Undercover escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada a Thea pela recomendação. Esse capítulo é dedicado a você ♥



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O castelo estava uma verdadeira loucura.

Jane não achava que as suas criadas conseguiriam superar o vestido da primeira entrevista ao Jornal Oficial de Illéa, mas o aniversário do reino parecia ser um desafio intenso o suficiente para elas se superarem. Imaginou se elas poderiam ser grandes estilistas caso tivessem nascido em outra casta, ou nos extintos Estados Unidos da América.

Pomona e Hope divertiam-se contando a Jane como tinha sido a seleção do príncipe Petuel, talvez tentando ajudá-la a se preparar para o que viria pela frente. Considerando o pouco tempo de duração, achava difícil que já não tivesse passado por todas as mesmas etapas. Mesmo assim, imaginava o quão divertido seria se todas se reunissem para ver alguma fita cassete ou CD que tivesse aquele evento gravado.

McKinnon tinha lhe dito que a carta já havia sido despachada, mas desde então não tinha recebido uma resposta. Mas seria possível que sua mãe iria ignorá-la completamente? Ela já estava infiltrada em uma Seleção em outro país, escondida às vistas de todos, sem notícias de casa. O que mais queriam dela? Nunca mais teria notícias da mãe? Voltar para casa parecia uma opção tão distante agora, se sentia tão solitária, apesar de acompanhada de tantos criados do castelo e selecionadas. Observar a família real à mesa todas as refeições se tornava cada vez mais doloroso.

Certa noite, Liam parou-a no meio do corredor, assim que ela saiu mais cedo do jantar. Fazia exatamente dois meses da morte de seu pai, e assim que constatou isso o ar tornou-se muito difícil de respirar.

— Está tudo bem, senhorita? — ele perguntou, preocupado — Está sentindo-se mal?

Ela não respondeu, apenas aproximando-se para abraçá-lo.

Sabia que se abrisse a boca, começaria a chorar e não gostava de demonstrar as suas fraquezas. Tinha sido ensinada a não fazê-lo e talvez por isso surtava tão facilmente. Conter as emoções não fazia bem a ninguém, mas era necessário às vezes.

Liam não insistiu, apertando-a mais próxima dele, esperando pacientemente até que Jane se sentisse melhor e se afastasse. Poucos minutos depois que chegou ao quarto, Sirena e Reyna foram até lá, parecendo ter adivinhado que ela estava mal. Imaginou que isso e o fato de ter tantos guardas com os olhos postos sobre ela no dia seguinte fossem culpa do príncipe. Isso fez com que se sentisse melhor, saber que alguém ainda se preocupava com ela.

No meio de tamanha confusão para os preparativos, estava se tornando difícil encontrar com McGonagall. Lembrava-se que Doralice tinha deixado claro que poderia contar com a discrição da instrutora para o que precisasse e queria muito algumas respostas.

Era coincidência demais que os Todesser tivessem migrado para Illéa, justo onde ela estava, naquele exato momento. Na Seleção anterior, não houve um ataque de rebeldes. A causa era ela? O que eles queriam com ela? Estava sendo paranoica demais?

— Ai!

Estava tão concentrada em seus pensamentos que deu um pulo de susto quando sentiu uma agulha picá-la de leve na cintura.

— Myrtle! — Pomona repreendeu-a.

— Foi mal, foi mal — ela respondeu, impaciente, os olhos fixos na faixa do vestido, que todas sabiam ser extremamente importante para Jane.

Pelo menos souberam depois de ouvirem-na reclamar por horas da maldita faixa do vestido que teve que usar para as fotografias das revistas, ao lado do príncipe Liam. Tinha odiado como sua pessoa tinha ficado, mas manteve um recorte de revista consigo só pelo fato de estar ao lado dele.

— Esse tipo de recepção parece muito entediante — comentou Myrtle, tentando quebrar o silêncio que ficou na sala.

— Realmente é — respondeu Jane, distraída.

— Já esteve em um desses?

Ela olhou para a mais nova das criadas, que a olhava curiosa.

— Já estive em um casamento, fotografando — deu de ombros — Imagino que seja a mesma coisa. A única coisa que vai valer a pena é a comida.

— Bem lembrado. Vamos dar uma olhada lá embaixo hoje? — Myrtle virou-se animada para Hope, que estava a um canto do quarto.

— Isso se sobrar comida — ela disse — São muitos convidados hoje.

Vê-las ficando tão empolgadas por cometer infrações pequenas e inocentes quanto surrupiar um pouco de comida, atitude que uma criança tomaria, aquecia o coração de Jane.

— Pronto, terminei — Pomona puxou o vestido mais para baixo, tentando ajeitá-lo a sua silhueta — O que achou?

Jane olhou-se no enorme espelho do quarto. Rosa não era exatamente a sua cor favorita, mas a mudança de tom gradual do decote até a barra do vestido dava um efeito lindo, além das pétalas de rosa que elas tinham usado para decorá-lo.

— Vocês vão fazer o vestido do meu casamento — ela disse, com medo de mexer nas rosas e elas despregarem da costura.

— Você terá estilistas fazendo fila para isso — Pomona descartou seu pedido.

— E eu serei rainha, escolherei vocês.

Myrtle abriu um sorriso imenso, olhando para Hope e Pomona, interpretando a fala dela de outra forma.

Voltou a observar-se no espelho, pensando pela primeira vez em como seria se fosse escolhida. Teria que contar a verdade para Liam sobre a sua família. Ele aceitaria? Era justo demais para escolher uma esposa que não fosse filha de Illéa. E caso aceitasse, a faria abdicar do trono germano? Ela seria capaz disso? Quem governaria em seu lugar? Como o povo reagiria se soubesse? Ou eles manteriam segredo?

Eram tantas possibilidades, tantas perguntas sem resposta. Por toda a sua vida, soube perfeitamente como seria a sua vida, e de repente já não tinha mais essa certeza. Era isso o que significava ser da realeza? Ter que se deparar com mudanças tão bruscas?

— Toc toc — disse Sirena, empurrando a porta já aberta — Majestade, saberia me dizer onde está a minha melhor amiga Jane?

Ela pôs as mãos na cintura, olhando para a amiga.

— Majestade? — repetiu.

— Não é minha culpa se você está parecendo uma rainha — Sirena deu de ombros.

— Já se olhou no espelho hoje? — perguntou, indicando o seu vestido de duas peças azul marinho.

Ela fez um gesto com a mão, descartando o elogio, enquanto observava melhor o acabamento do vestido de pétalas.

— Nós precisamos tirar uma foto — disse, repentinamente.

— O quê? Não! — Jane reclamou, descendo da cadeira que estava servindo como pódio para que as criadas pudessem ajeitar os últimos detalhes.

Hope ignorou seu resmungo, indo rapidamente para uma das gavetas, onde guardava a câmera que a rainha Doralice tinha dado a ela, como forma de disfarçar a sua real profissão.

— Você é uma fotógrafa profissional e não gosta de tirar fotos? — perguntou Sirena, agradecendo à mãe de Reyna com um sorriso.

— Exato, eu tiro fotos de outras pessoas, não minhas! — exclamou Jane.

— Deveria tentar. É uma técnica muito interessante chamada “selfie”. Venha aqui agora!

À contragosto, aproximou-se da amiga, que segurava a câmera um pouco errada, sorrindo. Elas tiraram uma foto, antes que Sirena percebesse que faltava alguém.

— Oh! Espere! Está faltando Reyna! Chame ela, por favor, Myrtle.

Se Jane abrisse a boca para pedir algo às empregadas de Sirena, duvidava que fosse tão bem recebida quanto era ao contrário.

Reyna abriu a boca para perguntar o que elas queriam, claramente tentando acostumar-se com o fato do vestido ser mais curto na frente do que atrás, até que viu a câmera na mão de Sirena.

— Ah! Não! Foto não! — reclamou, sem mover-se da porta.

— Qual é o problema de vocês com fotos? — Sirena revirou os olhos, puxando-a pelo braço — Vamos, vocês não querem uma foto de nós três quando chegarmos ao fim da Seleção?

— Não — respondeu Reyna.

— Que pena — ela apertou no botão de tirar foto, sorrindo.

— Ei! Não vale! Eu não estava preparada! — Jane reclamou.

— Então menos conversa e mais sorriso.

Reyna desistiu de discutir, pondo o sorriso tímido característico dela, que contrastava muito com o sorriso estonteante de Sirena. Se elas quisessem, poderiam facilmente ganhar a Seleção.

— Tá, a parte de imprimir essas fotos e fazer cópias para nós duas é função sua, fotógrafa — Sirena deu uma piscadela para ela — Agora vamos.

— Espere! — Myrtle interrompeu a saída delas, pegando uma tiara de cima da mesa e pondo-a na cabeça de Jane — Pronto.

Hope ajeitou o vestido de Reyna, murmurando o quanto ela estava linda, antes de dar-se por satisfeita. Sirena apenas ficou encarando-se no espelho, os fios negros estranhamente presos em um coque muito bem feito.

— O príncipe vai ter muita dificuldade em decidir qual das três está mais bela — Pomona elogiou, sorrindo.

— Vai nada — retrucou Sirena, dando um sorrisinho para Jane.

Muitas garotas ainda estavam se preparando para a festa, mas como elas já estavam prontas, decidiram descer para ver como as coisas estavam.

Tiveram um breve vislumbre de como estava o Grande Salão, antes que McGonagall aparecesse para levá-las até o Salão das Mulheres, onde algumas outras selecionadas já estavam esperando o horário da chegada dos convidados.

Era difícil de dizer o que Lucy queria que chamasse mais a atenção: as suas panturrilhas, as suas costas, os seus ombros ou os seus seios. Tinha tanto decote naquele vestido que, apesar de ser longo, tinha pouco pano para cobrí-lo. As alças eram de ombro caído, um decote em V até acima do umbigo tornava difícil não reparar no vão entre os seios, um decote em U nas costas deixava-as quase completamente à mostra, e uma pequena abertura lateral na cauda do vestido exibia parte de sua coxa e toda a sua panturrilha direita.

Já Chernobyl chamava a atenção de longe por causa do seu vestido incomum. As criadas do castelo não poderiam fazer algo que fosse tanto do gosto dela, mas não deixava de ser estranho. Ela parecia aquelas mulheres do movimento hippie das fotos que Liam tinha mostrado a Jane.

— Parece bem confortável — comentou Reyna, sem um pingo de sarcasmo na voz.

— Se a Cher vencesse essa Seleção, pelo menos teríamos uma rainha bem divertida — disse Sirena, puxando um dos pufes para sentar-se.

Não era tão difícil vê-la ao lado de Liam quanto parecia. Na verdade, apenas algumas das selecionadas, como Lucy e Barbara, não combinavam nem um pouco com ele.

— Sim, você poderia imaginar as coisas que ela faria — concordou Jane, também sentando-se.

Viraram para trás quando escutaram o som de saltos caminhando até o Salão das Mulheres. O vestido de Severina Snape parecia o corpo de um morcego e a gargantilha preta no seu pescoço parecia uma coleira de cachorro.

— Au au — murmurou Sirena, fingindo ajeitar a tira do sapato.

Reyna olhou-a com repreensão por causa do comentário.

Apesar de entrar logo depois de Severina, Fabiane não foi ofuscada, mesmo porque era difícil não notar os seus cabelos cor de fogo. Ela foi rapidamente para perto das três, parecendo um pouco desconfortável com a cauda de vestido sereia.

— Você está linda — elogiou-a Sirena.

— Não podemos dizer o mesmo de outras pessoas — Fabiane puxou um pufe para sentar-se ao lado delas — Me tira uma dúvida aqui. Essa gargantilha não é daquelas que vendem em sex shop?

Jane e Reyna arregalaram os olhos uma para a outra, sentindo-se mais do que nunca as mais inocentes do castelo nesse tipo de assunto.

— Existe essas coisas em Illéa? — perguntou Jane.

— O quê? Você acha que o voto de castidade é cobrado dos homens como é cobrado das mulheres? — retrucou Fabiane.

— Algumas mulheres da Oito sobrevivem assim, ninguém se importa com o que elas fazem — disse Sirena — Pergunte pra Severina, ela parece saber muito bem sobre isso.

Mesmo quando Artemisa e Stelle juntaram-se a elas, o vestido da Snape continuava sendo assunto para os seus cochichos.

— Eu pensei que a realeza só podia usar vestido preto em enterros — a cauda do vestido da loira tinha uma abertura dos dois lados, mas nada mais além disso, ela estava sensual sem vulgaridades.

Depois do vestido de mangas compridas simples de Artemisa e o vestido com manga de apenas um lado de Gintare, Jane parou de reparar nas roupas das outras garotas. Parecia que depois de um tempo, era difícil ter alguma originalidade, e isso porque ainda não tinham visto as representantes dos outros países. É, chamar a atenção seria uma missão bem complicada para quem estivesse lá apenas para isso.

McGonagall só deixou com que as selecionadas entrassem depois que todas estavam prontas no Salão das Mulheres e as delegações dos países convidados para a festa já estavam dentro do Grande Salão.

Os reis já estavam lá para recepcionar a todos, como era de praxe, mas Liam não era visto por nenhum canto do corredor. Guardas guardavam as portas e cantos do Salão, a segurança era redobrada no castelo por causa do evento. Não poderiam se dar ao luxo de terem um ataque de rebeldes e pôr em risco tantas pessoas internacionais importantes.

Era um evento tão prestigiado que até mesmo alguns dos conselheiros do rei Charles estavam exibindo toda a sua diplomacia. Por sorte, nem Jane nem Sirena esbarraram com o pai dela. Seria um encontro muito desagradável para uma noite tão linda.

— Os representantes das duas Irlandas estão aqui — a observação de Queensley deixou algumas delas tensas, lembrando-se da aula que McGonagall tinha dado algumas semanas antes.

Apesar de terem lido os seus nomes nas apostilas, não acreditavam que a Irlanda Oriental se daria ao luxo de enviar um representante a Illéa, sabendo que o representante da outra Irlanda estaria lá, apesar de estarem em meio a negociações. Isso poderia ser uma notícia maravilhosa, assim como uma notícia terrível.

— Bem, não vamos deixar com que se sintam incomodados, não é mesmo? — Chernobyl disse a ela, antes de pegar duas bebidas e ir na direção de um deles.

Queensley deu de ombros e foi na direção do outro representante, antes que Lucy quisesse dar uma de estrela e estragasse tudo, mas a loira parecia interessada demais em saber onde Liam estava para preocupar-se com essas coisas.

— Vão ficar paradas que nem uma parede aqui? — ela jogou um último comentário ácido, antes de resolver afastar-se daquelas a quem tanto desprezava.

— Nunca vi paredes com tantas curvas — Sirena deu uma piscadela para Fabiane.

McGonagall lançou um olhar para elas de longe, como que lembrando-as que precisavam socializar com os representantes dos outros países, era a missão delas como selecionadas. Jane suspirou infeliz, odiava confraternizar com pessoas que não conhecia e provavelmente nunca mais veria. Levou um enorme susto quando sentiu uma mão na sua cintura.

— Venha, Jane — Liam não pareceu notar o efeito que causou, guiando-a pelas pessoas no Salão — Você é boa em germânico, certo?

Ich spreche — respondeu Jane, olhando para onde Sirena e Reyna ainda estavam — Mas por que eu?

— Se eu não me engano, estava na sua ficha que você fala e é a única, que eu me lembre.

— Boa memória, Alteza.

Liam pareceu encontrar quem ele queria encontrar e soltou a sua cintura.

— O Botschafter Adam Köhler e sua noiva Karleen Einloft — ele apresentou o casal a ela — Esta é Janeth Mirren.

Es freut mich — Karleen sorriu, cumprimentando-a.

Sehr erfreut — Jane respondeu.

Geralmente, na região de Dortmund, o cumprimento usual era um aceno de cabeça, os germânicos do oeste não eram muito chegados a contato físico. Apesar disso, o clássico beijo na mão era muito visto no palácio. Quando esteve em Brandenburg, mais ao norte do país, viu muitos apertos de mão. Nunca esteve no sul do país, mas sabia que eles eram mais calorosos em seus cumprimentos, estava esperando um abraço.

Em vez disso, Adam aproximou-se rápido demais para que Jane reagisse. Ela empurrou-o com força, antes que ele pudesse encostar os seus lábios. Olhou para Karleen, que parecia acostumada a esse tipo de ação. Ao seu lado, Liam, apesar de não ter feito nada, cerrou as mãos em punhos e estava com os dentes trincados.

Mir verzeihen — Adam riu de sua reação — É difícil encontrar um lugar que seja mais formal do que Bayer.

— Não se trata de formalidade, senhor Köhler, se trata de respeito — disse Jane, atropelando as palavras pelo nervosismo — Aqui em Angeles beijar uma dama à força é considerado de extremo desrespeito. Se o senhor é um Botschafter, deveria saber dos costumes dos locais os quais visita.

Adam riu mais forte ainda depois que ela terminou de falar.

— Você deve ter algo de sangue germânico, hum? O nosso temperamento é terrível às vezes — ele disse, virando-se para Liam, que ainda estava sério — E como Seine Durchlaucht está?

— Bem, obrigado — foi a resposta curta e grossa, antes que Liam recuperasse a paciência — E o senhor? Está gostando da festa?

— É a primeira vez que venho a Illéa, um clima muito agradável — Adam respondeu — E não esperava encontrar tantos belos exemplares de moças, tinha me esquecido já da Seleção.

— Sim, são muito belas mesmo.

Karleen olhava ao redor para as pessoas dançando e conversando no Salão, parecendo alheia e desinteressada à conversa. Jane perguntava-se como ela poderia não se importar com o seu noivo falando de outras mulheres bem ao seu lado, sem respeitar a sua presença. A Nova Germânia não era um reino tão extenso, mas pelo visto o sul era bem diferente do restante do território.

— Deve ser maravilhoso. Schnitten nageln — o Botschafter continuava a ser inconveniente.

— A Seleção serve para que o príncipe escolha a sua futura esposa, não para que ele schnitten nageln — Jane respondeu-o.

— Com sua licença, senhor, senhorita — Liam arrumou uma brecha para afastar-se.

Antes que pudessem sentir-se ofendidos por seu afastamento, o que Jane achava difícil, a rainha e o rei aproximaram-se para cumprimentá-los. Chavelle estava do outro lado do Salão, conversando com os representantes da França.

— Não são representantes — disse Liam, como se tivesse lido os seus pensamentos — São os próprios sucessores do trono, Son Altesse Royale Monsieur Delacour e sua esposa Apolline.

— Isso é incomum — comentou Jane, que esperava que ele desse uma bronca nela por causa do modo como tratou os representantes da Nova Germânia.

— Sinto muito, não esperava que eles reagissem daquela forma.

— Nem eu. Pelo que eu saiba, os germanos não são fãs de contato físico.

Liam parou de caminhar, dando um beijo na sua testa.

— Eu preciso ir — ele disse, antes de se afastar.

Olhou novamente na direção de Adam, que parecia estar se divertindo muito com a conversa que estava tendo com Deina. Karleen tinha sumido de sua vista, não estava mais ao lado do noivo.

— Esses germanos são uns bárbaros — escutou Thalia resmungar com Lucy, uma taça de vinho na mão — Parecem que nunca viram uma mulher na vida antes.

Apesar de Adam não ser o melhor exemplo do cavalheirismo germânico, escutar Rowle generalizando todo o seu povo a incomodava profundamente.

— Nos ajude aqui a lembrar o nome de todos, Jane — Sirena a chamou, ela e Reyna estavam atrás de uma pilastra, provavelmente fugindo dos olhares críticos de McGonagall.

— Os representantes da Nova Germânia são Adam Köhler e Karleen... — Reyna dizia.

— Einloft — completou Jane — Os da França são Monsieur e Apolline Delacour.

— Os príncipes — concordou Sirena — O da Irlanda Oriental é Pan Flannery.

— E o da Irlanda Ocidental é Shaw Lenihan — disse Reyna.

— Tá, mas não tem só esses aqui. E os da Itália?

Não se lembravam dos nomes deles, mas eram fáceis de identificar no meio da multidão.

— Eu não estou muito com vontade de socializar — murmurou Jane.

Sirena pegou uma taça de bebida e entregou para ela.

— Vamos, o que aconteceu? — ela perguntou.

— Um Mistkerl tentou me beijar na frente do Liam — respondeu Jane, antes de esvaziar a taça de uma vez só — E na frente da noiva.

— Então ele te levou para conversarem com o Köhler — Sirena levantou o olhar, tentando não demonstrar tanta surpresa ao ver a sua taça vazia — Acho que a noiva cansou dele, não a vejo.

— Se depender da Cher, acho que a Irlanda Oriental acaba de ceder no armistício — Reyna indicou um espaço que Jane não conseguia enxergar pelo grande fluxo de pessoas.

— Acho que depois de hoje, tanto ela quanto a Queensley vão subir no ranking do príncipe.

Apesar da vigília de McGonagall, elas não eram as únicas que estavam tentando descansar. A alguns metros, Artemisa fazia companhia a Fran, que estava massageando os pés descalços, os saltos estavam ao chão. Resolveram aproximar-se delas para conversar e saber o que estava acontecendo.

— São esses sapatos que me deram — reclamou Fran — Eu odeio usar salto.

— Você poderia pedir para o professor de francês te levar de volta para o quarto — implicou Artemisa.

— O quê? Já desistiu do príncipe? — perguntou Reyna.

— Eu não sei — respondeu Fran, sinceramente.

— Vamos, você precisa beber alguma coisa — Sirena entregou um copo para ela.

— O que é isso?

— Não faço ideia.

Fran ajeitou-se na cadeira e bebeu um gole do copo, antes de engasgar.

— Opa — Fabiane riu, aproximando-se — Com calma, com calma.

— Podem ir, eu fico com ela — disse Thalia — Meus pés também estão me incomodando.

Jane não tinha motivos para implicar com ela, além da sua clara xenofobia com outros povos, mas naquele momento ela não confiava nem um pouco naquela conversa.

— Não, obrigada, eu fico com a minha amiga — disse Artemisa, mas sem parecer ter a mesma desconfiança.

Thalia não pareceu ter gostado da recusa, mas afastou-se sem insistir.

— Eu disse para as minhas criadas para me deixarem vir com sapatilhas — Fran lamentava.

— Quer que a gente chame o Liam? — perguntou Jane.

— Ele já está bem acompanhado.

Identificou um tom de decepção na voz dela e olhou para trás para ver de quem se tratava, assim como Reyna. Liam estava acompanhado de Lucy, falando com alguns diplomatas.

— Mais um motivo — Sirena deu de ombros — A gente atrapalha os planos dela.

— Não, é sério, eu estou bem — Fran riu.

Tiveram suas atenções direcionadas quando a rainha Doralice começou a falar.

— O aniversário de Illéa não é apenas para comemorar o fim da guerra, é também para lembrar a todos do que passamos para chegar aqui hoje. O nosso caminho está longe de acabar para alcançarmos a plena paz e harmonia entre nossos povos...

Jane sentiu uma mão feminina em seu ombro.

Ihre Durchlaucht.

Virou-se assim que escutou essas palavras. Todos os outros estavam concentrados no discurso da rainha para prestar atenção em Jane e Karleen afastando-se para o corredor.

— A Vossa Majestade me mandou aqui — ela sussurrava apressada, ciente da presença de alguns guardas nos corredores, e tirou um envelope do decote do vestido — A sua carta, e um pedido.

— Que pedido? — perguntou Jane, no mesmo tom.

— Diga o nome.

Ela deixou escapar um suspiro exasperado, caminhando até a janela.

— É perigoso demais! Não posso fazer isso.

— Tem alguma relação com os Todesser? — Karleen aproximou-se dela.

Jane não respondeu, olhando para o lado de fora.

— Sua mãe está em perigo, precisa saber em quem pode confiar.

— Se ela souber, vai mudar o tratamento e ele vai perceber.

Karleen apenas olhou-a.

— Então é um homem.

— Talvez seja a hora de pedir ajuda — Jane sugeriu.

— Ela não vai querer sair do castelo.

— Não poderemos proteger o nosso povo se estivermos mortas.

Escutaram aplausos de dentro do Grande Salão. Precisavam voltar.

— Alteza — Karleen impediu a sua volta — Por favor.

Jane sentiu os olhos se encherem de lágrimas, aflita e um nó na garganta. Não aguentava mais guardar esse segredo consigo mesma.

— Tom Riddle.

Karleen arregalou os olhos e deixou a boca abrir-se pela surpresa de escutar aquele nome. Jane guardou a carta no decote do vestido e caminhou de volta para o salão, sem ser impedida.

Agora muitos mais casais dançavam e pessoas se sentiam à vontade para provar dos petiscos da mesa, que não eram exatamente petiscos.

— Você está chorando? — perguntou Edelweiss, ao esbarrar com ela.

— É claro que não — respondeu automaticamente.

Afastou-se antes que insistisse no assunto, passando as mãos por seus olhos para limpar as lágrimas. Fungou, tentando recompor-se.

— Isso é tudo o que teremos hoje — dizia Sirena, encostada à mesa de um jeito que McGonagall não aprovaria.

— Prove, Jane, isso aqui é muito bom — sugeriu Evanna, estendendo um prato de canapés a ela.

Ainda impactada pela conversa e sem querer discutir, pegou um deles por educação e logo o pôs à boca.

— Onde está Reyna? Vocês duas somem do nada — reclamou Sirena.

— Ai, meu Deus — escutaram Fabiane gritar.

O grito dela chamou a atenção de todos. Sirena e as outras foram na direção dela, encontrando Fran desmaiada, o copo de bebida quebrado ao seu lado. Os guardas rapidamente chamaram Jano Thickey para descobrir o que havia de errado com ela.

A conversa com Karleen tinha afetado tanto a Jane que ela estava começando a sentir-se um pouco claustrofóbica. Resolveu sair para os jardins, ver se conseguiria respirar melhor.

Caminhando pelos corredores, percebeu que sua falta de ar não poderia ser causa da discussão, pois sentia um nó enorme na garganta que não era natural. Ela só tinha sentido isso uma vez: aos 4 anos, quando comeu peixe pela primeira e última vez.

Parou de caminhar, apoiando-se na parede com dificuldade. O ar não chegava aos seus pulmões. Mas ela não tinha comido...

Os canapés.

— Jane! — McKinnon estava caminhando pelo corredor, quando encontrou-a naquele estado.

“Verflucht” pensou, antes de desmaiar.


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Notas finais do capítulo

E que comecem as teorias...



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