A Lenda do Exílio escrita por Lunéler


Capítulo 5
Solidez


Notas iniciais do capítulo

Os graus de lucidez invadiam a mente deles com violência, inundando suas percepções.



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A personalidade do Criador era complexa, um misto confuso de sentimentos bons e ruins, uma coleção desorganizada de virtudes e defeitos, espalhados aleatoriamente pelo infinito. Embora fosse difícil compreender sua essência, uma característica estava em evidência e despontava, inegavelmente, sobre as demais: a ânsia por domínio. E isso foi transmitido a Ciorã através da inserção do quinto grau.

Depois de ver todos os seus homens curvarem-se perante ele, concentrou sua atenção em Tarãa, o único que permanecia de pé. Os cabelos e barba ruivos, os dentes tortos, o olhar de desdém, tudo ali transparecia insubmissão, resistência, banhada em pensamentos reacionários. Ciorã o encarou por alguns segundos enquanto seu sangue borbulhava de raiva, pois se sentia ameaçado como comandante.

Em um ato brusco, Ciorã apertou o pescoço dele e o forçou a se ajoelhar. Taraã sentiu sua garganta ser comprimida e curvou-se lentamente até ir ao chão e ser solto. Nenhuma palavra precisou ser dita para que todo o grupo compreendesse quem estava no controle. Todos olharam para o líder com temor, enquanto o silêncio dava espaço ao som do vento. O seu olhar soberbo colocou um ponto final no tema.

Ciorã deu um brado alto, gesticulando com as mãos para que todos se sentassem. Alguns compreenderam de início, outros tiveram de imitar os primeiros. Um a um, eles se alocaram no chão e observaram o líder imponente subir em uma pedra, contemplando seu bando. Os traços egocêntricos do Criador estavam vindo à tona. Sua intenção era fazer um discurso para consolidar o fato de ele estar no comando. Ele diria que todos o haviam seguido e agora faziam parte do grupo dele, por isso deviam-lhe respeito e obediência.

Embora as ideias e até mesmo as frases estivessem plenas em sua mente, ele não conseguiu explanar. Não era tão fácil como usar a linguagem expansiva. De uma forma estranha parecia que sua língua se enrolava ao falar. Não havia coerência entre o que pensava e os sons que emitia. Isso ocorria porque a linguagem expansiva era meramente mental e exclusiva para uso com Ru. Apesar de toda dificuldade, o efeito principal fora atingido. Ciorã, na tentativa insistente de expressar suas ideias, gritou alto, de forma impositiva, o que gerou medo nos demais homens. E o medo era uma ferramenta fundamental para sua posição como chefe.

Muitos se entreolharam. Era notório que estavam, cada um ao seu tempo, absorvendo a inteligência decorrente dos graus de lucidez, forçando os ouvidos para tentar compreender o que foi dito. Era como Ru dissera: a razão atingiria a todos. Apesar disso, o processo não era tão rápido como fora para o nômade pioneiro, motivo pelo qual alguns tinham dificuldades para se situar no mundo. Ciorã desceu da pedra em que estava e começou a apanhar seus homens pelo braço, um a um, para que ficassem de pé.

Com gestos e urros, feitos nos momentos oportunos, o líder conseguiu transmitir seu desejo. Conduziu-os aos empurrões até as árvores frutíferas mais próximas e os fez apanhá-las. Fez o mesmo na coleta de plantas comestíveis. Ensinou como fazer e forçou os outros a repeti-lo. Às vezes, dava tapas e chutes nos mais lentos, para que trabalhassem com velocidade. Em pouco tempo, os homens trabalhavam de forma automática e contínua, sem paradas. Aquilo, antes de ser um busca pela estocagem de alimento, era um ato simbólico de Ciorã para consolidar sua posição hierárquica. Ele sentia-se especial.

*  *  *

Em pouco tempo, uma rotina de trabalho bem definida foi estabelecida na área protegida pelas montanhas. Logo passaram a chamar o local de Largo das Campinas, devido às colinas que se desdobravam terreno adentro. Em geral, o líder controlava os homens para que trabalhassem na coleta e estocagem de alimentos, além de atividades complementares para manter o grupo ocupado.

Ciorã escolheu uma área como local de concentração. O bosque era largo e tinha grama rasteira, além de algumas rochas espalhadas, que serviam como assentos improvisados. Ficava próximo à encosta sul das montanhas, tangenciando o enorme paredão. Aquele seria o palco de inúmeras reuniões e logo recebeu o nome de Fagulha, uma referência às fogueiras que o líder acendia todas as noites para refletir.

Ciorã ordenava que eles coletassem e estocassem todo tipo de recurso. Passavam horas apanhando frutas, peixes, raízes, hortaliças, madeiras, pedras e folhas. Ficou estabelecido que o consumo de qualquer alimento deveria ser feito sob supervisão para evitar a escassez. A água do rio podia ser consumida à vontade, mas os banhos eram feitos esporadicamente. Um local afastado foi escolhido para que fizessem suas necessidades fisiológicas e outro determinado como ponto de descanso.

Os dias em sua maioria eram nublados e chuvosos, o que os obrigou a logo desenvolverem as primeiras cabanas rudimentares, feitas com galhos e cipós. Durante as noites, todos encolhiam-se nos abrigos e ouviam longas trovoadas no lado de fora do Largo das Campinas. Os relâmpagos os enchiam de medo.

Frequentemente, os homens custavam a entender as ordens emanadas. Isso motivava o líder a usar a força, valendo-se de uma vara flexível para agredi-los. Na maioria das vezes, Ciorã era o responsável por imprimir violência. Embora Ru tivesse sugerido que Taraã fosse seu braço direito, ele não se sentia à vontade para delegar-lhe tarefas desse tipo. Taraã frequentemente via-se em mesmo patamar que os demais membros do grupo, sendo, inclusive, flagelado pelo líder.

Aquele foi o ponto de partida para o estilo de comando de Ciorã. Seu raciocínio era rápido e organizado, o que lhe dava total capacidade de conduzir homens. Sua personalidade era ponderada, apesar de rígida. Isso tornava os membros do grupo, em sua maioria, submissos, não havendo resistência. A capacidade de gerenciar indivíduos e emitir ordens claras e diretas era uma de suas virtudes. A centralização era seu pendor.

Os primeiros meses de comando foram tomados sob muita pressão e violência. Havia muito que ser feito e os homens trabalhavam a custa de gritos e do estalo da vara em suas costas, tudo para que produzissem com velocidade e perfeição. Eles eram frequentemente colocados em filas e deslocavam-se correndo, sempre divididos em equipes. Os subordinados já eram capazes de esboçar opiniões a respeito da forma autoritária como ele conduzia o grupo e concordar uns com os outros através da mímica.

Todas as noites eles dormiam no mesmo local e tentavam se comunicar com gestos. Ciorã passou a dormir em outro ponto, isolado do grupo, para romper contato e parecer mais importante. Sua insônia o fazia estar sempre alerta e acordar no amanhecer primeiro que os outros. Isso lhe permitia castigar os que dormissem além do tempo determinado. Logo mais um custoso dia de trabalho começava. Assim, o tempo corria e abafava o receio de que o Largo fosse destruído, como estava acontecendo com o resto do mundo.

*  *  *

Quatro meses havia se passado. A essa altura, os homens já tinham se acostumado com a agressão e já sabiam expressá-la verbalmente, ainda que de forma precária. As surras produziam o efeito desejado por Ciorã, embora isso não extraísse deles o rendimento máximo.

Um dia Ciorã supervisionava seus trabalhadores. Vendo que todos labutavam com bom rendimento, sentiu que poderia afastar-se por um tempo para distrair as ideias. Apoiado em uma árvore, de frente à única entrada para o Largo das Campinas, viu uma fila indiana de indivíduos, caminhando na linha do horizonte. Eram homens e mulheres vindos de outra região arrasada, que muito provavelmente tomaram como rota de fuga a silhueta do conhecido Morro Verde. Imediatamente, o líder correu até seus homens, mandou interromper as atividades e os fez apanharem pedras e paus para se armar. Em seguida, todos se esconderam atrás das árvores.

 Os sujeitos estavam muito cansados e lentos, pois nem mesmo preocuparam-se em se ocultarem nos troncos das árvores ou empunhar objetos para se defender. Vieram cambaleando, desordenados, de cabeça baixa e tão magros que era possível ver os formatos dos ossos. Moribundos, famintos e com sede, não esboçaram nenhuma reação ao identificar os homens de Ciorã em posição hostil. Eles simplesmente os ignoraram, adentraram o Largo e debruçaram-se sobre o rio para beber água.

De imediato, o líder ordenou que um grupo de poucos homens percorresse o itinerário de onde eles vieram, enquanto tentava se comunicar. O estado de saúde dos novos nômades era precário e eles não conseguiam reagir, apenas consumiam os frutos das árvores descontroladamente. Ciorã e seus homens mantinham-se sentados em pedras nos arredores, monitorando as ações dos invasores. Momentos depois, o grupo de reconhecimento retornou da caminhada e expôs que havia mortos no caminho. O itinerário de chegada era marcado pelos cadáveres de muitos viajantes que pereceram por quilômetros no trajeto.

Após os sobreviventes suprirem-se na água e nos alimentos, eles buscaram o primeiro contato com o líder. Ciorã, sentado em uma pedra, com os dedos das mãos entrelaçados, estudava o comportamento deles. Em poucos instantes, percebeu que aqueles homens também pareciam ter sido afetados pelos graus de lucidez. Três deles se aproximaram, olharam para o líder e se curvaram perante ele. Eles já traziam o conceito da obediência e da gratidão, traços marcantes da racionalidade.

Ciorã teve seu ego alimentado e sentiu-se importante a ponto de adotar sua própria política com sobreviventes. Levantou-se e os forçou a iniciar o trabalho, sem cerimônias. Nos dias seguintes, tratou de transmitir a todos os seus homens que qualquer indivíduo que chegasse ao Largo poderia entrar e se suprir nos recursos, desde que lhe devessem respeito e passassem a compor o grupo.

Com o tempo, outros contingentes de refugiados cansados e famintos foram chegando, às vezes grandes e dispersos, às vezes pequenos grupos concentrados. Nestas condições, qualquer um seria capaz de obedecer para ter direito a sua porção de alimentos. As medidas de Ciorã para com os novos ocupantes não era ruim e sim estratégica. Quanto maior seu grupo, mais pessoas poderiam contribuir na coleta de alimentos e somar esforços para enfrentar novamente um arraso do mundo.

Gente de todo tipo surgia na abertura do Morro Verde. Não apenas homens, mas também mulheres de uma ampla faixa etária. Desde cedo elas foram alocadas em tarefas menos importantes, pois o machismo imperava. Crianças e idosos não eram vistos, pois não sobreviviam às longas caminhadas. Negros, pardos, brancos, outros de pele avermelhada, alguns altos, outros baixos, muitos vinham de lugares distantes. A maioria chegava desnutrido, poucos vinham com condições físicas normais, pois enfrentavam jornadas longas e extenuantes. Alguns vinham de regiões frias e isoladas e tinham o corpo coberto de pelos. Outros nem barba e cabelo apresentavam. A diversidade era grande.

Logo que chegavam, os novos ocupantes eram divididos em equipes. Com o passar dos meses, o grupo de Ciorã ficou fracionado, sumariamente, em cinco setores: o da pesca, chefiado por Querri, o dos alimentos, por Lió, o da música, por Berió, o da construção, por Duan e o da caça, por Shur. Os homens dos novos contingentes foram distribuídos para cada setor, conforme demonstravam suas aptidões em testes nos cinco grupamentos. Taraã e os chefes dos setores compunham o grupo base, que basicamente ditava as regras e trazia ordem ao bando.

Querri era o mais velho membro do Largo. O nariz grande, o corpo peludo e as marcas das rugas mostravam-no mais bruto do que realmente era. Na verdade ele era o mais solidário, calmo e calado, e também o primeiro a aprender sobre a pesca. Ciorã presenciou a criação de diversas estruturas de madeira, varas, anzóis, puçás, redes, garras e gaiolas. E como era o mais paciente e sereno, muitas horas passava sentado às margens dos rios, exercitando sua prática favorita, momentos tranquilos ao som de seu próprio assovio. Sua personalidade séria e madura o fazia ser respeitado.

Lió, o que mais gosto tinha pelos gêneros alimentícios, demonstrou ser útil para grupo na confecção de alimentos mais saborosos. Tinha relevante aptidão para a culinária, aprendeu a utilizar ervas e temperos naturais que tornaram a carne mais saborosa. Ciorã pediu que ele ensinasse a técnica para parte do grupo e assim foi feito até que uma equipe fosse montada. Horas trabalhando com alimentos de todos os tipos e os consumindo o fizeram ser o mais gordo do grupo. Seu rosto redondo era sempre sorridente, o que condizia com a personalidade brincalhona e feliz. Ele se sentia alegre cuidando dos alimentos. Controlar o fogo, associar verduras e legumes e assar uma boa carne eram sua especialidade.

A criação de um idioma era questão de tempo. Inicialmente, a mímica trouxe os primeiros sinais, depois foi aperfeiçoada, padronizada e disseminada pela população para atingir um nível melhor de comunicabilidade. A inteligência lhes permitiu criar um vocabulário próprio que chamavam de orquedra. Alguns meses levaram para que a escrita começasse a surgir com símbolos cada vez mais numerosos, na tentativa de associar sons aos caracteres. Registravam-se as letras em todo tipo de superfície. As pessoas gostavam de nomear suas casas, seus animais e seus instrumentos de trabalho. Escreviam muitas palavras entalhadas nos paredões de pedra, na madeira das casas, em folhas verdes, até mesmo pelo corpo em forma de tatuagens. Com o tempo, a noção de numerologia e de contagem surgiram e se desenvolveram em paralelo.

A sonoridade da língua foi se formando conforme a música era produzida. Havia um indivíduo que não parava de cantar. Deram-lhe o nome de Berió e ele havia construído um instrumento de sopro parecido com uma flauta. Desde o amanhecer até o cair da noite, ele tocava canções, dando vida e entusiasmo ao trabalho. E posteriormente deu origem a uma série de outros aparelhos musicais para compor suas melodias. Ciorã viu ali uma oportunidade para estimular o aprendizado, pois fazia com que seus subordinados cantassem e trabalhassem no mesmo ritmo. Por isso, permitiu que uma equipe de músicos fosse composta.

Duan foi o responsável por erguer as primeiras casas. Desde o início da ocupação do Largo das Campinas, ele demonstrava excelente habilidade para projetar cabanas, empilhar pedras e montar todo tipo de estrutura geométrica. Sua arrogância às vezes tendia a superar os bons costumes, mas, na maioria das vezes, seu jeito mal-educado de ser não apagava suas boas intenções. Afinal, ele era sempre o que mais trabalhava. Suas tarefas exigiam muito dele e de seus homens. Era um trabalho lento e duro, que demandava e absorvia grande número de pessoas, principalmente aqueles cujo porte físico favorecia o carregamento de peso. O grupo numeroso movimentava com rapidez qualquer tipo de material pesado.

As estruturas começaram simples, com pequenas cabanas de folhas e galhos secos. Depois passou para estruturas de bambus. Posteriormente, utilizou-se a madeira extraída dos troncos e depois pedras empilhadas. Ao final de muitos meses de trabalho, Duan com sua equipe conseguiram construir casas para Ciorã, Taraã, os cinco membros do grupo-base e mais treze casas para setores secundários. As moradias foram edificadas em um bosque amplo às margens do rio Trilhado, o principal do Largo, e se dispunham em forma circular, de modo que as casa do comandante ficasse cercada e protegida pelas outras. As casas dos setores secundários eram as mais externas e o projeto prometia que quanto maior a posição hierárquica, mais próximo do centro do bosque estaria a cabana.

Entre os homens, havia um que tinha o temperamento mais explosivo e nervoso. Seu instinto tendia sempre ao ato de enfrentar, de impor-se. Seu nome era Shur e dele não se podia esperar muita paciência nem timidez. Suas características foram úteis para o grupo a partir do momento que se precisou da caça, porque ele era o melhor e mais rápido nessa atividade. E tão logo foram desenvolvidas armas de caça como lanças, ele partia em longas caçadas mata adentro, nunca voltando sem um animal morto para dividir entre os membros do grupo. Todos o respeitavam e reconheciam que sua função era importante e arriscada. Embora ele tivesse consentido em ensinar os outros homens, nenhum deles teve tão bom desempenho, motivo pelo qual Shur liderava o grupo de caçadores.

Shur era de uma personalidade forte e, por vezes, arrogante. Sempre se sentia de alguma forma superior aos outros, exceto perante Ciorã, para quem tinha incontestável respeito e admiração. Em suma, ele conhecia muito bem o conceito da hierarquia. Seu corpo atlético, os cabelos longos e loiros e sua postura de caçador o faziam ter mais mulheres do que precisava. Seu estilo convencido de grandeza se sobressaia entre os outros.

Shur mantinha um grupo de cerca de vinte caçadores e os dividia em turnos para caça. Todos se valiam das armas produzidas por ferramenteiros. Caçavam, entre outros animais, javalis, bois, jacarés e galinhas. As empreitadas às vezes levavam dias de deslocamento por entre florestas densas e perigosas. Este era o único grupo que tinha autorização para romper os limites do Morro Verde.

Além do grupo-base, outros subgrupos foram sendo criados, como o da colheita e o dos ferramenteiros. Os ferramenteiros valiam-se da grande quantidade de madeira que era coletada para entalhá-las e confeccionar potes, travessas, tábuas, copos e outros recipientes, além de mobílias e objetos de decoração para ornamentar as casas. Nesse ramo também se desenvolveu a técnica sobre o derretimento e forja de ferro. Os produtos abasteciam os cozinheiros, os músicos, os construtores e todos os demais grupos e subgrupos, dada a ampla aplicabilidade dos utensílios. Com o tempo, este setor se fracionou em mais um, responsável unicamente pela fabricação de armas. E de lá vinham as lanças, machados, facas e foices que o grupo de Shur empregava na caça.

Existia um grupo voltado exclusivamente para o registro de letras e símbolos, que tinha o encargo de formar o idioma e entalhar em tábulas de madeira todos os códigos criados. As mulheres compunham em maior número esse setor, pois logo se adaptaram ao nível de detalhamento e organização que a atividade demandava. Este grupo tinha forte ligação com os membros da música, pois a maioria das palavras criadas vinha de canções e notas de Berió.

Outro setor era especializado na confecção têxtil, em que se fabricavam peças ainda muito rudimentares de fios trançados. Eles utilizavam fibras de bananeiras, cocos, palmeiras e algodão. As vestes em geral eram mantas que cobriam dos ombros às canelas, abertas na frente como roupões. Alguns usavam cordas amarradas na cintura. Ciorã e os membros do grupo-base eram presenteados com roupas coloridas que os diferenciava dos demais trabalhadores, que tinham a vestimenta branca ou amarelada.

Confeccionavam inclusive, calçados de madeira e couro, mas poucos membros costumavam usar esses itens. Por outro lado, o hábito de usar chapéus foi muito bem aceito no meio deles, motivo pelo qual uma variedade grande de coberturas era distribuída, principalmente entre os trabalhadores do grupo da construção, que muitas horas passavam abaixo dos raios de sol ou da chuva.

O setor da agricultura crescia de forma lenta, pois as pessoas custaram a entender sobre as plantas e como cuidar delas para que gerassem frutos. Mesmo assim, foram cultivadas algumas espécies vegetais que complementavam o consumo da carne trazida pela equipe de caçadores. Abóboras, mandioca, batatas, cebolas, beterrabas e mais uma variedade de outras hortaliças eram plantadas. As frutas, desde o início, eram muito presentes na alimentação do povo. Maracujás, cocos, mangas, melancias e goiabas eram algumas das frutas que se ingeria com frequência.

Em todos os aspectos, o grupo de Ciorã estava se desenvolvendo com velocidade extraordinária. Os graus de lucidez abriam a mente dos seres humanos, fazendo-os enxergar o mundo sob uma perspectiva nova, tomada pela razão. Por mais que fosse, em termos, gradativa, ainda era algo abrupto demais para ser absorvido em tão pouco tempo. Esse momento de alta expansão, caracterizada pela evolução e sua inércia, se prolongou por dois anos. Ao final desse tempo, o grupo não tinha mais os aspectos primitivos de quando chegaram. Agora, um grupo sólido e organizado ocupava o Largo das Campinas.

Entretanto, Ciorã sentia que em seu grupo algo não estava em plena ordem. Era como se um pequeno inseto estivesse se alimentando do sossego. E ele percebeu isso nos poucos sinais de reação que Taraã apresentava. No fundo, ele sabia que um problema sério poderia eclodir da forma como seu subalterno o olhava. Não apenas uma vez, ele sentiu vontade de conversar com Ru e pedir um pouco mais do que tinha dentro dele, deixar a simbiose acontecer.


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Notas finais do capítulo

No fundo, todos buscam sua glória, independente do caminho que terão de seguir.



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