Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a Calíope pela recomendação. Esse capítulo é dedicado a você ♥



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Jane acordou gritando. Pomona, Myrtle e Hope estavam aos lados de sua cama, tentando acordá-la, as mãos em seus ombros, sussurrando palavras de consolo para um problema do qual não tinham ideia do que era. Ela estava suando, a camisola pregada às suas costas, como se o tecido tivesse derretido e agora fizesse parte de sua pele.

Já não era a primeira vez que tinha pesadelos.

— Nos deem licença, por favor.

Myrtle parecia pronta para protestar, mas como criada do castelo, devia obediência aos monarcas. Jane era apenas uma selecionada, e em breve iria para casa.

— Você precisa de ajuda — disse Liam, puxando uma cadeira para sentar-se ao lado da sua cama, assim que todos saíram do quarto.

A ajuda que precisava ninguém poderia dá-la.

— Eu estou bem — tentou levantar-se.

— Não, você não está — ele retrucou — Deveria conversar com alguém sobre isso.

Não poderia conversar com ninguém sobre Tom Riddle.

Sobre como ele invadia os seus pesadelos.

Como ele abria a janela da sacada do quarto do castelo com uma faca ou um revólver, pronto para matá-la, antes que ela acordasse. Ou como ele a enforcava, impedindo-a de gritar e respirar.

Seria tão fácil para ele apenas rodear seu fino pescoço com suas mãos ou apenas puxar o travesseiro debaixo de sua cabeça e pressionar com força em seu rosto até que ela se tornasse incapaz de respirar, morta asfixiada.

— Anneliese é psicóloga, você sabe. Ela tem me ajudado muito — Liam sugeriu — A mim e a outras selecionadas. Caso você não queira se consultar com o doutor Thickey...

Ela certamente não gostaria de se consultar com um médico que passava mais tempo nas cozinhas bebendo do que cuidando da Ala Hospitalar do castelo, mas também não gostava da ideia de expor suas fraquezas para outra selecionada, que não seria sequer capaz de ajudá-la.

— Eu estou bem — Jane repetiu, firme.

Liam suspirou, parecendo frustrado pela primeira vez desde que ela o tinha conhecido, isso se não contasse da vez que Adam tentou beijá-la à força.

Era errado pensar nisso agora que ele estava morto.

Ele e toda tripulação da confederação da Nova Germânia.

— Eu queria que você confiasse em mim — escutou-o murmurar, antes de ir em direção à porta.

— Liam — ela o chamou, sentindo-se culpada.

Ele olhou para trás, sem erguer a mão em direção à maçaneta.

— Você pode ficar aqui até eu dormir? — a pergunta infantil escapou de sua boca.

Apesar de chateado com ela por não falar sobre os seus pesadelos e preocupações, ele sentiu-se incapaz de negar o seu pedido. Puxou a cadeira da penteadeira para mais perto da cama.

Jane tentou ajeitar-se para ficar mais confortável, virada na direção dele. Ficaram em silêncio enquanto ela tentava voltar a dormir, mas as imagens do seu sonho ainda estavam bem nítidas, todas as vezes em que ela fechava os olhos.

— Não consegue dormir? — perguntou Liam, depois de algum tempo.

— Não — ela respondeu, mesmo sem necessidade.

— Eu posso tentar uma coisa?

Ela não perderia nada mesmo.

Ele arrastou a cadeira para mais perto e, depois de hesitar, começou a passar a mão no seu cabelo solto.

— O que é isso? — Jane perguntou, achando graça.

— Quando cantar e contar histórias não funcionava, a minha mãe me fazia dormir assim — Liam respondeu, parecendo um pouco sem graça — Ela dizia que afastava os maus pensamentos.

Ela escondeu o rosto no travesseiro, rindo silenciosamente.

— Pare de rir, por favor...

Era difícil quando ele parecia mais constrangido a cada minuto.

— Desculpe-me — finalmente conseguiu se controlar.

Se tornou bem mais fácil de cair no sono depois daquilo, tanto que ela acordou no dia seguinte sem se lembrar em que momento adormeceu.

♛♛♛

Rachel tinha ficado calada por toda a manhã.

Durante as lições da professora McGonagall, durante o café da manhã, durante os intervalos entre esses dois acontecimentos.

Ela só abriu a boca para falar quando estavam sozinhas no Salão das Mulheres, depois que a rainha precisou sair para conversar com algumas criadas.

— Isso é tão revoltante! — ela expressou-se tão espontaneamente que ninguém conseguiu entender o que era revoltante.

— O quê? — perguntou Margot.

— Quatro eliminadas em uma mesma noite! — exclamou Rachel, como se fosse óbvio — Quatro!

Elas já tinham tido cinco em um só dia.

— A Cher pediu para sair — Edge lembrou-a.

— A Fran foi envenenada! Fala sério, olha só onde estamos! Deveríamos estar seguras nesse castelo!

Algumas garotas olharam temerosas para a porta, como que esperando que a conversa delas fosse escutada.

— Fale baixo — Queensley a censurou, lendo calmamente o seu livro no sofá.

— Eu não vou falar baixo, eu não vou me acalmar. Está exatamente como a seleção do príncipe Petuel, ele arruma os motivos mais idiotas para nos eliminar e nós temos que nos contentar com isso.

— Sabíamos que isso aconteceria quando nos inscrevemos, Rachel — Cara disse.

— Eu não acho que tenham sido motivos idiotas — Reyna pronunciou-se — Fran precisou sair para cuidar da saúde, Cher pediu para sair, Thalia foi grosseira em suas opiniões sobre os estrangeiros e Deina ultrapassou os limites.

— Tem pessoas aqui que pensam exatamente igual a Thalia, mas não dizem em voz alta. Pelo menos ela foi verdadeira — Rachel olhou diretamente para Lucy.

— O que você quer dizer com isso? — Lucy apertou os olhos em sua direção.

— Exatamente o que eu disse. Você é uma falsa, ninguém te suporta, você só está aqui porque tem as costas quentes.

— Você irá descobrir muito em breve que sobrenome é muito importante por aqui, sua tola.

Elas pararam de discutir assim que as portas do Salão se abriram com a volta da rainha. Lucy pareceu ficar mais pálida do que era, já Rachel não importou-se no mínimo.

— Você precisa se acalmar — Jane disse a ela, em um tom de voz mais baixo.

— Eu não aguento mais isso, Jane. Nenhuma de nós tem a menor chance nessa competição, essa é a verdade. Sempre que olho para alguém e penso “essa será a próxima rainha de Illéa”, essa pessoa é eliminada — Rachel desabafou.

— Você quer mesmo estar aqui? — perguntou Sirena — Porque você parece ir de mal a pior desde a eliminação da Noelia.

— Você tem razão.

Ela não explicou o que quis dizer com aquilo.

— Ela está um pouco certa — Artemisa retomou o assunto, mais tarde — Até agora nada do príncipe Liam eliminar quem fez isso com vocês.

Estava se referindo a Jane e Fran.

— Acha que foi alguma das selecionadas? — perguntou Reyna, ingênua.

Jane lembrou-se da conversa que teve com Fran na Ala Hospitalar.

— Quem fez isso não iria pôr as mãos na sujeira — disse Sirena — Se é que me entendem...

Ela virou o rosto para olhar na direção de Lucy.

— Ela tem muitas amigas por aqui — disse Jane.

— Eu não poria as mãos no fogo por nenhuma delas — concordou Cara.

Barbara, Amethyst, Evanna, Margot, Anneliese e até mesmo Chavelle eram amigas próximas dela.

Mesmo que Chavelle tivesse sido gentil com Jane em vários momentos, muitas pessoas agiam pelas costas das outras. E o fato de que Barbara não gostava das câmeras não significava que ela era boa pessoa, assim como o fato de Anneliese ser psicóloga, isso podia até ser pior.

— O príncipe queria que eu me consultasse com Anneliese — Jane disse.

— Só ele se consulta com ela. Quero dizer, quem teria coragem? — perguntou Fabiane.

— Eu não — resmungou Benny.

♛♛♛

Uma das regras da Seleção era que somente o príncipe poderia procurar pelas selecionadas para um encontro, elas não poderiam procurar por ele. Então, quando Jane soube que Rachel tinha ido atrás de Liam para conversar, apesar dele não ter muito dessa preocupação por regras tão bestas, temeu pelo humor da garota. Só não sabia dizer se temia por ela ou por ele.

— Ela deve ter pedido para sair — opinou Gintare.

Isso era bem provável, considerando toda a irritação dela de mais cedo.

A professora McGonagall não costumava interromper as suas refeições para dar avisos, mas ela estava ao lado da rainha Doralice quando ela resolveu fazer um comunicado.

— Não fazia parte do planejamento para a Seleção, mas o casamento de meu filho mais velho foi marcado para daqui a duas semanas. E como vocês são parte do castelo e, de certa forma, de nossa família nesse momento, todas terão de comparecer, a menos que sejam eliminadas até lá. Minerva irá ajudá-las e dirá o que precisarão saber.

A pergunta que Benny tinha feito no primeiro dia delas no castelo tinha sido respondida.

Veta nunca permitiria que o seu casamento acontecesse no mesmo dia que o casamento do cunhado, que sabia que teria muito mais as atenções do que o seu noivo. Era muito o tipo de coisa que Lucy faria. Imaginava o inferno que seria no castelo se as duas fossem as escolhidas, afinal de contas.

Assim que voltaram para os seus quartos, depois de se entediarem do Salão das Mulheres, como acontecia muito, puderam ver Rachel arrumando as suas malas. Como em toda eliminação, elas não tentaram perguntar a ela o que tinha acontecido, ela não contaria, mas era como se um peso tivesse saído de seus ombros. Talvez estar na Seleção não era uma coisa boa para todas, afinal.

— Às vezes eu só queria que isso acabasse — confessou Artemisa — Não consigo imaginar como foram as Seleções anteriores, sabe, que duraram meses.

A ideia de passar meses naquele castelo era realmente muito cansativa, mesmo com todos aqueles eventos programados.

— Por que nós não damos uma escapada? — sugeriu Fabiane, o tom de voz baixo para não serem escutadas.

Edelweiss a olhou pasma com a sugestão.

— Não podemos fazer isso — ela disse.

— Isso não está nas regras — disse Stelle — Eles não falam nada de não poder sair do castelo.

Sirena já tinha os seus olhos brilhando, e Jane sabia que seria arrastada para aquela aventura querendo ou não, mas a verdade é que ela queria. Queria muito.

Poucos atos de rebeldia tinham sido permitidos a ela em toda a sua vida e passar o seu tempo de liberdade, o seu tempo sem ser a herdeira do trono da Nova Germânia, trancafiada em um castelo, como passou toda a sua vida, era realmente desalentador. Já tinha explorado cada canto daquele lugar, exceto talvez as passagens secretas, as quais tinha muita vontade de pedir para que Liam a mostrasse, ou talvez pudesse encontrar mapas.

Bom, ela precisaria desses mapas agora.

— Podemos ser expulsas, caso formos descobertas — Reyna lembrou-as.

— Então o povo de Illéa terá muito sobre o que comentar, não acha? — retrucou Benny.

— Nós vamos planejar isso com calma, não queremos ser pegas — disse Jane.

— Talvez possamos confiar no seu amigo — sugeriu Sirena.

— Estão loucas? Ele nos entregará para o príncipe no mesmo instante! — Reyna estava cada vez mais exasperada com a ideia.

— Ele já teve oportunidades para me entregar antes e não o fez — Jane respondeu.

Fabiane e Stelle a olharam curiosas sobre que situações teriam sido essas.

— Talvez ele pudesse vir com a gente — disse Edge.

Benny soltou uma risada nervosa.

— O príncipe? Ele nos impediria na mesma hora!

Elas olharam para Jane.

— O quê? — ela perguntou, sem entender.

— Ele nunca diz não para você — explicou Fabiane.

— E, de qualquer forma, se ele se negar, nós vamos mesmo assim. Gostaria de vê-lo impedir nove selecionadas de saírem do castelo — disse Artemisa.

— Dez, a Cara também vai com a gente.

Era sempre o mesmo grupo, no final das contas.

— Eu tenho dinheiro guardado comigo — disse Jane — O que eu ganho na Seleção fica comigo, já que eu não tenho família para receber.

— Isso nos ajudaria muito — concordou Sirena.

— Eu não acredito que vocês estão arrumando uma forma de sermos todas eliminadas — Reyna resmungou.

— Ou um “encontro” em grupo — Fabiane virou-se para Jane — Fale com ele, mas seja discreta. Se ele não estiver muito aberto à ideia, pode miar para a gente.

— Miar? — repetiu Edelweiss, rindo — Que raio de expressão é essa?

— Que expressão é “raio”? Fala sério!

Elas estavam prontas para entrarem em seus quartos quando escutaram um grito alto de um deles.

— Cara — disse Reyna, na mesma hora.

Benny, que era a que estava mais perto da porta, abriu-a e encontraram Cara jogada no chão, se contorcendo de dor.

— Chame o médico! — Jane gritou.

Fabiane saiu correndo, antes que qualquer uma das outras acordasse do choque e fossem elas mesmas.

Stelle e Benny tentaram puxá-la de volta para a cama, de onde aparentemente tinha caído, mas ela não conseguia se mover muito. Os seus braços estavam cruzados em frente à barriga.

— Era só o que faltava. Outro envenenamento — resmungou Sirena, assim que Thickey chegou e foram todas expulsas do quarto.

Elas estavam sentadas no chão mesmo, grudadas às paredes. Se McGonagall as visse assim, teria um ataque cardíaco.

— Eu fico igualzinha quando estou com cólica — disse Artemisa — Vai ver desceu.

— Desse jeito? Sério? Ela parecia que ia morrer! — replicou Fabiane.

— Você também menstrua ou isso é para as plebeias? — perguntou Sirena a ela.

— Pare de falar como se eu fosse da realeza — reclamou Jane.

— Você vai ser. Princesa Janeth Evans de Illéa — disse Stelle, solene.

— Não me chame de Janeth.

A porta do quarto de Cara abriu e era sorte que nenhuma delas estivesse sentada à frente, ou teria caído para trás. O doutor não disse nada, ele não era tão sociável, foi relatar seja lá o que tivesse acontecido para o príncipe.

— Cara, o que houve? — perguntou Reyna, sem vontade de levantar.

Nenhuma delas estava com vontade de levantar do chão.

— Eu vou ser eliminada — Cara respondeu.

— Não diga isso — pediu Edge — Você não tem culpa.

— Tenho sim. Eu tenho endometriose e não coloquei isso na minha ficha de inscrição. As chances de eu engravidar são bem poucas, e uma futura esposa da realeza precisa ter filhos, mesmo que não chegue a ser rainha.

Não havia nada que pudessem dizer para consolá-la.

Silenciosamente, Jane apenas levantou-se do chão e ajudou-a a arrumar as malas. De tanto observar as suas criadas fazerem isso, durante os momentos de tédio, ela já tinha aprendido. Cara continuou sentada na cama, como se estivesse em choque.

Pouco a pouco, as outras selecionadas foram levantando-se e ajudando-a a guardar as coisas de Cara, que pareceu se sentir mais miserável depois disso.

Era difícil de suportar algumas eliminações.

♛♛♛

Jane nunca tinha usado um vestido cinza antes. Era de um tom claro, apenas alguns tons mais escuro que o branco, mas ainda era cinza. Diferente de tudo o que já tinha usado. Não era preto, como ela realmente gostaria de usar naquele dia.

Não era permitido usar preto, a menos que estivesse em um funeral.

Nas Índias, ela já tinha escutado, o preto não era a cor símbolo da morte. Era o branco. As mulheres não se casavam de branco, elas se casavam de vermelho. Antigamente, as mulheres se casavam de branco a todo o tempo. Ela tinha visto isso em uma das fotos antigas que Liam lhe mostrou, não sabia o contexto, mas tinha gostado daquela foto. Ainda havia casamentos com vestidos brancos, mas era sinal de dinheiro. As garotas de castas menos privilegiadas usavam vestidos mais curtos e de cores diferentes.

Azul claro. Rosa. Amarelo. Laranja.

Cores claras e vibrantes, que talvez trouxessem bons presságios. Como as cores que eram usadas na virada do ano.

— Você deveria falar com ele agora — comentou Sirena.

Elas estavam na biblioteca outra vez.

Como se não fosse suficiente ter que retomar às aulas que tiveram para o aniversário de Illéa, sobre idiomas e formas de se portar, McGonagall ainda tinha deixado alguns relatórios militares para elas. Jane já estava acostumada a lidar com isso, o que não queria dizer que ela gostava dessa parte burocrática.

Se algum dia se casasse, seu marido cuidaria dessa parte sozinha, porque ela não era obrigada.

— Trouxe algo para bebermos — disse Reyna, pondo algumas canecas em cima da mesa — Só não molhem os livros, ou poderemos nos meter em uma encrenca.

Era estranho que a biblioteca do castelo não tivesse uma bibliotecária, mas ela supunha que nem todos os países davam acesso para pessoas de fora.

— Obrigada — disse Jane, identificando chocolate quente só pelo cheiro.

Sirena apenas resmungou, sem levantar o olhar da maldita pasta.

— Essa pirla poderia ter esperado um pouco mais antes de resolver casar, mas não... A stronza quis chamar a atenção e quem se ferra somos nós.

Reyna revirou os olhos, tomando um gole generoso de sua caneca.

— Deveriam te dar um diploma depois dessa Seleção. Você vai conseguir se tornar a única mulher de toda a Illéa que sabe xingar os outros em mais de dez idiomas — disse Jane, levantando-se.

— Aonde você vai? — perguntou Reyna.

— Falar com Liam. Ele deve estar na sala de reuniões.

— Aquele lugar que somos proibidas de ir? — perguntou Sirena, ainda sem olhá-las — É, vai lá.

— Pode ficar com o meu chocolate, obrigada — disse Jane, só tomando um gole para matar a sede.

Sentiu o olhar de Reyna enquanto saía da biblioteca atrás do príncipe.

As portas duplas da sala de reuniões estavam sem guardas, o que era incomum, mas supunha que Liam não gostava daquele tipo de companhia o tempo inteiro. Mesmo sendo necessário, era difícil de suportar às vezes.

Antes que pudesse bater para pedir licença, uma das portas abriu-se e Severina saiu, parando o seu caminho assim que a viu.

— Jane? — Liam conseguiu vê-la do lado de dentro.

Snape desviou do seu caminho e afastou-se pelo corredor.

— Eu volto mais tarde — disse Jane, preparando-se para virar as costas.

— Ei! O que houve? — Liam levantou-se da sua cadeira e foi até ela para impedi-la de ir embora.

Ele notou o seu vestido cinza e ficou observando-o em silêncio.

— Eu não queria que a Cara fosse embora — disse para confortá-la.

— Então por que deixou-a ir? — perguntou Jane.

— Porque eu não tinha escolha. Eu não posso manter as pessoas aqui e fazê-las perder o tempo da vida delas se eu não sinto nada por elas. É disso que a Seleção se trata.

— Se é assim, por que não acaba logo com isso? Nos reduza a Elite e então escolha.

Liam puxou-a delicadamente pelo braço até que estivessem dentro da sala e então fechou a porta.

— Não é tão simples assim — ele disse, soltando o braço dela e voltando a se sentar em frente aos seus papéis.

Ele não sabia por quem tinha sentimentos?

Ou eram as questões burocráticas do tempo outra vez?

— Quanto tempo a população ficaria satisfeita? Seis meses?

Liam levantou o olhar dos seus papéis para ela.

— Sente-se — ele disse, simplesmente.

Podia ver a cadeira virada na direção dele, que provavelmente Snape tinha puxado, ou ele tinha puxado para ela. Caminhou na direção oposta, puxando a cadeira do lado dele para sentar-se.

— Estive focado nas últimas semanas em descobrir o que aconteceu naquela festa e acho que agora eu já consegui uma resposta — disse Liam, escrevendo alguma coisa em um papel em branco.

Jane não respondeu, olhando para as coisas da sala ao redor. A decoração era simples para os padrões da realeza, mas talvez fosse considerado elegante pelas outras selecionadas.

Liam notou o seu silêncio e deixou os papéis de lado.

— O que você se lembra daquela noite? Eu nunca cheguei a te perguntar...

— Mas perguntou a Fran. Ela deve ter te dito tudo.

— Eu quero saber de você.

Suspirou, completamente arrependida de ter saído da biblioteca.

— Thalia ofereceu-se para ficar com a Fran, mas as meninas não quiseram. Então ela se afastou, parecendo irritada — ela disse.

Liam franziu o cenho, como se não soubesse dessa parte.

Ou talvez só estivesse atuando.

— Ela quem ofereceu o canapé para você? — ele perguntou.

— Não, foi a Evanna, mas ela não teria como saber da minha alergia. Só minhas amigas sabem.

— Que amigas?

Jane ajeitou-se na cadeira, ofendida.

— As minhas amigas — repetiu.

— Talvez alguém tenha escutado vocês. Onde estavam conversando sobre isso? — perguntou Liam.

— Eu não sei! A gente não chega de repente e começa a falar sobre as nossas alergias!

Foi a vez dele suspirar. Estava deixando-o impaciente.

— Posso ir agora?

— Tem alguma coisa, além disso, que eu possa fazer por você?

Jane deitou a cabeça no encosto da cadeira, desfazendo a postura.

— Desculpe-me, é que o ar do castelo está me deixando... louca. Eu não aguento mais ficar aqui trancada.

Liam pareceu ficar inquieto e ela não entendeu o porquê disso, até ele perguntar:

— Você está querendo sair da Seleção?

— O quê? Não! — exclamou — Eu só... deixa pra lá.

— Eu não sei se cair do castelo é uma boa ideia — disse Liam, enquanto ela levantava-se — Sabemos que foi a Evanna quem deu o vinho envenenado para a Fran, mas ainda não sabemos quem o envenenou. Poderia ser alguém de fora do castelo que planeja atingir a vocês.

— Ou poderia ser ela mesma. Ela é filha de joalheiros, tem dinheiro para conseguir algo desse tipo.

— Por favor, me deixe pensar nessa ideia, está bem? Não posso colocá-las em risco. Já é muito perigoso ficar nos jardins, quem dirá no meio do povoado...

— A diferença é que o castelo é um alvo porque já esperam que estejamos aqui.

Liam não parecia aberto à ideia.

Ele voltou a pegar os papéis com os quais estava lidando, entre eles as fichas de inscrição de Evanna e Thalia, as duas com um carimbo de eliminação.

— Eu vou pensar nisso — ele repetiu.

— Está bem — disse Jane, indo em direção à porta.

— O que estava fazendo? — Liam perguntou — Antes de vir.

— Estudando aqueles relatórios militares.

— Bem, boa sorte.

Ele parecia odiar os tais relatórios tanto quanto ela e as outras selecionadas.

— Vou precisar — Jane resmungou, antes de fechar as portas da sala de reuniões atrás de si.

♛♛♛

— Por favor, diga que ele concordou — pediu Reyna.

— Sirena, comece a preparar a nossa fuga — disse Jane.

Reyna soltou o ar, exasperada.

— Vocês precisam desistir dessa ideia! — ela exclamou.

— Vamos com as roupas de empregada de novo? — perguntou Sirena.

— Deve ter empregados que vão para a cidade periodicamente — disse Jane — Usar uniforme do castelo seria muito arriscado para eles. Converse com McKinnon, por favor.

Ela assentiu, levantando-se para ir atrás do guarda.

Reyna lançou um olhar mal humorado para ela, cruzando os braços.

— Não começa — pediu Jane.

— Você está com uma cara péssima. O que houve?

— Só estou de saco cheio.

— Aconteceu alguma coisa quando foi falar com Liam?

Ela era sempre muito observadora.

— Ele estava mexendo em uns papéis, investigando o que aconteceu na festa — disse Jane — Snape tinha acabado de sair da sala. Eu esbarrei com ela.

— Ficou incomodada? — perguntou Reyna.

— Acho que ela está ajudando ele a eliminar as selecionadas.

Ela descruzou os braços, parecendo espantada.

— O quê? Você quer dizer uma espiã entre nós? — ela perguntou.

Jane concordou com a cabeça.

— Acha que ele faria uma coisa dessas?

— Eu, sinceramente, não sei de mais nada — respondeu — É só que ela está sempre perto dele. Foi ela quem disse a ele sobre a Murissa, lembra? Ela está sempre em todo canto, só vigiando, esperando que alguém vacile para denunciar.

— Pode ser, mas isso a Liam ter algo a ver... Eu não acredito, não consigo acreditar — disse Reyna.

Ela deu de ombros, voltando a pegar a apostila dos relatórios militares.

— Os nossos relatórios são iguais? — perguntou.

— Eu não sei.

Reyna pegou os relatórios dela para que Jane pudesse compará-los.

— Você bem que podia pedir ajuda ao seu guarda, ele deve entender dessas coisas — ela comentou.

— Isso é mais a cara da Sirena.

Não precisava de ajuda para entender, só não gostava dessa parte da tarefa.

— Os números não estão batendo... — murmurou, vagamente.

Reyna levantou-se da cadeira para atender às batidas na porta.

— Eu vou dar uma volta — ela disse.

— Não tem necessidade — disse Liam.

Jane levantou o olhar, ele não era exatamente a primeira pessoa que ela estava afim de ver naquele momento.

— Eu queria saber se vocês já tiveram alguma notícia por parte de Chernobyl ou Fran — ele disse.

— Na verdade, não — respondeu Reyna — As garotas quando saem não nos mandam cartas contando como está a vida delas. Pelo menos não para nós.

— Bom, uma pessoa aqui no castelo pode falá-las sobre Fran, mas Cher já está fora do país. Pensei que talvez fossem querer saber...

— Obrigada, Alteza. Eu o acompanho.

Ela talvez se perguntaria mais adiante sobre o que aconteceu com as selecionadas eliminadas, mas mais adiante e não em um momento tão aleatório.

Myrtle, Hope e Pomona estavam fazendo às pressas o vestido que ela usaria no casamento de Veta, e provavelmente as outras criadas estavam no mesmo ritmo. Todo o castelo estava em um ritmo frenético, mas considerando que já tinham realizado eventos em menos tempo do que aquele, não imaginava que seria motivo de grandes preocupações.

Levantou-se da cama, deixando os relatórios de lado. Abriu apenas uma fresta da porta do quarto, vendo Sirena flertar com McKinnon, e Reyna e Liam conversarem perto das escadas.

A porta da sacada abriu-se repentinamente, fazendo um barulho que a assustou. As cortinas mexeram-se violentamente com a força do vento, fazendo desenhos no ar. Deixou a porta encostada e foi para lá passar a tranca, talvez deveria pedir para que reforçassem o trinco da porta, se estava abrindo com tanta facilidade.

Olhando para baixo, viu Lucy e Severina caminhando pelos jardins, lado a lado, mas parecendo discutir. Falavam baixo o suficiente para que suas palavras não fossem escutadas lá de cima.

— Eu consegui convencê-lo — disse Sirena, entrando no quarto.

Jane puxou as portas da sacada e fechou-as, fazendo com que a cauda do seu vestido e as cortinas parassem de dançar.


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