Contos de uma Viajante do Tempo Vol 1 - James Dean escrita por Sofia Casanova


Capítulo 10
Capítulo 10




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Dia 3 – 29 de Agosto

Sábado amanheceu chuvoso e eram 6 da manhã quando ela acordou. O quarto estava frio, James estava adormecido ao seu lado e ela estava com preguiça. Observou –o dormindo e continuava a pensar em como salvaria a vida dele. Ela entrou na vida dele por um motivo genuíno e agora esta prestes a ser seguida por fotógrafos e provavelmente, se o relacionamento for adiante, ela vai acabar largando tudo para ficar com ele e ele ficará vivo. O importante é salvá-lo. Mas Olívia já cometeu este erro antes quando conheceu Donald O’Connor, ela estava prestes a contar a verdade para ele e o mesmo vai acontecer com James ou então, como ela vai explicar não ter família? Ela vai ter que contar a verdade.

Enquanto olhava para ele, acabou cochilando. Acordou sendo beijada no pescoço e com cheiro de café.

— Bom dia. Eu trouxe o café na cama – disse ele.

— Era pra eu ter ido fazer o café . – disse ela sentando-se

— Hoje você faz o almoço. A gente vai pro cinema e para aquele casamento hoje, guarde espaço no estômago.

—Umhum... – Olivia deu uma mordida no pão com queijo e presunto frito. – Você já comeu?

— Vou pegar meu prato agora, não coma tudo. Me espere.

Ela precisava de um plano para tirar James de casa na semana da sua morte mas ainda que estivesse longe da data, a sua chegada à vida dele poderia mudar tudo drasticamente. Seus pensamentos foram interrompidos com a chegada dele e sua bandeja de café.

— Obrigada por trazer meu café na cama. – disse Olívia

— Com prazer. – ele sentou-se e começou a se servir. – Olhe só, nós vamos para Novo México em um jatinho particular porque não tem avião daqui pra lá e são 14 horas de viagem de carro. Depois do cinema a gente vem em casa se troca e vai para Victorville, pegamos o nosso jatinho e voaremos até lá. Acredito que só voltaremos de manhã.

Após o café, James, que já havia tomado banho, trocou de roupa e disse que sairia mas que voltaria pro almoço.

— Eu vou ter que agendar uma coletiva para segunda-feira então vou ter que passar nos meus agentes. Eu prometo que volto pro almoço. – Ele se inclinou na cama para beijá-la. – Capriche nessa comida ai.- Ele pegou seu casaco de couro preto e saiu.

Após terminar sua xícara de café, Olívia tomou banho, arrumou a bagunça de seu quarto e levou tudo para a cozinha. Provavelmente Brigite não viria hoje, então começou a vasculhar pra ver o que encontrava e se deparou com a bagunça de sexta-feira que James não havia limpado. Ele não havia levado o lixo para fora e a frigideira estava suja, o fogão sujo e a cozinha estava fedendo.

Ela pegou o rádio pequeno que tinha na sala, levou para cozinha, ligou-o em alguma radio local e começou a fazer a limpeza. Minutos após ter se livrado do lixo e lavado os pratos, olhou os ingredientes que possuía e resolveu fazer um pouco de comida para hoje e amanhã já que James não costumava comer em casa. Ela fez macarrão, almôndegas , salada e cozinhou duas latas de feijão com os ingredientes que sua mãe havia ensinado. Devido a sua eficiência de multitarefas, antes do meio- dia ela já havia terminado tudo e decidiu tomar outro banho. Viu que já tinha roupa suja estava se acumulando e colocou-as na máquina de lavar e lamentou-se por ter se esquecido de ter feito isso antes. Após outro banho e já azul de fome, ela estava colocando a roupa que usara por ultimo para lavar quando James chegou.

— Graças a Deus, eu já estava com a barriga colando nas costas. – ela foi na direção dele e deu um beijo.

— Estou sentindo o cheiro daqui e estou morto de fome.- ele a puxou pelo braço em direção à cozinha.

Depois de dar graças, começaram a comer.

— Eu vou dar uma coletiva segunda-feira sobre o último filme que fiz porque eles querem a todo custo estrear este ano. – disse ele cortando as almôndegas do prato.- Acho que querem faturar em cima de mim. Sabe como é, você precisa dar retorno e eles te espremem até não sobrar nem a sua alma.

— Não duvido. Até porque, aprendi que tem gente que só dá lucro depois que morre, como Vincent Van Gogh.- ela o observou comer- Você gostou da comida?

— Está ótima – disse ele com a boca cheia. – Melhor que a do Parsey.

— Sério mesmo?

—Sério. Humm...- ele mastigou por um momento e continuou – Às 15 horas nós iremos ao cinema e eu soube que vai ter uma festa particular na casa do diretor.

Olívia sentiu um frio na barriga. Será que existem pessoas dos anos 30 que ainda vive? Porque se sim ela estava lascada.

— A gente vai na festa bem rápido só pra disfarçar e depois a gente some. Como você prefere: de lá ir para Victorville ou quer voltar e se trocar e depois iremos?

— O casamento é de que horas?

— Às 20 horas, eu acho que por voltas das 18 a gente pode estra voltando desta festa .

— Prefiro voltar e tomar um banho. Mas vai ser apenas pra tirar o perfume, porque meu cabelo já está escovado.

***

Quando chegaram ao local privado de exibição de “We’re no Angels”, Olívia certificou-se que seu cabelo preso estava no lugar, ainda dentro do carro só que ela não contava com duas coisas:

O lugar estava cheio de fotógrafos

Donald O’Connor acabara de descer do carro.

Pelo menos James ajudou-a a se vestir adequadamente. Era um vestido azul com branco e salto alto que James alugara de última hora pra ela. Ele apenas esqueceu de avisar que a mídia inteira estaria lá. Olívia pediu a Deus pra que ninguém a notasse. Donald estava de costas para eles conversando com os repórteres.

— Você esqueceu de me falar deste detalhe – disse Olívia entredentes

— O que foi, mulher? – disse ele rindo

— Está cheio de paparazzi aqui.- ela sorria enquanto os flash pipocavam

Olívia viu Humphrey Bogart no tapete com outras pessoas até que chegou a vez deles de bater as fotos:

— James, James , olha para cá!

— James quem é ela?

Olívia percebeu que Donald estava se aproximando e viu que ele cravara os olhos nela.


Tum

 Olívia ouviu o próprio coração bater.

— Donald, olha aqui.

TUM TUM

 

Sua mão começou a gelar e a tremer dentro das mãos de James e seu sorriso mostrava sinais de nervoso com o tique na bochecha. Ela tinha vontade de puxar James para dentro da sala de exibição mas se conteve.

— Está bom , pessoal, obrigada. – disse James

Olívia mal conseguia engolir a própria saliva e sentiu a garganta seca. Ela teve a forte impressão que ela não estava enganada:  Donald havia notado ela ali mas ela preferiu disfarçar. Eles eram dois estranhos agora. Passando pelos artistas que falavam com James, eles encontraram um lugar para sentar. Haviam apenas dois lugares vazios na fila do meio e não tinha como Donald sentar por perto. Olívia começou a sentir mal-estar e não percebeu que havia ficado em um silêncio perturbador.

— Está tudo bem? – perguntou James e ela voltou à realidade

— Sim...ehr... – limpou a garganta que voltou a ficar molhada – por quê?

— Você está calada.

Ela riu nervosa.

— É porque se você não tivesse alugado este vestido pra mim eu jamais poderia me perdoar em usar as coisas velhas que tenho. Não vou poder pagar a bondade que você teve de alugar ele. Você tem bom gosto. – ela acariciou seu rosto mas percebeu que ele estava olhando para alguém e voltou os olhos pra ela.

— Que bom que gostou . – ele beijou a mão dela e endireitou-se na cadeira mas voltou a olhar na mesma direção.

Olívia discretamente olhou para a mesma direção e entendeu: Donald estava sentado à direita deles, três filas à frente .

“Se esse homem olhar para trás eu sou uma mulher morta” – pensou ela. E evitou olhar para ele. James percebeu que havia algo de errado.

Após o filme, que não a deixou mais relaxada, eles se levantaram e pegaram o carro para irem à festa do diretor. Eles apenas falaram do filme e o silêncio pairou no carro. Ela sentiu que aquele silêncio tinha nome: Donald.

Permaneceram em silêncio até chegarem à casa do diretor.


***

O diretor Michael Curtiz tinha uma casa enorme, feita especialmente para dar festas privadas e dizem as más línguas que eram festas muito maiores que as promovidas pela Warner Bros. e pela Paramount. Michael escreveu o livro Casablanca que virou filme com Humphrey Bolgart mas Olívia achava o filme cansativo. Olívia não conhecia ninguém com quem já havia se encontrado antes mas conhecia todos através de filmes. James conversou com alguns atores e figurantes, apresentou Anne, como “Uma Amiga”. A casa do diretor ficava no alto da Califórnia e enquanto James estava conversando com amigos sem dar muita atenção, ela se afastou para ver o sol se pôr completamente. Ela nunca teve a ambição por mansões, luxo, riquezas mas, aquele pôr do sol, aquela visão da cidade no horizonte fazia valer a comprar de uma casa luxuosa.

Não importava o quanto Olívia admirasse a casa de Michael, pensasse no pôr do sol, na cidade: ela ainda tinha sentimentos por Donald e sabia disso. O que ela estava sentindo era tristeza e não raiva, mas ela não sabia como ia esconder de James.

— Olívia?

Uma voz grave e suave interrompeu seus pensamentos. Ela virou-se:

— Donald? – ela sentiu a garganta secar mas um sorriso brotou no seu rosto. Ela nunca tivera ódio dele nem rancor. –  Que bom te ver!

—Eu te vi na pré-estreia com seu namorado. James Dean, não é ?

—Sim, James Dean. – ela sentia o nervoso ir embora aos poucos - Ele não é meu namorado.

Ele não esboçou nenhuma reação, mas ficaram se olhando.

— Você está diferente, está mais bonita.

— Como você está?

— Estou bem. Trabalhando muito.

— Você melhorou daquele problema?

— Mais ou menos. Às vezes é difícil segurar a onda. O que você faz aqui?

— Eu estou estagiando no necrotério da cidade. Eu estou fazendo um curso de enfermagem e depois vou fazer medicina. Eu decidi que quero ser legista.

Ele a olhou espantado.

— É uma grande mudança.

— É conflituoso. Ser legista em um estado cheio de artistas. Acho que não vou saber lidar com meu ídolo morto. – ela riu.

— E onde você está morando?  Naquela mesma casa?

— Não, estou no Hotel Rosewood.

— E seu local de estágio é perto?

— South St. Louis Street ,Boyles Neighborhood. Quase perto.

— Então, você não quer mais dublar em Hollywood?

— Não... – ela riu e olhou para seus pés. – Eu... eu acho que não me encontro aqui.- ela voltou os olhos para ele.- Eu acho que não sei lidar bem com fama e também, acho um saco festa de artistas na casa de produtores, diretores, escritores e vários “-ores”.

— Entendo. – Ele não acreditou em nada do que ela disse, porque eles dois sabem que ela não falou a verdade.

— E você? – perguntou ela. – Eu não te vi na pré-estreia, acho que você deve ter entrado antes de mim. Você está aqui com seus amigos?

— Sim, eu sou amigo do Michael. Ele disse que me quer no próximo filme, vai ser uma grande produção e vai ser cantada. Se você tiver interesse eu posso te colocar para dublar. Sabe que sempre haverá lugar pra você.

Olívia ia responder quando James apareceu. Ela sorriu para ele e estendeu a mão em direção à dele.

— Esse é o James.

 Ele pegou na mão dela e estendeu a outra para cumprimentar Donald.

            - Tudo bem? – Disse Donald, amistoso.

— E a Debbie? Você tem tido notícias dela? Sinto saudades, nunca mais tive oportunidade de vê-la.

— Ela se casou este ano com o Eddie Fischer.

— Foi mesmo ? Eu nem soube.

— Vocês estão aí – outra pessoa interrompeu a conversa. – Crianças, vou precisar do O’Connor.

— Estou indo . – disse ele. Estendeu a mão outra vez para James e acenou para Olívia.

James Dean observou Donald se afastar e Olívia observou James.

— Eu não sabia que você conhecia Donald O’Connor. – disse ele voltando-se para ela.

— Conheço há muito tempo.- tentando disfarçar  a paixonite mal resolvida - Conheço a Debbie Reynolds também.

— Como?

— Eu era dubladora.

— Aqui em Hollywood?

— Sim. Aspirei ao posto de dubladora já que não curto muito as câmeras.

— Humm...

Sem muita reação, ele olhou pro relógio.

— São 18:00 horas em ponto. Vamos pra casa?

— Sim.

Eles passaram pelas pessoas e enquanto James se despedia delas com acenos, procurou Donald com os olhos mas não o encontrou. Já estava escuro quando eles chegaram na casa de James.

— Eu juro que não demoro no banho – disse ela, fazendo sinal para que ele abrisse o zíper do vestido nas suas costas.- Vou só tirar o perfume. – Ela correu em direção à escada, com o zíper aberto.

James permanecia em silêncio e ela estava se perguntando quando ele iria trazer o assunto à tona. Quando finalmente estava sozinha no quarto, ela se abraçou e sorriu. Como era bom vê-lo de novo. Enquanto tirava do guarda- roupa o vestido preto que usaria no casamento, ela começou a cantarolar Singin’ in The Rain. Após o banho, vestiu-se e se arrumou como se fosse encontrá-lo mesmo sabendo que não ia. Quando ela desceu, James já estava fumando, esperando-a na sala.

— Ficou bom ? – perguntou ela sobre o vestido

— Você ficou linda.- disse ele , soltando fumaça e vindo em sua direção. Ele passou um braço pelo seu pescoço e a beijou. – Vamos?

No carro, Olívia havia percebido que o humor de James havia melhorado e ligou o rádio enquanto não chegavam à Victorville. Passando entre as estações, encontrou uma rádio que tocava The Great Pretender. Olívia cantarolava e acariciava os cabelos de James. Ela se lembrou que cantava esta música no piano com Donald. Ele dizia que ela era a musa dele e pedia para que cantasse. Ele amava a expressividade dela pois, segundo ele, ela cantava os sentimentos que ele escondia.Só ela conseguia isso.


            Oh yes, I'm the great pretender

Pretending that I'm doing well

My need is such; I pretend too much

I'm lonely but no one can tell



            Ao chegarem na cidade, um amigo de James fez sinal para que ele entrasse na casa para guardar o carro. Ele apresentou Olívia a ele e foram direto para o jato particular. Olívia não gostava de voar e muito menos à noite. Eles chegaram às 8:00 horas, de carro, no local da festa. Quando a cerimônia começou, infelizmente a tristeza a tomou de novo e se lembrou de Donald e do dia que, em sua  cabeça, ela achou que casaria com ele. Ela sabia que não tinha como dar certo pois ele era um homem complicado, mergulhado em tristezas e seu coração complexado não tinha espaço para ela. Ela se tornara duas vezes mais triste depois que saíra do affair que tivera com ele. Foi um relacionamento complicado e impossível.  Talvez, se ela tentasse de novo tudo mudasse... era um caso a considerar. Ou talvez devesse dar adeus.

Olívia sabia que se voltasse muitas vezes para determinados períodos a realidade poderia mudar ainda que ela não tivesse nada a ver com o evento em questão. Certa vez, ela tentou mudar uma situação em que seus pais brigavam: dá primeira vez a briga aconteceu em dias diferentes e com mais intensidade, voltou pela segunda vez e houve briga porém houve agressão física e da terceira vez seus pais não brigaram mas seu pai fora embora de casa. Ela se concentrou e voltou para o ponto zero (ponto onde tudo está como deve estar) e ela entendeu que coisas acontecem porque devem acontecer. Simplesmente deve acontecer. Os pais dela se entenderam melhor após a briga a qual ela não interferiu. Se ela desviasse James do ponto de morte ela poderia permitir que ele vivesse mais ou pelo menos não deixar ele ser assassinado. Talvez devesse ficar com James e esquecer Donald, ou talvez devesse retomar a carreira de dubladora ou “voltar pro Texas” e deixar James Dean seguir sua vida.

Após comerem, eles caminharam de mãos dadas para longe da festa. James acendeu um cigarro e ela se encostou em uma parede coberta de musgos e trepadeiras .

— Porque Donald O’Connor não parava de olhar para você na estreia?

Olívia já estava esperando o assunto vir à tona.

— Tivemos um namoro bem rápido.

— Só?

— Como assim ?

— Para apenas um namoro ele parecia bastante interessado em você e eu percebi que você mudou quando estávamos batendo foto. Suas mãos estavam geladas.

— O fim do nosso relacionamento não foi agradável e eu achei que o havia perdoado, só que não. Eu fiquei com raiva de vê-lo.

Mentira.

— O que aconteceu? Você pode contar? – ele disse gentilmente, dando uma  longa tragada no cigarro.

— Eu tenho vergonha de falar sobre isso.

James continuava a olhá-la, esperando que ela contasse.

— Ele estava para se divorciar. Estava tudo certo. Eles nem moravam juntos mais.

—Ele mentiu para você?

—Não, pelo contrário. No fim, ele foi sincero. Eu estava dublando um dos filmes que ele estava fazendo e a gente se conheceu no estúdio de gravação. Eu não escondi meus sentimentos até porque eu já sabia que ele tinha uma esposa de gênio forte e abusiva e que não se viam mais, nem moravam na mesma casa, então eu pensei: por que não ? Eu sou uma boa pessoa e posso tratá-lo melhor do que a esposa dele. Isso porque eu não estou mencionando a mãe dele que ficou desorientada após a morte de um dos filhos.

— Quem você dublava?

— Eu estava dando minha voz para Debbie Reynolds em  Singin’ in the Rain. Ela estava dependendo de estamina por causa da exaustão e a voz dela não estava boa. Mas voltando, nos tivemos um relacionamento e depois eu comecei a levar chá de cadeira dele: ele dizia que vinha me ver e sumia por 3 dias. Ele se comportava assim e dizia que era porque não deu pra aparecer. Eu comecei a perder as esperanças de que ele ia decidir de vez se divorciar então eu soube que ele teve coma alcóolico e foi levado para o hospital e que ele era viciado em jogos e que fazia isso pra ficar longe da esposa o máximo de tempo possível só que mesmo separado dela, os vícios continuaram. No fim, ele disse que queria dar uma chance ao casamento e eu fiquei de otária.

— Ele não foi sincero com você em momento algum. Ele se divertiu com você enquanto estava enjoado da esposa.

— Nunca parei pra pensar dessa forma. Achei que ele estivesse em dúvida.

— Ele não estava em dúvida. Se ele quisesse casar com você ele já teria feito. Ele teria adiantado o divórcio e firmado compromisso com você. Talvez, não era você quem ele queria. Talvez essa seja a questão.

Olívia permaneceu em silêncio, atônita. Ela nunca parou pra pensar nesta possibilidade. Será que tudo aquilo foi apenas diversão para ele?

— O que vocês conversaram hoje na casa do Michael ?

— Ele disse que me viu na festa e perguntou por onde andei, se eu não queria voltar a dublar e que ele poderia arrumar uns filmes para mim.

— Ele a quer na cama dele de novo. – disse ele acendendo outro cigarro

Olívia o olhou assustada.

— Eu nunca fui pra cama com ele, James. Nunca aconteceu.

— Menos mal então.

O que James não sabia é que Olívia tinha uma paixão platônica por Donald O’Connor desde criança e que só depois de adulta é que resolveu tentar algo e passar na frente de Gloria Noble, a segunda esposa. Ela também queria tirar o Tenente Joshua Zimmerman da sua vida.

— Antes de você, há 7 meses eu fui abandonado por uma moça. Eu a pedi em casamento várias vezes e ela nunca me deu uma resposta. Um dia eu e ela fomos a premier de um filme, viajei para Nova York para fazer uma sessão de fotos com Denis Stock e aí eu soube que ela se casou com outro. – ele deu uma tragada e soltou a fumaça enquanto Olívia o olhava.- Fomos abandonados e feitos de otários. – ele se aproximou e a beijou. - Eu sempre achei  Singin’ in The Rain uma bosta.

— Você só pode esta tirando com minha cara. – disse Olívia

— Singin’ in the Rain e The Boy of Oklahoma. São horríveis.

Depois do que James havia dito sobre Donald, não valia mais a pena voltar pra 1951 e tentar convencê-lo a casar com ela: é daqui pra frente. De madrugada eles pegaram o jato e voltaram para Victorville. Chegaram quase de manhã em casa e dormiram na mesma cama. Enquanto o sono não vinha, eles conversaram sobre Hollywood.

— Eu me lembrei agora – disse ela – que eu assisti uma série chamada Long Time Till Dawn que você aparece. Se parece muito com os roteiros do programa de rádio de Terror e Drama Suspense.

— Na verdade foi adaptado de uma rádio drama. – Disse ele.- Eu não gostei, achei cansativo e muito clichê mas foi o que consegui beijando algumas bundas em Hollywood. Falando nisso, ganhei um papel em um filme com Elizabeth Taylor e Rock Hudson. Eu vou pro Texas daqui há duas semanas e não tenho dia para voltar.

Olivia se sentou na cama, no escuro. Ela não esperava por essa: ele vai ficar no Texas e não tem dia para voltar.

— Vamos filmar no deserto de Chihuahua. – ele colocou a mão por baixo de sua camisola e acariciou as costas nua. - Já foi lá ?

— Não.

— Quer ir comigo?

— Não posso, tenho que terminar meu estágio.

— Você está aborrecida por eu sair da cidade?

—Não, não estou. – ela virou a cabeça na direção dele – Depois do que você me falou sobre os seus agentes eu fico com medo que eles façam algo contra você por minha causa. Você sabe... Te obrigar a se afastar ou morar lá, ou arrumar um papel para separar a gente. Eu meio que não confio neles.

— Eles não vão fazer nada.

Ela deitou-se de lado e o encarou.

— Você me escreveria de lá , se tivesse tempo?

— Eu escrevo.

— Promete?

— Prometo.

— Eu quero saber de tudo, até das festinhas secretas.

            Dormiram até o meio-dia. James tinha que viajar para uma coletiva de imprensa na segunda-feira e Olívia voltaria para sua vida de “estudante.”


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