Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 15
Capítulo 14




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Dezessete.

Esse era o número de quantas selecionadas permaneciam na Seleção.

Não era um grupo tão grande, comparado ao que eram no começo, mas também não era pequeno. Elas não eram da Elite ainda. Mesmo assim, parecia ser o suficiente para que os reis decidissem tentar conhecê-las melhor.

Era quase que uma piada para Jane. A rainha Doralice e o rei Charles a conheciam mais do que qualquer outra pessoa naquele castelo, desde que ela era uma criança. Provavelmente antes disso, desde quando ela era bebê.

Sirena achava que era a forma deles tentarem não cometer o mesmo erro que cometeram com a Seleção do filho mais velho, o príncipe Petuel, mas Reyna discordava. Eles não tinham influência sobre as decisões de Liam.

Talvez eles só estivessem tentando acalmar as moças, já que assim que o chá acabasse, todas elas iriam para o estúdio do Jornal Oficial de Illéa e apresentariam as suas propostas de programa social para todo o país. Uma delas seria eliminada, com toda a certeza, pelo que McGonagall tinha dito. Talvez fosse apenas um blefe, mas nenhuma delas estava com vontade de subestimar um evento baseada em suposições.

Nem mesmo Jane.

Por que Liam ainda não tinha a dispensado?

Ele sentia alguma coisa por ela, apesar de todas as suas discussões?

Ele estava a mantendo porque já sabia sobre ela ser uma princesa? Se fosse assim, por isso estava se afastando dela? Para procurar opções que fossem viáveis para ele? Estava com tanta raiva dela pelas mentiras que não conseguia nem olhá-la no rosto?

Acordou de seus questionamentos quando Reyna bateu em sua porta, esperando-a para que pudessem ir juntas até a pequena sala onde aconteceria o chá. Ela não sabia onde Sirena estava, se ainda em seu quarto ou se já tinha chegado lá. Só sabia que seu guarda também estava fora do posto.

As duas seguiram o caminho sozinhas, tomando particular cuidado ao descer as escadas para não tropeçarem na borda do vestido. Era como se as criadas de Reyna e as de Jane tivessem combinado que um estilo mais casual seria o melhor para aquela noite.

O vestido de Reyna era floral e sem mangas, apenas alças. O de Jane era liso, sem desenhos ou detalhes, mas mangas curtas, sentiria como se estivesse usando camisola se não fosse pela faixa na cintura. Hope e Pomona pareciam cansadas de usar sempre tecidos azuis, ou eles estavam em falta por sua causa, então era verde.

Jane odiava verde.

Exceto os tons água marinha e verde chá. Esses ela podia suportar.

Eram tons mais claros, mais próximos do azul ou amarelo. Menos verdes.

A cor esmeralda só caía bem quando se tratava dos olhos de Liam.

Apenas a cor azul e suas variantes combinavam perfeitamente com a sua pele. Reyna não parecia ter problemas com cores, qualquer coisa que vestisse cairia bem nela. Liam também não tinha esse problema, apesar dos cabelos ruivos que deveriam segregar as suas opções.

Ele estava usando um terno azul escuro naquela noite. Caía muito bem nele, não apenas porque era a cor favorita de Jane.

A rainha Doralice estava conversando com Chavelle, enquanto o rei Charles tomava chá em um canto com Queensley. As outras selecionadas estavam espalhadas pelo cômodo. Liam conversava com Severina, como sempre. Levantou os olhos, assim que ela passou pela porta, mas não demorou dois segundos para voltar o olhar para a sua amiguinha.

Então era assim que ele agiria. Ignorando a sua presença.

— Vocês deveriam conversar.

Estava demorando para Reyna tentar convencê-la a falar com Liam.

Passando os olhos pela sala, ela não demorou a encontrar Gintare, que estava sentada próxima de onde Liam e Snape conversavam, claramente tentando escutar alguma coisa da conversa deles.

— Ele não quer falar comigo — viu-se dizendo a amiga, antes de afastar-se.

Sentou-se em uma das poltronas disponíveis, ignorando as bandejas com bules de chá e xícaras vazias. Ela odiava chá. Era um costume anglo-saxão, não combinava com os povos germanos. Ela preferia muito mais cerveja.

— Prefiro café — ouviu Amethyst reclamar, sentando-se na poltrona ao lado.

Sentiu-se ameaçada. Não confiava naquela garota.

— Vaza — Sirena pôs as mãos nas costas da poltrona.

Amethyst olhou-a arrogante, considerando se valia a pena começar uma discussão na frente das majestades por causa de um lugar, tendo tantos vagos. Por fim, ela levantou-se e afastou-se, permitindo a Sirena sentar-se ao lado de Jane.

— Garota sem noção — ela resmungou, também ignorando as bandejas.

Poucos eventos no palácio permitiam que as selecionadas consumissem bebida alcoólica, infelizmente para Jane. Se não soubesse disso, diria que a amiga estava de ressaca.

— Quando que essa festinha vai acabar? — perguntou Sirena.

— Bem, o rei está conversando com a Queensley e a rainha está conversando com a Chavelle desde que eu cheguei — respondeu Jane, omitindo a acompanhante de Liam.

Sirena não precisava escutar, ela pôde ver com os próprios olhos.

— Acho que vou começar a contatar uns parentes de fora do país para não ter que suportar essa princesa toda sexta-feira no Jornal Oficial — ela resmungou.

Jane sentiu o estômago revirar só com a possibilidade de Liam escolher Severina.

— Você pode vir para a Nova Germânia comigo — ela sugeriu, tentando distrair-se.

Sirena não estranhou a sua sugestão.

— Senhorita Mirren — a rainha dispensou Chavelle, chamando-a.

O rei, ao mesmo tempo, chamou Reyna para conversar.

— Você não parece estar muito bem — Doralice comentou, assim que ela aproximou-se dela — Aconteceu alguma coisa?

— É claro que não, Majestade — Jane respondeu, mecanicamente — Estou bem.

Ela não convenceu-se, mas resolveu não insistir.

— Eu tive que chamá-la, ou ficaria muito suspeito, você sabe — ela sussurrou, olhando para o lado.

— É claro, não se preocupe.

Seguindo o olhar da rainha, ela percebeu que estava olhando para Liam e Severina.

— É tão difícil não poder opinar. Ainda mais depois do que aconteceu com Petuel — Doralice parecia estar falando consigo mesma.

— Liam é sensato. Ele não vai cometer os mesmos erros — Jane não sabia o que responder.

— Eu sei, mas... Ele é tão temperamental.

Doralice lançou um olhar constrangido para Jane, parecendo querendo dizer com os olhos algo que não podia expressar em palavras. Se era algo importante, tinha sido inútil, pois Jane não entendeu a mensagem.

— Com licença — por fim, ela foi incapaz de ficar parada.

Aproximou-se de Liam, pondo uma mão em seu ombro e murmurando algo em seu ouvido. Para evitar o olhar de qualquer um, Jane aproximou-se da bandeja de chá e encheu uma xícara que não tomaria.

Snape foi para junto de Lucy, após dar uma reverência à rainha. Liam foi para perto de onde Fabiane e Stelle conversavam. Doralice ainda com uma expressão incomodada e preocupada, voltou para perto de Jane.

— Eu fico com isso, não se preocupe — ela sussurrou para Jane, pegando a xícara de chá e pondo alguns pequenos cubos de açúcar — Eu mandei que a cozinha preparasse alguns biscoitos de leite para acompanhar, sei que você gosta. Ou gostava, quando era criança.

— Sim, são uma delícia, Majestade.

Doralice concordou com a cabeça, como se esperasse que a conversa delas rendesse mais do que algumas poucas palavras trocadas.

Faça uma princesa agir como selecionada por alguns meses e ela não esquecerá tão cedo.

— Eu deveria chamar outra garota para conversar agora — ela disse, sem olhá-la.

— Sim, o tempo está a correr. Em breve, será tempo do Jornal Oficial.

— Está nervosa?

Jane pegou um biscoito de chocolate com menta que acompanhava o pires da xícara. Era outro que ela gostava de comer, mas com café, não chá.

— Não, eu estou preparada para isso — ela respondeu.

— É claro. Não é nenhuma novidade para você — Doralice deu um sorriso discreto em sua direção — Quem você sugere que eu chame agora?

— Eu posso ser bem parcial.

A rainha não deu sinais de ter mudado de ideia, ainda esperava por uma resposta.

— Se quiser rir, Fabiane e Stelle são uma boa opção. Ou se quiser escutar uma boa história, Gintare é boa nisso.

Exceto quando se tratava de Snape.

— Você se contradiz com grande frequência, senhorita Mirren — disse Doralice — A sua parcialidade não indicou nenhuma de suas melhores amigas.

Ela preferia poupar Reyna do nervosismo que ela enfrentava quando ia conversar com alguém da realeza, e também a própria rainha de ter que escutar as coisas que Sirena poderia dizer sem pensar. Não estava com vontade de ter suas amigas fora da competição, embora a escolha fosse de Liam.

— Pode ir — a rainha disse, tomando um gole de sua xícara de chá, como se fosse água.

Jane fez uma reverência, antes de afastar-se.

Olhando de soslaio, era difícil dizer quem ria mais: Fabiane, Stelle ou Liam.

Talvez por isso Doralice tivesse decidido chamar Gintare para conversar.

— Eles descobriram as suas transgressões? — Sirena provocou Reyna, em voz baixa.

— Considerando que eu precisava de dados estatísticos para montar a minha proposta, eles não podem me punir por isso — Reyna sussurrou em resposta.

Não demorou muito tempo mais para que os reis Charles e Doralice dispensassem as suas conversas.

— Já está na hora. Então, senhoritas, se puderem fazer o favor de nos acompanhar até o estúdio — Doralice foi, como sempre, a anfitriã.

— Ele falou muito? — Jane perguntou a Reyna.

— Acho que ele não gosta de se dirigir a grandes multidões.

Sim, ela já tinha percebido o mesmo.

Rita Skeeter e seus assistentes estavam andando de um lado ao outro do estúdio, dando os últimos retoques para que tudo ficasse perfeito para a transmissão.

As cadeiras permaneciam em seus lugares, mas uma mesa quadrada estava no centro da sala, onde as selecionadas ficariam quando fosse a vez delas de apresentar. Antes disso, a câmera se dirigiria alguns centímetros ao lado, onde Rita estaria sentada, dando as notícias, próxima dos tronos reais.

— Vão para os seus lugares, senhoritas — disse McGonagall, sempre por perto para orientá-las.

♛♛♛

Sirena quis ficar no meio daquela vez.

Era sempre Jane quem ficava entre Sirena e Reyna, mas daquela vez ficou entre ela e Artemisa.

A ruiva estava muito nervosa, concentrada relendo as suas anotações.

A proposta que Reyna teve era de criar um hospital público para atender doentes e acidentados das castas mais baixas (Oito, Sete, Seis e Cinco), sem condições de pagar por um tratamento ou visita de médicos da Três.

A proposta de Sirena foi de que a realeza formasse plebiscitos para decidir algumas questões importantes, como a mudança na ordem de sucessão ao trono. Se Petuel e Veta não estivessem de lua de mel, com certeza aquela edição do Jornal terminaria em barraco.

Até mesmo Liam deixou escapar uma risada fraca ao escutá-la.

Artemisa tinha passado as últimas semanas muito ocupada acertando os detalhes do seu projeto. Tinha tido um pouco de ajuda de McGonagall e até de algumas selecionadas mais próximas. Ninguém tinha se esforçado mais do que ela.

— Senhorita Mirren.

Sirena recolheu os papéis que tinha deixado em cima da mesa e voltou para a área das cadeiras para dá-la espaço. Esbarrando-se no meio do caminho, ela deu um rápido aperto de encorajamento em sua mão, que possivelmente as câmeras não captaram.

Parecia apresentação de escola, mas Jane não pôde evitar. Apenas chegar lá na frente e falar era muito coisa de jornalista, e Skeeter mesma tinha o apoio das imagens da edição e da televisão para corroborar o que dizia. Por isso, ela fez uma pequena maquete de um prédio, bem simples, apenas para ter algo para colocar em cima da mesa.

— Há algumas semanas, nós da Seleção tivemos um debate sobre o aumento da criminalidade nas cidades, e algumas apontaram que o crescimento dos Oito era a causa para isso.

Ela sabia que deveria levantar o queixo e olhar para a câmera, mas era quase como se pudesse ver a multidão por trás das lentes das câmeras apontadas para ela. Permaneceu com os olhos fixos na pequena maquete.

— Os Oito não têm oportunidades de emprego. Muitos deles se tornaram Oito por terem deficiências físicas ou mentais que os incapacitam de trabalhar, sem um familiar ou amigo responsável para cuidar deles. Por isso, eu acho que um abrigo ajudaria muito essas pessoas.

Não tinha uma folha de papel com dados estatísticos para expor, a mesa tinha apenas a simples maquete.

— Não sou de me iludir acreditando que apenas isso resolverá essa questão, mas já é um passo. Grandes mudanças acontecem com pequenos avanços.

A parte boa da apresentação era que ninguém fazia perguntas.

Não era como a escola (ou a ideia que Jane tinha da escola, já que nunca frequentou uma).

Voltando para o seu lugar ao lado de Sirena, ela pensou que talvez unir mais de uma das propostas apresentadas, como a dela e de Reyna, ajudaria muitas pessoas. Sabia que não eram projetos fáceis de serem postos em prática quando o reino estava em guerra, tendo que controlar os seus gastos, mas talvez fosse um sacrifício que rendesse bons frutos no futuro.

— Senhorita Malfoy.

Lucy não carregava nada.

Nem maquetes, nem cartazes e muito menos papéis.

Talvez fosse parte de seu plano mostrar que tinha conhecimento sobre o que falava sem precisar ler nenhuma informação. Pelo menos seria uma apresentação rápida, elas não precisariam perder muito tempo escutando-a.

— A minha proposta, na verdade, é muito simples — ela disse, apenas corroborando para a sua imagem de quem tinha pressa — Quaisquer outros programas aqui levariam muito dinheiro dos cofres públicos.

É claro que ela daria um jeito de descartar todas as ideias dadas anteriormente. Teria sido interessante se ela fosse uma das primeiras a apresentar, sem base para esse tipo de argumentação.

— Como Janeth disse, pequenos avanços podem fazer grandes mudanças. Sendo assim, por que não tentamos pensar no que os Oito precisam, em vez de tentar adivinhar?

Sirena soltou uma risada debochada não muito baixa.

— Claro, porque a Dois sabe definir o que os Oito precisam — ela sussurrou.

Fabiane poderia ser chamada logo depois dela para apresentar e falar sobre a proposta de intercâmbio de castas. Seria bem engraçado.

— Eu proponho algo simples e que vai ajudá-los. Eu chamo de "cesta básica". Não apenas para os Oito, como também aos Sete e Seis, as castas mais baixas e necessitadas.

A expressão de Lucy poderia enganar a qualquer um, pensando que ela realmente se importava com as castas menos privilegiadas, mas não as selecionadas, que a conheciam bem demais para se deixarem levar por seu rosto lindo e suas palavras.

— Grãos, alimentos não perecíveis, produtos de limpeza, coisas que dêem para sobreviver durante o mês. Esta é a minha proposta.

Por algum motivo, as palmas educadas vieram somente das amigas de Lucy e da realeza.

Jane olhou para o lado e percebeu Artemisa ficar pálida, enquanto Edelweiss e Benny pareciam simplesmente boquiabertas. Fabiane e Stelle tentavam conversar em voz baixa com a ruiva, que estava sem reação.

— Senhorita Weasley.

— Eu não posso — Artemisa sussurrou, parecendo a ponto de chorar.

Liam percebeu que algo estava errado e sussurrou para Rita, que rapidamente corrigiu-se:

— Senhorita Wilkes.

Ele foi até o grupo de selecionadas, as câmeras desviaram-se de lá sob um aceno de sua mão, dando mais privacidade a todas.

— Temis, o que houve? — Reyna sussurrou, esticando-se para tentar ficar mais próxima dela, já que tinha Sirena e Jane entre elas.

Artemisa não respondeu, escondendo o rosto entre as mãos, chorando.

— A proposta dela é igualzinha a da Malfoy — Edge mudou de lugar nas cadeiras para dar espaço a Liam, aproximando-se delas.

— Igual quanto? — perguntou Sirena, os olhos já faiscando em direção a Lucy.

— Pior — ela sussurrou, olhando na direção de Artemisa, para não magoá-la — Ela sugeria que montassem quentinhas todos os dias para dar às castas menos privilegiadas.

— Eu não achei tão parecido assim — Reyna tentou consolá-la indiretamente — Além do mais, é uma escolha inteligente. A proposta da Malfoy é burra. Como ela espera que os Oito tenham onde cozinhar os grãos e alimentos não perecíveis? Ou usar os produtos de limpeza?

Mesmo assim, Artemisa se negou a apresentar, o que era compreensível. Eram soluções muito parecidas, algo que McGonagall não aceitaria que fosse ao ar.

♛♛♛

— Aquela cascavel maldita! — gritou Sirena, quase derrubando um jarro em direção ao seu fim.

— Foi uma coincidência infeliz — Reyna tentou dizer.

— Coincidência? — Fabiane perguntou, agressiva — Você realmente acredita nisso? Com aquela lá?

Ela apontou em direção à porta fechada.

Se alguém encostasse as orelhas na porta, conseguiria ouvir claramente o que estava sendo dito ali. Talvez nem precisasse chegar tão perto.

— Fala sério, Reyna! Ela claramente copiou a ideia da Arty! E não bastando isso, ainda acrescentou coisa para fazer a egípcia — ela completou o raciocínio.

— Sair pela tangente — Benny concordou.

Era realmente difícil de acreditar que Lucy Malfoy fosse fazer algum projeto de filantropia para ajudar aos Seis para baixo. Ela tinha tão pouca criatividade e vivência que achou mais fácil pegar a ideia de outra selecionada, alguém que ela considerasse fraca.

Talvez Snape teria a ajudado. Teria Gintare visto alguém?

Isso faria alguma diferença? Com Noelia não fez.

— Esse lugar não é para você, Temis — disse Jane.

Fabiane olhou chocada para ela, praticamente a ponto de empurrá-la em direção ao guarda roupas para asfixiá-la.

— Você só merece gentileza e bondade. Não vai conseguir isso nesse lugar. Aqui é a decadência feminina, as mulheres fazem qualquer coisa para ficar por cima umas das outras. E estou começando a achar que o príncipe não vale tudo isso.

Nenhuma das garotas a respondeu, enquanto ela abria a porta para sair do quarto.

♛♛♛

Artemisa deixou o palácio assim que amanheceu.

O cartaz foi a única coisa que ficou para trás em seu quarto, jogado em uma lixeira pequena demais para ele.

A porta ficou aberta enquanto as criadas punham panos extensos por cima dos móveis para evitar a poeira e o desgaste, já que não se sabia quando aqueles quartos seriam ocupados antes. Então, as criadas trancariam a porta e voltariam para as suas rotinas nas cozinhas, como era antes da Seleção acontecer.

O mundo não parava por causa de mais uma eliminação.

As revistas de fofoca do dia falavam sobre como tinha sido a apresentação dos seus projetos no dia anterior, dando comentários às vezes fúteis e às vezes úteis. Era agradável saber que os espectadores pensavam a mesma coisa que elas quanto à proposta que Lucy deu — ou melhor, roubou.

Incompleta. Irrealista. Estranha.

Não seria a primeira vez que ela ficaria irritada por causa das críticas do público, mas daquela vez era muito bem feito. Ela podia ter tirado Artemisa da competição, mas não estava em bons lençóis, mesmo que Liam não tivesse como eliminá-la.

Outra selecionada que não passou longe das reclamações foi Barbara. Ela foi massacrada pelas críticas, como em quase todas as vezes em que Jane podia se lembrar de tê-la visto ser mencionada. Daquela vez, no entanto, parecia ter sido o suficiente.

Assim que leu o que dizia a revista, assim como todas as outras garotas curiosas, ela saiu da sala sem dizer mais uma palavra, parecendo a ponto de chorar.

Já era de se imaginar que ela não suportaria o foco das câmeras por muito mais tempo. Ela nunca quis isso para si.

— Ela pode não ser da Elite, mas ex-selecionadas são acompanhadas por um tempo depois que a Seleção termina — comentou Sirena — Ela não vai ter paz tão cedo.

Então elas eram quinze.

Mais cinco garotas iriam para casa e então elas seriam da Elite.

E, antes que pudessem perceber, uma nova rainha seria coroada.

Decidiu dar uma passeada pelo castelo, talvez pudesse ir até aquela saleta que tinham tido o chá para tocar um pouco de piano, já que no seu quarto não tinha um. Essa era uma coisa que podia ter pedido para mudarem.

Estava subindo as escadas com uma das mãos deslizando pelo corrimão de madeira. Alguns soldados marchavam pelo corredor, entre eles estava o que tinha invadido o seu quarto junto com Emmett a mando de Veta, atrás de sua joia roubada.

Fazia muito tempo que não via Vance.

Pelo que se lembrava, desde o ataque rebelde em que ela e Reyna ficaram presas na cozinha e ele veio com aquela conversa estranha sobre pedir desculpas pelo modo como a tratou.

Hope, Pomona e Myrtle estavam fofocando quando ela chegou em seu quarto. Elas sempre tinham algum assunto sobre o que acontecia no castelo para falar. Algumas vezes, Jane ficava escutando disfarçadamente, outras ela se metia no meio do assunto, mas daquela vez ela não estava com muita vontade de conversar.

— Sabem o que aconteceu com aquele guarda? — ela perguntou, interrompendo a conversa.

— Qual deles? — perguntou Myrtle, imediatamente.

Ela devia saber tudo sobre cada um dos guardas.

Os envolvimentos entre guardas e criadas não eram nenhuma novidade.

— Vance. Aquele idiota que invadiu o meu quarto — disse Jane.

— Ele foi transferido — quem respondeu foi Hope.

— Nós até achamos estranho porque ele estava aqui no castelo fazia muito tempo — concordou Pomona — Ele não comentou nada com ninguém.

— Ele deve ter feito algo bem sério para que o transferissem — disse Myrtle — Difícil mudarem os guardas daqui, tem que ser sempre os melhores e de confiança.

Ele tinha aberto a gaveta com a carta intocada naquele dia.

E se as joias fossem apenas um pretexto?

Liam tinha o afastado por descobrir que ele era um apoiador dos Todesser?

Não, ele não teria mudado seu posto. Ele teria o demitido ou mandado para a prisão. Ou talvez a mudança de posto tivesse sido apenas uma desculpa para não assustar aos moradores do palácio.

Se isso fosse verdade, o quão perto os assassinos estiveram dela?

— Senhorita? Está tudo bem? — perguntou Pomona.

Então Jane percebeu que estava parada, olhando para a sacada por um tempo.

— Eu vou até a saleta tocar um pouco de piano, caso precisem de mim — ela disse, vagamente.

Elas assentiram com a cabeça.

♛♛♛

Antes que alguma delas sugerisse mais uma fuga do castelo — o que Jane achava difícil de acontecer, considerando a bronca que receberam da última vez —, o Grande Salão começou a ser decorado mais uma vez. As portas sempre trancadas foram mais uma vez abertas e tanto a rainha quanto McGonagall e os funcionários do castelo começaram a visitar, não para mudar os móveis de lugar, mas para considerar o espaço e como poderiam ocupá-lo.

Já tinham visto esse processo acontecer antes, quando houve o aniversário de Illéa.

— A recepção.

Jane se virou para trás, assim como as outras garotas, que tinham ficado paradas para observar a rainha e alguns funcionários movendo alguns móveis de lugar, mas sem tirá-los do Salão. McGonagall fez um gesto para que elas a seguissem até o Salão das Mulheres.

— A recepção é uma tarefa muito importante para vocês como selecionadas — ela disse, assim que as portas fecharam-se — Esse é o momento para vocês demonstrarem a racionalidade de vocês, escolherem quem vocês querem ao seu lado nesse momento, os seus contatos farão muita diferença.

— Contatos? — perguntou Edelweiss.

McGonagall sentou-se em sua cadeira graciosamente.

— Sim, senhorita Tonks. Os seus contatos. Vocês escolherão duas pessoas para acompanhá-las à recepção. Sugiro que escolham as pessoas de maior casta e influência que conheçam — respondeu — Não há forma mais delicada de dizer isso, e sinto muito, mas essa é uma competição na qual precisam usar as suas melhores armas.

Era uma clara mensagem para as garotas de castas mais baixas que não conheciam ninguém que se encaixasse nesses parâmetros.

— Você irá descobrir muito em breve que sobrenome é muito importante por aqui, sua tola.

Agora a fala de Lucy fazia bastante sentido.

Evitou olhar em sua direção, pensando se ela teria se lembrado da mesma coisa.

— Deixarei-as pensando sobre quem convidarão — McGonagall levantou-se — Ah! Sim! Preciso da lista o mais rápido possível. Os telefones estarão disponíveis em seus quartos para que possam fazer os convites. Se preferirem fazer por carta, me avisem para que eu possa providenciar os papéis.

Lucy se juntou com suas amigas a um lado da sala, certamente se gabando sobre os contatos que ela tinha e fingindo que não saberia quem convidar.

— Eu acho que, dessa vez, o Liam elimina cinco — disse Amora, sábia.

— Você acha? — perguntou Benny.

— Faz sentido — Queensley concordou — Ele tem tentado nos dar o máximo de tempo que pode, eliminando uma a uma, mas agora é diferente. Não tem mais como ele fugir disso.

— Seria um alívio — disse Jane, massageando o pescoço, tinha acordado com um pouco de torcicolo.

— Eu tenho uma ideia — Fabiane levantou o olhar para Edge — Nós não temos contatos importantes e não podemos ir de mãos abanando. Nós vamos ser eliminadas, mas vamos sair com classe.

— Vocês não vão ser eliminadas, parem de dizer isso — reclamou Reyna.

— O que você sugere? — perguntou Edge, interessada.

— Nós podíamos chamar algumas garotas eliminadas. Elas são ex-selecionadas, não deixam de ser um contato. Seria legal saber como elas estão — sugeriu Fabiane.

Stelle, Benny e Edelweiss ajeitaram-se em suas cadeiras, interessadas.

— Gostei da ideia — disse Benny.

— Se quiserem, nós podemos doar alguns contatos a vocês — disse Queensley.

— Não, eu gostei mais dessa ideia — recusou Stelle — Eu já sei quem eu vou chamar.

— Quem? — perguntou Sirena.

— Segredo — ela deu uma piscadela e puxou Fabiane para um canto do Salão.

Edelweiss, Edge e Benny foram atrás delas para decidirem quem chamariam.

Com o passar do tempo, o grupo de Lucy e algumas outras garotas saíram do Salão para resolverem tudo o que precisavam sobre a recepção, deixando só aquele restrito grupo de amigas.

— Eu vou trazer Artemisa — disse Fabiane, como se fosse uma competição — Ninguém tira essa garota de mim!

— Mal saiu e já vai voltar — comentou Reyna, rindo.

— Você só escolheu uma. Já tem mais alguém em mente? — perguntou Sirena.

— Segredo — ela repetiu o que Stelle disse mais cedo, misteriosa.

— Eu quero trazer a Cara e a Fran — disse Stelle.

— Mas e o namorado da Fran? — perguntou Jane.

— Se a gente for trazer os namorados de todas as garotas, não serão muitas — argumentou Reyna.

— Eu gostaria de trazer a Rachel. Eu gostava dela — comentou Benny.

— Você pode trazer a Noelia também! Elas iam gostar de se ver novamente — sugeriu Edelweiss.

— Quem você vai trazer? — Edge perguntou a ela.

— Eu gosto da ideia de trazer a Deina. Ela era bem divertida. E você?

— Eu não tenho a menor ideia de quem vou trazer.

— Precisamos pensar das selecionadas que saíram quem foram as menores piores — disse Sirena — Evanna, Thalia e Valerie nem pensar!

— Credo! Ninguém é louca! — concordou Fabiane.

— Eu acho que não tivemos intimidade o suficiente com a Igone, Aura, Gretel, Viola e Imogen para trazê-las — opinou Reyna.

— Certo, então temos oito opções a menos para pensar — disse Jane — Quem faltou?

— A Murissa vai assaltar todo mundo. Não tenho nada contra a Anneliese ou a Margot — Edelweiss olhou para o teto, as sombras da luz solar começavam a sumir conforme entardecia.

— A Cher! Como a gente pôde esquecer dela? — exclamou Edge, repentinamente.

— Eu vou convidar a Cher — Jane respondeu.

— Você já tinha pensado nisso? — perguntou Reyna.

— Já. Ela é noiva de um representante da Irlanda. É um bom contato.

Quem ela realmente queria convidar jamais aceitaria.

— Não é que eu tenha algo contra a Anneliese e a Margot, mas eu prefiro convidar a Petya — disse Edge.

Reyna estava anotando os nomes em um pedaço de papel para que nenhuma delas se confundisse ou repetisse o convite.

— Eu chamo a Anneliese então, mas você vai ficar com uma pessoa a menos — disse Edelweiss.

— Não vai não. Vocês se esqueceram da Barbara — Sirena interviu.

— Verdade! A Barbara! — Edge exclamou — Eu prefiro ela do que a Margot.

— Sou incapaz de opinar — disse Fabiane — Para mim, são todas farinha do mesmo saco.

Ela levantou-se do tapete, onde estavam sentadas, sem importar-se com os modos. Era mais confortável.

— Quem você vai convidar? — Sirena levantou-se atrás dela, curiosa.

Antes que Reyna sair do Salão, Jane a parou.

— Venha comigo — ela pediu — Eu preciso pegar o telefone da Cher, ela não deixou com ninguém. Você sabe onde ver essas coisas?

— Sei. Deve ter uma lista telefônica no mesmo lugar onde eu peguei o livro de registros — disse Reyna.

Elas seguiram pelo primeiro andar, passando por corredores que Jane nunca viu necessidade de seguir até chegarem a uma passagem secreta. Era bem longe de onde ficavam os escritórios e a biblioteca, dois andares de distância, mas talvez a realeza tivesse essas coisas guardadas por todas as passagens possíveis para qualquer emergência.

Reyna sabia bem como entrar, já que Liam tinha a mostrado como fazer antes. Ela entrou como se tivesse total conhecimento do lugar e passou as mãos pelas lombadas dos livros até puxar o que Jane procurava.

— Se eu fosse você, anotava em vez de levar — sugeriu.

Jane concordou, sentando-se na poltrona que tinha ali e virando as páginas em busca dos dois nomes.

— Você precisa também? — perguntou, assim que acabou.

— Não, eu já sei os números de cabeça — respondeu Reyna, pegando o livro e colocando-o no exato lugar em que o tirou.

Como se ele nunca tivesse sido tirado de lá.


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