Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 14
Capítulo 13




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As selecionadas não tinham telefones em seus quartos.

Era uma decisão inteligente. Qualquer uma delas poderia ser uma infiltrada dos Todesser, no final das contas. Qualquer uma delas poderia ter uma marca negra, não nos braços, mas em seus tornozelos sempre escondidos pelos vestidos longos e sapatos fechados.

Assim que conseguisse a coroa, ou o momento propício, poderia assassinar a todos da corte que não concordassem com os seus planos, fossem quais fossem.

Jane sabia disso tudo. Sabia também que seria muito suspeito se qualquer um dos guardas a visse usando um telefone no meio da noite, mas ela não conseguia dormir. A bronca de Liam e a discussão rápida com Severina tinham sido suficientes para apagar qualquer paz e sorriso que ela pudesse ter adquirido naquela saída não autorizada ao vilarejo.

Não demoraria muito para que enlouquecesse outra vez com os ares do castelo. Às vezes se perguntava se Riddle não decidiria mantê-la em um calabouço, em vez de matá-la imediatamente. A sensação seria provavelmente a mesma.

Fechou as portas duplas do escritório escuro atrás de suas costas. Depois de algum tempo no palácio, era natural que já tivesse aprendido algumas passagens secretas que cortavam caminho. Os guardas não tinham o porquê se preocupar em vigiar as passagens, já que apenas algumas pessoas deveriam saber sobre elas, ou os escritórios, já que papéis importantes eram muito bem guardados em outro lugar.

Os aposentos do terceiro andar sempre tinham telefones. A comunicação dos monarcas com aliados e subalternos devia ser preservada, independentemente das circunstâncias. Se estivessem cercados por rebeldes, não poderiam sempre chegar aos escritórios para fazer uma ligação.

O verso do envelope, que mantinha guardado na gaveta como se fosse uma sentença de morte, continha endereço e telefone. Sua mãe sabia que não tinha uma memória muito boa para decorar um conjunto de números quase inutilizados. No geral, ela estava do outro lado da linha.

Jane não era de pensar muito antes de agir, então não tinha sido uma ideia muito boa que tivesse anotado o telefone na parte de trás. Alguém podia descobrir.

Pelo menos os telefones eram iguais aos da Nova Germânia, diante de tantas diferenças entre os dois países. Ela preferia os modelos mais antigos, que quase não funcionavam e tinham sobrevivido a tantas guerras, mas não se importava. Pressionar os botões era mais rápido do que fazer aquela roleta girar.

Fechou os olhos, tirando o telefone do gancho e aproximando-o da orelha. Esperou os primeiros toques, sabendo que ninguém atendia tão rápido. Não era costume comunicarem-se por telefone, pois nem todos os países tinham linhas telefônicas. As cartas eram mais usadas, um pouco de retrocesso tecnológico, quando ela pensava nas fotos que tinha visto na coleção de Liam.

— Pois não?

O coração pulou para a boca e ela bateu o telefone no gancho sem esperar mais um segundo, sem importar-se com o barulho que soaria pelo corredor. Não tinha pensado na probabilidade de não ser sua mãe a atender, muito menos na probabilidade de ser Tom Riddle.

Ele devia estar monopolizando tudo no palácio, sem que ninguém percebesse.

Escutou passos discretos dos soldados do lado de fora e então esgueirou-se de volta para a passagem pela qual veio.

♛♛♛

Todas as selecionadas já estavam no Salão das Mulheres, esperando pelo momento em que o Jornal Oficial de Illéa começaria. Algumas tinham anotações escritas às pressas em blocos de notas, outras tinham transcrito o que puderam dos relatórios militares, que tiveram de entregar algumas semanas antes.

Dessa vez, nenhuma delas se reunia para treinar o que falariam, já que o debate era entre todas elas. Seria imprevisível, cada uma por si.

— O príncipe! — exclamou Stelle, como se fosse um alarme de invasão.

Lucy, que estava deitada no sofá, jogou as pernas para fora, ficando sentada. Anneliese, que estava com as costas mais curvadas do que seria considerado saudável, tentando ler os papéis que estavam apoiados ao seu colo, encostou as costas na cadeira e ergueu as folhas de papel graciosamente à frente dos olhos. Talvez ela estivesse com algum problema de visão.

Todas se ajeitavam instantaneamente, ao saber que o príncipe entraria. Nenhuma delas estava para desistir da Seleção.
Como era o Salão das Mulheres, Liam não podia entrar, apesar de ter ignorado claramente esta regra antes.

— Senhorita Mirren, venha aqui fora, por favor. Será rápido.

Jane era a única a não segurar papéis, interagir com as outras garotas ou pensar sobre o que diria no Jornal Oficial. Ela não poderia se importar menos com a criminalidade em Illéa.

A sua maior vontade era de negar ir para fora, mas não podia fazer isso diante de tamanha plateia. As selecionadas que estavam de costas para ela, o que ela tinha agradecido antes, viraram para trás, surpresas. Um ar de esperança perpassou o rosto de Margot, todas deviam ter notado que seu relacionamento com Liam não andava dos melhores.

Naquele momento, ela pensava que não acreditava que tinha perdido o seu BV com semelhante idiota.

Sirena e Reyna não ousavam perguntá-la, mas percebiam que eles não andavam se bicando nos últimos tempos, por diversos motivos, mas na realidade todos levavam a uma só pessoa: Severina Snape, que naquele momento não levantava os olhos de sua folha de anotações.

Graciosamente, negando-se a perder o orgulho e a postura, ela descruzou os tornozelos, levantando-se e indo até as portas do Salão das Mulheres.

Liam já estava aprontado para o Jornal Oficial. Suas roupas cobertas das medalhas militares ridículas que ele ostentava todas as sextas-feiras, à frente do público. Parecia que ele estava fazendo aquilo somente para intimidá-la, mas Jane não permitiria isso. Estava tão nobremente arrumada quanto qualquer outra selecionada.

— Sim, Alteza? — ela ergueu o queixo, deixando transparecer toda a sua arrogância.

Isso pareceu enfurecer a Liam mais do que qualquer outra coisa, mas ele manteve o seu temperamento sob controle.

— A senhorita se lembra das regras da Seleção, certo? Ou, pelo menos, que existem regras para que você e as outras selecionadas estejam aqui? — ele perguntou.

— Nunca recusei o seu chamado, embora eu sinta muita vontade de fazê-lo — antes que pudesse continuar, Liam a interrompeu.

— Certamente não se lembra do fato de que brigas não são permitidas.

Jane sentiu-se ultrajada com sua insinuação e tomou uma respiração pela boca, antes de responder com todo o autocontrole que possuía:

— Eu não encostei um dedo em ninguém — saiu quase entredentes.

— Mas as suas discussões com a senhorita Snape prejudicam a nossa relação.

Jane quase jogou a cabeça para trás para gargalhar quando ele mencionou o sobrenome da Sete, mas o seu ódio pela palavra “relação” ganhou e achou melhor apertar os dentes o mais forte possível, antes que pudesse dizer algo do qual pudesse se arrepender.

— Como príncipe e anfitrião, devo zelar pela saúde mental e física das minhas selecionadas. Portanto, este é um aviso para que não se esqueça desta regra — ele finalizou, com um tom quase ameaçador — Eu fui claro?

— Cristalino — retrucou Jane, virando-se para sair, sem pedir a sua permissão.

Voltando para o seu assento, procurou não externar a sua irritação. Quase assim que sentou-se, McGonagall surgiu pela porta, chamando-as para irem até a sala em que o Jornal Oficial era transmitido.

— O que houve? — Sirena sussurrou a ela, enquanto caminhavam pelo corredor vazio.

— Nada — Jane rosnou.

Se falasse sobre o assunto, iria explodir.

As cadeiras estavam distribuídas de forma diferente da habitual. Em vez das fileiras de cadeira, elas estavam praticamente no centro da sala. Os holofotes estavam sobre elas naquela noite.
Rita Skeeter apenas dava as notícias mais importantes da semana, antes de passar as câmeras para elas, dando início ao debate.

— A prisão está vazia, mas isso de nada adianta se a criminalidade só aumenta — disse Barbara.

— A criminalidade aumentou com a vinda dos Death Eaters a Illéa — Amora retrucou — Antes disso, apenas pequenos furtos eram cometidos...

— Pequenos furtos que não eram punidos!

— Os crimes não podem ser processados se as vítimas não denunciam...

As vozes de quem falava e o que diziam se confundiu na mente de Jane e ela desistiu de prestar a atenção. Seus olhos iam e vinham do relógio de parede, mentalizando quanto tempo faltava para que o Jornal acabasse e ela pudesse finalmente estourar.

Lucy e Margot estavam em uma discussão acalorada sobre os seus pontos de vista quando Rita Skeeter interviu.

— Sinto muito interromper, senhoritas, mas o nosso tempo de exibição já acabou — ela disse, sorrindo para a câmera — Puxa, isso que eu chamo de um debate entusiasmado! Agora nós sabemos um pouco mais sobre a opinião política da maioria das garotas.

Reyna olhou para Jane. Todas tinham percebido que ela ficou muda durante todo o programa, até mesmo Snape tinha intervindo, os olhos fixos nela, somente para mostrar que sabia do que estava falando.

Jane levantou-se, tentando não parecer tão desesperada para sair quanto estava realmente se sentindo.

♛♛♛

Estava esperando que a sua eliminação chegasse, mas a próxima selecionada a arrumar as malas foi Anneliese, a psicóloga que ajudava Liam.

O que ela tinha feito? Dito algo que não o agradou? Tinha mexido com Severina, assim como Jane fez?

Nenhuma das outras selecionadas pareceu se comover com a sua saída, mas Amora parecia particularmente incomodada somente de olhar para a garota, conforme ela atravessava os corredores do primeiro andar em direção à entrada do castelo, as portas que cruzaria pela última vez.

— Ela é uma manipuladora — escutou Amora resmungar, na hora do almoço.

— Anneliese? — perguntou Gintare, curiosa.

Antes, Dolohov separava as duas selecionadas na mesa, mas agora elas estavam praticamente lado a lado, exceto pela cadeira vazia entre elas.

Amora olhou para o outro lado da mesa, onde Snape estava sentada.

— O que ela tem a ver com isso? — perguntou Jane.

— Nos convenceu a ir até o quarto de Anneliese na hora certa — ela responde, revirando a comida com o garfo, sem vontade de comer.

— Hora certa para quê?

Foi Gintare quem respondeu.

— Para flagrá-la.

— Ela estava traindo o príncipe? — perguntou Sirena, não aparentando dar tanta importância àquele assunto.

— Não exatamente — Amora disse, incerta.

— Oh vamos! Eu considero aquilo uma traição!

Amora pôs as mãos na boca de Gintare, indicando para que ela falasse mais baixo. Elas ainda dividiam suas refeições com a realeza e, com a mesa das selecionadas cada vez mais vazia, era mais fácil de terem suas conversas escutadas.

— As regras falam que não podemos nos envolver com outros homens, não diz nada sobre mulheres — ela murmurou.

Sirena deixou o garfo cair no prato, fazendo um som metálico alto, mas ela não pareceu se importar, ao contrário das outras.

— Espere, mas nenhuma outra selecionada foi eliminada — ela perguntou — Foi uma criada?

— Eu não quero mais falar sobre esse assunto — declarou Amora em um tom definitivo.

Reyna estava olhando na direção da mesa de Liam e seus pais, fazendo algumas caretas, como se estivesse se comunicando sem abrir a boca. Jane resolveu ignorar a clara traição da amiga. Não seria nenhuma novidade se, mais tarde, ela tentasse convencê-la de falar com Liam.

Em todo o tempo dela na Seleção, nunca McGonagall ou qualquer outra pessoa as apressou a terminar de comer. Elas não demoravam, mas só saíam depois que todas acabassem. Contudo, naquela tarde, a instrutora parecia estar com muita pressa para dar continuidade às aulas.

— Já que as senhoritas parecem estar muito entediadas, decidimos dar-lhes uma nova tarefa para a qual pensar — McGonagall disse, assim que estavam todas sentadas nas cadeiras do Salão das Mulheres — Essa tarefa será uma das mais importantes da Seleção. Haverá eliminação baseada nos resultados.

Todas as garotas se entreolharam, algumas parecendo bem aborrecidas com Jane e as outras que saíram na noite do casamento de Petuel, as outras apenas preocupadas com a chance de serem eliminadas.

— Todas as Seleções antes dessa passaram por isso — algo em seu rosto dizia que a de Petuel era uma exceção — Mesmo que vocês não se tornem a próxima rainha de Illéa, é muito importante que tenham em mente uma proposta de programa social.  Algo que porão em prática, quando selecionadas, que fará a diferença na vida da população. Terão uma semana para elaborar essa proposta, que será apresentada no Jornal Oficial de Illéa.

Elas tiveram permissão para passar o resto da tarde começando a pensar em alguma proposta, em vez de seguirem com as aulas. Mesmo McGonagall tinha ideia de como aquela tarefa era importante. Talvez fosse mais difícil do que organizar recepções.

— Eu realmente não entendo o porquê de precisarmos lidar com isso. Como ela mesmo disse, nós não seremos a próxima rainha de Illéa — reclamou Sirena, assim que elas estavam na biblioteca, como sempre.

— A Seleção foi criada para escolher a próxima rainha — disse Reyna — Eles resolveram fazer uma segunda, isso não muda as regras. Quem sabe, conseguimos fazer as propostas mesmo com a Veta como rainha.

Era uma sorte que ela e Petuel estivessem em lua de mel. Eles não influenciavam tanto na Seleção, embora sua presença fosse incômoda, mas quando apareciam sempre era para causar algum desconforto.

— Eu nunca vou entender. Fazia nem seis meses que acabou a outra Seleção — comentou Sirena, negando com a cabeça.

— Precisamos pensar em alguma coisa, só temos uma semana — Jane mudou de assunto.

— Bem, Fabiane sabe bem o que sugerir, as visitas regulares às províncias. Quero dizer, isso se ela ainda se lembrar — disse Reyna.

— Nem eu me lembrava mais disso — retrucou Sirena.

— Temos que ser originais. Ter alguma ideia que ninguém mais vá ter. Não consigo imaginar o que aconteceria se alguma de nós tivesse a mesma ideia — Jane pensou em voz alta.

Reyna teve a ideia de pegar alguns livros quase que inutilizados sobre sociologia e história de Illéa, para quem sabe elas terem alguma ideia baseada nos livros.

— Se nós mostrarmos dados estatísticos, terá mais credibilidade e atenção — ela justificou-se — Assim como no debate dos relatórios militares.

O debate que ela não prestou a menor atenção, Jane quis acrescentar, mas resolveu deixar quieto.

— A minha proposta será construir uma piscina dentro dos muros do castelo. Esse calor está enlouquecedor — disse Sirena, não dava para dizer se ela estava falando sério ou não.

Realmente estava quente e as janelas e portas todas escancaradas não deixavam que o ventilador de teto adiantasse de muito.

Jane decidiu ir até as janelas laterais da biblioteca e fechá-las, para ver se a situação melhoraria. Como sempre, ela parecia atraída a olhar para os jardins, onde Liam estava passeando com Severina.

— A minha proposta vai ser um sorteio, em vez da Seleção — ela resmungou.

Imaginava o quão mais simples e justo seria. Justo para a população, já que Liam não teria chance de escolha, mas o que importava as suas decisões. Ele mudava de ideia fácil demais.

— A visão está boa? — perguntou Sirena, notando a sua demora em fechar a janela.

Jane sentiu a raiva por Liam retornar com maior força e fechou a janela sem discrição e delicadeza.

Duas horas depois de vê-los juntos nos jardins, Margot Mulciber foi eliminada.

♛♛♛

— Para mim, parece bem claro — comentou Edelweiss.

Elas pareciam estar falando sobre eliminações mais vezes do que em qualquer outro momento da Seleção. Isso começava a irritar Jane de uma maneira que não sabia explicar. Por isso, preferia não desperdiçar seu tempo pedindo para que mudassem de assunto.

— Aposto que ela armou toda a história da Noelia e da Murissa — disse Fabiane.

— Isso explica porque ela ainda está aqui — Edge olhou para trás — Ela foi muito esperta. Ninguém suspeitaria dela, passou muito tempo longe dos holofotes.

— O problema é que nós subestimamos as pessoas — murmurou Artemisa.

Gintare também parecia estar cansada daquela conversa, já que elas apenas repetiam o que já tinham dito e todas já sabiam, então mudou de lugar, levantou-se da cadeira em que estava sentada e sentou-se mais perto de Jane.

A sua expressão de tédio estava tão evidente assim?

— Precisamos conversar — ela sussurrou, olhando para a frente.

Antes que pudesse responder, as portas do Salão das Mulheres abriram-se e a selecionada que estava faltando chegou. Não que alguma delas estivesse sentindo falta da presença de Lucy Malfoy.

Ela tinha um sorriso de um lado ao outro do rosto e isso não poderia significar uma boa notícia a qualquer uma delas.

— Como foi lá? — Amethyst perguntou a ela.

Elas nem se falavam no início da Seleção, mas Jane supunha que as semelhantes estavam se tornando escassas na competição. Exceto por Lucy, Barbara, Amethyst e Severina, elas eram um seleto grupo bem escolhido.

— Melhor encontro que eu poderia ter — Lucy disse, sem preocupar-se em falar em voz baixa — Agora que somos poucas, ele tem mais tempo para quem realmente importa.

Aquela alfinetada não era especificamente para ela, mas Jane sentiu mesmo assim. Fazia muito tempo que Liam não a chamava para sair ou conversar em particular. Na realidade, só conseguia lembrar de terem tido um encontro de verdade.

— Você está me matando de curiosidade! O que aconteceu que foi tão bom assim? — perguntou Amethyst.

Todas as garotas pareciam estar prestando a atenção na conversa das duas, por mais artificial que parecesse.

— É difícil ficar descontente, você sabe. Ele beija muito bem — disse Lucy, soltando um sorriso malicioso.

Gintare pareceu ter tido a mesma ideia que Reyna e Sirena, pois as três levantaram-se ao mesmo tempo, e puxaram Jane com elas para longe do Salão das Mulheres.

Pensou que iriam seguir para os quartos, mas elas decidiram ir para o jardim. A sensação era que os guardas estavam se tornando mais despreocupados com o passar do tempo com a regra de que selecionadas não podiam sair.

Pelo menos esse ar livre era permitido a elas.

Sirena começou a soltar palavrões que com certeza lhe renderiam uma boa eliminação da Seleção, caso fosse escutada por Liam.

— É óbvio que é mentira! — ela parecia estar afirmando mais para Jane do que para ela — Ela está tentando sair na frente de todo mundo. O príncipe não...

— Ele tem feito coisas que nós nunca diríamos que ele faria — Jane a interrompeu.

As outras lhe olharam confusas, sem entender o que ela quis dizer.

— Esquece, vocês não precisavam me tirar de lá — tentou mudar de assunto — Eu não ia pular em cima dela ou coisa do tipo.

— Esquece? Esquece nada! Jane, você não vê? É a nossa chance de tirar a Malfoy da competição! — exclamou Sirena.

— Do que você está falando? — perguntou Gintare.

— O príncipe eliminou a Valerie Yaxley quando ela disse em rede nacional que eles tinham se beijado, sendo que não era verdade — Reyna explicou, entendendo o raciocínio da amiga, talvez até apoiando a ideia — E disse que não permitiria mais que isso acontecesse.

— Exato! — Sirena exclamou — Se nós falarmos com ele, ele irá...

— Ele não fará nada — disse Jane — Quem disse que a Malfoy está mentindo?

Sirena olhou pasma para ela.

— Você acha que ela está falando a verdade? — perguntou, incrédula — Nada que sai da boca dela é confiável!

— Como vocês disseram, ela sabia dos riscos. Por que faria isso, sabendo que podia se dar mal? — Jane retrucou.

— Porque sabia que nós pensaríamos assim!

— Isso para mim soa mais como psicologia inversa — Reyna manifestou-se — Além do mais, a Valerie falou no Jornal Oficial para o país inteiro escutar. A Lucy só está falando essas coisas para nós, no Salão das Mulheres.

— Exatamente — Jane apoiou — E quem disse que ele vai nos levar a sério?

— Testemunhas — disse Sirena, como se fosse óbvio.

— Ele não confia nas suas amigas, ainda mais depois da saída de vocês — Gintare falou como se conhecesse o príncipe mais do que parecia — E de fora quem vocês podem dizer que vai apoiá-las? Crouch? Carrow? Chavelle?

— Você poderia atestar.

— Eu sou só uma pessoa. E também não sei se podemos desacreditar do que ela disse.

Sirena deu um chute em um vaso de flores para descontar a sua frustração.

— É sério? Vamos perder a chance de nos livrar daquela mala sem alça? — ela perguntou, indignada.

— Eu não vou falar com o príncipe para, no final, ele dizer que foi verdade — disse Jane, dando um ponto final no assunto — Se você quiser tentar a sorte, fique à vontade.

Sirena olhou para Reyna, esperando apoio, mas ela desviou o olhar.

Se foi alguma mentira de Lucy, ela planejou muito bem aquilo.

— Eu acho que deveríamos ocupar o nosso tempo com coisas mais produtivas, como arrumar uma ideia para as propostas de programa. A data limite está cada dia mais próxima e ainda não temos o que apresentar — disse Jane.

— Está falando exatamente como Reyna — reclamou Sirena, como se tivesse sido traída.

Ela saiu andando.

Reyna revirou os olhos e foi atrás da amiga.

Antes que Jane pudesse acompanhá-las, Gintare a parou.

— Eu tenho feito umas pesquisas e acho que pelo menos dez eliminações que já tivemos foram por culpa da Snape — ela disse.

— Olha, Gin, eu realmente não estou com cabeça para discutir sobre essa mulher agora — Jane passou a mão pelo rosto.

— Eu entendo, mas me escuta. Toda a trama da Noelia e da Murissa foi muito estranha. Por que o Liam teria que eliminar a Noelia depois que estava comprovado que a Murissa foi quem roubou aquelas joias? E a Murissa dificilmente começou com esse hábito no palácio, o que significa que ela já fazia isso antes, mas não tem nenhum relatório de prisão dela...

Gintare era uma autora de livros, pelo que Jane sabia, mas faria muito mais sentido se ela fosse uma jornalista, do jeito que ela parecia interessada em desvendar todos os mistérios que surgiam à sua frente.

— Ou seja, ela era boa demais para ser pega. E foi pega? Assim? Fácil? E então teve a Petya que pediu para sair, mas pode ser que tenha sido convencida pela Snape. Tem a trama do envenenamento também, que eu duvido que a Evanna e a Thalia tenham realmente tido essa ideia sozinhas... Soa mais como se tivessem sido mandadas.

— Até onde sabemos, pode ter sido a Lucy — Jane interrompeu o seu discurso.

— A Snape e ela estão juntas nessa história. Eu tenho certeza, só preciso de uma prova disso antes.

Não entendia o porquê de estarem conversando sobre esse assunto.

— Você precisa me ajudar — Gintare pôs a mão em seu ombro — Qualquer coisa que você ver ou ouvir sobre a Snape, você precisa me contar.

— Por que isso é tão importante para você? — perguntou Jane, desconfiada.

— Eu não vim para a Seleção por causa da coroa ou do príncipe, eu sou uma escritora. E, como uma escritora, eu preciso descobrir tudo o que eu puder.

Ela falava como se fosse escrever um livro sobre a Seleção.

A ideia era tão absurda que Jane a descartou no mesmo instante.

— A última vez que a vi, ela estava conversando com Liam nos jardins, horas antes da eliminação da Margot — disse.

— Isso faz muito sentido — Gintare deixou a sua mão cair do ombro de Jane, de volta ao seu lado, pensativa.

— Por quê? Você sabe o porquê de ela ter sido eliminada?

— É claro. Amanhã, todos saberão também. Já deve estar em todas as revistas de fofoca do país.

Isso só aguçou a curiosidade de Jane.

— E o que foi? — ela perguntou.

— Aparentemente, Snape descobriu que Margot tinha um caso com um cara da política, um cara casado. Eu não sei se eles continuam com isso, mas mesmo assim é um escândalo. Suficiente para tirar alguém da Seleção.

Ela não viu o choque no rosto de Jane, pois virou-se para trás no mesmo instante em que terminou de falar.

— Escute, eu preciso ir, a gente se fala — Gintare despediu-se rapidamente dela, indo na direção oposta.

Ela era realmente boa em descobrir as coisas.

♛♛♛

O método favorito de Sirena para ter ideias era ficar jogada na cama, olhando para o teto. Talvez estar entediada e se forçar funcionasse com ela, mas não adiantava em nada com Jane.

Mais cedo, Liam tentou falar com ela. Ou foi o que pareceu. Porém, ela não se orgulhava muito em dizer que era bem orgulhosa quando estava chateada, então ignorou abertamente as suas tentativas. Ele não insistiu, então talvez não fosse um assunto tão importante assim.

Mesmo assim, não podia evitar se sentir culpada. Estava deitada com Sirena, esperando Reyna voltar do seu encontro com Liam.

Era o quê? O segundo? O terceiro? Possivelmente mais.

— Então vocês estão brigados?

No geral, Jane odiava conversar sobre Liam com Sirena, mas ela estava realmente entediada. Ou outra coisa.

— Eu não sei. As coisas estão estranhas entre nós — respondeu, sabendo que não colaborava para as coisas melhorarem.

— Isso você nem precisava falar. Dá para perceber — comentou Sirena.

— As coisas eram tão mais fáceis no começo. Parece que aquele encantamento desapareceu e a gente está descobrindo quem o outro realmente é.

— Vocês superam.

Ela não tinha tanta certeza.

Reyna voltou com um grosso livro nas mãos. Talvez o encontro tivesse sido na biblioteca.

— Eu acho que isso pode nos ajudar — ela disse.

— Por quê? Tem uma maneira de nos livrarmos da Snape e da Malfoy? — perguntou Sirena.

— É um livro que registra projetos sociais que já foram apresentados na Seleção. Alguns nunca saíram do papel, outros estagnaram depois de um tempo...

E o livro era daquela grossura?

— Bom, é melhor começarmos logo — disse Jane.


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