hotel. Passou na farmácia para fazer suas compras. Encontrou uma cera depilatória chamada Milady e o barbeador feminino da mesma marca, um esmalte vermelho maçã Peggy Sage que incluía a revista Harper’s Bazzar de bônus. No domingo foi à praia e depois da sessão, ficou confinada em seu quarto de hotel. O tédio tomou conta durante semanas até que James reapareceu.


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